terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Por que as zebras têm listras? Os cientistas que tentam respoder a antiga pergunta

Em foto tirada desde cima, varias zebras correm em meio a poeira saindo do solo
 
Em fevereiro de 2019, em uma fazenda no Reino Unido, ocorreu um experimento fascinante. Biólogos da Universidade da Califórnia, especializados em evolução, vestiram vários cavalos com casacões listrados como zebras, comparando-os a zebras de verdade.
O objetivo era responder a uma pergunta que há muito tempo intriga leigos e cientistas: por que as zebras têm listras?
"As pessoas falam sobre listras de zebras há mais de cem anos, mas é apenas uma questão de realmente fazer experimentos e refletir sobre a incógnita para entendê-las melhor", diz Tim Caro, ecologista da Universidade St. Andrews, na Escócia, que estuda as listras das zebras há quase duas décadas.
Na fazenda, de propriedade de Terri Hill, uma apaixonada pela conservação de equídeos selvagens, Caro encontrou uma rara oportunidade de observar de perto zebras relativamente mansas. O rebanho dali é formado por animais que vieram de zoológicos de diversos locais no Reino Unido.
Como e por que as zebras evoluíram para exibir listras em preto e branco são perguntas que também testam os cientistas há bastante tempo. É possível listar pelo menos 18 hipóteses para isso, desde a função da camuflagem à de identificação, como acontece com a impressão digital nos humanos.
Mas, também por um longo tempo, essas possibilidades foram apresentadas sem serem submetidas a testes rigorosos.

No pasto, um cavalo com casaco estampado com listras simulando as de zebras

Preto com listras brancas?

As zebras, como os cavalos e asnos, fazem parte do gênero Equus.
As três espécies conhecidas de zebras que vagam pelo leste e sul da África, com seus pelos escuros divididos por fios brancos e não pigmentados, são os únicos equídeos listrados. Os padrões e a intensidade das faixas variam de acordo com a espécie e a localização.
Enquanto os cientistas ainda debatem as origens e funções exatas das listras, seus esforços recentes se concentram em três possibilidades principais: elas seriam uma ferramenta contra picadas de insetos; ou teriam função de termorregulação; ou ainda a de proteção contra predadores.
Moscas que picam e sugam sangue são uma ameaça comum aos animais da África. As mutucas e tsé-tsé, entre outras, transmitem também doenças como a do sono, a peste equina africana e a influenza equina, potencialmente fatal.
O pelo fino da zebra não seria uma barreira tão eficaz contra as picadas dos insetos. Mas análises feitas em moscas tsé-tsé, por exemplo, não encontraram vestígios de sangue de zebra.
Muitos estudos já mostraram que as moscas tendem a não pousar em superfícies listradas. Evidências consistentes vieram em 2014 com um estudo de Caro e colegas. Eles combinaram dados sobre clima, presença de leões e tamanho de rebanhos de zebras e relacionaram isso a informações sobre as listras de zebras na área.

Diversas zebras em campo aberto

As faixas eram mais pronunciadas em ambientes que favorecem a presença de moscas, de acordo com Caro.
Este ano, a pesquisa realizada pela equipe dele na fazenda de Terri Hill lançou avançou mais um passo. Os biólogos observaram moscas em torno de zebras e cavalos - alguns destes vestindo casacos pretos, outros brancos e listrados.
As moscas pairavam em zebras e cavalos em quantidades semelhantes, mas muito menos moscas pousavam em zebras - ou em cavalos com casacos listrados.
Ao tentar pousar nas listras, as moscas não desaceleravam como fariam chegando a uma superfície não listrada. É como se elas hesitassem e desistissem.
"Parece que elas não reconheciam essa superfície em preto e branco como um bom ponto de aterrissagem", explica o pesquisador da Universidade St. Andrews.
Caro diz que sua equipe está trabalhando com "muitos dados ainda não publicados" de vídeos de moscas chegando perto de diferentes padrões de superfícies.
E, na Universidade de Princeton, EUA, o biólogo Daniel Rubenstein e seus colaboradores estão abordando a questão por meio da "visão da mosca em realidade virtual".

Refresco

No entanto, outros pesquisadores que estudam zebras, como Alison Cobb, técnica de laboratório aposentada, e o zoólogo Stephen Cobb, de Oxford, no Reino Unido, não estão convencidos pela explicação da blindagem contra parasitas.
Eles acreditam que as faixas de zebra ajudam principalmente na termorregulação. Enquanto Alison reconhece as descobertas de Caro, ela acha que picadas de insetos "parecem um efeito sem muita importância" para ter impulsionado a evolução das listras de zebra.
"Toda zebra deve evitar o aquecimento. Já as moscas aparecerão em certos lugares e em determinadas épocas do ano, mas não são uma ameaça tão definitiva ou frequente quanto o superaquecimento", diz Cobb.
A ideia básica dos pesquisadores é a de que as listras pretas absorveriam o calor e aqueceriam as zebras na manhã; já as listras brancas refletem mais a luz e, portanto, poderiam ajudar a refrescar os animais enquanto eles pastam por horas sob o sol escaldante. Essa lógica aparentemente simples é alvo de controvérsia entre cientistas.

Uma zebra em área aberta fotografada de perto

Caro e sua equipe encontraram apenas uma fraca sobreposição espacial entre padrões de faixas das zebras e temperaturas altas.
Um ano depois, um estudo de modelagem espacial com zebras-das-planícies, liderado por Brenda Larison, da Universidade da Califórnia, encontrou listras mais fortes em áreas mais quentes ou com luz solar mais intensa.
Até agora, as experiências também não trouxeram mais clareza. Um estudo de 2018 descobriu que a água em barris pintados com listras não esfriava mais que a nos barris sem listras.
Mas Rubenstein não está convencido - ele acha que esse experimento teve poucas amostras. Segundo ele, um estudo em andamento conduzido por sua equipe com um número maior de garrafas de água mostra que as faixas ajudam no resfriamento.
Citando informações ainda não publicadas, ele diz que, analisando as temperaturas de diversos animais, descobriu que as zebras são alguns graus mais "frias" que os animais não listrados.
Mas barris e garrafas não conseguem representar todas as partes do mecanismo de resfriamento de uma zebra - o que talvez torne esses estudos muito simples para explicar completamente o objetivo das listras das zebras.
Como cavalos e humanos, as zebras esfriam suando. A evaporação do suor remove muito calor, mas a evaporação deve ocorrer rapidamente, caso contrário o suor fica preso e faz o animal ficar dentro de uma própria sauna. Por isso, os equídeos têm uma proteína chamada laterina que ajuda a espalhar o suor nas pontas dos pelos, aumentando a exposição ao ar e à evaporação.
No Journal of Natural History, os Cobbs relataram em junho que, nas horas mais quentes do dia, as listras pretas das zebras estavam consistentemente 12 a 15 ºC acima das listras brancas.
Eles propõem que a constante diferença de temperatura entre as faixas geraria uma espécie de circulação de ar. Outro mecanismo descrito por eles foi a ereção de pelos pretos, que ajudariam a reter ou liberar o calor e suor.

Camuflagem?

Quanto à última hipótese, a das listras tendo a função de proteção contra predadores, Caro é cético.
Em sua monografia de 2016, ele listou inúmeras evidências contrariando esta hipótese. Por exemplo, as zebras passam a maior parte do tempo em campos abertos, onde suas listras são evidentes; e pouco tempo na floresta, onde elas poderiam servir como camuflagem. Além disso, a tendência delas é de fugir da ameaça, e não de se esconder.
E os leões não têm demonstrado muitas dificuldades em comer zebras.
Rubenstein, no entanto, ainda está testando esta hipótese, segundo ele a "mais difícil" de verificar entre todas.
Ele observa que estudos anteriores apenas testaram se as listras confundem os seres humanos, mas não os leões. Assim, sua equipe está estudando como os leões atacam objetos listrados e não listrados.
Portanto, a dúvida sobre por que as zebras têm listras continua, e a resposta permanece inconclusiva. E não sem riscos - Stephen Cobb foi mordido no braço e internado duas vezes no hospital durante seus experimentos.
BBC
 

A misteriosa pandemia que deixou milhões de pessoas como estátuas vivas durante décadas

Milhões de pessoas ao redor do mundo ficaram 'presas' em seus corpos, congeladas no tempo
 
Na década de 1920, uma misteriosa epidemia matou cerca de um milhão de pessoas e deixou quase quatro milhões no que parecia ser um estado catatônico por décadas, incapazes de falar ou de se mover de forma independente.
Eram como estátuas vivas.
Os pacientes permaneceram assim por décadas, até que, no fim dos anos 1960, um experimento médico "os despertou".
Conhecido como "Tempo de Despertar", esse experimento mudou nossa compreensão sobre as condições neurológicas e revolucionou o atendimento a pacientes.

Adormecidos

Logo após a Primeira Guerra Mundial, em 1917, e até por volta de 1927, a misteriosa epidemia se espalhou pelo mundo.
Sua origem era um mistério, mas se sabia que era uma doença que atacava o cérebro, deixando suas vítimas sem fala e movimentos voluntários.
"Na Suíça, uma noiva adormeceu no altar; na França, nem as dores do parto despertaram uma mãe", informava a BBC, em seus primeiros anos de transmissão.
O conjunto de sintomas já havia sido descrito várias vezes no passado, inclusive por Hipócrates, o grande médico da Grécia Antiga, que batizou o fenômeno de lethargus:
"Febre, tremor, forte fraqueza física com a preservação da inteligência, que afeta indivíduos com mais de 25 anos, sobretudo quando está frio, e que pode levar à morte por pneumonia terminal."

Constantin von Economo é conhecido sobretudo por ter descoberto a encefalite letárgica

No início do século 1920, quando a neurologia dava os primeiros passos como disciplina científica, a condição foi chamada de encefalite letárgica ou "doença do sono", e quem escreveu o manuscrito mais preciso sobre ela foi o austríaco Constantin von Economo.
"...desde o Natal, tivemos a oportunidade de observar uma série de casos na clínica psiquiátrica que não atendem aos critérios de nossos diagnósticos habituais. Apesar disso, mostram semelhança na forma como começaram e na sintomatologia, o que nos obriga a agrupá-los em uma única entidade clínica", escreveu o médico.

Aqueles que sobreviveram foram "congelados" no tempo, presos em corpos quase sem vida por anos.

'Tem alguém vivo lá dentro?'

Em 1966, Oliver Sacks, um jovem neurologista britânico, chegou ao Hospital Beth Abraham, no Bronx, em Nova York, onde havia dezenas de pacientes com encefalite letárgica.
"Eu nunca tinha visto nada assim: tantos pacientes como aqueles imóveis, às vezes pareciam estar congelados em posições inusitadas, e você se perguntava: o que está acontecendo? Tem alguém vivo lá dentro?", disse Sacks à BBC nos anos 1970.
Saks começou a observar seus novos pacientes e percebeu que havia sinais de consciência... principalmente quando um assistente do hospital tocava piano para os residentes.
"O que ele viu é que, quando tocava uma música, algumas pessoas se levantavam e dançavam. Havia algo na música que penetrava e estimulava o sistema motor delas a ponto de entrarem em ação... Era incrível: não conseguia entender como era possível", lembra a médica Concetta Tomaino, diretora e cofundadora do Instituto de Música e Função Neurológica de Nova York.

Uma solução musical

Na década de 1970, Tomaino tinha acabado de começar sua carreira em musicoterapia, que na época era uma área de pesquisa nova.
"Oliver Sacks me escreveu um bilhete que dizia: 'Toda doença é um problema musical, toda cura, uma solução musical'.
"Despertou minha curiosidade e perguntei quem ele era. As pessoas diziam: 'É um louco britânico excêntrico que escreve os atestados médicos mais surpreendentes; você precisa conhecê-lo.'"
Connie Tomaino e Oliver Sacks iniciaram assim uma parceria de trabalho pioneira nos estudos de musicoterapia e nos efeitos neurológicos da música.
Os pacientes pareciam catatônicos, parecia que estavam em estado semivegetativo, mas quando havia música por perto, você via que eles estavam mentalmente presentes: eles conseguiam tocar tambor com ritmo e cantar, mesmo sem ser capaz de falar".

Um milagre

Antes de Connie Tomaino chegar ao hospital Beth Abraham, Oliver Sacks havia começado a testar um novo medicamento que é usado para tratar pessoas com doença de Parkinson.
Ele pensava que a "doença do sono" poderia ser uma forma extrema de Parkinson. E deu a medicação, levodopa, aos pacientes — os efeitos foram, em alguns casos, imediatos e dramáticos.
"Lola havia passado décadas em estado catatônico e seu despertar ocorreu em segundos. Ela pulou da cadeira e começou a falar. Foi uma cena incrível, e eu duvidaria da minha própria memória, se não fosse respaldada por todas as outras pessoas que também se lembram", recordou Sacks.
Parecia um milagre. Os pacientes de Sacks podiam conversar, caminhar e sentir alegria novamente.
"O clima no pavilhão do hospital era de carnaval, era de festa. Era um sentimento de euforia: as pessoas se apaixonavam, queriam sair e fazer coisas, explorar o mundo. Havia realmente um sentimento de magia e milagre... e provavelmente uma expectativa um tanto alarmante", afirmou o neurologista.
Muitos haviam contraído a doença do sono na infância e despertaram como adultos de meia-idade em um mundo completamente diferente.
"Quando conseguiram entender quanto tempo havia se passado, ficaram com medo e estupefatos. Alguns ficaram amargurados por terem perdido tanto tempo, mas a maioria queria viver cada segundo que tinha", disse Tomaino à BBC.
"Às vezes, isso era um desafio para a equipe do hospital", completou rindo.
Sacks, por sua vez, "se sentia muito responsável por eles e, às vezes, se perguntava se havia feito a coisa certa, porque quem eram eles agora que estavam acordados?", acrescentou a terapeuta.

Fim da magia

A mágica desapareceu depois de algumas semanas

A euforia durou pouco. O levodopa começou a perder efeito. E, depois de algumas semanas, em alguns casos, a medicação parou de funcionar, o que levou à piora de saúde dos pacientes.
Alguns mantiveram mais funções que outros, mas nenhum se recuperou completamente novamente.
Durante aquele breve período de despertar, Sacks encorajou os pacientes a descrever como tinha sido viver imóvel em um limbo; os relatos foram valiosos para se entender mais tarde muitas condições neurológicas.
Tomanino foi uma das pessoas que leram os diários escritos pelos pacientes.
"Eles descreveram como os cuidados eram horríveis quando estavam incapacitados, e isso me ajudou a mudar a maneira como os tratávamos".
E a música permaneceu sendo uma solução.
"Lembro de uma paciente, Lola, que adorava cantar e dançar. Mas quando ela piorou, não tinha controle da língua ou das mãos. No entanto, quando tocava tambor, conseguia acompanhar o ritmo com a voz, ela fazia isso tão bem que desfrutava e acabava sempre caindo na gargalhada."
"Lilian era um pouco mais autista e gostava do aspecto mais intelectual da música. Ela amava Rachmaninoff e, quando escutava, movia os dedos como se estivesse tocando piano.".
O que Connie Tomaino e Oliver Sacks estavam descobrindo por meio de pesquisas e observações práticas era inovador, mas naquela época alguns cientistas tratavam com ceticismo.
"Na década de 1980, os neurologistas não acreditavam que alguém pudesse se recuperar de uma lesão cerebral, e ainda assim podíamos ver as mudanças diante de nossos olhos", diz.
Pesquisas subsequentes mostraram que a musicoterapia pode melhorar e até ajudar a reparar lesões cerebrais.
"A música é tão complexa — tom, ritmo, padrões complexos de sons que ocorrem simultaneamente —, que se você vê o cérebro quando está ouvindo uma melodia, muitas de suas redes são ativadas e compartilhadas por outras formas de funções cognitivas."
"Essa é a beleza da música: permite que algumas funções da área onde ocorreu a lesão retornem", explica Tomaino.
Oliver Sacks, falecido em 2015, publicou vários livros, incluindo um chamado Tempo de despertar, que deu origem ao filme homônimo, protagonizado por Robert De Niro e Robin Williams.
Connie Tomaino se tornou uma referência internacional em musicoterapia.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O que é a passagem de Drake, complexa zona marítima onde um avião militar chileno desapareceu

É uma região onde a temperatura varia entre 0ºC e -25ºC durante todo o ano.

O avião desaparecido tinha como destino a Base Aérea Presidente Eduardo Frei - Getty Images

A Passagem de Drake, também chamada de Mar de Drake, é a região marítima que divide a Antártida da parte sul da América do Sul, e também é o epicentro das buscas pelo avião chileno Hércules C-130 que desapareceu na noite da segunda-feira (9/12) com 38 pessoas a bordo.
"As condições são extremamente difíceis" e "a situação é muito adversa" são alguns dos diagnósticos fornecidos pelas autoridades chilenas desde que o desaparecimento da aeronave foi confirmado.
O diagnóstico foi feito com base nas dificuldades sentidas pelas equipes de busca e salvamento durante a procura pela aeronave.
Além disso, um especialista na região considera a Passagem de Drake como uma das regiões marítimas "mais complicadas do mundo", com enormes dificuldades para navegação e ondas com alturas que variam de seis a dez metros.
"São áreas muito complicadas do sistema. Ali também convergem o Oceano Atlântico e o Pacífico, onde os dois mares estão entrelaçados", disse Nicolás Butorovic, diretor de climatologia da Universidade de Magalhães, ao jornal chileno El Mercurio.
Magalhães é a Província do sul do Chile onde fica a cidade de Punta Arenas, o local de decolagem do Hércules que perdeu contato às 18:13 de segunda-feira e que aterrissaria na base militar Presidente Eduardo Frei Montalva, na Antártida.

A área

Os ventos, a baixa visibilidade e as fortes correntes da Passagem de Drake são algumas das características da área marítima de cerca de 800 km, onde o Pacífico e o Atlântico se encontram.
Além disso, a grande profundidade de suas águas e seu sistema de circulação atmosférica produzem mudanças de tempo repentinas e muito difíceis de prever, deixando aqueles que a atravessam - navegando ou voando - à mercê desses fenômenos.
 
 

"São mudanças bruscas nas condições de temperatura, visibilidade e principalmente do vento, em um período muito curto. É um desafio para a navegação e tráfego aéreo enfrentar essas latitudes. Tanto pilotos quanto comandantes de aeronaves e navios passam por processos de treinamento especial para operar nessas áreas extremas, com processos de adaptação e treinamento muito rígidos", explicou o vice-almirante da Marinha do Chile e atual senador Kenneth Pugh.
Em uma entrevista ao jornal chileno La Tercera, a autoridade acrescentou que "normalmente nessas latitudes não há cobertura completa e permanente de satélites de comunicações geoestacionárias, por conta das características dessa órbita equatorial".
Pugh disse ainda que essas condições marítimas dificultam o uso de radares e reduzem a probabilidade de detecção de aeronaves.
Diferentes especialistas consultados pela imprensa chilena concordaram que no dia do desaparecimento do Hércules C-130 as ondas podiam atingir até 10 metros de altura com ventos de cerca de 100 km/h.

Essas condições podem significar que a área de buscas tenha de ser ampliada.

Quem foi Francis Drake

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Francis Drake foi um navegador e corsário inglês que no final do século 16 que conseguiu atravessar o estreito de Magalhães.
Os historiadores apontam que outras expedições cruzaram as águas do que hoje é conhecido como Passagem de Drake décadas antes da jornada inglesa.
O corsário foi um dos primeiros financiados pela coroa inglesa a atacar as embarcações espanholas que transportavam a riqueza obtida na América para a Europa, algo que ele fez tanto no Peru quanto no Chile.
Séculos depois, os mais de 800 km da Passagem de Drake são compartilhados pela Argentina e pelo Chile, além de uma parte importante ser considerada águas internacionais.
Hoje, esses dois países, junto com o Uruguai e o Brasil, também compartilham o trabalho de procurar o avião danificado na segunda-feira. A tarefa, como já alertou o ministro da Defesa chileno Alberto Espina, é bastante difícil.
BBC

Maior parte do desmatamento em Mato Grosso é ilegal e acontece em propriedades privadas

MADRI - A maior parte do desmatamento registrado oficialmente no Estado de Mato Grosso neste ano foi ilegal. Dos 1.685 km² de floresta derrubados entre agosto de 2018 e julho deste ano, 85% não tinham autorização para ocorrer. É o que mostra uma análise feita pelo Instituto Centro de Vida (ICV), que cruzou os dados do sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com as autorizações de supressão florestal concedidas pelo Estado. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira, 11, durante a Conferência do Clima da ONU, que ocorre em Madri.
MT é o único Estado que permite essa avaliação de forma rápida porque tem um sistema transparente de informações sobre as licenças para corte. A comparação dos dados revela ainda que mais da metade de todo o desmatamento (56%) aconteceu em propriedades privadas inseridas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Isso significa que são propriedade com localização, limites e donos conhecidos do poder público.
Também chama a atenção que, entre as propriedades com CAR, mais da metade da floresta derrubada se concentrou em imóveis rurais grandes (acima de 1.500 hectares), seguidos dos imóveis médios, que possuem entre 400 e 1.500 hectares (28%). E os polígonos de desmatamento foram superiores a 50 hectares em 82% dos casos de desmatamento em imóveis privados.
Para os pesquisadores do ICV responsáveis pela avaliação, os dados apontam para um sentimento de impunidade no ar. “Esses proprietários de terra que estão desmatando sabem que o Estado tem os dados deles, telefone, CPF. Mais da metade é grande propriedade e 30% são grandes cortes, de mais de 50 hectares. Isso significa que há planejamento por trás, e que eles (os donos) consideram que vale a pena gastar dinheiro com o desmate.
 
Mayke Toscano/Gcom-MT

Estudos estimam que desmatar um hectare (área equivalente a um campo de futebol) custa cerca de R$ 1.000. Há polígonos de 200 hectares, ou seja, foram necessários R$ 200 mil para desmatar o local. "Estão apostando que vai mudar a lei”, disse ao Estado Alice Thuault, analista de política pública do ICV.
Ela lembra que, assim como aconteceu em toda a região, houve uma redução neste ano de 36% dos autos de infração do Ibama por crimes contra a flora no Estado. É um número que vem caindo a partir de 2015, mas teve o maior queda neste ano.
De todos os desmatamento ilegais no Estado, 74% ocorreram em 1.065 imóveis rurais - pouco mais de 1% do total de imóveis cadastrados. “Ou seja, são poucos os imóveis rurais que descumprem a legislação florestal e colocam em risco a legalidade e sustentabilidade da produção agropecuária de Mato Grosso”, aponta o relatório do ICV. É um perfil bastante diferente do observado nos demais Estados da Amazônia, onde a maior parte do desmatamento acontece em áreas públicas.
O desmatamento registrado em Mato Grosso representa 17% do total registrado em toda a Amazônia (o segundo maior porcentual, atrás apenas do Pará) . O Estado teve alta de 13% em relação ao período de agosto de 2017 a julho de 2018 e está cada vez mais longe de uma meta que o próprio Estado tinha feito, em 2015, de chegar ao desmatamento ilegal zero até 2020.

Alô, desmatador

O secretário-executivo da Secretaria de Meio Ambiente de MT, Alex Marega, presente na COP, afirmou que o Estado vem adotando novas estratégias para tentar conter o desmatamento. Ele destacou que, de 2004 a 2014, Mato Grosso teve uma redução de 90% da devastação da floresta. No início dos anos 2000, o Estado era o líder de desmatamento na Amazônia e perdia cerca de 12 mil km2 por ano. Em 2012, chegou à menor taxa - de 757 km² - ano em que toda a Amazônia teve a sua mais baixa perda de floresta. Nos últimos cinco anos, porém, o Estado tem sofrido altas consecutivas, mantendo taxas superiores a 1.480 km²/ano.
O Estado adotou, recentemente, um sistema de monitoramento de desmatamento com imagens do Planeta, sistema privado que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que planeja comprar para a Amazônia como um todo.
O número de fiscalizações aumentou a partir de agosto e foi adotada uma estratégia de começar a telefonar para os proprietários de terra quando a Sema detecta que um desmatamento está em curso.
“Há 15 dias começamos com essa estratégia de, a partir dessas novas imagens, entrar em contato no momento em que identificamos. Vimos, por exemplo, um desmatamento de 3 hectares. Identificamos de quem era a terra, ligamos para ele e avisamos: vimos que você desmatou tanto. Começamos a monitorar diretamente e vemos se parou ou não”, contou.
Segundo ele, o objetivo é tentar interromper a devastação. "Antes a gente só autuava e responsabilizava, mas objetivo não é penalizar, mas evitar que ocorra. É um novo modelo, acreditamos que vai dar um resultado melhor. E quem não parar… aí vamos lá mesmo. E já deixamos avisado: vamos multar, embargar, e correm o risco de perder equipamentos se forem pegos em flagrante."
Estadão

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O bar que vende doses de oxigênio em Nova Déli

 
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Com a cidade tomada pela poluição, um bar em Nova Déli, capital da Índia, vende doses de oxigênio aromatizado para a população. A promessa é que a inalação ajuda o corpo a se desintoxicar de poluentes.
O estabelecimento cobra dos clientes o equivalente a até R$ 27 por 15 minutos de "ar puro". Entre as opções de aroma, estão menta e lavanda.
Nova Déli sofre com altos índices de poluição e até estado de emergência já foi declarado na cidade por esse motivo. E o problema também afeta outras áreas do país.
Das 30 cidades mais poluídas, 22 estão na Índia, segundo pesquisa da ONG Greenpeace e do IQ AirVisual, grupo baseado na Suíça.
Médicos questionam, no entanto, os benefícios da inalação de oxigênio como oferecido no bar, já que o problema é a baixa qualidade do ar na cidade, e não o baixo nível de oxigênio.
Além disso, não há comprovação científica a respeito dos benefícios do suplemento de oxigênio.

Linhas de Nazca no Peru: os intrigantes geoglifos descobertos com tecnologia de última geração

Linhas de Nazca

Algumas têm formas humanas, de animais ou de plantas; outras são seres míticos, desconhecidos, que parecem frutos da imaginação.
Quase todas são uma espécie de mensagem da Terra para o cosmos, traços — como caligrafias desconhecidas — criados no passado para a eternidade.
As chamadas "Linhas de Nazca", localizadas em um deserto no centro-sul do Peru, continuam intrigando cientistas e visitantes, centenas de anos após sua criação.
Algumas estão em perfeito estado, enquanto outras foram parcialmente apagadas pelos ventos, pela erosão e pela passagem do tempo.
Mas, agora, um grupo de especialistas japoneses encontrou, por meio de tecnologia de última geração, uma série de geoglifos desconhecidos até então.
São mais de 140 formas que vão desde as já conhecidas, como macacos e cobras, até outras que surpreendem os cientistas, como a de uma figura humanoide com um bastão, cujo significado começará a ser estudado.

linhas de Nazca

Linhas de Nazca

Segundo informou o comunicado da Universidade de Yamagata, que apoiou o estudo, acredita-se que os geoglifos encontrados foram criados entre os anos de 100 a.C. e 300 d.C., sendo que a maioria está em estado precário.

Como fizeram o estudo

A equipe de especialistas japoneses, liderada pelo arqueólogo Masato Sakai, partiu da análise de imagens de satélite de alta resolução tiradas do deserto, para depois realizar estudos de campo, entre 2016 e 2018, até identificar as novas linhas.
Com os dados obtidos e o processamento das imagens, realizaram projeções das figuras e descobriram 142 novas linhas, representando peixes, lhamas, macacos e aves.

Linhas de Nazca

A partir daí, com os dados coletados, utilizaram técnicas de inteligência artificial (IA) para reconstruir algumas das formas, que não podiam ser definidas por métodos convencionais.
Foi assim que a iniciativa chegou à identificação de um geoglifo surpreendente: uma figura humana com um bastão.

Linhas de Nazca

"O estudo explorou a viabilidade do potencial da inteligência artificial para descobrir novas linhas e introduziu a capacidade de processamento de grandes volumes de dados por meio de IA, incluindo fotos aéreas de alta resolução em alta velocidade", detalha o comunicado sobre a pesquisa.

O que os cientistas encontraram?

As figuras encontradas variam tanto em sua complexidade quanto em sua idade e tamanho.
A maior entre elas mede mais de 100 metros de ponta a ponta — um pouco maior do que a Estátua da Liberdade — e a menor, apenas cinco metros, praticamente o mesmo tamanho da estátua de Davi, de Michelangelo.

Linhas de Nazca

Para facilitar a identificação, os especialistas japoneses separaram dois grupos:

Grupo A

  • São desenhos lineares e que tendem a ser maiores, medindo mais de 50 metros cada um.
  • Acredita-se que foram feitos mais recentemente, e sua origem varia entre os anos 100 e 300 d.C.
Linhas de nazca
 

Grupo B

  • Tendem a ser estruturas mais complexas e de tamanho menor, com menos de 50 metros.
  • Acredita-se que tenham sido produzidas por volta do ano de 100 a.C., ou em períodos anteriores.
Linhas de Nazca
 
De acordo com os cientistas, cada grupo tinha propósitos diferentes. O primeiro seria utilizado para rituais e o segundo, como pontos de referência para viajantes.

O que são as 'Linhas de Nazca'?

Localizadas a cerca de 400 quilômetros de Lima, as Linhas de Nazca permaneceram desconhecidas por séculos. O início das atividades de aviação permitiram o descobrimento dessas formas enigmáticas, que só são visíveis de grandes alturas.
Ao todo, elas ocupam uma área aproximada de 517 quilômetros quadrados em um deserto, e incluem centenas de geoglifos, criados pela civilização nazca entre 500 a.C. e 500 d.C.

linhas de Nazca

"Segundo os pesquisadores, todas as figuras foram criadas com a remoção de rochas negras que cobriam o terreno, expondo a areia embaixo", explicou a equipe japonesa. As condições áridas do terreno permitiram sua conservação ao longo de séculos.
Com tais figuras, a antiga sociedade de nazca, que existiu há cerca de 2.300 anos, "transformou um extenso território estéril em uma paisagem cultural com alta conotação simbólica, ritual e social", segundo o Ministério da Cultura do Peru.
As linhas foram descobertas em 1927 e, segundo Paul Kosok, um pesquisador americano que se dedicou ao seu estudo, eram "o maior livro astronômico do mundo", que marcava os solstícios de inverno e de verão.

Linhas de Nazca

Entretanto, até hoje não se sabe qual era de fato a sua finalidade.
Em 1993, os geoglifos passaram a integrar uma reserva arqueológica e a ser parte do Patrimônio Cultural da Nação do Peru.
Um ano depois, foram classificados como Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
"São o grupo de geoglifos mais notável do mundo e são incomparáveis em extensão, magnitude, quantidade, tamanho e diversidade em relação a qualquer outro trabalho similar no mundo", afirmou a Unesco.
"Constituem um feito artístico singular e magnífico da cultura andina", adiciona a instituição.

Linhas de Nazca

A aura de mistério que rodeia essa obra pré-inca deve-se a três características fundamentais:
  • suas proporções monumentais;
  • o fato de que seus desenhos só podem ser apreciados por completo de grandes alturas;
  • sua localização no meio de um dos desertos mais áridos do mundo.
BBC

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Por que o Muro de Berlim caiu?

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Queda do muro em 9 de novembro de 1989
 
Por que o Muro de Berlim caiu?
Sua queda está intimamente ligada à derrocada soviética.
Em meados dos anos 80, a União Soviética passava por uma profunda crise econômica.
Isso fez com que ela cortasse a ajuda que deu por décadas a outros países comunistas, como a Alemanha Oriental.
Crescia a insatisfação social.
O líder soviético, Mikhail Gorbachev, tentou atenuá-la, implementando uma maior abertura política e social. O plano ficou conhecido como Glasnost.
A recém-adquirida liberdade levou o povo a criticar governos e convocar protestos.
A Polônia organizou suas primeiras eleições parcialmente livres.
Já a Hungria abriu suas fronteiras, permitindo a milhares de alemães do lado oriental cruzar o bloco
ocidental via Áustria.
Na Alemanha Oriental, o presidente Erich Honecker teve que renunciar.
Em 9/11, o governo prometeu flexibilizar restrições de viagem.
Os berlinenses aproveitaram o momento para destruir o muro.
A multidão eufórica cruzou a fronteira, agora aberta.
Milhares de alemães ocidentais esperavam do outro lado.
Parentes e amigos separados puderam se reencontrar pela primeira vez.
Um mês depois, a Alemanha Oriental entrou em colapso.
Um a um, outros governos do bloco comunista começaram a cair. Em 1991, a URSS desmoronou, marcando o fim da Guerra Fria.
As Alemanhas foram finalmente reunidas.
Hoje, pedaços do muro permanecem como uma recordação da história dividida do país.
BBC

Como o comércio transatlântico de escravos explica o caminho do óleo até as praias do Nordeste

Se o vazamento de óleo que atinge as praias do Nordeste tivesse ocorrido no início do século 19, navegadores que viajavam entre o Brasil e a África seriam capazes de palpitar sobre o local de origem do incidente.
 
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Cartas náuticas daquela época já descreviam as principais correntes marítimas que operam na região — e que explicam o caminho percorrido pelo óleo até as praias brasileiras, no maior acidente a atingir o litoral do país em extensão.
As correntes permitiram que o Brasil dominasse o tráfico negreiro no Atlântico. Sozinho, o país recebeu 4,8 milhões de africanos escravizados, dez vezes mais do que os Estados Unidos e quase a metade de toda a população transportada à força para as Américas em quatro séculos.
E, se no passado as correntes favoreceram a economia escravocrata, hoje elas deixam a costa brasileira vulnerável a acidentes que ocorram a milhares de quilômetros, à medida que a extração de petróleo se expande no Golfo da Guiné, no litoral africano.

A força da Corrente Sul Equatorial

Quando as manchas de óleo já se espalhavam por nove Estados, no início de outubro, o professor de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) Ilson Silveira fez uma simulação para tentar identificar o local do vazamento.
experimento apontou que o óleo havia entrado em contato com o oceano a uma distância entre 400 e 1.000 km da costa brasileira. De lá, teria sido transportado pela Corrente Sul Equatorial, um gigantesco rio que corre no Atlântico Sul no sentido leste-oeste. A corrente, que tem quatro ramos, se inicia no Golfo da Guiné, na costa ocidental da África, e vai até o litoral do Brasil.
"Desde o início percebi que a dimensão do acidente só se explicava por um grande sistema de correntes", diz Silveira à BBC News Brasil.
 
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A simulação do professor também indicou que o vazamento ocorrera em latitude próxima às dos Estados de Pernambuco e Paraíba. Ao chegar ao litoral brasileiro nessa latitude, a Corrente Sul Equatorial se bifurca. Um ramo dela se torna a Corrente Norte do Brasil e sobe a costa, rumo ao Amapá, enquanto o outro ramo vira a Corrente do Brasil e desce o litoral, rumo ao Rio Grande do Sul.
Isso explicaria a chegada do óleo tanto a Estados ao norte da bifurcação (Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) quanto a Estados ao sul (Alagoas, Sergipe e Bahia). Não por acaso, as primeiras manchas de petróleo apareceram justamente na Paraíba, onde se dá a bifurcação.
Por essa lógica, se o vazamento tivesse ocorrido um pouco mais ao norte ou um pouco mais ao sul, dificilmente atingiria todos os Estados do Nordeste. E se tivesse acontecido perto da costa, o óleo perderia o impulso da bifurcação e avançaria só para o norte ou para o sul, a depender do local da ocorrência.
A hipótese do professor Ilson Silveira foi reforçada na semana passada, quando a Polícia Federal divulgou dados de um relatório produzido pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais. Imagens de satélite coletadas pela empresa mostraram o que seria uma mancha original de petróleo a 733 km do litoral paraibano — dentro, portanto, do perímetro e da latitude calculados pelo pesquisador.

A influência das correntes na formação do Brasil

A bifurcação da Corrente Sul Equatorial justifica o esforço dos holandeses para controlar o arquipélago de Fernando de Noronha no século 17. No livro O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul - séculos 16 e 17, o historiador Luiz Felipe de Alencastro diz que o arquipélago "era a ponte para duas estratégicas rotas de ataque" às bases portuguesas nas Américas.
Uma dessas rotas ia do norte do litoral nordestino até o Caribe, e a outra descia toda a costa brasileira. A bifurcação também explica a decisão da Coroa portugesa de dividir o Brasil em duas unidades administrativas: ao norte dela ficava o Estado do Grão-Pará e Maranhão, e, ao sul, o Estado do Brasil.
As correntes antagônicas tornavam quase impossível realizar viagens marítimas entre os dois Estados. Alencastro cita o isolamento que o padre português Antonio Vieira sentiu durante uma estadia no território ao norte: em uma carta de 1654, ele escreveu que "alguém mais facilmente navega da Índia a Portugal do que desta missão (Maranhão) para o (Estado do) Brasil".
Missionários e autoridades que quisessem ir da Bahia até São Luís ou Belém costumavam primeiro viajar até Lisboa e só de lá partiam para o Grão-Pará.
 
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Tentativas de contornar as condições naturais resultaram em fracassos notáveis. Alencastro conta que, no século 19, um navio da Marinha deixou o Rio de Janeiro carregado de soldados na expectativa de chegar ao Maranhão para conter a Revolta da Balaiada. A embarcação enfrentou fortes correntes contrárias e foi forçada a aportar em Montevidéu, no Uruguai, centenas de quilômetros ao sul do ponto de partida.
As correntes explicam por que, desde o surgimento das primeiras manchas, o professor Ilson Silveira descartou que o óleo tivesse vazando diretamente de alguma plataforma na Venezuela. Afinal, a Corrente Norte do Brasil vai do Rio Grande do Norte até a Venezuela, no sentido contrário ao da propagação das manchas.

Trocas entre Brasil e África

A lógica das correntes também influenciou o desenvolvimento econômico dos territórios brasileiros num momento em que o tráfico de africanos escravizados era um dos pilares da economia nacional.
As viagens dos navios negreiros até o Estado do Grão-Pará e Maranhão eram triangulares. As embarcações costumavam partir de Lisboa rumo à atual Guiné-Bissau e, de lá, viajavam com escravos até o Maranhão, de onde voltavam a Portugal carregados com drogas do sertão (produtos florestais).
As trocas entre a África e o Estado do Brasil, porém, dispensavam a escala em Portugal. Segundo Alencastro, por causa das condições naturais favoráveis, viagens de ida e volta entre a África e os portos brasileiros ao sul de Recife eram 40% mais curtas do que deslocamentos entre o continente africano e portos no Caribe ou nos Estados Unidos, outros importantes destinos de africanos escravizados.
 
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Enquanto a Corrente Sul Equatorial facilitava o trajeto África-Brasil, outras condições naturais favoreciam a viagem de volta. Para chegar à costa africana, os navios luso-brasileiros podiam pegar carona no anticiclone de Santa Helena, uma zona de alta pressão atmosférica que opera como uma grande roldana, com os ventos soprando em espiral. Podiam ainda pegar a Contracorrente Sul Equatorial, um canal que corre no sentido contrário à Sul Equatorial, entre os dois ramos austrais da corrente.
  1. "A relativa segurança e facilidade como se navegava da costa brasileira ao golfo de Guiné ou Angola permitia que navios de pequeno porte, como as escunas de dois mastros que navegavam no rio São Francisco, empreitassem viagens negreiras", escreve Alencastro.
  2. Tanto assim que, quando o Brasil se tornou independente, em 1822, comerciantes de escravos em Benguela, na Angola atual, iniciaram um movimento separatista para tentar se integrar ao país do outro lado do Atlântico. Na época, duas das principais rotas no comércio transatlântico de escravos uniam Brasil e África: a maior delas, entre Luanda e Rio de Janeiro, e a rota entre Salvador e o Golfo da Guiné, com escala na ilha de São Tomé.
  3. Segundo Alencastro, as correntes também ajudam a explicar por que a escravidão de indígenas nunca alcançou a mesma dimensão que a dos africanos no Brasil.
  4. "Mesmo que todos os ameríndios da Amazônia aparecessem acorrentados nas margens do Pará e do Maranhão para se entregar", diz o historiador, os ventos e as correntes continuariam a bloquear seu transporte até os principais mercados em Pernambuco, na Bahia e em São Paulo. "Já as travessias Brasil-Angola eram 'quase sempre acompanhadas por bom tempo ou por muito poucos distúrbios no mar e ventos'", como escreveu em 1799 o governador de Angola.
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Vazamentos no futuro?

Essas correntes marítimas que favoreceram a navegação entre Brasil e África no tempo da escravidão hoje tornam o Brasil vulnerável a vazamentos de petróleo que ocorram a milhares da costa brasileira, perto do litoral africano.
A extração do petróleo em plataformas marítimas é atualmente a principal atividade econômica de vários países do Golfo da Guiné, entre os quais Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Espera-se que a produção cresça ainda mais conforme tecnologias de extração em águas profundas, como as adotadas pelo Brasil no pré-sal, se expandam pela região.
O professor Ilson Silveira diz que, em tese, a força das correntes marítimas pode fazer com que o litoral brasileiro seja afetado por vazamentos nessas plataformas no futuro. Nesse caso, porém, diz que o óleo provavelmente chegaria à costa brasileira "bastante intemperizado" (desfigurado pelas intempéries enfrentadas no trajeto).
Talvez antevendo possíveis problemas desse gênero, a Marinha brasileira tem se aproximado de nações africanas no Atlântico Sul. Desde o início da década, forças navais brasileiras e africanas vêm realizando vários exercícios conjuntos. Oficiais da Marinha costumam dizer que a distância entre Natal e Dacar, a capital do Senegal, é menor que a linha que une os pontos extremos do Brasil, o que tornaria os países africanos tão importantes para a defesa marítima nacional quanto as nações sul-americanas.
No fim de outubro, a força naval brasileira participou pela primeira vez da Comissão Grand African Nemo, operação que agrega os 16 países do Golfo da Guiné e que, nesta edição, também teve entre os convidados Bélgica, Estados Unidos, França e Espanha.
Segundo uma nota divulgada pela Marinha, um dos objetivos do exercício foi justamente "adestrar as Marinhas amigas dos países africanos da costa ocidental" para incidentes no Golfo da Guiné, o que inclui o "combate à poluição no mar".

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Aumento do nível do mar ameaçará 300 milhões de pessoas em 2050

 
A partir de 2050 as zonas costeiras onde atualmente vivem 300 milhões de pessoas serão inundadas todos os anos. Ou pelo menos isso acontecerá se não forem tomadas medidas de contenção de água, como diques e muros. É uma das consequências mais diretas do aumento incontrolável do nível do mar devido às mudanças climáticas. Os 300 milhões de afetados são o triplo do que havia sido estimado até agora com os modelos de previsão habituais, de acordo com um estudo publicado terça-feira pela Nature Communications.
A Ásia é, sem dúvida, a região mais afetada. Mas na Espanha, por exemplo, também haverá impactos: cerca de 200.000 pessoas residem hoje em áreas que serão expostas a essas inundações anuais a partir de 2050. Na zona vermelha do mapa de risco — elaborado pelos autores do relatório e pela organização Climate Central —, existem áreas importantes por seu valor econômico e natural, como Doñana, o Delta do Ebro, a Manga del Mar Menor e municípios de Cádiz e Huelva.
O aumento do nível do mar já é um dos impactos irreversíveis da mudança climática que o ser humano provocou com as emissões de gases de efeito estufa que superaquecem o planeta, segundo a maioria dos cientistas. O nível do mar continuará subindo principalmente devido ao degelo nos polos, como alertou um relatório recente do IPCC, o painel de especialistas internacionais que assessora a ONU.
“Embora atenuemos, mesmo se cumprirmos o Acordo de Paris, o nível médio do mar continuará subindo durante séculos”, explica Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria e um dos autores do relatório do IPCC. Portanto, Losada destaca a importância de medidas de adaptação à mudança climática por meio, por exemplo, de infraestruturas de contenção de água. O especialista também enfatiza que são necessárias mais pesquisas em áreas de risco.
É a isso que aspira o modelo criado pela Climate Central. Benjamin Strauss, presidente desta organização e coautor do estudo, argumenta que as projeções até agora subestimaram o número de pessoas que podem ser afetadas. “As comunidades humanas se concentram de forma desproporcional nas áreas mais baixas do litoral”, alerta. De fato, o estudo indica que 250 milhões de pessoas residem atualmente em áreas de risco de inundação; as projeções atuais limitavam esse número a 65 milhões, segundo o relatório.

Reduzir emissões

O modelo desenvolvido por essa organização trabalha com vários cenários partindo da evolução das emissões de gases de efeito estufa e da velocidade do degelo. Dependendo desses parâmetros, o nível do mar aumenta mais ou menos e, portanto, varia o número de pessoas que vivem nas áreas afetadas.
Nos diferentes cenários, as projeções para 2050 não oferecem grandes diferenças em relação aos afetados. A grande variação ocorreria no final deste século. Em 2100, no cenário mais otimista (uma rápida redução de gases de efeito estufa e um degelo menos acentuado) na zona vermelha de inundação haveria 340 milhões de pessoas. No pior cenário (com um aumento das emissões e um alto nível de degelo), esse valor aumentaria para 480 milhões em 2100.
O mesmo acontece com as projeções para a Espanha. Em 2050, o intervalo varia pouco — entre 190.000 e 210.000 pessoas — em função das emissões e do nível de degelo. Mas em 2100, o cenário mais otimista fixa a população afetada em 260.000 pessoas, em comparação com as 690.000 do pior cenário. Portanto, como ressaltam os autores, se se deseja limitar os impactos do nível do mar é necessário que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas imediatamente. Ou seja, que se cumpra o Acordo de Paris, que estabelece o objetivo de que o aumento da temperatura média do planeta fique abaixo de dois graus em relação aos níveis pré-industriais e, se possível, abaixo de 1,5ºC.

Novo modelo

“Sem estar livre de limitações, contribui claramente para reduzir cada vez mais as incertezas que temos na determinação do que pode acontecer no futuro”, diz Losada sobre o novo modelo, que inclui um mapa interativo para explorar as áreas afetadas. “Os autores tocam numa questão essencial: devemos ter modelos digitais de terreno que nos sirvam para conhecer os elementos expostos do futuro”, explica Losada. Entre as limitações desse modelo está o fato de que a população afetada pelas projeções ao longo do tempo é a atual. Ou seja, não é levado em consideração o aumento da população mundial que todos os relatórios apontam para este século.
Para Losada, o modelo melhora os dados sobre a elevação do terreno em relação àqueles que estavam sendo utilizados. O problema, segundo os autores do relatório, é que o sistema de cálculo mais difundido até o momento (que como este se baseia em dados de satélites) subestimava a superfície afetada, uma vez que não identificava bem elementos como copas de árvores ou telhados. O novo sistema, segundo os autores, corrige essa distorção, o que faz com que a população potencialmente afetada se multiplique.
A Ásia é sem dúvida a área mais afetada em todo o planeta devido ao risco de inundações relacionadas à mudança climática. “É uma área dominada por áreas muito baixas e superpovoadas”, diz Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria. O relatório publicado na terça-feira indica que a maioria das pessoas expostas reside em seis países asiáticos: China,
Bangladesh, Índia, Vietnã, Indonésia e Tailândia. Dos 300 milhões que vivem em áreas de risco de inundação até 2050, aproximadamente 237 milhões residem nesses seis países. A China, com 93 milhões de pessoas agora vivendo em áreas de risco de inundação, é o país mais afetado, segundo o relatório. É seguida por Bangladesh, com 42 milhões, e Índia, com outros 36 milhões de pessoas em risco. Depois deles, Vietnã (31 milhões), Indonésia (23) e Tailândia (12).
BBC

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A curiosa origem do Dia das Bruxas

O Dia das Bruxas é conhecido mundialmente como um feriado celebrado principalmente nos Estados Unidos, onde é chamado de Halloween.
Mas hoje em dia é celebrado em diversos outros países do mundo, inclusive o Brasil, onde hábitos como o de ir de porta em porta atrás de doces, enfeitar as casas com adereços "assustadores" e participar de festas a fantasia vêm se tornando mais comuns.
Mas sua origem pouco tem a ver com o senso comum atual sobre esta festa popular. Entenda a seguir como ela surgiu.

De onde vem o nome?

O Halloween tem suas raízes não na cultura americana, mas no Reino Unido. Seu nome deriva de "All Hallows' Eve".
"Hallow" é um termo antigo para "santo", e "eve" é o mesmo que "véspera". O termo designava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro.
Mas uma coisa é a etimologia de seu nome, outra completamente diferente é a origem do Halloween moderno.
 Como a festa começou?
 
Getty
 
Desde o século 18, historiadores apontam para um antigo festival pagão ao falar da origem do Halloween: o festival celta de Samhain (termo que significa "fim do verão").
O Samhain durava três dias e começava em 31 de outubro. Segundo acadêmicos, era uma homenagem ao "Rei dos mortos". Estudos recentes destacam que o Samhain tinha entre suas maiores marcas as fogueiras e celebrava a abundância de comida após a época de colheita.
O problema com esta teoria é que ela se baseia em poucas evidências além da época do ano em que os festivais eram realizados.
A comemoração, a linguagem e o significado do festival de outubro mudavam conforme a região. Os galeses celebravam, por exemplo, o "Calan Gaeaf". Há pontos em comum entre este festival realizado no País de Gales e a celebração do Samhain, predominantemente irlandesa e escocesa, mas há muitas diferenças também.
Em meados do século 8, o papa Gregório 3º mudou a data do Dia de Todos os Santos de 13 de maio - a data do festival romano dos mortos - para 1º de novembro, a data do Samhain.
Não se tem certeza se Gregório 3º ou seu sucessor, Gregório 4º, tornaram a celebração do Dia de Todos os Santos obrigatória na tentativa de "cristianizar" o Samhain.
Mas, quaisquer que fossem seus motivos, a nova data para este dia fez com que a celebração cristã dos santos e de Samhain fossem unidos. Assim, tradições pagãs e cristãs acabaram se misturando.
O Dia das Bruxas que conhecemos hoje tomou forma entre 1500 e 1800.
Fogueiras tornaram-se especialmente populares a partir no Halloween. Elas eram usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita no Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir bruxaria e a peste negra.
Outro costume de Halloween era o de prever o futuro - previa-se a data da morte de uma pessoa ou o nome do futuro marido ou mulher.
Em seu poema Halloween, escrito em 1786, o escocês Robert Burns descreve formas com as quais uma pessoa jovem podia descobrir quem seria seu grande amor.
Muitos destes rituais de adivinhação envolviam a agricultura. Por exemplo, uma pessoa puxava uma couve ou um repolho do solo por acreditar que seu formato e sabor forneciam pistas cruciais sobre a profissão e a personalidade do futuro cônjuge.
Outros incluíam pescar com a boca maçãs marcadas com as iniciais de diversos candidatos e a leitura de cascas de noz ou olhar um espelho e pedir ao diabo para revelar a face da pessoa amada.
Comer era um componente importante do Halloween, assim como de muitos outros festivais. Um dos hábitos mais característicos envolvia crianças, que iam de casa em casa cantando rimas ou dizendo orações para as almas dos mortos. Em troca, eles recebiam bolos de boa sorte que representavam o espírito de uma pessoa que havia sido liberada do purgatório.
Igrejas de paróquias costumavam tocar seus sinos, às vezes por toda a noite. A prática era tão incômoda que o rei Henrique 3º e a rainha Elizabeth tentaram bani-la, mas não conseguiram. Este ritual prosseguiu, apesar das multas regularmente aplicadas a quem fizesse isso.
 
EPA
 
Em 1845, durante o período conhecido na Irlanda como a "Grande Fome", 1 milhão de pessoas foram forçadas a imigrar para os Estados Unidos, levando junto sua história e tradições.
Não é coincidência que as primeiras referências ao Halloween apareceram na América pouco depois disso. Em 1870, por exemplo, uma revista feminina americana publicou uma reportagem em que o descrevia como feriado "inglês".
A princípio, as tradições do Dia das Bruxas nos Estados Unidos uniam brincadeiras comuns no Reino Unido rural com rituais de colheita americanos. As maçãs usadas para prever o futuro pelos britânicos viraram cidra, servida junto com rosquinhas, ou "doughnuts" em inglês.
O milho era uma cultura importante da agricultura americana - e acabou entrando com tudo na simbologia característica do Halloween americano. Tanto que, no início do século 20, espantalhos - típicos de colheitas de milho - eram muito usados em decorações do Dia das Bruxas.
Foi na América que a abóbora passou a ser sinônimo de Halloween. No Reino Unido, o legume mais "entalhado" ou esculpido era o turnip, um tipo de nabo.
Uma lenda sobre um ferreiro chamado Jack que conseguiu ser mais esperto que o diabo e vagava como um morto-vivo deu origem às luminárias feitas com abóboras que se tornaram uma marca do Halloween americano, marcado pelas cores laranja e preta.
Foi nos Estados Unidos que surgiu a tradição moderna de "doces ou travessuras". Há indícios disso em brincadeiras medievais que usavam repolhos, mas pregar peças tornou-se um hábito nesta época do ano entre os americanos a partir dos anos 1920.
As brincadeiras podiam acabar ficando violentas, como ocorreu durante a Grande Depressão, e se popularizaram de vez após a Segunda Guerra Mundial, quando o racionamento de alimentos acabou e doces podiam ser comprados facilmente.
Mas a tradição mais popular do Halloween, de usar fantasias e pregar sustos, não tem qualquer relação com doces.
Ele veio após a transmissão pelo rádio de Guerra do Mundos, do escritor inglês H.G. Wells, gerou uma grande confusão quando foi ao ar, em 30 de outubro de 1938.
Ao concluí-la, o ator e diretor americano Orson Wells deixou de lado seu personagem para dizer aos ouvintes que tudo não passava de uma pegadinha de Halloween e comparou seu papel ao ato de se vestir com um lençol para imitar um fantasma e dar um susto nas pessoas.
E quanto ao Halloween moderno?
 
 
 
Hoje, o Halloween é o maior feriado não cristão dos Estados Unidos. Em 2010, superou tanto o Dia dos Namorados e a Páscoa como a data em que mais se vende chocolates. Ao longo dos anos, foi "exportado" para outros países, entre eles o Brasil.
Por aqui, desde 2003, também se celebra neste mesma data o Dia do Saci, fruto de um projeto de lei que busca resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao Dia das Bruxas.
Em sua "era moderna", o Halloween continuou a criar sua própria mitologia. Em 1964, uma dona de casa de Nova York chamada Helen Pfeil decidiu distribuir palha de aço, biscoito para cachorro e inseticida contra formigas para crianças que ela considerava velhas demais para brincar de "doces ou travessuras". Logo, espalharam-se lendas urbanas de maçãs recheadas com lâminas de barbear e doces embebidos em arsênico ou drogas alucinógenas.
Atualmente, o festival tem diferentes finalidades: celebra os mortos ou a época de colheita e marca o fim do verão e o início do outono no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, vem ganhando novas formas e dado a oportunidade para que adultos brinquem com seus medos e fantasias de uma forma socialmente aceitável.
Ele permite subverter normais sociais como evitar contato com estranhos ou explorar o lado negro do comportamento humano. Une religião, natureza, morte e romance. Talvez seja este o motivo de sua grande popularidade.
BBC

Por que o buraco da camada de ozônio está no menor tamanho já registrado

A agência espacial americana (Nasa) anunciou uma boa notícia sobre o buraco na camada de ozônio: o tamanho dele atualmente é o menor já registrado desde que foi descoberto, em 1985.
Mas essa redução no buraco não se deve ao impacto de medidas internacionais para conter a degradação do ozônio, mas a um fenômeno climático incomum na Antártica.
 
Ilustração mostra o buraco na camada de ozônio em outubro de 2019
 
O buraco na camada de ozônio em cima do continente antártico é um fenômeno sazonal, que atinge seu maior tamanho em setembro e outubro e desaparece em dezembro.
Em 8 de setembro deste ano, a fissura atingiu um tamanho máximo de 16,4 milhões de quilômetros quadrados, mas foi reduzida para 10 milhões de quilômetros quadrados no restante de setembro e outubro.
Normalmente, o buraco atinge cerca de 20 milhões de quilômetros nesses meses, uma quantidade inferior aos cerca de 25 milhões registrados em 2006.
Essa redução "é uma grande notícia", disse Paul Newman, cientista do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa.
"Mas é importante reconhecer que o que estamos vivendo neste ano se deve a um aumento de temperaturas na estratosfera. A redução não é um sinal de que o ozônio atmosférico está em um caminho de rápida recuperação", afirmou Newman.

Alterações na camada de ozônio em setembro de 2019

Reações em cadeia

O ozônio é uma molécula altamente reativa composta por três átomos de oxigênio.
Entre 11 e 40 km acima da superfície da Terra, em uma faixa da atmosfera chamada estratosfera, o ozônio funciona como um filtro solar que protege o planeta da radiação ultravioleta — nos seres humanos, essa radiação pode causar efeitos como câncer de pele, catarata e suprimir o sistema imunológico.
Quando a radiação solar começa a se intensificar no início da primavera, começam a se formar as condições para uma série de reações químicas, produzidas a partir de cloro e brometo de produtos industriais presentes na região.
Essas reações químicas ocorrem em partículas nas nuvens que se formam nas camadas frias da estratosfera. Quando a temperatura está mais quente, formam-se nuvens polares menos estratosféricas — e essas persistem por um curto período de tempo. Portanto, o processo de destruição do ozônio fica menor nesses momentos.
É a terceira vez nas últimas quatro décadas que mudanças no clima e na temperatura reduzem a destruição da camada de ozônio, de acordo com Susan Strahan, cientista do centro Goddard, da Nasa. Reduções por causas semelhantes também ocorreram em 1988 e 2002.

Fotos de lapso de tempo da liberação de uma sonda para o estudo do ozônio na estação Amundsen-Scott, no Pólo Sul

"É um fenômeno estranho que ainda estamos tentando entender", afirmou Strah.
A uma altitude de 20 km, as temperaturas ficaram 16ºC mais quentes que o previsto.
O vórtice polar, um turbilhão de ventos frios ao redor dos polos, também ficou mais fraco, e a velocidade do vento caiu de uma média de 259 para 107 km por hora.
Em meados de outubro, o buraco na camada de ozônio permaneceu estável e deve se dissipar gradualmente nas próximas semanas.

Compostos industriais

Em 1997, vários países assinaram o Protocolo de Montreal, que proibia o uso e a produção de clorofluorcarbonos (CFCs), produtos químicos de origem artificial que contêm cloro e são utilizados em aerossóis, embalagens de espuma e materiais de refrigeração.
Mas esses compostos têm um tempo de vida bastante longo. E a presença deles na atmosfera continuou a aumentar até o ano 2000.
Desde 2000, os níveis de clorofluorcarbonos vêm caindo, mas ainda são altos o suficiente para produzir destruição significativa no ozônio.
Segundo a Nasa, a expectativa é que o buraco continue a diminuir nos próximos anos, mas o retorno ao nível em que ele estava em 1980 só vai acontecer por volta de 2070.
BBC

Como a invenção do laser gerou um conflito que durou 30 anos

Quem é o inventor de algo: o autor da ideia inicial, quem recebe a patente ou quem acaba transformando essa ideia em realidade?
 
Raios laser
No caso da invenção dos raios laser, até hoje, não há uma resposta clara a esse respeito: se você pesquisar, encontrará várias pessoas descritas como 'inventoras do laser'.
Tudo começou com uma sugestão feita por Albert Einstein em uma pesquisa intitulada "Sobre a teoria quântica da radiação", em 1917, quando ele deu as bases para produzir o raio de luz que usamos hoje – seja em delicadas cirurgias, ou para medir a distância entre a Terra e a Lua.
A partir de então, vários cientistas de diferentes partes do mundo começaram a explorar o que Einstein havia antecipado.
Mas foi somente nas décadas de 1940 e 1950 que os físicos encontraram uma maneira de colocar o conceito em prática.

Um dia em 1957

Na noite de 13 de novembro de 1957, um cientista chamado Gordon Gould não conseguia dormir em sua cama em Nova York

Gordon Gould

De repente, uma ideia lhe veio à cabeça. Ele pegou um caderno e começou a preenchê-lo com esboços, equações e cálculos.
Depois de uma semana de intenso trabalho, com seu caderno em mãos, ele foi a uma loja de doces, na qual pediu ao proprietário – que também era notário público – para selar cada uma das 9 páginas nas quais estava registrado o produto de seu trabalho.
O título que ele escolheu foi "Alguns cálculos aproximados sobre a viabilidade de um LASER: amplificação de luz por emissão estimulada de radiação".
Ele cunhou a palavra, que era um acrônimo de "Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation".

Um outro dia em 1957

Simultaneamente, também em Nova York, um físico de 34 anos chamado Charles Townes pensava intensamente sobre o mesmo assunto.
 
Charles Townes
 
Em outro dia em 1957, ele discutiu suas ideias com um colega, amigo e cunhado Arthur Schawlow, que encontrou a chave para fazer um laser: colocar os átomos que ele queria estimular em uma cavidade longa e estreita com espelhos refletivos para fortalecer o processo de emissão de fótons (partículas de luz), produzindo uma reação em cadeia.
Mas acontece que essa ideia foi a mesma que Gordon Gould teve.
Só que, diferentemente de Gould, Townes e Schawlow sabiam que, para patentear algo nos Estados Unidos, você não precisava efetivamente fabricar sua invenção: bastava provar que era possível fabricá-la.
Então foram eles que a patentearam.

Três décadas de disputas

Nas décadas seguintes, indústrias inteiras foram construídas em torno do laser.
Em 1964, Townes dividiu o Prêmio Nobel de Física com os russos Aleksandr M. Prokhorov e Nicolai G. Basov pelo desenvolvimento dessa invenção.

Arthur Schawlow posando com laser em um laboratório em Stanford, Estados Unidos

Schawlow ganhou o mesmo prêmio em 1981 por seus avanços no uso de lasers.
Enquanto isso, embora Gould tivesse sido o primeiro a descobrir como fazer um laser e cunhar o termo, ninguém acreditava nele.
Foram necessários 30 anos, muitas batalhas judiciais, milhões de dólares e uma luta épica com o governo dos Estado Unidos e a indústria do laser antes de alcançar o reconhecimento de uma das invenções mais revolucionárias do século 20.

Uma dívida enorme

O problema era que, se o que Gould alegava fosse declarado válido, todos os que haviam fabricado ou usado um laser anteriormente lhe seriam devedores. E quanto mais tempo levasse para o caso ser decidido, maior seria a dívida.

Gordon Gould

Em 1977, 20 anos após o caderno de Gould ser registrado, o Escritório de Patentes dos EUA declarou que ele primeiro teve a primeira ideia de um tipo de laser, o que lhe dava o direito de cobrar royalties de todas as empresas que o fabricavam.
Em 1979, ele venceu outra batalha, e a decisão final veio em 1985, quando a Justiça negou provimento aos casos de reexame da patente de Gould.
Ele tinha vencido. E, embora tivesse apenas 20% dos direitos sobre suas patentes, ele se aposentou com US$ 46 milhões.

O primeiro

Desta forma terminou uma das maiores guerras de patentes da história.

Theodore Maiman

Em 2013, os Estados Unidos mudaram seu sistema de conceder a patente ao primeiro a inventar para entregá-la ao primeiro a arquivar a ideia, em parte para evitar casos retroativos de décadas, como o de Gould.
Foi a última nação industrializada a mudar para esse sistema.
E deve-se notar que nem Gould, nem Townes, nem Schawlow foram os primeiros a fabricar a máquina a laser: quem conseguiu torná-la realidade foi outro físico chamado Theodore Maiman, em 1960.
Então, ele deveria levar o título de inventor do laser?

Um processo, não um ato

"Uma opinião comum entre os historiadores de ciência e tecnologia é que geralmente é um erro tentar vincular uma invenção ou uma descoberta científica a um único indivíduo ou instante no tempo", escreveu a historiadora Joan Lisa Bromberg, autora de "O Laser nos Estados Unidos, 1950-1970 ".

Imagens do filme 007 contra Goldfinger

Ela citou Hugh GJ Aitken, professor da Universidade Americana de Amherst, em Massachusetts, que escreveu: "Nós tendemos a pensar na invenção como um ato, ao invés de um processo devido ao viés incorporado às nossas leis de patentes".
"Para garantir os direitos de propriedade de uma nova descoberta, é importante poder estabelecer prioridades ao longo do tempo... No entanto, esse viés não deve corromper nossas interpretações históricas... a invenção (é) um processo com uma duração considerável no tempo, em que muitos indivíduos contribuem de maneira substancial."
O caso da invenção do laser é um bom exemplo disso.
Para Bromberg, nem Gould, nem Townes, nem Schawlow, nem Theodore Maiman fabricaram um laser por conta própria. O laser foi criado devido a todas as suas contribuições – e também às de outros cientistas.
 
Ilustração de raio laser
 
Apesar da longa disputa, o laser rapidamente capturou a imaginação do público, talvez por causa de sua semelhança com os "raios de calor" da ficção científica. Mas as aplicações práticas levaram anos para serem desenvolvidas.
Uma jovem física chamada Irnee D'Haenens, enquanto trabalhava com Maiman no laser, brincou que o dispositivo era "uma solução em busca de um problema"... e que finalmente encontrou vários.
Mas a verdade é que hoje vivemos em um mundo em que o laser é tão onipresente que é difícil imaginá-lo sem ele.
BBC