quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Novo sistema solar descoberto por astrônomos europeus pode conter água e vida

 
Ilustração do sistema de TRAPPIST-1: Impressão artísitica mostrando o sistema de TRAPPIST-1; astrônomos creem que três dos sete planetas podem conter água líquida
 
Astrônomos europeus anunciaram a descoberta de sete planetas do tamanho da Terra, situados a apenas 40 anos-luz de distância. Três deles, de acordo com os cientistas, poderiam ter água em suas superfícies, o que poderia resultar na existência de vida.
O sistema, formado em torno da já conhecida estrela-anã superfria TRAPPIST-1, tem o maior número de planetas de dimensões semelhantes aos da Terra já encontrados e o maior número de mundos com condições favoráveis à existência de água. 
A descoberta foi anunciada na revista científica Nature.
Para encontrar os planetas, os cientistas usaram telescópios em terra e no espaço, incluindo o Grande Telescópio ESO, no Chile. Os corpos celestes foram localizados quando passaram em frente à estrela, que tem tamanho e brilho menores que o Sol - a TRAPPIST-1 tem apenas 8% da massa solar e é apenas um pouco maior que Júpiter.

Temperatura semelhante

A passagem dos planetas causou oscilações no brilho da TRAPPIST-1 e permitiu aos astrônomos deduzir informações sobre tamanho, composição e órbita destes mundos, bem como as temperaturas - em pelo menos seis planetas, elas seriam semelhantes às da Terra.
 
Comparação entre Sol e Trappist-1: Estrela-anã é bem menor que o Sol, conforme mostra essa ilustração da ESO
 
"A energia de estrelas-anãs como a TRAPPIST-1 é muito mais fraca que a do Sol, e os planetas em sua órbita teriam que estar em órbitas muito mais próximas que a do Sistema Solar para que houvesse a existência de água. Mas este tipo de configuração compacta é justamente o que vemos nesse sistema", explica um dos autores do estudo, Amaury Triaud, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
As órbitas dos planetas são mais próximas da estrela-anã do que a de Mercúrio junto ao Sol, mas as dimensões reduzidas da TRAPPIST-1 fazem com que esses planetas recebam uma quantidade de energia similar a de planetas como Vênus, Terra e Marte. 
Os corpos celestes também têm períodos de translação bem menores que os do Sistema Solar. O mais próximo da estrela (TRAPPIST-1 b), por exemplo, completa a volta em torno da estrela em menos de dois dias terrestres - Mercúrio, por exemplo, leva cerca de 88.

Modelos dos planetas do sistema TRAPPIST-1: Planetas "e", "f" e "g" teriam mais chances de conter água em estado líquido

Todos os sete planetas descobertos nesse sistema podem potencialmente conter água em suas superfícies, mas modelos climáticos feitos pelos astrônomos sugerem que os planetas batizados até agora apenas de TRAPPIST-1 e, f e g estão no que a astronomia determina como uma possível "zona habitável" - órbitas em que a superfície pode conter água líquida sob as condições ideais de pressão atmosférica.
Os cientistas acreditam que a descoberta dos planetas torna TRAPPIST-1 um alvo de estudo importante para a busca da existência de água e mesmo vida fora da Terra.

Domingo de carnaval terá raro evento astronômico no Brasil

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Além de desfiles, blocos de rua e festas, o domingo de carnaval deste ano será marcado por mais um evento: o 1º eclipse solar anular do ano. O fenômeno, raro devido à sua estreita faixa de observação, poderá ser visto em boa parte do Brasil e deve durar pouco mais de uma hora.
A passagem da lua na frente do sol acontecerá a partir das 10h45 e deve terminar às 12h30. No Brasil, quem mora nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste terá melhor visualização do evento. Isso também vale para quem estiver no sul da Argentina e do Chile, bem como na região centro-sul da África.
No Nordeste, os estados mais próximos do Sudeste, como a Bahia, poderão também acompanhar o evento.
O eclipse não será total, ele será anular. Isso acontece porque o disco da lua não estará com tamanho o suficiente para encobrir todo o sol. Por conta disso, veremos uma espécie de “anel de fogo” em volta do nosso satélite natural.
“Esse evento é raro por ser visto em uma faixa muito estreita do planeta. Todo ano temos ao menos um eclipse solar anular, mas como ele é visto em poucos lugares, tem gente que nunca o viu”, disse a pesquisadora Josina Nascimento, da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional, em entrevista a EXAME.com.
– (Nasa)
Um eclipse solar só acontece quando a lua está alinhada com o sol e a Terra, em fase de Lua Nova.
“Os eclipses da lua e do sol sempre acontecem em datas próximas. Tivemos um eclipse lunar em 10 de fevereiro e agora temos um do sol. Isso não é coincidência”, declarou Nascimento, que indica as órbitas da lua e do sol como motivo para que eles aconteçam com intervalos próximos.
Outro eclipse solar irá acontecer em agosto deste ano, mas ele não será visível no Brasil.
Por meio de observação e cálculo, a previsão de eclipses já acontece desde 2500 antes de Cristo na China e na Babilônia. “A astronomia foi a mãe das ciências porque olhar o céu é algo fantástico”, afirmou a pesquisadora.

Como observar

Diferentemente do eclipse lunar, é preciso ter muito cuidado ao observar o sol durante o fenômeno astronômico. Usar óculos escuros ou filme de raio-X não é o suficiente. Claro, nunca se deve olhar para o sol sem proteção.
A solução é utilizar um telescópio com proteção contra raios ultra-violeta. Se você não tem um equipamento desses na sua casa, outra forma de observar o fenômeno é utilizar um anteparo, que pode ser algo tão simples quanto uma folha de papel com furos pequenos. Também será possível assistir o fenômeno via internet.
 

Encontrar uma 2a. Terra é uma quetão de tempo: por que o novo anúncio de exoplanetas é importante




Ilustração do sistema de TRAPPIST-1: Impressão artísitica mostrando o sistema de TRAPPIST-1; astrônomos creem que três dos sete planetas podem conter água líquida

Tantos planetas já foram encontrados em sistemas planetários além do nosso que é fácil não valorizar o possível significado de uma nova descoberta. Atualmente, a Nasa contabiliza 3.449 exoplanetas - por isso, é perigoso fazer uma propaganda excessiva de cada anúncio.
Mas a excitação causada pela descoberta de sete planetas do tamanho da Terra, anunciada nesta quarta-feira por cientistas europeus e americanos, não ocorre apenas pela quantidade incomum de exoplanetas encontrados ao mesmo tempo. Nem pelo fato de que a maior parte deles são do tamanho do nosso.
O sistema é formado em torno da já conhecida estrela-anã superfria Trappist-1, que fica a apenas 40 anos-luz do nosso planeta.
E os cientistas estão empolgados porque a Trappist-1 é convenientemente pequena e fraca. Isso significa que os telescópios que estão sendo usados para estudar esse novo sistema planetário não são tão ofuscados pelo brilho quanto seriam ao mirar estrelas mais brilhantes.
"Isso abre um caminho fascinante para estudar esses mundos distantes e, acima de tudo, suas atmosferas", diz David Shukman, correspondente de ciência da BBC News.
 
Modelos dos planetas do sistema TRAPPIST-1
 
"A cobertura dos anúncios de exoplanetas pode facilmente levar a conclusões precipitadas sobre vida alienígena. Mas esse sistema planetário remoto pode realmente fornecer uma boa chance de procurar por pistas dela."
A próxima fase da pesquisa já começou a buscar pelos principais gases, como oxigênio e metano, que podem fornecer pistas do que está acontecendo na superfície desses planetas.

Possibilidades

"Encontrar uma nova Terra não é questão de 'se', mas de 'quando'", disse o astrofísico Thomas Zurbuchen, diretor de ciência da Nasa, durante o anúncio da descoberta, em uma transmissão ao vivo no Facebook.
Os pesquisadores afirmaram que todos os novos planetas do sistema da Trappist-1 poderiam ter água líquida na superfície, a depender das condições de pressão atmosférica.
Dos sete exoplanetas, três estão dentro do que se considera zona "habitável" - a uma distância da estrela Trappist-1 em que a vida é considerada uma possibilidade.
 
Arte mostra órbita de exoplanetas
 
"Os planetas são próximos um do outro e muito próximos da estrela, o que lembra a organização das luas de Júpiter", disse o belga Michaël Gillon, da Universidade de Liège, o principal autor da pesquisa.
"Mesmo assim, a estrela é tão pequena e fria que os sete planetas são temperados, o que significa que eles podem ter água líquida - e talvez vida, por extensão - na superfície."
Os astrônomos dizem também que poderão estudar as propriedades atmosféricas dos planetas usando telescópios disponíveis atualmente.
"O Telescópio Espacial James Webb, sucessor do Hubble, tem a possibilidade de detectar a marca do ozônio se esta molécula estiver presente na atmosfera de um desses planetas", afirmou Brice-Olivier Demory, da Universidade de Berna, na Suíça.
"Isso pode ser um indicador da atividade biológica no planeta."

Radiação

Mas Demory diz que é preciso ter cuidado ao inferir uma atividade biológica nos planetas a partir de observações feitas de longe.
Algumas das propriedades de super-anãs frias como a Trappist-1 podem dificultar a existência de vida. Por exemplo, algumas delas emitem grandes quantidades de radiação em forma de chamas, o que poderia esterilizar as superfícies dos planetas próximos.
Além disso, a zona habitável, no caso da Trappist-1, está bem próxima da estrela para que os planetas recebam o calor necessário para que exista água líquida.
Mas isso também causa um fenômeno conhecido como rotação sincronizada, que faz com que o planeta sempre mostre a mesma face para a estrela. Um lado do planeta estaria, portanto, sempre no "dia" e o outro, sempre na "noite".
Isso pode ter o efeito de fazer com que a face virada para a estrela fique quente e a outra, fria.
 
Comparação entre Sol e Trappist-1: Estrela-anã é bem menor que o Sol, conforme mostra essa ilustração da ESO
 

Visita

De acordo com os cientistas, o primeiro planeta na zona habitável do novo sistema, Trappist-1e, tem tamanho muito semelhante à Terra, e também recebe quantidade de luz semelhante à que recebemos do Sol. Por isso, pode ter temperaturas parecidas.
Já o Trappist-1f, segundo da zona habitável, tem órbita de nove dias, recebe luz de maneira semelhante a Marte e pode ser um planeta rico em água.
"Enquanto vivermos provavelmente não conseguiremos chegar até o sistema da Trappist-1. Estamos muito empolgados para usar nossos telescópios e descobrir o que há lá, mas teremos que deixar a visita para outras gerações", disse a astrônoma Sara Seager, professora do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês), durante o anúncio da Nasa.
Segundo Seager, se fosse possível viajar na velocidade da luz, o homem levaria 39 anos para chegar até o novo sistema planetário. Num avião como os que existem hoje, o tempo necessário seria 44 milhões de anos.
 
 
 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Praça do século VI é descoberta na Grécia

Resultado de imagem para foto de praça séc.v1 descoberta por obras do metrô na Grécia

As obras para a construção da primeira linha de metrô da cidade grega de Salônica, no norte do país, revelaram os restos de uma praça bizantina do século VI, publicou a imprensa local nesta terça-feira.
A praça oval, com colunas e pavimentada em mármore, é uma descoberta arqueológica relevante, já que uma construção de estilo romano similar só foi vista até hoje na cidade de Jerash, na atual Jordânia. A diferença, no entanto, é que os restos achados na segunda maior cidade grega estão em péssimo estado de conservação. Agora, cabe ao Conselho Central Arqueológico (KAS) decidir os próximos passos sobre a preservação parcial ou total do local.
A descoberta está muito perto de outra área arqueológica encontrada também durante a construção do metrô: a avenida bizantina da Salônica, o 'decumanus maximus' da cidade romana à época. Um acordo para a restauração e conservação da rua foi assinado recentemente pelo KAS e pela ministra de Cultura da Grécia, Lydia Koniordou.
 

"Arco Íris de fogo" surpreende moradores de Cingapura

Arco-íris de fogo em Cingapura

Um raro fenômeno coloriu os céus de Cingapura.
A nuvem multicolorida surgiu na tarde de segunda-feira e, por 15 minutos, pôde ser observada por toda a ilha.
A imprensa informou se tratar provavelmente de um "arco-íris de fogo".

Arco-íris de fogo em Cingapura
Arco-íris de fogo em Cingapura

O fenômeno ocorre quando a luz do sol é refletida pelos cristais de gelo das nuvens.
Mas outros afirmaram que poderia ser uma nuvem iridescente, quando a luz contorna um obstáculo, no caso, a nuvem, e acaba se separando em cores (difração).
 
Arco-íris de fogo em Cingapura
 
Fazidah Mokhtar, que trabalha em uma creche, disse à BBC que observou o fenômeno por volta das 17h10 de segunda-feira (6h10 de Brasília).
 
Arco-íris de fogo em Cingapura
 
"Começou como um pequeno círculo laranja e então cresceu e cresceu até que todas as cores apareceram...durou cerca de 15 minutos e desapareceu lentamente".
 
Arco-íris de fogo em Cingapura
 
Ela disse que "todas as crianças da escola, alguns pais e outros funcionários ficaram encantados com o que viam e comentaram que era muito, muito raro ver um arco-íris tão bonito e único".
 
Arco-íris de fogo em Cingapura
 
Nas redes sociais, usuários fizeram piada com o fenômeno. Muitos o compararam com o Paddle Pop, uma sobremesa congelada muito popular na Austrália e na Ásia que tem a aparência de um arco-íris.
 
Arco-íris de fogo em Cingapura
 
BBC Brasil

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Salmonela pode ter provocado queda do Império Asteca

Civilização Asteca, que vivia na região central do México, pode ter sido dizimada por salmonela trazida pelos espanhóis
 
Pesquisadores da Alemanha encontraram provas de que a queda do Império Asteca pode ter sido causada por um surto de salmonela. Ao estudar a arcada dentária de cadáveres astecas que datam 500 anos de idade, cientistas encontraram traços de DNA da doença.
O tipo de salmonela encontrada causa febre tifoide, que tem como sintomas febre alta, manchas no corpo e, sem tratamento, pode levar a hemorragias, úlceras, insuficiência renal e choque séptico.
A doença, que é transmitida através de comida, água e fezes contaminada, mata 10% das pessoas contaminadas se não for tratada. O surto epidêmico que resultou na queda dos astecas ficou conhecido como “cocolitzi”, que significa peste em náuatle, língua usada no império.
Para entender o que causou a peste mortal, pesquisadores extraíram os dentes de 29 cadáveres enterrados em Oaxaca, ao sul do México. Eles sequenciaram o DNA encontrado nos dentes e descobriram traços da bactéria ancestral.
Os estudiosos descobriram que o material genético presente nos dentes dos astecas batia com o DNA da salmonela depois de cruzar as informações em um banco de dados de bactérias modernas. Eles acreditam que a epidemia surgiu na Europa e chegou ao México por meio dos soldados espanhóis que colonizaram a América do Sul.
“Nosso estudo representa um primeiro passo em direção ao entendimento da troca de doenças no México”, afirmaram cientistas do Instituto Max Planck de Ciências e História Humana ao jornal britânico Daily Mail . A pesquisa ainda não foi publicada em veículos da comunidade científica.

Civilização Asteca

Apesar de manter capital em Tenochtitlan, onde hoje fica a Cidade do México, o império Asteca se estendia por toda a região central do território mexicano atual. A civilização se manteve estabelecida entre 1325 e 1521, quando houve a queda do império.
A obra mais famosa deixada como evidência da existência desse povo é o Templo Mayor, localizado no Centro Histórico da Cidade do México, a peça arquitetônica foi considerada Patrimônio Mundial da Unesco em 1987.
O fim dos astecas chegou com a dominação espanhola. Por mais que grande parte da civilização tenha morrido em confrontos, a nova descoberta prova que os espanhóis acabaram com o império não somente através de luta, mas também pela disseminação da salmonela.
 

Reino Unido pode oferecer viagem ao espaço até 2020

Além do turismo espacial, nova lei autoriza pesquisas com antibióticos em gravidade zero em busca da cura para bactérias como SARM e salmonela.

Novas leis sobre viagem espacial no Reino Unido fazem com que voos comerciais ao espaço sejam possíveis em três anos

Viajantes curiosos poderão voar direto de bases no Reino Unido ao espaço em apenas três anos. De acordo com as novas leis britânicas, voos comerciais à fronteira final podem estar disponíveis a partir de 2020.
Viajar ao espaço sempre pareceu ser um sonho futurista para aqueles que querem explorar o que existe fora do nosso planeta sem se tornarem astronautas. Richard Brenson, fundador das empresas Virgin Galactic e Xcor é uma das pessoas que pode transformar o sonho de sair de órbita em realidade.
Dentro da proposta da Virgin Galactic, os interessados na viagem devem pagar U$ 250 mil pelo voo (pouco mais de R$ 775 mil). SpaceX, a primeira nave comercial a realizar entregas para a Estação Espacial Internacional, também oferecerá viagens ao destino.
Os novos avanços significam que voos espaciais poderão decolar de portos britânicos em um período de tempo mais curto que a duração da construção de uma nova pista de pouso no aeroporto internacional de Heathrow, em Londres.
Ainda não foi definido o local onde será estabelecida a base espacial britânica, mas cinco cidades estão entre as finalistas, sendo três delas na Escócia. Por causa da distância entre o Reino Unido e a Linha do Equador, é possível que os lançamentos sejam feitos em pistas horizontais e não verticalmente, como é de praxe.
“Nossa ambição é permitir que o Reino Unido tenha acesso seguro e competitivo ao espaço, para que nos mantenhamos a frente dessa nova era espacial comercial”, disse o ministro das Ciências, Jo Johnson.
“Com o lançamento da nova lei, nós vamos estabelecer a posição do Reino Unido como um líder mundial nesse mercado emergente, nos dando a possibilidade de aumentar nossa força já existente nos campos de pesquisa e inovação”, afirmou Johnson.
Ao infinito e além
As novas leis não só possibilitaram o turismo no espaço, mas também permitirão que cientistas conduzam experimentos em gravidade zero em busca da cura para a superbactéria SARM e para a salmonela. Os pesquisadores farão testes com novos antibióticos em órbita na esperança de que algum deles apresente uma solução para a crescente resistência a medicamentos.
 

Alemanha encalha navio no gelo por um ano em 'maior expedição científica ao Polo Norte'

Polarstern
 
Um navio de pesquisa de 120 metros de comprimento, o Polarstern, deverá encalhar e flutuar pelo mar de gelo do Polo Norte. A viagem de 2.500 quilômetros começa em 2019 e deve durar um ano.
Pesquisadores esperam reunir informações sobre a região onde o clima vem mudando rapidamente. Mês passado, a extensão do gelo do Ártico foi a menor já registrada (durante a era dos satélites) para o mês de janeiro, com temperaturas vários graus acima da média de longo prazo.
"A redução do gelo do Ártico vem ocorrendo muito mais rapidamente do que os modelos climáticos podem prever, então precisamos de modelos melhores para ter previsões mais precisas para o futuro", disse o professor Markus Rex, que coordenará o chamado projeto MOSAiC.
"Há uma previsão de que em poucas décadas o Ártico não tenha gelo no verão. Esse seria um mundo diferente e precisamos saber disso antecipadamente; precisamos saber se isto vai ou não ocorrer".
Rex detalhou o plano durante o encontro anual da Associação Americana para Avanços da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).
O pesquisador alemão do Instituto Alfred Wegener, em Bremerhaven, disse que a expedição custará 63 milhões de euros (R$ 207 mihões), dos quais a maior parte já está financiada, com contribuições de parceiros internacionais estratégicos. Reino Unido, Rússia, China e Estados Unidos estão entre eles.
A missão lembra a expedição do explorador norueguês Fridtjof Nansen que, por volta de 1890, foi o primeiro a chegar ao Polo Norte e flutuar pelo mar congelado.
Uma escuna chamada Tara também atravessou o oceano de gelo - das águas da Sibéria até o Estreito de Fram - da mesma maneira, há uma década.
Mas o Polarstern é uma enorme plataforma científica e sua lista de tarefas e objetivos faz os esforços anteriores na região parecerem pequenos.
"Estamos embarcando vários equipamentos: muitos contêineres com instrumentos de medição, sensores de uso remoto para serem instalados no local, disse Rex.
"Vamos coletar amostras de água, gelo e ar, além de instalar acampamentos no mar gelado próximo ao Polarstern e a até 20-30 quilômetros de distância. E toda a instalação vai ficar à deriva pelo Ártico. Isto vai nos dar novas e fascinantes informações sobre o sistema climático".
A equipe do MOSAiC planeja até instalar uma pista de decolagem para que um avião de pesquisa auxilie o Polarstern.
 
Rota do navio
Será uma expedição complicada para os cientistas envolvidos, especialmente durante meados do inverno, quando o Sol não surgirá no horizonte. Os pesquisadores também terão que estar alertas à aproximação de ursos polares predadores.
Mas o professor Rex disse que a empreitada é vital para a compreensão da região remota, destacando sua importância até para quem vive longe do Polo Norte.
"Um polo mais quente afetaria os padrões climáticos em latitudes médias (entre os trópicos e os polos Sul e Norte)", ele disse à BBC News.
"O aquecimento do Ártico signfica que o contraste existente entre o Polo Norte e nossas latitudes será reduzida no futuro. Isto significa que o ar gelado do Ártico poderá chegar às nossas latitudes, e o ar mais quente de latitudes baixas, ao Polo Norte. Isto certamente provocará um grande impacto no clima".
O Polarstern deverá ser posicionado no gelo marinho em meados de 2019, com a previsão de ser liberado um ano depois.
 

Aumento das temperaturas globais ameaça "sufocar" os oceanos

 Pesquisa: nível de oxigênio oceânico diminuiu mais de dois por cento nos últimos 50 anos.: oceano
 
O oxigênio é essencial para a vida no Planeta, seja em terra ou mar. No entanto, o fornecimento desse gás para os seres marinhos está ameaçado pelo aquecimento global.
O alerta vem do estudo mais abrangente já realizado sobre a perda de oxigênio nos oceanos e publicado nesta semana na revista científica Nature.
De acordo com a pesquisa, o conteúdo de oxigênio oceânico diminuiu mais de dois por cento nos últimos 50 anos.
O fornecimento de oxigênio nos oceanos é ameaçado pelo aquecimento global de duas maneiras. A primeira é que águas de superfície mais quentes retêm menos oxigênio do que as águas mais frias.
Além disso, a água mais quente influencia a estratificação do oceano, tornando praticamente estanque a separação entre líquido quente, no topo, e frio, nas profundezas.
Isso enfraquece a circulação que liga a superfície com o oceano profundo e menos oxigênio é transportado para baixo. Por tabela, a redução da oferta de oxigênio oceânico tem consequências importantes para os organismos marinhos.
“Como os peixes grandes, em particular, evitam ou não sobrevivem em áreas com baixo teor de oxigênio, essas mudanças podem ter conseqüências biológicas de longo alcance”, diz em nota à imprensa Sunke Schmidtko, o principal autor do estudo, do Geomar Helmholtz Centro de Pesquisa Oceanográfica, em Kiel, na Alemanha.
O estudo reconhece que processos naturais ao longo de décadas também podem ter contribuído para a diminuição observada do oxigênio.
No entanto, os resultados da pesquisa são consistentes com a maioria dos cálculos de modelos que preveem diminuição do oxigênio nos oceanos devido a maiores concentrações de dióxido de carorbono atmosférico e consequentemente maiores temperaturas globais.
Além dos efeitos sobre a biodiversidade, essa perda também pode ter consequências prejudiciais para pescas e economias costeiras.

Como os fenômenos climáticos espaciais bagunçam nossos eletrônicos

 
Quando todas as fontes de erros são descartadas e 4.096 votos falsos são dados a um candidato, quem você culpa? Em alguns casos, esses tipos de erros podem estar vindo do espaço, de acordo com cientistas que discutiram esse enigma cósmico nesta sexta-feira, na reunião anual da Associação pelo Avanço das Ciências, em Boston.
O estudo reconhece que processos naturais ao longo de décadas também podem ter contribuído para a diminuição observada do oxigênio.
No entanto, os resultados da pesquisa são consistentes com a maioria dos cálculos de modelos que preveem diminuição do oxigênio nos oceanos devido a maiores concentrações de dióxido de carbono atmosférico e consequentemente maiores temperaturas globais.
Além dos efeitos sobre a biodiversidade, essa perda também pode ter consequências prejudiciais para pescas e economias costeiras.

Todos os dias, a Terra é vítima de um ataque de partículas de alta energia provenientes de toda a galáxia e até mesmo do nosso Sol. Essas partículas, especialmente os nêutrons, podem interagir com os semicondutores que abastecem chips de computadores e causam uma série de falhas em todos os nossos eletrônicos. Tais interações têm sido um problema para a aviação há várias décadas, mas, recentemente, a preocupação com os raios cósmicos afetando celulares, carros eletrônicos e até mesmo urnas eletrônicas tem crescido. Agora, empresas que fabricam eletrônicos para os consumidores estão tentando fabricar seus dispositivos de modo que resistam mais aos raios cósmicos cotidianos e a maiores fenômenos naturais espaciais, como as tempestades solares.

“Aparentemente, houve três milhões de votos ilegais em nossa última eleição”, brincou Bharat Bhuva, professor de engenharia elétrica da Universidade Vanderbilt, durante conversa na reunião anual, nesta manhã. “Só pode ter sido as erupções solares.”

Só para esclarecer, é extremamente improvável (leia-se “impossível”) que erupções solares tenham sido a fonte desses três milhões de votos, para qualquer um dos candidatos, nas eleições norte-americanas de 2016. Mas os efeitos prejudiciais de nêutrons de alta energia em nossos eletrônicos são reais. Quando nêutrons da barragem constante do clima no espaço colidem com o silício de nossos microchips, eles podem produzir partículas carregadas secundárias, causando voltagem em transistores e defeitos em dispositivos, chamados de “eventos únicos”. Os cientistas sabem que essas coisas acontecem, mas determinar se o clima do espaço causou um erro é frequentemente uma questão de descartar antes todas as outras possibilidades, disse Bhuva. Efeitos mais óbvios, como a danificação de um computador, exigiria normalmente um evento climático espacial extremo, por exemplo, uma grande ejeção de massa coronal do Sol.
Nossas chuvas de nêutrons diárias podem tanto produzir erros leves quanto graves, aqueles que podem ser consertados com um reinicialização e os que não podem, respectivamente, e muitos desses eventos você sequer notará. Entretanto, em seu diálogo nesta sexta-feira, Bhuva lembrou uma análise passada que descobriu que um evento de raio cósmico poderia ter causado 4.096 votos incorretos em uma eleição na Bélgica, em 2003.

Esses nêutrons não podem ser bloqueados, explicou Bhuva. Para tanto, seriam necessários vários centímetros de concreto, e você provavelmente não deseja carregar concreto consigo para onde quer que vá.
A chave, então, é amenizar esses erros, construindo elementos em excesso em seus dispositivos. “A NASA coloca três cópias de tudo em todas as suas espaçonaves”, explicou Jonathan Pellish, engenheiro aeroespacial do Centro de Voos Espaciais Goddard. “Em todas as missões Apollo, tínhamos três computadores fazendo o mesmo serviço a cada segundo”, já que as chances de dois problemas ocorrer em dois chips simultaneamente são muito pequenas. Lidar com os efeitos do clima no espaço em eletrônicos para consumidores também exige muitos testes, para se certificar de que os chips ainda funcionarão independentemente dos ataques subatômicos.
Então como é que você recria condições climáticas espaciais na Terra para testar os eletrônicos? Se o seu palpite foi “com um acelerador de partículas”, você está certo. Determinadas fontes de nêutrons, como aceleradores de partículas, podem produzir o equivalente a centenas de anos de nêutrons como aqueles presentes em raios cósmicos em apenas uma hora, explicou Christopher Frost, cientista do Rutherford Appleton Laboratory (RAL), que tem trabalhado no ChipIR, um instrumento no Reino Unido que irá ajudar a testar os efeitos dos nêutrons em chips de silício. Fabricantes de microchips podem usar essas instalações no Laboratório Nacional Los Alamos, no Novo México, e, em breve, o ChipIR no acelerador, no RAL, para observar os efeitos de uma barragem de nêutrons cósmicos de longo prazo em seus chips, decidindo, então, como gostariam de reagir.

“Você não quer proteger tudo”, contou Frost ao Gizmodo. “Você quer aprimorar as partes problemáticas. Se um smartphone para de funcionar uma vez, é irritante”, mas o objetivo real é evitar falhas sistemáticas.

Frost não quis arriscar o quanto desses testes de clima espacial aconteceram nas urnas eletrônicas dos EUA, mas apontou que isso é parte importante dos testes de eletrônicos em geral. Os engenheiros estão cientes desses problemas, disse Bhuva, e seguem trabalhando neles. Não surtem com a ideia de raios cósmicos terem afetado eleições.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Zelândia: O oitavo continente?

Nova Zelândia
 
Zelândia é um fragmento continental localizado no Oceano Pacífico, da qual a Nova Zelândia faz parte. Ela é um pedaço de crosta continental que se desprendeu dos demais continentes no seu processo de fragmentação, há 200 milhões de anos, considerado pequeno demais para ser um deles. Mas, cientistas em um manifesto publicado na última edição do GSA Today, periódico científico da Sociedade Geológica dos Estados Unidos, discordam dessa classificação. Segundo o artigo opinativo, “sua separação da Austrália e grande área sustentam sua definição como continente” e não como um fragmento.
Com 4,9 milhões de quilômetros quadrados e, segundo os autores, todas as características de um continente, Zelândia deve ser considerada como tal, e não como um pedaço de crosta. Se levada em conta a divisão que mistura critérios geológicos e socioculturais que estabelece sete continentes – Américas do Norte e Sul, Europa, Ásia, África, Oceania e Antártida – a Zelândia seria o oitavo deles.
A Zelândia fazia parte do supercontinente Gondwana que, junto a Laurásia, agrupava toda a massa terrestre. Há cerca de 200 milhões de anos, ambas se fragmentaram e deram origem aos continentes atuais. Gondwana se dividiu em dois blocos que geraram posteriormente Antártica, Índia, Madagascar, Austrália, América do Sul e África. Já a Laurásia dividiu-se para formar os continentes do Hemisfério Norte.
De acordo com o artigo, a área da Zelândia seria maior que a Índia e equivalente a quase dois terços da Austrália. E, para os geólogos, que pertencem em sua maioria ao centro nacional de investigação científica da Nova Zelândia (GNS), ela seria grande o suficiente para ser considerada um continente. Além disso, segundo dados de satélite e expedições geológicas marinhas recentes, a região teria a elevação, geologia, largura e propriedades físicas próprias de um continente. Ela não é só mais elevada, como também mais espessa em relação ao fundo da bacia oceânica em seu entorno. De acordo com os cientistas, a extensão ainda apresenta uma crosta continental com contorno bem definido, com aproximadamente 94% de seu território abaixo do nível do mar.
Terra.com
continente-zelandia

“A Zelândia é um exemplo de como coisas grandes e óbvias nas ciências naturais podem ser negligenciadas”, escreveram os geólogos. Se aceita, a Zelândia seria o sétimo maior continente geológico, mas, o mais novo, estreito e submergido.
Segundo os autores, o valor científico de reclassificar a Zelândia ultrapassa o fato de acrescentar um nome a uma lista de continentes. “O fato dela conseguir estar tão submersa sem se fragmentar faz disso algo útil a ser explorado”, ressaltaram. As novas evidências geológicas citadas pelo artigo trazem novos recursos para se compreender a configuração atual da Terra.
Desde 1906 se sabe da existência de regiões mais elevadas no Oceano Pacífico, ao norte e ao sul da Nova Zelândia. Mas a ideia de continente só foi adotada em 1995, pelo geofísico americano Bruce Luyendyk. Apesar da precisão dos estudos ter aumentado nas últimas décadas, a confirmação ainda depende da comunidade científica, que não compreende a Zelândia como um continente. O artigo, no entanto, é um grande passo nessa direção.

Continente perdido

Nas últimas semanas, pesquisadores da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul, afirmam ter encontrado indícios da existência de Mauritia, um continente submerso no Oceano Índico que teria desaparecido há 200 milhões de anos. No Brasil, cientistas brasileiros e japoneses encontraram rochas continentais na Elevação do Rio Grande, região há 1.500 quilômetros do litoral do Sudeste do país, em 2013. Eles sugeriram que a área pode ser um pedaço da América Latina que ficou para trás com a divisão dos continentes.
Veja.com

O que Churchill pensava da vida extraterrestre

 
Além de político, historiador e grande orador, Winston Churchill (1874-1965) entendia de ciência. Num ensaio escrito meses antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial e nunca publicado, o ex-primeiro-ministro britânico fala da vastidão do espaço, da existência de milhões de estrelas e seus planetas e das condições necessárias à vida. Seu título, Estamos sozinhos no Universo? é uma declaração de humildade humana, ao mesmo tempo que mostra o grande conhecimento de Churchill sobre astronomia e astrofísica.
O ensaio, um documento de 11 páginas datilografadas, “tem um estilo acessível e fácil de ler, pois foi planejado para ser publicado num jornal”, diz o astrofísico e escritor Mario Livio, um dos poucos que puderam tê-lo nas mãos. O mais provável é que seria publicado no dominical News of the World. No entanto, nunca chegou às bancas. O texto, conservado pelo editor dos escritos de Churchill, Emery Reves, foi cedido pela mulher deste ao Museu Nacional Churchill dos EUA em 1980. Desde então ficou numa gaveta até que, no ano passado, o diretor do museu o mostrou a Lívio.
“Seu conhecimento do assunto é muito bom, embora não seja perfeito. Ele usou um modelo relativamente antigo para a formação dos planetas e não tinha uma boa compreensão da expansão cósmica, mas os passos lógicos que dá são os que se esperam de um cientista”, analisa o autor de obras como The Golden Ratio (O Número Áureo) e Brilliant Blunders: Colossal Mistakes by Great Scientists That Changed Our Understanding of Life and the Universe (Equívocos Brilhantes: Erros dos Grandes Cientistas que Mudaram Nossa Maneira de Entender a Vida e o Universo). Mesmo errando, Churchill demonstra estar atualizado em relação à astrofísica do seu tempo. Sua ideia sobre a formação dos planetas, com o gás desprendido pelo encontro entre duas estrelas, era uma teoria postulada pelo astrofísico James Jeans que teve repercussão durante boa parte do século XX.
Erros à parte, o ensaio de Churchill sobre a existência de vida além da Terra é uma análise muito aguçada e válida para os conhecimentos disponíveis na época. Além disso, a maior parte do seu conteúdo permanece totalmente válido 80 anos depois. Assim, sua exposição parte da necessidade de água para a vida existir e a água é uma das pistas seguidas pelos cientistas que procuram a vida hoje. Ademais, o britânico anota nas margens: “Entre alguns poucos graus abaixo do ponto de congelamento e o ponto de ebulição da água”.
 
 
Outro elemento-chave, como escreveu Churchill com acerto, era a capacidade de o planeta ter e reter sua atmosfera, o que envolve a intervenção de uma força de gravidade suficiente. Essas ideias, junto com aquelas sobre a água e a distância em relação à sua estrela, são os aspectos fundamentais para definir o que hoje se conhece como zona habitável, a região em que deve estar um planeta para ter as condições necessárias para acolher a vida. Por isso Churchill inclui apenas Marte e Vênus nessa região e descarta os outros planetas do Sistema Solar por serem muito quentes (Mercúrio) ou muito frios, e suas diferentes luas por causa da gravidade reduzida.
Pelo caminho da ciência, Churchill chegou aos exoplanetas. Apesar de não usar esse conceito nem o de planetas extra-solares, ele tinha claro que há milhões de estrelas lá em cima e afirmava com humildade: “Não sou tão vaidoso a ponto de pensar que o meu sol é o único com sua família de planetas”. A mesma lógica o levou a pensar que muitos deles devem estar na zona habitável. O que o levou a fazer a pergunta que dá título ao ensaio.
“Parecia impossível para ele sustentar que a Terra era o único lugar do universo com vida”, comenta Livio, que publicou sua análise do ensaio na revista Nature. No entanto, na hora de imaginar como seria essa vida, ele deixa a tarefa aos escritores de ficção científica; “Churchill se limita a acreditar que existem outras civilizações inteligentes”, acrescenta o astrofísico norte-americano de origem israelense. Mas aquele que poucos meses depois teria de liderar seu país durante a Segunda Guerra Mundial duvidava, com certo ar de melancolia, de que “fôssemos o tipo de desenvolvimento físico e mental mais elevado que já surgiu na vasta esfera do espaço e do tempo”.
El País.com

Cientistas anunciam plano "mirabolante" para "recongelar" o Ártico

Cientistas anunciam plano mirabolante para “recongelar” o Ártico

Situações extremas pedem medidas desesperadas. E o Ártico passa por um momento crítico: está 20 ºC acima da média histórica registrada, de acordo com o relatório do Instituto Meteorológico da Dinamarca.
O aquecimento global vem preocupando, cada vez mais, os cientistas – que resolveram tomar atitudes drásticas em vez de ver o gelo desaparecer da região em um ritmo sem precedentes. Para salvar o Ártico, eles bolaram um plano ousado de “recongelar” . Sim, você leu isso mesmo.
A ideia mirabolante inclui instalar cerca de 10 milhões de bombas eólicas sobre um calota e trazer águas gelada do mar à superfície para restabelecer o gelo derretido. A equipe, responsável pelo “projeto”, acredita que o procedimento poderia adicionar um metro extra de gelo marinho para a camada atual – o que ajudaria a protegê-la das altas temperaturas que têm afetado a região.
“O gelo mais espesso significa um gelo mais duradouro”, afirmou Steven Desch, pesquisador e físico da Universidade Estadual do Arizona, em entrevista ao The Guardian. Segundo ele, um metro a mais de gelo significaria reverter 17 anos de derretimento.
Mas, para que isso funcione, o sistema precisaria bombear 7,5 kg por segundo de água. E para construir 10 milhões de bombas, seria preciso 10 milhões de toneladas de aço. Isso tudo para cobrir apenas 10% da área de 107 km2 do Ártico. Já imaginou levar tudo isso para o Polo Norte?
É claro que isso não passa de uma teoria e, provavelmente, nem vai sair do papel. Para início de conversa, esse projeto está estimado em cerca de US$ 500 bilhões. Ou seja, todos os governos do mundo teriam que se empenhar para arcar com os custos astronômicos da instalação desse ar-condicionado gigante.
Vale lembrar que esta não é a primeira vez que pesquisadores consideram seriamente usar a geoengenharia para reverter o aquecimento global. As proposta anteriores incluíam branquear artificialmente o Ártico com aerossóis brilhantes para rebater a radiação de volta ao espaço; e criar nuvens artificiais acima da região para impedir que o calor atinja a superfície de gelo.  
Para Steven, a única estratégia atual de salvamento seria o mundo parar de queimar combustíveis fósseis – embora, os esforços políticos para diminuir as emissões de CO2 tenham se revelado ineficazes até agora. “Vamos ser realistas. O projeto é grande e nunca vai acontecer da maneira como deveria, mas está na hora de considerarmos os riscos e tentar algo louco”, disse ele, que alerta para cenários catastróficos nas próximas décadas caso nenhuma medida seja tomada.  

Pontes de estrelas une duas galáxias na órbita da Via Láctea

Há uma ponte de estrelas ligando duas galáxias satélite da Via Láctea
 
Um observatório espacial europeu chamado Gaia está desde 2013 no vácuo fazendo um catálogo com a posição e o brilho de mais de um bilhão de estrelas da Via Láctea e de suas redondezas – um Google Maps tridimensional da nossa vizinhança cósmica.
A resolução do telescópio, projetado pela Agência Espacial Europeia (ESA) e lançado em 2013, é semelhante à do Hubble, seu irmão mais velho. Mas sua abrangência é muito maior: ele é capaz de varrer todo o céu em só um mês, e ao final do ciclo voltar do início. O resultado é um registro preciso de como cada estrela evoluiu no céu ao longo do tempo –  dá para saber quais astros estão pulsando e até quais explodiram. Um verdadeiro paraíso da informação para os astrônomos: mais ou menos como a sensação de dirigir com o aplicativo Waze depois de alguns meses usando um mapa de lista telefônica.
Com esses dados em mãos, um grupo de pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, decidiu entender melhor a história das galáxias anãs que estão na órbita da Via Láctea usando estrelas chamadas RR Lyrae. Elas são antigas e brilham pouco, e por causa disso são muito estáveis: pulsam a taxas conhecidas e previsíveis. Assim, servem de ponto de referência para entender o que mudou ao redor delas.
A descoberta mais notável do grupo, até agora, é uma ponte de estrelas de 43 mil anos-luz ligando as duas acompanhantes mais famosas da Via Láctea: a Grande Nuvem de Magalhães (LMC), de 14 mil anos-luz de diâmetro, e sua irmã menor, a Pequena Nuvem de Magalhães (SMC), com exatamente metade do tamanho. Apesar da aparência idílica, ela é o resultado de uma colisão muito, muito grande. “Nós comparamos o formato e a posição da ponte a simulações das duas nuvens de Magalhães conforme elas se aproximam da nossa galáxia”, explicaram os pesquisadores . “Muitas estrelas da ponte parecem ter sido arrancadas da SMC há 200 milhões de anos, quando as duas galáxias-anãs passaram muito perto uma da outra.”
Outras podem ter sido arrancadas da LMC pela própria interação gravitacional com a Via Láctea, que é muito maior. A ponte, no fim, acaba servido como uma espécie de rastro, uma trilha de pedrinhas deixada pelas galáxias-satélite conforme elas cortam o céu. Um registro muito útil considerando que elas se movem devagar demais para a percepção humana, e que pode ajudar os astrônomos a entender como funciona o jogo de forças entre objetos tão grandes quanto aglomerados de bilhões de estrelas – a Pequena Nuvem de Magalhães, sozinha, tem massa equivalente a 7 bilhões de sóis. 

Alimentos: O que precisa ou não ficar na geladeira

As geladeiras normalmente ficam cheias de alimentos que poderiam ser armazenados do lado de fora. Então, por que tanta gente insiste em colocar quase tudo dentro delas?
 
Geladeira aberta e cheia de alimentos
Uma rede britânica de supermecados reascendeu essa polêmica recentemente ao dividir parte do seu estoque de ketchup entre prateleiras convencionais e o refrigerador.
O Asda explicou pelo Twitter que tentou agradar os clientes. Foram ouvidas 2,6 mil pessoas em uma pesquisa da rede: 54% disseram que o ketchup deve ficar em temperatura ambiente, enquanto 46% afirmaram que deve ficar refrigerado.
Afinal, alimentos como ovos, manteiga e algumas frutas precisam necessariamente ficar o tempo todo refrigerados?
Polly Russell, historiadora de alimentos do programa da BBC "Back in Time for Dinner" (De Volta no Tempo para Jantar, em tradução livre), diz que refrigerar comida poderia ser considerado "bizarro" no passado.
Russell observa que muitas marcas britânicas, em especial de molhos e de ketchup, eram vendidas antes de as pessoas terem geladeira em casa.
"No passado, famílias não tinham geladeiras, apenas caixas térmicas ou vasilhas com gelo, no caso dos ricos", recorda Russell. "Esses produtos eram salva-vidas para donas de casa, porque adicionavam sabor à comida"
O nível de acidez desses alimentos, junto com seu conteúdo, que leva sal e açúcar, os torna microbiologicamente seguros para serem mantidos em temperatura ambiente.
 
Episódio de 'Back in Time for Dinner'
Programa da BBC levou uma família para uma cozinha dos anos 1900
 
O programa "Further Back in Time for Dinner" tenta reproduzir em detalhes uma época específica do passado e simular como as refeições eram preparadas e consumidas.
As "cobaias" são famílias que topam participar do show e "voltar no tempo" para jantar em épocas em não exitia eletricidade ou equipamentos sofisticados na cozinha.
Na última temporada, a família Robshaw foi enviada para uma casa dos anos 1900. Vestidos com roupas da época, eles se deparam com uma cozinha com um armário e um recipiente estofado em vez de um refrigerador ou congelador.

Segurança alimentar

Isso começou a mudar por volta de 1961, quando 20% das famílias famílias britânicas já tinham uma geladeira em casa, segundo uma pesquisa de Russell. No entanto, na mesma época, metade das famílias já eram donas de um aparelho de TV.
Foi somente a partir de 1968 que metade dos britânicos passaram a ter geladeiras. Quase 70 anos depois, a maioria das pessoas é obsecada pelo aparelho.
Russell avalia que agora há uma "grande ansiedade" sobre a segurança alimentar, o que faz com que a tendência seja resfriar alimentos mesmo quando isso não é necessário.
"Os consumidores não confiam no que compram e ouvem mensagens contraditórias sobre o que é ou não seguro", diz.

Bananas e laranjas

Dentro ou fora?

O Serviço de Saúde do Reino Unido (NHS) faz algumas recomendações sobre a melhor forma de armazenar certos alimentos:
- Ketchup: pode ter a cor e o sabor alterados se ficar fora da geladeira, mas sua acidez garente que seja seguro consumí-lo mesmo assim.
- Tomates: perdem o sabor se forem refrigerados, porque a produção de enzimas é reduzida.
- Bananas: dentro da geladeira, aumenta o prazo para consumo, mas precisam amadurecer do lado de fora antes.
- Abacates: não amadurecem apropriadamente se forem refrigerados ainda verdes.
- Ovos: é melhor mantê-los na geladeira, assim, serão armazenados a uma temperatura constante.
- Sobras de alimentos: é preciso esperar que esfriem antes de colocá-las na geladeira, mas precisam ser consumidas em no máximo dois dias.
- Pão: podem ressecar e até envelhecer mais rápido dentro da geladeira, mas podem ser congelados.
- Cebolas e batatas: melhor manter em um armário fresco e escuro.
- Manteiga: mantenha no refrigerador, em especial as sem sal, mas pode ficar do lado de fora por um dia ou dois.

'Medo cultural'

Algumas pessoas estão tentando resistir a essa ânsia de guardar tudo refrigerado. "Se mais pessoas se dedicarem a preservar os alimentos, podemos reduzir a necessidade do uso da geladeira", diz Caroline Aitken, professora de preservação de alimentos de Dartmoor.
Aitken ensina sobre a permacultura, movimento que começou na década de 1970 e promove a auto-suficiência, cultivando alimentos naturalmente e minimizando o desperdício.
Aitken emenda que existe um "medo cultural" de deixar o alimento fora do refrigerador e vê-lo estragar. Como solução, ela sugere a conserva de alimentos, usando sal e água. Para o caso de alguns doces, como geleia, ela propõe conservas açucaradas.
"Eu geralmente adiciono três colheres de sal para cada dois quilos de legumes triturados", diz ela. "O chucrute (conserva de repolho fermentado) e o kimchee (fermentado coreano de vegetais) são ótimos."
Aitken diz que as pessoas costumam exagerar ao guardar alimentos na geladeira, mesmo depois de cozidos. "Você tem como mantê-los frios do lado de fora", disse ela.

Ketchup

"Se eu faço um cozido, por exemplo, posso guardá-lo em um pote apoiado em um chão de pedra para comê-lo no dia seguinte", completa.
De acordo com o governo britânico, os custos de eletricidade para manter funcionando um refrigerador comprado em 2013 por aproximadamente 12 anos e meio é de aproximadamente 270 libras (R$ 1,1 mil).
Mas viver sem esse aparelho pode ser difícil. Até mesmo Aitken diz refrigerar algumas coisas, como seu iogurte caseiro. "Eu só não exagero: tomates, frutas cítricas e ovos não devem ficar na geladeira."
BBC Brasil 

Cientistas encontram vida "adormecida" há mais e dez mil anos em cavernas de cristal

Cavernas
 
Cientistas extraíram e reviveram micróbios que estavam "adormecidos" havia milhares de anos dentro dos famosos cristais gigantes das cavernas da montanha de Naica, no México.
Acredita-se que esses organismos ficaram encapsulados nas impressionantes formações de gipsita (pedra de gesso) por um período que pode variar entre 10 mil e 50 mil anos.
Para os pesquisadores, essa é mais uma demonstração do poder da vida em se adaptar e sobreviver mesmo nos ambientes mais hostis.
"Outras pessoas já haviam afirmado ter encontrado organismos muito antigos ainda vivos, mas neste caso todas essas criaturas são excepcionais - elas não são parentes próximas de nada que esteja nos bancos de dados genéticos conhecidos", afirmou Penelope Boston, uma das cientistas responsáveis pelo achado.
Nova diretora do Instituto de Astrobiologia da Nasa, a agência espacial americana, em Moffett Field, na Califórnia, ela descreveu a descoberta no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS, na sigla em inglês).

Pesquisadores nas cavernas

Graças à imperfeição

Encontradas um século atrás por mineiros que procuravam por prata e outros metais valiosos, as profundas cavernas de Naica são o lugar ideal para o trabalho de cientistas interessados em estudar os extremófilos - organismos que conseguem viver em condições praticamente impossíveis.
O ambiente é bastante quente - as temperaturas variam entre 40°C e 60°C -, úmido e ácido. Como não há luz, todas as formas de vida existentes ali sobrevivem por meio da quimiossíntese, processo pelo qual extraem a energia de que precisam da oxidação dos minerais.
Pesquisadores já haviam identificado micróbios vivendo nas paredes das cavernas - a surpresa foi extrair exemplares de dentro dos cristais gigantes.
Isso foi possível porque essas formações pontiagudas de gipsita, que levaram milhões de anos para chegar ao tamanho atual, não são perfeitas. Há defeitos em algumas partes, vazios nos quais fluidos acabaram encapsulados.
 
Naica
 
Utilizando ferramentas esterilizadas, Boston e seus colegas abriram alguns desses espaços e retiraram amostras de seu conteúdo.
O mais surpreendente é que os cientistas não só detectaram a presença de bactérias e arqueas, mas também conseguiram reanimá-las em laboratório.
A descoberta, porém, levantou uma questão: será que esses organismos não poderiam ser simplesmente resultado de contaminação ou terem sido introduzidos acidentalmente pela equipe de pesquisadores ou por mineiros?
A diretora da Nasa garante que não.
Cientistas já haviam anunciado anteriormente ter revivido criaturas que acreditavam estar dormentes havia milhões de anos, retiradas de cristais de sal ou gelo. Embora todos esses achados sejam controversos, Boston diz que, diante de tudo que viu em Naica e em outros ambientes semelhantes, está inclinada a aceitá-los.
O que dá a ela confiança sobre a importância das cavernas mexicanas é a grande diversidade de vida existente ali.
"Outros grupos têm mostrado que há muitos vírus nessas cavernas, e o que eles dizem para mim é que essas comunidades microbiais são completamente desenvolvidas e têm uma carga viral, assim como qualquer outra. Esse é outro aspecto que vai contra a ideia de uma contaminação acidental", afirmou a repórteres.
"O elo astrobiológico é óbvio. Qualquer sistema extremófilo que estejamos estudando nos permite ir além no conhecimento sobre a vida na Terra, e nós incluímos isso no rol de possibilidades que podemos aplicar em diferentes configurações planetárias."
 
Cristais e a parede de caverna
 
Para muitos cientistas, se houver vida em outro lugar do Sistema Solar, é provável que ela esteja no subterrâneo, sobrevivendo da quimiossíntese, assim como os micróbios das cavernas de Naica.
Boston afirmou que seu time estava prestes a submeter um artigo sobre o achado a uma relevante publicação científica.
Em sua conversa com repórteres, ela lamentou o fato de o complexo de cristal ter ficado inundado após a recente interrupção dos trabalhos de mineração, o que impede um novo acesso.
"É lindo de chorar lá embaixo. Escrevi vários poemas sobre isso."

Caves
BBC Brasil

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Viagem às nossas profundezas: a chave está no intestino

 
Sabe aquela bolha de ar que chegou até o seu céu da boca no meio de um concerto de Vivaldi interpretado por um quarteto de cordas? É produto da digestão. Chama-se arroto e vem das profundezas abissais que nos formam, das quais estamos feitos e sobre as quais talvez refletiremos um pouco. Quando essa bolha é acre, deve-se a um excesso de acidez no estômago. Talvez você beba demais, coma mal ou tome muito café, não sei. Ou quem sabe sofra de estresse. No aparelho digestivo, com a mesma facilidade com que entra uma massa, penetra uma emoção. Não é fácil saber se uma pessoa é desafortunada pela ardência do estômago ou se tem ardência de estômago por ser desafortunada. A angústia instala-se com frequência ali, na O homem que recebe, pesaroso, as mostras de dor e solidariedade de familiares e amigos, enquanto contempla o corpo de sua mãe morta, está fazendo a digestão, assim como os que dão os pêsames ou caminham ensimesmados de um lado para outro da funerária, onde alguém se ocupou de servir café e salgadinhos aos visitantes. Alguns dos parentes, enquanto assimilam a perda, dedicam-se a formar na boca, com esses salgados, um bolo alimentar que, uma vez triturado pelos dentes e banhado no caldo produzido pelas glândulas salivares, atravessará a faringe e descerá pelo esôfago até cair nessa bolsa muscular de um litro e meio chamada estômago.
A aventura do bolo alimentar, que perdeu sua forma e talvez parte de sua essência, apenas está começando. No estômago será submetido a um tratamento mecânico-químico que o transformará numa massa chamada quimo. Nada resta de seu contorno original, mas também aqui sua base terá sido alterada para dar origem à separação entre o solúvel e o insolúvel. Em seguida, o quimo atravessará uma porta que leva ao intestino delgado, onde, ao longo de seus seis metros de comprimento, cheios de curvas, continuará degradando-se devido às secreções glandulares, para então chegar ao intestino grosso, um conduto de um metro e meio que desemboca no reto e daí ao ânus, orifício pelo qual são expulsadas as sobras não digeríveis da massa que os familiares citados acima haviam colocado inocentemente na boca, acompanhada de uma taça de café.
A finalidade do processo digestivo é simplesmente transformar os alimentos que levamos à boca em unidades mais simples e solúveis, capazes de serem absorvidas pelas paredes do trato digestivo e penetrar assim na corrente sanguínea para alimentar as células do corpo. Uma aventura química e física notável que realizamos, ou que nosso aparelho digestivo realiza, enquanto recebemos os pêsames, enquanto passeamos pelo parque, assistimos a uma aula de matemática, uma conferência de teologia, uma reunião de trabalho ou à representação de uma peça de Shakespeare. Também enquanto bocejamos em frente ao noticiário, onde aparece uma cidade recentemente bombardeada em que morreram centenas de civis, muitos deles crianças. Aquele casal de jovens que, depois de comer, faz sexo como se o mundo fosse acabar, na sala da fotocopiadora da sua empresa: os dois também fazem a digestão enquanto gemem.
chamada boca do estômago, impedindo a entrada de uma porção apetitosa de presunto de Parma, quando na verdade não podemos engolir é quem nos oferece a iguaria. Tal transformação do psíquico em físico explica, muitas vezes, por que um susto pode provocar uma disenteria ou por que o afã de reter riquezas pode desencadear constipação.
Da boca até as nádegas, enfim, é tudo aparelho digestivo, ou trato digestivo, que soa melhor, mais técnico. O trato, resumindo, é formado, em ordem descendente, por boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, reto e ânus. Também fazem parte desse aparelho o fígado, a vesícula biliar e o pâncreas, glândulas que jogam no intestino diversos sucos essenciais ao processo de decomposição dos alimentos. O fígado, além disso, armazena nutrientes e joga fora as toxinas.



Mas o ponto é: somos atravessados por um vazio formado por tubos e câmaras, não por um vazio reto, que busque a distância mais curta entre dois pontos. Pois se da garganta até ânus, por fora, existem apenas quatro ou cinco palmos de longitude, por dentro há onze metros ou mais. O trato, quando chega ao intestino delgado, dobra-se fazendo ziguezagues, como um circuito de Fórmula 1 diabólico ao longo do qual a pasta ingerida no velório da mamãe vai se transformando simultaneamente em alimento e lixo. Seria correto dizer que o aparelho digestivo transforma tudo em excremento, mas também seria injusto e incompleto. Parte dos glucídios, lipídios e proteínas que introduzimos na boca é transformada em ouro, em ouro líquido que é filtrado pelas paredes do tubo para chegar ao sangue, que o transporta até os confins da geografia corporal para nutrir todas as nossas células. A maioria dos órgãos mencionados, que pesam e ocupam seu espaço, está disposta e organizada no interior de uma membrana chamada peritônio, com o mesmo cuidado com que vemos disposta a roupa dentro da mala de um sujeito obsessivo.
Poderíamos afirmar que o ânus é uma boca inversa, já que, ao invés de engolir, “desengole”. Existem mais piadas sobre a bunda que sobre a boca, vai saber por quê. O aparelho digestivo, em geral, sempre foi alvo de incontáveis ironias e até emergiu sobre ele uma subespécie do humor, em sua maioria de mau gosto, qualificado de escatológico. O escatológico, de acordo com uma acepção do dicionário, é o pertencente ou relativo aos excrementos e sujeiras. Nada a ver com o tom grave e circunspecto, quando não professoral, que utilizamos para falar do aparelho cardiorrespiratório, sobre o qual praticamente não existe literatura humorística.
 
 
Pois bem. Acontece que o aparelho digestivo está na moda. Na Alemanha, por exemplo, foram vendidos mais de 1 milhão de exemplares de um livro interessantíssimo e rigoroso chamado A Vida Secreta dos Intestinos. Sua autora, Giulia Enders, conta no prefácio que aos 17 anos apareceu-lhe uma ferida na perna direita. Longe de sarar com os diferentes tratamentos, a ferida se estendeu inexplicavelmente para a outra perna e inclusive para os braços e as costas. Reunindo informações aqui e ali, Enders descobriu o caso de um homem que havia sido acometido por algo parecido depois de tomar antibióticos. Ela também havia tomado. “A partir daquele momento”, diz ela, “deixei de tratar minha pele como um doente da pele e o fiz como um doente do intestino.” O livro de Enders, que não deixa de fora um único assunto relacionado com a digestão, contém dados curiosíssimos. Afirma, por exemplo, que as hemorroidas, a diverticulite e a prisão de ventre quase não existem em países onde as pessoas evacuam de cócoras. Seriam, portanto, patologias provocadas pela postura que somos obrigados a adotar por causa da forma do vaso sanitário, um móvel cuja comodidade e desenho são motivos de orgulho do mundo ocidental. Mas você não precisa ter pressa, diz Enders. Para corrigir os efeitos nocivos do desenho artístico, basta colocar diante do vaso sanitário um banquinho para apoiar os pés enquanto inclinamos um pouco o corpo para frente. E assim os órgãos já estarão dispostos para uma evacuação satisfatória.
O aparelho digestivo reivindicou sua importância, digamos, e não somente ocupa o centro de nosso corpo, formando o eixo ao redor do qual se dispõem nossas metades simétricas, mas também ocupa hoje as conversas sobre nutrição, obesidade, fome, saúde e bem-estar. “Coma pouco e jante menos ainda, que a saúde de todo o corpo se forja na oficina do estômago”, dizia Dom Quixote a Sancho Pança, recomendação que é consenso entre os médicos atuais, quatro séculos depois.

O aparelho digestivo na visão de um bioquímico

Tivemos a ideia, a propósito do que estamos falando, de pedir um encontro com o bioquímico e geneticista Carlos López Otín, que nos recebeu em seu gabinete do Departamento de Bioquímica da Universidade de Oviedo. Ante nossas perguntas, ele atribuiu esse renovado interesse pelo aparelho
digestivo aos estudos da ciência atual sobre a microbiota e os metagenomas.
− Nosso organismo – diz Lopez Otín – é a soma das células humanas e dos micróbios que nos habitam, cujo conjunto chamamos de microbiota ou microbioma. A soma das duas coisas é chamada holobionte. Um todo.
– Falemos sobre a parte não humana.
 
 
– A microbiota é formada fundamentalmente por bactérias, embora também haja vírus e parasitas de todo tipo, mas sobretudo bactérias. Durante muito tempo, pensou-se que o número de bactérias que nos habitam era 10 vezes superior ao número de células humanas. Hoje, com um cálculo muito recente, sabemos que esse número é só um pouco superior, digamos que 1,3 vezes, ou seja, pode haver 40 bilhões de bactérias dentro do corpo humano. Mas dá no mesmo, 30 ou 50. São bilhões.
– E que porcentagem dessas bactérias está no aparelho digestivo?
– Mais de 90%.
– São distribuídas igualmente ao longo de todo o trato?
– Estão concentradas sobretudo no cólon. O cólon humano é um dos lugares de maior densidade microbiana do planeta. De alguma maneira – acrescenta ironicamente –, é a nossa verdadeira vida interior. Nossa vida interior surge daquilo que nos habita, que é mais do que nos é próprio.
– Essas bactérias são especializadas?
– A maioria das bactérias do organismo, a imensa maioria, é absolutamente benéfica e foi se incorporando ao longo da evolução, numa simbiose muito elaborada em que participam estabelecendo uma sintonia adequada de praticamente todas as funções do organismo, incluindo funções neurológicas. O conjunto de bactérias que nos habitam, como já disse, chama-se microbiota ou microbioma. Podemos reconhecer cada coisa e a quem pertence por seu material genético. Cada ser humano tem seu próprio genoma, 3 bilhões de peças químicas acopladas numa tira de mais de dois metros em cada célula humana. As bactérias também têm o seu próprio material genômico, construído com os mesmos princípios, mas muito menor e de forma circular em vez de linear. Você pode analisar o genoma humano e dizer: “Tenho as chaves da essência humana, consultei o oráculo de Delfos e pude ler a mim mesmo; perguntei-me quem sou e o oráculo me respondeu lendo o meu genoma; ainda hoje não sei dizer o que significam muitas das letras que o compõem, muitas das variantes, mas aqui estão os segredos.” Mas se temos dentro de nós material genético de outros seres, também precisamos estudá-lo. O conjunto de todos esses genomas – o humano, o bacteriano, o microbiano, em geral – é chamado de metagenoma, um conceito ecológico pelo qual assumimos que o corpo humano é um ecossistema habitado por diversas espécies, e que todas elas transformam o entorno para a sobrevivência, para a competição no mundo.
– Que interesse isso tem do ponto de vista da saúde?
No metagenoma, podem ser produzidas variações que derivam fundamentalmente de mudanças no microbioma, que, por ser o que temos de mais abundante, influi decisivamente na saúde e na doença. Tanto que, se alteramos a simbiose entre as células humanas e o microbioma, entramos em disbiose. A disbiose é a perda do equilíbrio entre as células de um organismo humano e as células bacterianas, microbianas em geral, que nos habitam. Trata se de um conceito emergente que, num futuro não muito distante, nos ajudará a entender muitas das doenças crônicas que nos afetam.
– As bactérias são, portanto, necessárias para a vida.
– Absolutamente.
– E viemos ao mundo com a microbiota ou microbioma? Isso é transmitido através da mãe?
– Em princípio, a maior parte da microbiota humana se estabelece durante os dois ou três primeiros anos, mas começamos a construí-la no canal do parto. A placenta tem seu próprio microbioma, e inclusive é possível que alguma parte possa ser transferida ao feto.
– O microbioma é uma descoberta recente?
– Há muito se sabe que somos colonizados por bactérias. A novidade é o conhecimento da influência que a microbiota tem sobre a saúde e a doença. Agora existe a tecnologia precisa para estudar as variações na microbiota através da análise do metagenoma. A obesidade, por exemplo, muda à medida que muda a proporção das espécies das comunidades bacterianas.
 
– Sim, claro. Se detectamos que certas espécies microbianas perderam influência, perderam seu nicho porque outras o ocuparam, o que certamente está contribuindo para o surgimento de uma doença, tentamos eliminá-las e substituí-las por outras.
– Como?
– De várias maneiras. Com prebióticos, probióticos e inclusive com transplante de fezes. Essa última técnica está em experimentação, e os resultados são preliminares. Os prebióticos são macromoléculas, fibras não digeríveis consumidas com a dieta e que favorecem a atividade da microbiota. Probióticos são microrganismos vivos ingeridos com a dieta para favorecer a saúde.
– Os que são incluídos com frequência nos iogurtes para recuperar a flora intestinal?
– Para recuperá-la ou modifica-la, sim. Se dentro de cinco anos for descoberto que as pessoas muito longevas têm uma porcentagem mais elevada de uma espécie bacteriana concreta, lá estará Daniel Ramón tentando colocá-la nos iogurtes.

As bactérias que são incluídas nos nossos alimentos

Daniel Ramón é doutor em ciências biológicas e diretor da Biópolis, empresa de biotecnologia radicada em Valência e dedicada, entre outros temas de vanguarda, ao desenho, produção e purificação de bactérias, leveduras e fungos filamentosos através dos métodos de fermentação clássica e o projeto de engenharia metabólica. A companhia fabrica e comercializa prebióticos e probióticos para a indústria farmacêutica e de alimentação. De fato, essas bactérias incluídas no iogurte do café da manhã dos espanhóis certamente procedem do laboratório de Ramón, onde, ao longo do último ano, foram realizadas cerca de 9.000 exames de fezes. Consultamos o especialista para saber se há avanços substanciais nesse campo.
– Sim – diz ele –, aprendemos a ver todas as bactérias que existem nas fezes usando uma técnica similar à utilizada para sequenciar o genoma humano. Com as técnicas anteriores, víamos no máximo entre 20% e 30% das bactérias que havia numa amostra fecal. Agora vemos todas. Essa técnica é denominada “análise do microbioma fecal”.
– Segundo o geneticista Carlos López Otín, o número de bactérias que nos habita supera o de células de nosso corpo. Essa quantidade equivale a qual peso?
– Um indivíduo de 70 quilos tem 1 quilo de bactérias dentro de si. Se a analisarmos qualitativamente, veremos que existem mais de 1.000 espécies de bactérias em nosso trato digestivo. Todas elas interagem com as células de nosso trato digestivo e realizam um metabolismo global. Se esse metabolismo for correto, ficamos saudáveis. Do contrário, teremos problemas. Tudo isso era desconhecido há apenas 10 anos. Na verdade, fala-se de microbioma do trato digestivo como um novo órgão de nosso corpo que desconhecíamos. O fascinante é que não há dois indivíduos com o mesmo microbioma digestivo. Se analisamos a saliva de duas pessoas antes e depois de um beijo na boca, cada uma terá 800 milhões de bactérias que antes não tinha.
– E como se faz o transplante de fezes?
– Recolhem-se as fezes de um membro próximo ao núcleo familiar, normalmente o marido ou a mulher, que atua como doador. Depois, acrescenta-se uma solução salina e coloca-se em uma batedeira. O resultado deve ser filtrado ou coado, e depois colocado em uma seringa unida a um catéter. A aplicação é feita no paciente pela parte superior ou inferior do aparelho digestivo. Se é pela superior, utiliza-se uma sonda nasogástrica. Pela inferior, é feita uma colonoscopia ou por meio de um enema. Nenhuma dessas técnicas é agradável, e por isso começaram a ser vendidos comprimidos que contém o "batido de fezes". Atualmente, há um certo vazio legal sobre o uso do transplante fecal. Embora ele pareça muito eficaz no caso das clostridiosis extremas, ainda são necessários mais dados clínicos e a receita de um gastroenterólogo.
− Por que há tantos tipos de fezes?
− Porque no mundo animal há vários tipos de dietas e de digestões. O que você come tem uma influência direta sobre suas fezes. Há animais que só comem vegetais, outros que só comem carne e outros que comem de tudo. Cada um deles defeca diferente. Até para um mesmo animal há diferenças se a dieta é trocada. É muito comum ver isso em cães. Se você altera o tipo de alimentação deles, a consistência e a cor das fezes mudam. Algo similar ocorre nos humanos. Não se assuste se um dia depois de ter comido um bom prato de arroz negro suas fezes saiam negras como o carvão. Entre animais distintos entra em jogo o tipo de digestão, inclusive de ingesta. Depende muito da eficácia de sua digestão. Os ruminantes costumam ter uma digestão muito eficaz. Já a dos coelhos é bastante ineficaz. Por isso eles comem grama, defecam uns primeiros excrementos brancos, que se chamam cecotrofos, em seguida os comem e têm uma segunda defecação, muito mais dura, que já não ingerem. Com essa dupla passagem, conseguem extrair toda a energia do que comem.
– Por que uma alimentação idêntica pode resultar em fezes tão diferentes do ponto de vista da umidade?
– Por muitas causas, algumas patológicas e outras não. Uma causa muito clara é a ingestão de água. Quanto mais água se bebe, mais brando se defeca. Os médicos falam de sete tipos de fezes que classificam na chamada “escala Bristol”. Essa escala foi desenvolvida por dois médicos da Universidade de Bristol, que dividem as fezes entre duras, com forma de salsicha ou de morcela, com massa pastosa ou aquosa…
– Que intestinos produzem as fezes mais bonitas?ade, da textura e da cor?
– Gosto não se discute. Mas para mim, as mais bonitas de todas são as do peixe-papagaio. Esses peixes comem muitíssimo coral, que depois defecam. Quando se acumulam, suas fezes formam areia branca. As praias de areia branca do Caribe têm essa origem.
– Quais são as patologias mais benignas do trato digestivo?
– A acidez no estômago, o refluxo gastroesofágico, a prisão de ventre, a diarreia, os gases…
– O senhor sabe quanto movimenta o setor farmacêutico ou parafarmacêutico com o tratamento dos males do aparelho digestivo?precisam, a cada ano, de algum tipo de tratamento, remédio ou suplemento nutricional relacionado à chamada “saúde digestiva”. Tudo isso significou, em 2015, vendas de 65 bilhões de dólares (209 bilhões de reais).
– E quanto ao câncer?
– O de cólon é o mais frequente, segundo os dados divulgados na internet pela Associação contra o Câncer. A associação afirma: “É o tumor maligno de maior incidência na Espanha, se se contar homens e mulheres, com cifras entre 28.000 e 33.800 novos casos por ano. Ocorrem aproximadamente 20.000 casos novos em homens e 14.000 em mulheres, e afetará um de cada 20 homens e uma de cada 30 mulheres antes de completar 70 anos. Na Espanha, a taxa de sobrevida em cinco anos [porcentagem de pacientes que vivem pelo menos cinco anos após o diagnóstico da doença] está neste momento acima da média dos países europeus, com 64% [a média europeia é de 57%]”.
– Você acredita que está na moda falar do aparelho digestivo?
– Sem dúvida. Essa moda vem mediada pelo que estamos aprendendo nos últimos anos com a análise dos microbiomas digestivos. Também porque há divulgadores que têm escrito livros interessantes, como A Vida Secreta dos Intestinos, de Giulia Enders. Publicaram uma conferência dela no YouTube e foi
– Nos EUA, 37% dos cidadãos um sucesso. A partir daí, escreveu o livro, que divulga de forma muito adequada tudo que está ligado à digestão.
– Diga-me uma coisa: depois que uma pessoa morre, continua fazendo a digestão durante algum tempo?
– Sim, porque as bactérias continuam no sistema digestivo.
Isso significa que no velório com que iniciamos esta reportagem estava trabalhando não só o aparelho digestivo dos parentes, mas também o da mulher morta. Esse ponto − a digestão − unia todos eles. Une todos nós.
El País.com