terça-feira, 23 de abril de 2019

As obras que se perderam no fogo de Notre-Dame

 

Patrick Palem, especialista em restauração, segura a cabeça de uma das estátuas colocadas no telhado da Notre Dame e que foram retiradas para restauração antes do incêndio.
 
Em que estado ficou a Notre-Dame depois do incêndio? Apesar da rápida propagação das chamas, muitas obras conseguiram sair intactas da catedral graças à ação de uma “corrente humana”, nas palavras da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, composta por bombeiros, agentes de segurança, a equipe da Arquidiocese e técnicos do Ministério da Cultura francês. Se a estrutura do edifício pôde ser salva, sua situação ainda é “precária”, como admitiu na terça-feira o ministro da Cultura, Franck Riester, que lembrou que “três partes da abóbada estão esburacadas” e não descartou a possibilidade de um efeito dominó. “Os bombeiros estão otimistas, mas os arquitetos apelam à cautela”, concorda o reitor da Notre-Dame, Patrick Chauvet, que indicou que a presença de um andaime de 500 toneladas sobre a estrutura ainda poderia fraturar os contrafortes. “Teremos de esperar até sexta-feira para saber se o conjunto está estabilizado”, disse.
Apesar da gravidade dos fatos, a lista de objetos evacuados é considerável. A Coroa de Espinhos, peça-chave do tesouro da Notre-Dame, conseguiu ser salva do fogo. Essa venerada relíquia, conservada na Sainte-Chapelle até a Revolução Francesa, repousa na Notre-Dame desde 1806. No final do século XIX, foi colocada dentro de um tubo circular de ouro e vidro, no qual permanece até hoje. Outras peças de imenso valor, como o fragmento da Cruz do Calvário e um dos pregos que serviram para fixar Cristo, também escaparam das chamas. Além disso, a túnica de São Luis foi resgatada, gibão que o rei Luis IX vestiu em 1239 para receber essa Santa Coroa.
As chamadas beffrois, as duas torres da fachada, também ficaram a salvo, apesar de o fogo ter queimado uma parte do campanário norte. As 16 estátuas de cobre que foram colocadas na parte posterior do edifício durante sua ampliação no século XIX também escaparam das chamas, pois foram retiradas pelas autoridades em 11 de abril para serem restauradas. Além disso, o altar da catedral também estaria a salvo, segundo fotografias divulgadas nas redes sociais. A grande peça de mármore e a cruz que a preside teriam permanecido no lugar. E a monumental Piedade esculpida por Nicolas Coustou no século XVIII se mantém inteira na abside.
As três grandes rosáceas assinadas no século XIII por Pierre de Montreuil e Jean de Chelles também não teriam sofrido “danos catastróficos”, segundo o ministro da Cultura. Mesmo assim, Chauvet revelou que uma delas teria sido deslocada “um centímetro”, de modo que se encontraria em uma posição “inclinada”. Os técnicos tentam selá-la para evitar um desprendimento, segundo o reitor. Além disso, alguns vitrais do século XIX foram vítimas das altíssimas temperaturas, que derreteram o chumbo que sustenta os pedaços de vidro.
Na lista de perdas é preciso incluir a agulha de Viollet-le-Duc, que se levantava a 93 metros do solo, e o campanário situado na parte traseira da nave, assim como a grande estrutura do século XIII, conhecida como Floresta por causa da enorme quantidade de carvalho usada para construí-la. Os responsáveis pela igreja também encontraram o galo que encabeçava essa agulha –“estava um pouco abaulado”, disse Chauvet–, mas as relíquias que continha em seu interior desapareceram. Enquanto isso, o grande órgão, o maior dos três que possui a catedral, pode ter sido “danificado” pelo incêndio, de acordo com Riester, embora tenha se recusado a fazer “um diagnóstico completo” de seu estado. De fato, o reitor da catedral afirmou horas depois que o gigantesco instrumento musical, com um total de 8.000 tubos, estava “intacto”.
O fogo não atingiu as grandes pinturas dos séculos XVI e XVII, conhecidas como Mays, que pendiam das paredes da nave, do coro e das capelas. As pinturas, assinadas por renomados pintores da época, como Charles Le Brun e Jacques Blanchard, foram danificadas pela água e pela fumaça, como disse Riester, que anunciou sua transferência nesta sexta-feira para o Museu do Louvre para iniciar uma restauração imediata. O reitor Chauvet indicou que quatro desses quadros foram evacuados durante o incêndio. Os outros nove permaneceram nas capelas, onde as chamas não conseguiram entrar.

O padre que resgatou a Coroa de Espinhos

Toda tragédia tem seus heróis. A imprensa internacional encontrou um na figura do padre Jean-Marc Fournier, capelão dos bombeiros de Paris, que teria insistido em entrar na catedral para recuperar a Coroa de Espinhos e outras relíquias, de acordo com o prefeito do 15º distrito de Paris, Philippe Goujon. Fournier é um veterano de guerra que lutou com o exército francês no Afeganistão e tornou-se conhecido por ajudar as vítimas da sala Bataclan nos ataques terroristas de 2015. De acordo com a Sky News e outros meios de comunicação anglo-saxões, na segunda-feira Fournier ficou na ponta da corrente humana que conseguiu recuperar esse tesouro de valor incalculável. O ministro da Cultura indicou que os objetos resgatados serão conservados no Louvre.
BBC
 

Primeiro terremoto é detectado em Marte


Resultado de imagem para fotos do terremoto no sismógrafo de Marte

Um sismógrafo implantado em Marte no âmbito da missão americana InSight registrou em 6 de abril o primeiro terremoto no planeta vermelho. O anúncio foi feito nesta terça-feira (23) pela a agência espacial francesa CNES, responsável pelo sismômetro que detectou o fenômeno.
"É formidável finalmente ter um sinal de que ainda há uma atividade sísmica em Marte", disse Philippe Lognonné, pesquisador do Instituto de Física da Terra de Paris. "Estávamos esperando há meses o nosso primeiro terremoto marciano", acrescentou o "pai" deste sismógrafo francês SEIS (Seismic Experiment for Interior Structure), instalado em 19 de dezembro em solo marciano graças a um braço robótico da sonda InSight, que chegou ao planeta vermelho em 26 de novembro.
O objetivo da operação é, por meio de registro de terremotos, estudar a história da formação de Marte. E mesmo se esse primeiro tremor foi muito fraco para fornecer dados úteis sobre o interior do planeta, ele "marca o nascimento oficial de uma nova disciplina: a sismologia marciana", segundo Bruce Banerdt, cientista-chefe da missão dentro Nasa.
De acordo com os cientistas, ainda é necessário confirmar se o terremoto foi registrado dentro do planeta e se não foi o efeito do vento ou de outras fontes de ruído. Três outros sinais, mas ainda mais fracos que o de 6 de abril, foram detectados nos últimos dois meses.

Resultado de imagem para fotos do terremoto no sismógrafo de Marte
 
Marte não possui placas tectônicas, elemento que geralmente está na origem dos tremores na Terra. Mas os dois planetas, assim como a Lua, podem registrar um outro tipo de fenômeno sísmico, provocado por falhas ou fraturas em sua superfície. O excesso de peso ou condições ligadas ao resfriamento podem contribuir para esse tipo de tremor.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

A incrível história do adolescente baiano que pedalou de Salvador a Nova York 90 anos atrás

Rubens Pinheiro foi um sujeito inquieto desde criança, quando suas estripulias eram punidas com castigos que levavam suas mãos à palmatória.
 
Rubens Pinheiro na chegada em Nova York
Quando cresceu um pouco, o baiano manifestou seu anseio por liberdade com uma fuga malsucedida de casa. Depois, aos 16, resolveu ir andando de Salvador até o Rio de Janeiro. A andança abriu caminho para uma aventura ainda maior: um inédito percurso de bicicleta de Salvador a Nova York. Uma façanha que pode até não parecer tão inusitada nos dias de hoje, não fosse um detalhe: Rubens fez isso 90 anos atrás.
Era 15 de março de 1927 e faltavam cinco meses para o jovem completar 18 anos. Medindo 1,70 m e pesando 65 kg, partiu de sua cidade natal, com roupa de escoteiro, para ir pedalando até o que era na época a maior metrópole do mundo. Ele acordou cedo, despediu-se da mãe e da irmã, e foi para a porta do jornal Diário de Notícias. Com direito a fogos, curiosos e cobertura da imprensa, um grupo de mais de 100 ciclistas lhe fez companhia no início do trajeto.
Entre 1927 e 1929, pedalando na sua bicicleta da marca alemã Opel, Rubens Pinheiro percorreu o continente americano num trajeto sinuoso de mais de 18 mil km, atravessando a fronteira de 11 países.
 
Celebração pelos 50 anos da viagem, na Igreja do Bonfim
 
A vontade de realizar a façanha surgiu quando ele estava no Espírito Santo, andando a caminho do Rio, e cruzou na estrada com o pernambucano Mauricio Monteiro, que fazia uma viagem de bicicleta de Recife até Buenos Aires. Depois de recusar um convite para seguirem juntos, Rubens ouviu Mauricio fazer valer a rivalidade entre os dois estados e ironizar a falta de coragem dos baianos. Rubens então jurou ali mesmo que faria uma viagem ainda maior que a do seu involuntário incentivador.
Para conseguir dinheiro para a viagem, ele pediu doações a comerciantes em Salvador, conseguindo juntar dez mil réis que levou num saco de lona junto com poucas roupas, uma arma e um livro feito especialmente para a viagem, com capa de couro de cobra e páginas em branco para serem preenchidas como uma espécie de diário de bordo.
"Estou disposto a tudo, inclusive a passar sede e fome, sofrer aborrecimentos, raspar sustos (e que Deus me livre das sussuaranas e das jararacas!), carregar a bicicleta nas costas. Quero conhecer Nova York sem ser em fotografia", declarou ao Diário de Notícias no dia de sua partida.
Ele seguiu para a cidade vizinha de Santo Amaro da Purificação, para despedir-se de Euthymia, sua namorada. Ela lhe deu uma foto dela para que, quando Rubens chegasse em Nova York, fosse publicada junto com a dele pela imprensa norte-americana.
Seguindo pelo interior da Bahia, Rubens colidiu com a bicicleta de um ciclista com quem apostava corrida, danificando sua Opel, que teve de ser levada de trem para ser consertada em Salvador. Ele desistiu de esperar por ela e pegou outro trem de volta para a capital, para resgatar a bicicleta. Aproveitando a Semana Santa, resolveu ficar mais uns dias com a família, o que levou as pessoas que o encontravam na rua a questioná-lo em tom de ironia: "Já voltou de Nova York?".

Encontros com a história

Rubens retomou sua jornada e não parou mais. Para sobreviver na estrada, fazia o possível para arrecadar o dinheiro necessário para continuar. Para isso, gostava de exibir-se em praça pública fazendo manobras com sua bicicleta em cada cidade a que chegava. Aprendeu também que deveria logo visitar a imprensa local para alardear sua presença, o que rendia ajuda de políticos e comerciantes.
 
Rubens Pinheiro na estrada
 
"Fiz, na praça principal de Santo Amaro, umas piruetas, umas voltas de fantasia na minha Opel que arrancaram palmas do povo. Gosto das saídas bonitas, confesso que esse é o meu fraco", contou ao jornal carioca A Manhã, em 1929.
No caminho, ele tinha a estrada e a história à sua frente. No interior baiano, encontrou um acampamento abandonado que servira à Coluna Prestes. No Pará, ficou impressionado com a imensidão do Rio Amazonas, mas no Alto do Rio Negro teve que passar um dia em cima de uma árvore, em plena floresta Amazônica, esperando que uma onça desistisse de querer almoçá-lo.
Ao cruzar a fronteira do Brasil, Rubens chegou à Venezuela enviando um telegrama de felicitações e uma carta pedindo ajuda ao então presidente do país, o ditador e general Juan Vicente Gómez. O mais poderoso político venezuelano da época lhe retribuiu com uma contribuição de 5 mil bolívares.
No Panamá, Rubens encontrou a ocupação dos Estados Unidos na Zona do Canal, mas fez amizade com os oficiais, que lhe presentearam com uma volta de avião que mais lhe pareceu uma montanha-russa aérea. Na Nicarágua, de novo encontrou-se com tropas americanas, mas dessa vez acabou capturado temporariamente pelo fuzileiros navais, que o confundiram com um guerrilheiro.
O país vivia em estado de sítio e tentava se libertar do domínio dos Estados Unidos. Em suas memórias, Rubens garante que teve na estrada a companhia do revolucionário Augusto César Sandino, líder da luta contra os invasores e ideólogo do movimento sandinista que hoje é partido político.

Caderno de viagem de Rubens

Quando ele chegou à Cidade do México, em janeiro de 1929, uma grande recepção o aguardava. Centenas de ciclistas o acompanharam até a embaixada do Brasil, onde ficou hospedado. Depois, foi recebido pelo presidente Emilio Portes Gil, que lhe deu um cheque de 5 mil pesos.
Rubens pôde então partir para os Estados Unidos no fim do período conhecido como roaring twenties, marcado pelo jazz, pela emancipação feminina, além da crescente presença do rádio e do cinema. Uma época de otimismo que acabaria ainda naquele ano, com a quebra de Bolsa de Valores de Nova York e a Crise de 29. Para chegar à Big Apple, ele percorreu boa parte do leste do país, dividindo as estradas asfaltadas com enormes carretas.
Às 14 h do dia 1.º de abril de 1929, depois de passar dois anos pedalando, o ciclista Rubens Pinheiro chegou a Nova York. Ele não tinha mais a foto da namorada - que perdera no início da viagem, ainda na Bahia, desesperando-se -, mas colecionou novos amores durante a viagem.
"Agora estou quebrado. É bom ver Nova York! É bonita, mas tão grande! Eu vou voltar ao Brasil tão logo eu possa rodar e ver a cidade", disse à imprensa local, segundo contou em suas memórias.
Os brasileiros residentes no Brooklyn organizaram um banquete em homenagem a Rubens. Sem roupa adequada para a ocasião, ele teria que vestir as do atarracado cônsul-geral do Brasil, Sebastião Sampaio, o que levou a turma do Brooklyn a comprar um terno para Rubens e evitar o constrangimento. Sampaio ainda telegrafou ao ministro das Relações Exteriores, o baiano Octávio Mangabeira, solicitando uma recompensa para Rubens, mas nunca foi atendido.
Rubens passou a residir no sótão da casa de número 13 da Union Street, no Brooklyn. Ele trabalhou lavando pratos em restaurantes e depois na General Motors. Em junho, quando seu visto de permanência terminou, retornou ao Brasil.

De volta à realidade

Na volta ao Brasil, a bordo do navio Southern Cross, Rubens tinha a esperança de ser recebido com honras no porto do Rio de Janeiro, que estava preparado para uma ocasião festiva.
Mas a homenageada era uma passageira da primeira classe, a Miss Brasil Olga Bergamini de Sá, que voltava do concurso de Miss Universo em Galveston, nos Estados Unidos.

A Miss Brasil Olga Bergamini de Sá, em Galveston, Texas, 1929

Ofuscado pela beleza alheia, Rubens tratou de buscar reconhecimento. Ele foi a uma audiência pública com o presidente Washington Luís, no Palácio do Catete. Durante sua andança de Salvador ao Rio de Janeiro, Rubens aprendera a andar de bicicleta em Macaé, cidade natal do presidente, mas nem teve tempo de lhe contar.
O último mandatário da República Velha logo o dispensou: "O Brasil mandou você fazer alguma coisa?", disse, segundo relato de Rubens, o presidente - que seria deposto no ano seguinte pela Revolução de 30.
Na antiga capital do país, Rubens foi ajudado pelo francês Louis La Saigne, diretor das lojas Mesbla, em troca de deixar a bicicleta exposta na vitrine. Também no Rio, o jornal A Manhã publicou, em capítulos, parte das histórias da viagem, baseando-se em entrevistas com ele e em seus registros no livro que levou a bordo da Opel.
De volta a Salvador, uma missa na Igreja do Bonfim, organizada pelo próprio Rubens, levou uma multidão de curiosos para saudá-lo. Na saída da igreja, ele se exibiu para o público pedalando de costas na escadaria e na ladeira do Bonfim e
No mesmo ano, ele contou suas memórias num livrinho azul de meras 68 páginas, vendido por ele mesmo, agora a bordo de uma cadeira de rodas que o acompanhou em seus últimos anos. No texto, queixou-se da sorte comparando-se a Ícaro, filho de Dédalo na mitologia grega, e se disse um "herói esquecido".
Filha mais velha de Rubens, Olga Pinheiro foi batizada em homenagem à miss Brasil Olga Bergamini de Sá. Aos 87 anos, é ela quem guarda o livro de viagem com capa de couro que, além dos relatos de Rubens, leva a assinatura de presidentes, autoridades e testemunhas da viagem em bicicleta do pai.
Um dos netos, também chamado Rubens Pinheiro, é ciclista como o avô e participa de provas de resistência. "Meu avô significa tudo, ele pra mim é a representação de que nada é impossível como atleta", define.
Passados os festejos pelo jubileu, restou o esquecimento. Rubens Pinheiro morreu em 1981, aos 71 anos, sem que sua história tivesse percorrido as mesmas distâncias que ele e sua bicicleta Opel.
BBC
 

Seu celular está realmente te espionando?

Pessoas com celulares
 
Você já teve a sensação alguma vez de que o seu smartphone ou tablet grava as suas conversas? Já recebeu algum anúncio, digamos, de passagens aéreas para o Rio de Janeiro logo depois de falar com um amigo que estava pensando em passar férias lá?
A proliferação de microfones nos nossos celulares e de autofalantes inteligentes - como o sistema Siri da Apple e a Alexa da Amazon - pode nos levar a pensar que qualquer um pode escutar nossas conversas e que nossa privacidade está ameaçada.
Zoe Kleinman, correspondente de tecnologia da BBC, relatou no programa Bussines Daily a experiência que teve com seu celular - e que a levou a desconfiar que terceiros acessaram o microfone do aparelho para espioná-la.
"Há alguns anos, eu estava conversando com minha mãe na cozinha da casa dela, e ela me contou que um amigo da família tinha morrido em um acidente de trânsito fora do país. Lembro que o telefone estava do meu lado".
 
Telefone celular
 
"Foi um acidente dramático, e então procurei saber se algum veículo de comunicação tinha noticiado (o acidente). Digitei o sobrenome dele no mecanismo de busca, e o corretor me sugeriu corretamente o resto do nome", diz.
"Como era possível o buscador me oferecer essa possibilidade quando, na verdade, nenhum meio de comunicação tinha escrito nada sobre o acidente?", pergunta ela.

Coincidência?

Pode ser. Pode ser também que outras pessoas já tivessem buscado aquele nome antes no mecanismo, o que o levaria a "deduzir" o restante.
De qualquer forma, Kleinman começou a investigar se realmente era possível que nossos dispositivos estivessem acessando nossas conversas.
Para isto, chamou um especialista no tema e o desafiou a criar um programa que fosse capaz de "capturar" as conversas pelo microfone de seu celular, a partir de um laptop.
"O que me pareceu mais desesperador é que ele conseguiu desenvolver esse aplicativo em dois dias."
 
Imagem ilustrativa
 
Testado, o sistema se mostrou capaz de converter em texto as conversas captadas pelo microfone do celular.
Se até Kleinman e seu especialista conseguiram, o que poderiam fazer empresas gigantes de tecnologia?
"Na verdade é um risco grande para elas. Espionar é ilegal. Não se pode colher dados de pessoas sem antes receber permissão explícita para tal", diz.
Kleinman fez questão de ressaltar, porém, que o que ela e o especialista demonstraram é que a espionagem era tecnicamente possível. E não que estivesse necessariamente acontecendo.
"A conclusão a que chegamos é que, se é possível, é provável que haja pessoas tentando ativar o controle de voz. Nos rodeamos com esses dispositivos e eles estão nos ouvindo, à espera de palavras de controle para ativá-los", diz Kleinman.
"Todas as empresas absolutamente negam que usem os dados coletados por voz e neguem que compartilhem esses dados com terceiros", diz a jornalista da BBC.

Software por cinco dólares

Outra pessoa que demonstrou como é fácil hackear o microfone de alguém foi o cineasta holandês Anthony van der Meer. Ele deixou seu telefone ser roubado de propósito, a fim de secretamente usá-lo para registrar o ladrão.
Ele instalou um aplicativo muito simples no aparelho que lhe permitia fazer tudo o que faz com seu telefone normalmente, mas à distância.
 
Tablet monitorando casa
 
Esse aplicativo sempre funcionaria, mesmo que o ladrão reiniciasse o smartphone.
"Eu podia ver contatos, mensagens, gravar áudio, vídeo, tirar fotos", diz ele. Em suma, van der Meer tinha acesso a tudo.
"Me dei conta do quanto compartilhamos com nosso celular e de que esse é o dispositivo perfeito para espionagem, porque as pessoas o levam com eles o tempo todo." Celulares costumam ter um microfone, câmera e até sistema GPS, que permite que você saiba onde as pessoas estão. Não nos damos conta do dano que ele pode fazer", diz van der Meer.
 
olho com reflexo de www
 
Por exemplo: o cineasta ficou sabendo que o ladrão frequentava abrigos para pessoas sem teto, depois de olhar os registros de GPS.
Ele também gravou 30 segundos de conversa duas vezes por dia. Se parecesse interessante, ele gravaria mais tempo.
O aplicativo que ele tinha instalado no telefone roubado permitiu que ele visse quando o celular estava on-line. Também enviava um texto de conversas gravadas para o e-mail de van der Meer.
"É um aplicativo muito útil e fácil de usar", diz ele.
É também um software legal e não muito caro. "Eu acho que paguei cerca de US$ 5 para me inscrever e usá-lo para a vida toda".
Outra coisa que Anthony Van der Meer destaca é o poder do microfone.
"Mesmo que esteja no bolso, as conversas foram bastante claras e nítidas".
"Na verdade, é muito assustador saber que, mesmo para uma pessoa como eu, com habilidades tecnológicas limitadas, é muito fácil."
E quando é tão fácil obter seus dados, extorsão ou chantagem passam a ser um risco real.
"O aplicativo pode fazer streaming, ou seja, gravar ao vivo o que a pessoa está fazendo naquele momento, seja em vídeo ou áudio", afirma o cineasta.

Termos de uso

A especialista em segurança, Lisa Forte, diz estar certa de que nosso celulares permitem que sejamos espionados, e chama a atenção para os termos de uso, as mensagens que aparecem no celular quando baixamos novos aplicativos, muitas vezes pedindo autorização para acessar os microfones, localização e câmeras.
 
Amazon
 
Ela lembra, sem citar o nome, de um aplicativo que dizia, em seus termos de uso, que não ia "armazenar nenhum áudio em nossos servidores".
"Para mim, é uma coisa muito estranha de se dizer, porque se eles não acumulassem nenhum dos dados que coletam sobre nós, eles diriam simplesmente que 'nenhum dado será coletado'."
"Eu acho que eles poderiam estar transcrevendo o áudio e é isso que eles armazenam: um texto sobre nosso áudio", explica Forte.
 
Borracha sobre tela de computador mostrando a opção de "apagar o histórico"
 
Toda essa coleta de dados é usada, no caso descrito por Forte, com um propósito comercial. Mas uma vez que as empresas armazenam nossos dados, nada impede que hackers os roubem e os usem contra nós.

Como se proteger

Então, o que as pessoas podem fazer para se proteger?
"Eu nunca tenho uma conversa importante perto do meu telefone, mas o que é importante com os smartphones é ter o sistema operacional atualizado. Toda vez que uma atualização for lançada, atualize imediatamente", recomenda Lisa Forte.
Se houver alguma suspeita ou falha no sistema operacional do telefone, a atualização resolveria isso.
Finalmente, devemos ter muito cuidado com os aplicativos que baixamos e com as permissões que concedemos a eles.
É realmente necessário que este jogo de que gostamos tenha acesso à nossa câmera? Para quê?
"Outra coisa a ter em mente é que existem aplicativos que ativam o microfone e isso nos consome dados e bateria", lembra Kleinman
BBC

terça-feira, 16 de abril de 2019

A história secreta de como o Muro de Berlim foi erguido pela Alemanha Oriental e a União Soviética

 
Soldados da Alemanha Oriental trabalham para assegurar a divisão de Berlim
 
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética dividiram a Alemanha em quatro zonas de ocupação. A área ao leste, conhecida como Alemanha Oriental, ficou sob influência da União Soviética - posteriormente chamada de República Democrática Alemã (RDA). A oeste, as áreas controladas por Estados Unidos, Reino Unido e França foram unificadas em 1948, na chamada Alemanha Ocidental - posteriormente, República Federal Alemã (RFA). Berlim, embora localizada na área soviética, também fora dividida em quatro zonas, sob a influência desses quatro países. Abaixo, Patrick Major, professor de História Moderna na Universidade de Reading, conta a história do Muro de Berlim, que separou Berlim Oriental, sob controle soviético, de Berlim Ocidental, do bloco capitalista.
A partir do fim da Segunda Guerra Mundial, Berlim se tornou um espaço peculiar. Era uma cidade "ilha", dividida em quatro, dirigida pelos quatro ocupantes, cada um com seu próprio setor, mas localizada dentro da zona soviética e a mais de 160 quilômetros das áreas ocidentais dos Estados Unidos, Reino Unido e França.
Em represália pelas tentativas de formar o Estado da Alemanha Ocidental, separado em 1948, Josef Stálin (líder da União Soviética) havia explorado a posição exposta de Berlim Ocidental, cortando suas ligações terrestres com o oeste.
Mas Berlim Ocidental eventualmente se converteu em um espinho permanente para a Alemanha Oriental que a circundava. A CIA e o MI6 (agência de inteligência britânica) a utilizavam como base de espionagem avançada; sua economia atraía dezenas de milhares de viajantes da Alemanha Oriental.
Na noite de 13 de agosto de 1961, essa rachadura na Cortina de Ferro se fechou bruscamente e de forma dramática.
A partir de 1h, cordões humanos da polícia fronteiriça da Alemanha Oriental e milicianos desceram até o limite do setor soviético para enfrentar a polícia de Berlim Ocidental e as tropas americanas, britânicas e francesas.
 
Construção do muro de Berlim
 
Grandes depósitos de arame farpado, malhas metálicas e postes de concreto foram erigidos rapidamente dentro do setor leste, às vezes aproveitando postes de iluminação e trilhos de bondes para fazer barreiras improvisadas.
Quatro dias depois, sem reação ocidental, as autoridades da Alemanha Oriental começaram a construir uma estrutura mais permanente com blocos de cimento e lajes de concreto: o Muro de Berlim propriamente dito.
De um só golpe, a República Democrática da Alemanha (RDA) pôs fim a um êxodo humano, que estava em marcha desde 1945, e havia alcançado proporções epidêmicas no verão de 1961. Apelidado de Republikflucht, ou "fuga da República", um em cada seis alemães do leste se mudaram para o oeste, a maioria via Berlim.

Nem com cenouras

Desde 1958, as autoridades comunistas estavam alarmadas diante do número de médicos, professores e engenheiros que fugiam.

 Personas acenam do outro lado do muro

Apesar da política de cenoura e chicote (metáfora política que faz referência a um burro tratado na base da cenoura e do chicote, indicando uma política que oferece incentivos, por um lado, e punição, por outro), não conseguiam dissuadir os desertores enquanto a fronteira estava aberta, como era exigido pelo Estado quadripartido especial de Berlim.
Desde maio de 1960, a Stasi, a temida polícia secreta da Alemanha Oriental, havia sido recrutada, mas só conseguiu interceptar um de cada cinco pessoasque tentavam escapar para a Alemanha Ocidental. E concluiu: "Um fechamento total de Berlim Ocidental não é possível e, por isso, não se pode deixar o combate da Republikflucht apenas aos órgãos de segurança da RDA".
Era preciso, argumentavam, uma solução mais radical, que implicasse um isolamento físico de Berlim Ocidental, uma válvula de mão única que mantivesse os alemães orientais no leste, mas que não permitisse acesso do ocidente ao oriente.
 

Briga com Kennedy

Os alemães orientais haviam contemplado em privado essa ideia ao longo da década de 1950, mas haviam sido vetados pelo comando soviético em favor de uma solução diplomática.

Nikita Khrushchev e Walter Ulbricht

Em maio de 1961, o líder da Alemanha Oriental, Walter Ulbricht, solicitou formalmente a Moscou que fechasse a fronteira.
Mas foi apenas depois do confronto entre o primeiro-ministro soviético, Nikita Khrushchev, com o novo presidente americano, John F. Kennedy, em junho, seguida por um intransigente discurso exibido na televisão feito por Kennedy, em finais de julho, que o líder soviético finalmente cedeu.
A decisão de construir um muro teve que ser levada a cabo em segredo absoluto, a fim de evitar uma grande fuga de pessoas.

Um anel de ferro

No dia seguinte do discurso de Kennedy, em 26 de julho, Khrushchev ordenou ao embaixador soviétivo que dissesse a Ulbricht que tinham que "usar a tensão nas relações internacionais para rodear Berlim com um anel de ferro".
"Isso deve ser feito antes de concluir um tratado de paz."
 
Arame farpado próximo da Porta de Brandemburgo
 
De fato, o líder soviético provocou um curto-circuito na crise diplomática que ele próprio desencadeara em novembro de 1958, ao emitir um ultimato às potências ocidentais para desalojar Berlim Ocidental ou aceitar um acordo de paz que os obrigaria a reconhecer o que consideravam um Estado fantoche soviético ilegítimo: a chamada "República Democrática Alemã".
A soberania da RDA havia dado aos alemães orientais o controle direto sobre as as estradas entre Berlim Ocidental e Alemanha Ocidental, assim como sobre os corredores aéreos.
A Alemanha Oriental efetivamente havia podido começar um segundo bloqueio de Berlim.

A discreta operação rosa

O discurso de Kennedy havia deixado claro que os Estados Unidos estavam dispostos a ir à guerra para defender Berlim Ocidental, mas não houve qualquer compromisso com uma Berlim Oriental aberta. Implicitamente, haviam dado passagem livre aos comunistas em seu setor.
 
John F. Kennedy
 
A partir de então, "a Operação Rosa" - o plano para cortar Berlim Ocidental - se desenvolveu rapidamente, sob o mais estrito segredo. Apenas cerca de 60 funcionários da RDA sabiam da operação.
O chefe de operações em terra era Erich Honecker, número dois do partido comunista da Alemanha Oriental, destinado a se converter em líder da RDA uma década mais tarde. Em 1961, era o secretário de segurança do Politburo, responsável pela segurança interna e militar.
O fechamento da fronteira seria levado a cabo a partir de um sábado à noite, até o domingo de manhã, para evitar possíveis paralisações nas fábricas. O partido tinha duras recordações das greves massivas de 17 de junho de 1953.
Para o 24 de julho, a área de segurança do partido havia calculado que o fechamento total requeriria 27 mil dias-homens de trabalho e quase 500 toneladas de arame farpado.

Anel de tanques

Os poucos escolhidos do Ministério do Interior se reuniram na escola de formação do Volkspolizei, nos arredores de Berlim, sob as ordens de Willi Seifert, comandante das tropas do interior e também ex-prisioneiro de Buchenwald - portanto, com grande experiência "de dentro" de instalações de segurança máxima.
 
Erich Honecker
 
Pouco a pouco, os materiais para a construção das cercas foram secretamente transportados para a capital, vindos de outras regiões fronteiriças e unidades policiais. Mas não se tratava apenas de uma ação policial.
Em finais de julho, o chefe do Estado-Maior das forças soviéticas, o tenente-geral Ariko, se reuniu com seu par na Alemanha Oriental, o major Riedel, para discutir a coordenação do "anel de ferro" dos tanques soviéticos e alemães orientais, que proporcionaria uma força de dissuasão a 1,6 quilômetro das unidades policiais.
O Exército começou o planejamento conspiratório em Schloß Wilkendorf, a nordeste de Berlim, onde o ministro da Defesa Heinz Hoffmann, Riedel e outros 11 oficiais traçaram os planos para um avanço no mais estrito silêncio de rádio, detalhando até a necessidade de amortecer o som dos tanques.

Ocidente despistado

Manter a operação em segredo também era importante já que havia muita especulação sobre o quanto o Ocidente sabia de antemão.
 
Tanques soviéticos nas ruas de Berlim
 
Os americanos tinham um superespião no Kremlin, Oleg Penkovsky, que em 9 de agosto soube da ação iminente, mas não pode transmitir a informação antes do evento.
Estimativas prévias de inteligência da CIA, no outono de 1957, por exemplo, haviam previsto o possível fechamento de fronteiras. O Comitê Conjunto de Inteligência Britânico chegou a conclusões similares em fevereiro de 1959.
Em 1961, no entanto, os analistas da CIA estavam mais preocupados com o que poderia ocorrer se os soviéticos tentassem repetir o bloqueio de 1948 para expulsar os aliados de Berlim ocidental, atacando as rotas de transporte.
Também houve relatos de acúmulo de arame farpado, mas isso não era algo novo. E, como a maioria das avaliações de inteligência, o problema era uma sobrecarga de informação. As missões militares dos aliados ocidentais, que poderiam contar com inteligência abertamente, não encontraram nenhuma evidência de ação iminente.
Como os americanos informaram em 2 de agosto: "Situação em grande medida igual à da semana passada".
Em 12 de agosto, os britânicos também descartaram soluções drásticas. "Os russos provavalmente estão mais preocupados com os riscos de distúrbios se a rota de escape for completamente cortada do que com o dano atual à RDA".

Uma opção pouco clara

A evidência que veio à luz na Alemanha Ocidental tampouco é conclusiva.

Konrad Adenauer discursa perante microfones da imprensa

O Bundesnachrichtendienst (BND), o serviço secreto da República Federal da Alemanha, tinha uma grande rede de informantes anticomunistas na RDA.
Essa rede coletava informação de inteligência militar. Seu chefe, Reinhard Gehlen, afirmou em suas memórias que o BND havia informado sobre a ação antes que ocorresse. Seu informe de julho de 1961 efetivamente indicava que o fechamento das fronteiras era considerado como uma possibilidade real e iminente.
Apesar desses indicadores aparentemente ameaçadores, houve informes contraditórios.
A inteligência interna da Alemanha Ocidental, Verfassungsschutz, disse ao chanceler, Konrad Adenaue, que, ainda que "a ilha de Berlim Ocidental tenha se convertido em uma questão de vida ou morte para o regime comunista", restrições de viagem mais contundentes seriam "intoleráveis para toda a população".
Portanto, parece provável que a comunidade de inteligência sabia que o fechamento de Berlim era uma opção que o Leste estava considerando e planificando ativamente, embora não estivesse segura acerca da data que isso poderia ocorrer.

O momento e lugar correto

"A lição estratégica e tática mais importante da exitosa ação de 13 de agosto", como foi registrado na Stasi, "é a importância de manter em segredo o momento no tempo, como um requisito prévio decisivo para mais golpes exitosos contra o inimigo, no momento correto e no lugar correto".
Antes de uma reunião dos principais líderes do bloco oriental, em 1 de agosto, Ulbricht falou com Jruschov por duas horas ao telefone, em uma conversa descoberta há poucos anos em Moscou.
 
Walter Ulbricht e Nikita Khrushchev
 
Depois de algumas piadas sobre o estado da coletivização da RDA, Khrushchev repetiu seu chamado para colocar "um anel de ferro ao redor de Berlim". "Creio que nossas tropas deveriam colocar o anel, mas suas tropas deveriam controlá-lo."
Ulbricht estava claramente muito preocupado com um embargo econômico ocidental contra a RDA e grande parte de seus comentários se referiam à situação econômica da Alemanha Oriental. Finalmente, os dois terminaram falando de segurança.
Khrushchev: Li informes originais dos serviços secretos ocidentais que estimam que as condições para uma revolta amadureceram na RDA. Eles estão usando seus próprios canais para evitar que as coisas cheguem a uma revolta porque isso não conseguirá nada. Estão dizendo: não podemos ajudar e os russos vão esmagar tudo com tanques. Portanto, estão pedindo às pessoas que esperem até que as condições sejam adequadas. Isso é realmente correto? Não estou seguro e estou baseando-me apenas nos informes ocidentais.
Ulbricht: Temos informação de que, de forma lenta mas segura, recrutando desertores e organizando a resistência, o governo de Bonn está preparando as condições para uma revolta que terá lugar no outono de 1961. Vemos os métodos usados pelo inimigo: a igreja organiza a retirada dos agricultores de coletivos, ainda que com pouco êxito; há ações de sabotagem... Uma revolta não é realista, mas há ações possíveis que poderiam nos causar um grande dano internacional.
Inclusive nessa etapa, Ulbricht parecia estar vislumbrando medidas graduais que requeriam preparação política. "Realize-o quando quiser", respondeu o líder do Kremlin. "Podemos coordenar a qualquer momento."
Mas Khrushchev estava mais inclinado à conspiração do que seu homólogo da Alemanha Oriental: "Antes da introdução do novo regime fronteiriço você não deveria explicar nada, já que isso apenas aumentaria o movimento de refugiados e poderia conduzir a uma debandada. Te daremos uma, duas semanas para que possa se preparar economicamente".
 
Walter Ulbricht acena para tropas
 
Khrushchev logo pleiteou o Estado das quatro potências de Berlim: deveria a divisão rodear a Grande Berlim, em vez de apenas os setores ocidentais? No entanto, Ulbricht se manteve firme: a cerca passaria pelo centro da cidade: "Por cima de tudo, tem que ser rápido".
Khrushchev confiava que o Ocidente não reagiria de forma exagerada: "Quando implementarmos esses controles, todos estarão satisfeitos. Além disso, terão uma mostra do poder que você detém". Ulbricht: "Sim, então conseguiremos obter a estabilização".
Apesar da conversa, uma questão de guerra e paz requeria o respaldo político do Pacto de Varsóvia. Ainda que, quando chegou a data da reunião, entre 3 e 5 de agosto, a sorte já estivesse lançada.
Já no primeiro dia, no que provavelmente foi uma reunião privada com Khrushchev, o líder da RDA havia elaborado os elementos essenciais do que estava por vir, e para isso tinha uma data: 13 de agosto. "Nós brincamos entre nós, porque o Ocidente supõe que o 13 é um dia de azar", recordou Khrushchev mais tarde. "Brinquei que, para nós e para todo o campo socialista, seria um dia muito afortunado."
 
Mulher tenta pular o muro e ingressar em Berlim Ocidental
 
Em 12 de agosto, por volta das 16h, Ulbricht assinou a ação iminente e logo em seguida convocou os funcionários do governo e do partido para irem a sua residência rural, no lago Dölln, ao norte de Berlim, para dar um passeio e jantar.
Falando com o embaixador soviético, o líder do partido da Alemanha do Leste, em um raro episódio de humor, brincou dizendo: "Não os deixarei ir até que a operação termine".
Os líderes reunidos estavam um pouco desconcertados pela onda de piadas e interlúdios musicais, até que ao redor das 21h30 Ulbricht repentinamente os convocou para uma sessão de emergência do Conselho de Ministros para aprovar as medidas que estavam por vir.
Quando os convidados se separaram, por volta de meia noite, o caminho de volta para Berlim já estava cheio de tanques russos. A Operação Rosa havia começado. "Um muro não é muito agradável, mas é muito melhor que uma guerra", falou John F. Kennedy.
*Patrick Major, autor deste artigo, é professor de História Moderna na Universidade de Reading. Seus livros incluem "A sombra do muro: Histórias verdadeiras do passado dividido de Berlim" e "Atrás do muro de Berlim: Alemanha Oriental e as fronteiras do poder".
(BBC)

Incêndio em Notre-Dame: os 30 minutos cruciais que impediram a destruição total

Os 850 anos de idade da catedral de Notre-Dame foram salvos de uma destruição completa graças a uma janela de tempo de 15 a 30 minutos, segundo afirmou o secretário de Estado do Interior da França.

Imagem do altar da igreja com parte do telhado no chão
Laurent Nuñez exaltou a "coragem e determinação" dos bombeiros que "arriscaram suas próprias vidas" para salvar a estrutura principal e as duas torres da catedral. Por outro lado, não resistiram ao incêndio o telhado e a agulha do monumento.
"Sabemos que tudo se resumiu a 15-30 minutos", declarou Nuñez, acrescentando que a polícia e os bombeiros passarão as próximas 48 horas avaliando a segurança atual da estrutura.
"Estes agentes colocaram suas vidas em risco para atacar o incêndio desde o interior (da catedral), o que permitiu salvar a construção."
Parte da estratégia essencial usada pelos bombeiros foi criar uma espécie de parede de água entre o segmento da construção que pegava fogo e as duas torres da fachada oeste.

Reconstrução deve durar cinco anos, diz Macron

Incêndio em Notre-Dame
 
A causa do incêndio ainda é desconhecida.
O promotor Rémy Heitz, porém, disse que sua equipe acredita na "teoria de um acidente", mas que 50 pessoas foram designadas para investigar a origem do fogo.
Outros representantes de órgãos públicos já sugeriram que o incidente está relacionado a obras de restauração que estavam em curso na catedral.
Agora, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que serão necessários cinco anos para que a reconstrução aconteça - tornando, segundo Macron, a igreja "ainda mais bonita".
"Vamos transformar esta catástrofe em uma oportunidade de união", disse.
Mas Eric Fischer, diretor da fundação designada para restaurar a catedral de Estrasburgo - também na França, e com 1000 anos de idade - disse à agência AFP que a reconstrução de Notre-Dame pode levar "décadas". (BBC)

Tragédia em Notre-Dame: o que se sabe da tragédia que consumiu catedral em Paris

Infográfico do interior da capital
 
As chamas que atingiram a catedral de Notre-Dame, em Paris, por volta de 18h50 desta segunda-feira (horário local), geraram nove horas de trabalho para controle do fogo, mobilização de mais de 500 bombeiros e lágrimas, orações e cantos de pessoas em todo o mundo.
Agora que o incêndio está controlado – os bombeiros continuam no local e estão avaliando os danos à estrutura –, autoridades e representantes da sociedade civil começam a fazer um balanço da tragédia.
Segundo o jornal francês Le Monde, não há registro de mortes decorrentes do incêndio, mas dois policiais e um bombeiro envolvidos na operação ficaram feridos.
 
Jean-Claude Gallet, comandante dos bombeiros de Paris, afirmou à imprensa que, graças ao trabalho da corporação, a estrutura principal do monumento gótico de 850 anos, incluindo as duas torres, está "a salvo e preservada em sua totalidade".
No entanto, sabe-se que a agulha principal, em espiral, e a cúpula da igreja colapsaram.
Ainda não há notícias sobre o estado de alguns itens internos como vitrais e obras de arte – mas, segundo o reitor da catedral, Patrick Jacquin, duas das principais relíquias do monumento não foram danificadas: a Coroa de Espinhos e a túnica de São Luís.
 
Catedral de Notre-Dame tomada pelo fogo
 
Discursando no entorno da Notre-Dame, o presidente francês, Emmanuel Macron, agradeceu ao trabalho dos bombeiros e anunciou o lançamento de uma campanha nacional para reconstruir as partes da catedral danificadas.
"A Notre-Dame de Paris é nossa história, nossa literatura. É o epicentro de nossa vida", disse Macron.
"Trata-se da catedral de todos os franceses, mesmo daqueles que nunca vieram aqui".

Estrutura em restauração

Ainda não há confirmação sobre as causas do acidente, mas a polícia de Paris afirmou que o fogo pode estar ligado aos trabalhos de restauração da catedral.
O prédio estava sendo restaurado desde o ano passado, quando a Igreja Católica da França fez um apelo por financiamento para salvar a estrutura, que estava com diversos problemas.
Com mais de 850 anos, a igreja de estilo gótico é o monumento histórico mais visitado da Europa, segundo o Le Monde.
 
Nas margens do Rio Sena, pessoas observam incêndio da catedral do outro lado, durante entardecer
 
Os bombeiros bloquearam um perímetro de segurança ao redor do local e os prédios em volta foram evacuados.
Fora do perímetro de segurança, milhares de pessoas observavam a tragédia. Algumas choravam, outras cantavam hinos e muitas filmavam o desastre com seus celulares.
A fumaça gerada pelo incêndio ultrapassou o entorno da catedral e se espalhou pela capital francesa.

Infográfico do incêndio

A Defesa Civil do país disse em que não poderia usar aviões para combater o incêndio porque jogar água com aeronaves poderia "resultar no colapso total da estrutura."
"O peso da água e a intensidade do despejo de uma altitude baixa poderia fragilizar a estrutura da Notre-Dame e causar danos colaterais aos imóveis vizinhos", disse o órgão.
A afirmação foi feita depois do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, dizer no Twitter que era "preciso agir rápido" e sugerir "tanques de água aéreos" para apagar o incêndio.
 
APÓS TRAGÉDIA:
 
Catedral de Notre-Dame após o incêndio
 
 BBC

sexta-feira, 12 de abril de 2019

Viagem ao espaço causa alterações permanentes no corpo humano

Missão: o astronauta Scott Kelly (à esq.) será enviado a uma missão de quase um ano na ISS, onde passará por diversos testes. Seu irmão Mark (à dir.) fará os mesmos experimentos na Terra



O achado levanta dúvidas sobre a segurança de astronautas em futuras longas viagens a Marte e outros planetas. Entretanto, ainda são necessários estudos em uma quantidade maior de astronautas para compreender de forma mais abrangente os efeitos do espaço no corpo humano.

A pesquisa

Embora o homem vá ao espaço há mais de 60 anos, pouco se sabe sobre os efeitos dessa viagem ao corpo. Comparando os irmãos, que são geneticamente idênticos, a Nasa esperava entender melhor essas alterações. “O fato de que eles são gêmeos realmente restringe as alternativas. Podemos dizer que essas mudanças se devem ao voo espacial”., disse Susan Bailey, bióloga de câncer da Universidade Estadual do Colorado e co-autora do novo estudo.
 

Alterações

Uma das alterações que surpreendeu os cientistas foi o aumento no tamanho dos telômeros de Scott. Os telômeros são pedaços do DNA que ficam no final dos cromossomos, protegendo-os da deterioração. À medida que envelhecemos, eles tendem a ficar mais curtos. Condições como stress e poluição podem acelerar esse desgaste. Por outro lado, bons hábitos, como a prática regular de atividade física e uma boa alimentação, retardam essa redução.
Surpreendentemente, o espaço parece ter o mesmo efeito. Os telômeros de Kelly aumentaram enquanto ele estava no espaço, em vez de diminuir. É como se suas células rejuvenescessem. Tudo bem que ele se exercitava com frequência e tinha uma alimentação controlada, mas os pesquisadores acreditam que o ambiente espacial possa desempenhar um papel exclusivo nesse fenômeno.
A ida ao espaço também pareceu desencadear uma mudança genética em Kelly. Milhares de genes que antes eram silenciosos aumentaram sua atividade. Alguns desse genes codificam proteínas que ajudam a fixar o DNA danificado. Isso faria sentido, já que os níveis de radiação na Estação Espacial Internacional podem ser até 48 vezes maiores do que na Terra. Dessa forma, suas células poderiam estar ocupadas consertando a lesão por radiação.
Por outro lado, outros genes ativados desempenham papéis no sistema imunológico. Mas quais mudanças eles desencadeiam, ainda não se sabe. Uma segunda descoberta importante é que o sistema imunológico de Scott respondeu apropriadamente no espaço. Por exemplo, a vacina contra a gripe administrada no espaço funcionou exatamente como na Terra. Um sistema imunológico totalmente funcional durante missões espaciais de longa duração é fundamental para proteger a saúde dos astronautas de micróbios oportunistas no ambiente da espaçonave.
A maioria dos genes alterados retornou ao normal após seis meses na Terra. No entanto, uma pequena porcentagem, não. O temor é que isso aumente o risco de câncer, já que eventualmente, as células podem começar a crescer descontroladamente. “É difícil ter certeza [de que consequências as mutações trarão], mas acredito que estaria associado a um aumento moderado no risco de câncer“, disse Peter Campbell, biólogo especializado em câncer do Instituto Wellcome Sanger, na Grã-Bretanha, ao The New York Times.
Algumas espécies de bactérias que prosperaram em seu intestino enquanto ele estava no espaço também tornaram-se raras novamente. O estranho alongamento dos telômeros desapareceu depois de menos de 48 horas na Terra.
Seu desempenho em testes cognitivos também diminui após seu retorno. “Ele ficou mais lento e menos preciso em praticamente todos os testes”, disse Mathias Basner, cientista cognitivo da Universidade da Pensilvânia, ao jornal americano The New York Times. É possível que alguma mudança biológica tenha causado esse fenômeno. Há também a possibilidade de ele simplesmente estar cansado ou menos motivado para desempenhar os testes, o que poderia impactar negativamente nos resultados.
Os aspectos únicos do Estudo dos Gêmeos criaram a oportunidade para pesquisas genômicas inovadoras, impulsionando a NASA em uma área de pesquisa sobre viagens espaciais envolvendo um campo de estudo conhecido como “ômicas”, que integra múltiplas disciplinas biológicas. Os efeitos a
longo prazo da pesquisa, como a investigação em andamento dos telômeros, continuarão sendo estudados.
“[A próxima missão] não será uma replicação do que você viu no Estudo dos Gêmeos. Vamos aprender com isso e seremos mais inteligentes com relação às perguntas que fazemos. Há muitas coisas fascinantes para medir.”, disse Jennifer Fogarty, cientista chefe do Programa de Pesquisa Humana da Nasa ao The New York Times.
A Nasa tem um rigoroso processo de treinamento para preparar os astronautas para suas missões, incluindo um regime de estilo de vida e trabalho completamente planejado enquanto no espaço, e um excelente programa de reabilitação e recondicionamento quando eles retornarem à Terra. O estudo comprova que graças a essas medidas e aos astronautas que as realizam tenazmente, o corpo humano permanece robusto e resiliente mesmo depois de passar um ano no espaço e sofrer tantas alterações.

quinta-feira, 11 de abril de 2019

A Terra pode cair em um buraco negro?


Sabe-se que buracos negros são originados a partir de estrelas gigantes e moribundas

Os muitos mistérios que cercam os buracos negros atraíram milhares de pessoas a olhar para o que, à primeira vista, parece ser uma simples fotografia.
Uma equipe internacional de astrônomos conseguiu a proeza inédita de fotografar um buraco negro e, na quarta-feira, divulgou a primeira imagem do objeto que ainda desafia a ciência. Até então, só havia ilustrações e simulações de buracos negros.
"Ele é um monstro absoluto, o campeão dos pesos-pesados do Universo", disse à BBC o professor Heino Falcke, da Universidade Radboud, na Holanda, que originalmente propôs tentar registrar a imagem do buraco negro na distante galáxia M87.

Mas o que é um buraco negro?

Em 2017, o programa da BBC Os Casos Curiosos de Rutherford e Fry fez essa pregunta. A matemática Hannah Fry e a geneticista Adam Rutherford foram conversar com o astrônomo Andrew Pontzen, que estuda a origem e a evolução do universo, e descobriram que muito pouco se sabe sobre os buracos negros.
"Essencialmente, um buraco negro é um monte de coisa que está presa em um espaço tão pequeno que nada pode sair, nem mesmo a luz", explicou Andrew Pontzen, dizendo que "esse monte de coisa" fica tão denso a ponto de ter gravidade própria.
Os buracos negros surgem a partir de estrelas moribundas, que explodem no final da vida. Depois de consumirem todo o seu combustível, sofrem um colapso gravitacional interno. O que resta delas é transformado em um objeto super compacto do qual nem a luz consegue escapar.
A atração da gravidade dentro desses objetos é tão forte que os fazem começar a sugar tudo que se aproxima.
"Ninguém sabe muito sobre buracos negros, é por isso que eles são tão fantásticos. Não apenas não os entendemos bem, mas o pouco que entendemos expõe os mais estranhos fenômenos da física", reconheceu o astrônomo Andrew Pontzen em 2017.
Apesar de pesquisadores ainda conhecerem pouco sobre os buracos negros, sabe-se, por exemplo, que não é qualquer estrela que se transforma em buraco negro ao morrer. Apenas as com peso suficiente, aquelas que são ao menos 25 vezes maiores que o nosso Sol, são capazes de criar esses abismos que tudo sugam.
Estima-se que existam 100 milhões de buracos negros na Via Láctea, a galáxia da qual o Sistema Solar faz parte.

A Terra pode ser engolida por um buraco negro?

Pouco se sabe sobre os buracos negros, mas cientistas não descartam que eles podem, em tese, engolir um planeta como a Terra

Se buracos negros são como aspiradores gigantes e há milhões deles na galáxia onde está a Terra, poderia nosso planeta ser sugado por esse corpo celeste que ainda guarda muitos mistérios?
Uma das principais perguntas procuradas na internet na quarta-feira, quando a primeira fotografia de um buraco negro foi divulgada, foi justamente se a Terra poderia ser engolida por um do tipo.
"A resposta curta é sim, poderia acontecer. Mas é muito improvável, e teríamos alguns avisos antes que algo realmente ruim acontecesse", escreveu o astrônomo Christopher Springob no site da Cornell University (EUA), sobre a possibilidade de um buraco se aproximar e engolir nosso planeta.
Apesar dos milhares de anos-luz que separam a Terra do buraco negro mais próximo, que está localizado no centro da Via Láctea, o cientista disse que não pode ser 100% descartado que um buraco negro supermassivo poderia se aproximar de nós se a nossa galáxia se fundir ou "colidir" com outra.
Ainda que considerada uma hipótese pouco provável, "a Terra poderia ser lançada no centro da galáxia, perto o suficiente do buraco negro supermassivo", disse o astrofísico da Universidade de Yale, Fabio Pacucci, em uma palestra no TED.
Isso porque, de acordo com o cientista, "haverá uma colisão entre a Via Láctea e a galáxia de Andrômeda dentro de 4 bilhões de anos, o que pode não ser uma boa notícia para o nosso planeta".
E, se isso de fato acontecer, o que poderia acontecer com os terráqueos?
O mais provável é que terráqueos morram forma violenta. Ou fritos, com o calor da colisão, ou transformados em "espaguete" (ou talvez, as duas opções de uma só vez).
"Se você estiver muito perto de um buraco negro, vai se esticar, assim como acontece com o espaguete", escreveu Kevin Pimbblet, professor de física na Universidade de Hull, no Reino Unido, na publicação The Conversation.
"Esse efeito é causado por um gradiente de gravitação que passa pelo seu corpo", explica o professor, dizendo ainda que as diferentes partes do nosso corpo experimentariam diferentes graus dessa força.
 
Se um dia a Terra for engolida por um buraco negro, terráquios poderão morrer fritos ou como espaguete
"O resultado não é apenas um alongamento do corpo em geral, mas também uma compressão no meio. Portanto, seu corpo ou qualquer outro objeto, como a Terra, começaria a parecer espaguete muito antes de chegar ao centro do buraco negro", observa Pimbblet.
Isso faria com que as partes mais próximas da Terra se estendessem enquanto as outras partes fossem comprimidas pela gravitação diferente. O resultado seria catastrófico.

O que há dentro dos buracos negros?

Dentro dos buracos negros há tudo o que entrou nele. O problema é que não se sabe em que estado as coisas estão lá dentro.
Mas se fosse possível chegar e entrar em um desses buracos, o que veríamos?
Existem diferentes teorias. "Uma das possibilidades é 'a muralha de fogo' que, como o nome sugere, é um bando de partículas em chamas que iria fritá-lo como uma batata", disse Pontzen.
Sobre a forma, sabemos que buracos negros são corpos esféricos. E se estiver girando – o que é bem provável, já que todos objetos no universo giram em algum grau – o buraco seria mais largo no centro, ao invés de ser um circulo perfeito.
 
Buracos negros sugam tudo o que passam por eles, como se fossem um aspirador gigante

A força da gravidade atrai gás e poeira que se acumulam em uma espiral. À medida que o material é consumido, o atrito o aquece a bilhões de graus, produzindo grandes quantidades de radiação e vazando energia e partículas carregadas.
Os cientistas que fotografaram o buraco da galáxia M87 capturaram, na verdade, rajadas de radiação dos objetos sugados por ele.
Tecnicamente, não é possível ver diretamente buracos negros. É possível, contudo, ver a sombra deles, uma espécie de ilusão visual criada pela gravidade.
A aparência é de um anel brilhante que margeia a sombra do buraco negro. A parte interna desse anel de material gira a uma velocidade próxima à da luz.
De acordo com a teoria da relatividade de Albert Einstein, uma fonte de luz parecerá mais brilhante se estiver se aproximando de você. Então, quando o material composto de poeira e gás estiver se aproximando do ângulo a partir do qual você olha, isso pareceria brilho crescente dentro do buraco negro.
Há centenas de anos pesquisadores tentam explicar o que são e como os buracos negros funcionam

Uma das primeiras pessoas a conceber a ideia do buraco negro foi o reverendo inglês John Michell, geólogo, astrônomo e um dos grandes cientistas esquecidos da história.
Em 1783, ele propôs a existência de "estrelas escuras" – a versão newtoniana do buraco negro cujo campo gravitacional era tão grande que nem luz podia escapar.
Há um século, Einstein calculou que a força da gravidade poderia distorcer o espaço-tempo. Suas equações previam que um corpo de densidade muito alta poderia se esconder atrás de um horizonte de eventos. Ele chegou a vislumbrar um anel brilhante no entorno de uma forma escura.
Mas foi o físico Karl Schwarzschild resolveu as equações de Einstein e calculou quão grande a massa precisaria ser para ter uma força gravitacional tão forte que impedisse a luz de sair.

Antes da foto capturada por uma rede de oito telescópios, só havia ilustrações e simulações de buracos negros

E o astrofísico John Archibald Wheeler, um dos últimos colaboradores de Einstein, foi quem popularizou o termo buraco negro.
No entanto, muitos astrônomos continuaram, por décadas, a considerar a ideia dos buracos negros como "absurda" e muitos se recusaram a aceitar que uma estrela morta poderia produzir um buraco invisível e ao mesmo tempo imenso no tecido do espaço e do tempo.
Mas, ao longo do tempo, foram descobertas outras evidências para reforçar a existência desses buracos, além da confirmação dos cálculos da matemática e da física.
"Temos provas confiáveis de que existem objetos que se comportam exatamente como os buracos negros", afirmou a astrofísica Sheila Rowan à BBC em 2017. "A observação da maneira como estrelas e gás se movem em algumas regiões do espaço nos diz que há uma enorme quantidade de massa comprimida em um pequeno espaço com efeitos gravitacionais superfortes", emendou Rowan.
"É verdade que não podemos vê-los, mas observações do LIGO (Observatório Avançado de Interferometria por Ondas Gravitacionais a Laser) foram capazes de detectar ondas gravitacionais no espaço criadas por fusões de imensos buracos negros bilhões de anos atrás", acrescentou a especialista.
E, em 2019, pesquisadores divulgaram a primeira foto de um buraco negro, que sugere que Einstein estava certo. Mas ainda há muito o que se desvendar.