Escavar o maior e mais profundo túnel ferroviário do mundo na rocha sólida dos Alpes, em temperaturas que chegam perto dos 50 ºC e com mínimo dano ao meio ambiente seria, por si só, um feito de engenharia digno dos livros de história. No caso da Suíça, que na semana passada inaugurou o túnel de São Gotardo, com 57,1 km de extensão, entre as cidades de Erstfeld e Bodio, a façanha é ainda mais impressionante porque tudo isso foi conquistado dentro do prazo, sem estourar o orçamento e ao longo de cinco governos. Após 17 anos de construção e US$ 12,5 bilhões gastos, o país europeu mostrou ao mundo – sem esconder o orgulho – o que planejamento e boa gestão pública podem fazer pela infraestrutura de uma nação.
A inauguração do São Gotardo, que entra em plena operação em dezembro de 2016, marca uma nova fase no transporte, no comércio e na preservação do meio ambiente na Europa. A rota é uma ligação crucial entre o sul do continente e os portos da região norte, transferindo todo o tráfego de caminhões, que antes passavam pelas estradas dos Alpes, para os trens de carga. A estimativa é de que as composições desloquem até 377 milhões de toneladas de produtos por dia, o que equivale a mais de 15 mil contêineres (confira quadro). Para passageiros, a viagem, feita a velocidades de até 250 km/h, poderá ficar 45 minutos mais curta no trajeto entre as cidades de Zurique e Lugano, quando toda a estrutura local estiver completa. O governo suíço diz que mais de 20 milhões de pessoas serão diretamente beneficiadas.
Para a Suíça, o túnel de São Gotardo também representa uma boa arma diplomática na dura missão de resistir ao “assédio” da União Europeia (UE). Não foi à toa que alguns dos principais líderes do continente – como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o presidente da França, François Hollande, e o primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi – estiveram presentes na inauguração. Todos são partes diretamente interessadas nos benefícios comerciais que o túnel trará para a região. Com o argumento de ter bancado sozinha a construção, a Suíça espera frear o ímpeto da UE de impor sanções diante da resistência do país em aderir a acordos migratórios europeus. O presidente da Federação Suíça, Johann Schneider-Ammann, mandou o recado de forma sutil: “Este é um passo gigante não só para a Suíça, mas também para os nossos vizinhos e para todo o continente.” Ao observador externo que não liga para a política da Europa, resta admirar a eficiência suíça na condução do projeto, que, não custa repetir, cumpriu o cronograma sem arrebentar os bolsos dos contribuintes.
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