terça-feira, 24 de setembro de 2019

O que faz um processo de desmatamento na Amazônia demorar 28 anos para ter uma sentença


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Em 1989, um grupo de pessoas invadiu uma área florestal da Amazônia conhecida como Terra Indígena Caru, no Maranhão. Dois anos depois, em 1991, uma ação civil pública foi aberta para julgar três homens que teriam invadido, desmatado e queimado uma parte significativa da área.
 
Mas condenar os acusados por danos ambientais demoraria quase três décadas. Depois de inúmeras idas e vindas judiciais, eles só foram julgados em 1º de março de 2019 — ou seja, 28 anos após o início do processo.
Na ação, os réus responderam apenas na esfera civil em relação ao dano ambiental causado - ou seja, a Justiça decidiria se eles iriam ou não reparar a área desmatada e pagar multa.
As quase três décadas de espera geraram duas sentenças em primeira instância na Justiça Federal, ambas publicadas em março. Isto é, os condenados ainda podem recorrer a órgãos superiores e o processo pode se prolongar por tempo indeterminado.

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Essa morosidade preocupa ainda mais em um momento de alta da destruição por meio de desmatamento e queimadas de áreas da Amazônia - que tem ganhado repercussão internacional. Em junho e agosto, por exemplo, alertas de desmatamento da Amazônia cresceram 203% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O caso Caru

A Terra Indígena Caru, que tem cerca de 173 mil hectares, foi reconhecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1982, ainda sob a ditadura militar. Junto com as reservas indígenas Awá e Alto Turiaçu, ela forma uma espécie de corredor de floresta amazônica no Maranhão.
Nela, vivem índios das etnias awá-guajá e guajajara.
O julgamento sobre a invasão da área, em março deste ano, juntou duas ações civis - uma de 1991 e outra de 2000.
Segundo o primeiro processo, três réus invadiram a reserva em 1989 e "devastaram diversos pontos da terra indígena ao promover o desmatamento de diversas espécies de árvores, para posterior beneficiamento e comercialização da madeira em serrarias irregulares da região".
Eles também teriam limpado a área "com a utilização de fogo para a construção de cercas, casas, currais, barracos e plantação de roças (em especial, de capim para pastagem de gado bovino), o que impede a regeneração da área afetada."
Porém, a destruição da mata piorou nos anos seguintes à primeira invasão. Uma inspeção da Funai em 1999 descobriu que a área desmatada havia aumentado para 20 mil hectares.
Esse relatório gerou um novo processo civil com mais quatro réus. As duas ações depois foram reunidas e julgadas em conjunto pela Justiça Federal, mas isso só ocorreu neste ano.
Em 1999, os fiscais da Funai encontraram uma comunidade com 600 famílias e 2 mil pessoas vivendo na reserva indígena - boa parte tinha vindo de cidades vizinhas e trabalhava com produtos agrícolas como forma de sobrevivência. Além disso, havia pastos com dezenas de milhares de cabeças de gado, porcos, cavalos e cabras.
Segundo o relatório da Funai, a comunidade invasora já tinha 200 casas, currais, pastagens, cercas de arame, casas de farinha, pomares e poços. Também foram encontrados máquinas agrícolas, tratores, motosserras, espingardas e rifles. Na área, foi aberta uma estrada de 60 km de extensão para escoar a madeira retirada da mata ilegalmente.

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O documento apontava que um dos comandantes da invasão "aliciava as pessoas a adentrarem na Terra Indígena Caru, oferecendo lotes de aproximadamente de 20 a 30 alqueires, para a finalidade do cultivo de lavoura, na condição de que a madeira encontrada nos devidos lotes fosse destinada para comercialização junto às madeireiras".
O documento da Funai também citava que a liderança mantinha "vigília das madeiras espalhadas no interior da reserva com pessoas fortemente armadas, o que representava uma verdadeira ameaça às comunidades indígenas."
No processo, os três réus da ação de 1991 alegaram que tinham autorização do Ibama para realizar a derrubada de parte da mata, mas a Justiça considerou que apenas um deles tinha de fato o documento.
Os acusados também afirmaram que o crime tinha prescrito e que eles eram donos da terra, mas o juiz negou os argumentos. Segundo o magistrado Ricardo Felipe Rodrigues Macieira, não houve prescrição e, além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que títulos de propriedade dentro de reservas indígenas são nulos.
Duas pessoas foram condenadas a criar, junto ao Ibama, um plano de recuperação florestal para a área - e, caso o local esteja irrecuperável, os réus devem pagar uma indenização.
Já no processo de 2000, relativo à degradação constatada um ano antes pela Funai, a Justiça condenou quatro pessoas a pagar uma multa de R$ 50 mil, além da criação de planos de recuperação. Entre outros argumentos, os réus alegaram que havia erros na demarcação da reserva e que não houve danos ambientais, pois "não havia índios na área" - esses pontos foram refutados pela Justiça.
Por que demorou tanto?

Não há uma única explicação para a lentidão para julgar o caso. Ele ficou seis anos parado na Justiça sem qualquer movimentação.
O procurador da República Marcelo Santos Correa, que recentemente assumiu a área ambiental da Procuradoria do Maranhão e o processo relativo à invasão da Terra Indígena Caru, diz que uma série de entraves na burocracia da Justiça Federal, responsável por julgar danos a áreas públicas da União, tem atrasado os processos relativos à Amazônia, como o do Caru.
Em meados da última década, a Justiça Federal criou uma vara especializada em crimes ambientais no Maranhão. Ela ficou responsável por julgar ações de desmatamento, acelerando os processos dessa área e desafogando outras seções. No entanto, em vez de ajudar, a medida causou confusão.
"Houve uma grande discussão sobre quem tinha competência para julgar os casos. Muitos processos, até de questões fundiárias, eram repassados para a vara ambiental, depois retornavam para a comum. E aí ficava nesse impasse sobre quem deveria julgar. Muitas vezes, a Justiça demorava anos para se chegar a uma conclusão sobre isso", diz Correa.

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Essa discussão tem ocorrido também no Pará, onde seções da Justiça Federal também têm "disputado" quem pode julgar alguns casos.
Além da enorme quantidade de processos, outro problema, afirma Correa, é a dificuldade para encontrar e ouvir réus e testemunhas que vivem em cidades muito distantes das varas federais, que normalmente ficam em cidades médias ou grandes. O território da Terra Indígena Caru, por exemplo, está localizado nos municípios de Bom Jardim e São João do Caru, a mais de 270 quilômetros de São Luís.
"Nesses casos, a Justiça Federal envia uma carta para a Justiça Estadual ouvir a testemunha ou o réu, como uma espécie de favor. Mas às vezes isso demora anos para acontecer, porque os fóruns estaduais também estão cheios de processos", diz.
No caso da invasão ao Caru, por exemplo, o depoimento de uma única testemunha demorou quatro anos para ser colhido depois que ele foi pedido pelo juiz federal. Essa lentidão acabou paralisando o processo e atrasou ainda mais a obtenção de sentenças.
"É um absurdo que um processo demore mais de 20 anos para ser julgado. Ainda mais quando há flagrante e provas claras do dano ambiental, como ocorreu no Caru. Era um caso relativamente simples de julgar", diz Correa.

'Demora como incentivo ao desmatamento'

Hoje subprocurador-geral da República, Nicolao Dino estava em início de carreira no Ministério Público Federal quando participou da ação contra os invasores da Terra Indígena Caru, nos anos 1990.
"A intenção dos invasores era extrair madeira ilegalmente, além de implantar a cultura do gado na região", afirmou Dino à BBC News Brasil, por telefone. "Houve uma redução gradativa de espaços demarcados e prejuízos socioambientais e à cultura indígena da área".
Dino não sabia que os dois processos relativos à área demoraram tanto para serem finalmente julgados, pois, ao ascender na hierarquia do MPF, a ação foi assumida por outros procuradores - cinco ao todo, nesses 28 anos.
"Preocupa essa demora para a resolução de casos de extrema importância, como é a destruição de matas virgens, que fazem parte do patrimônio ambiental brasileiro", explica.
Para ele, processos de destruição da Amazônia deveriam ser tratados como prioridade pela Justiça. "A demora na resposta do Estado e a sensação de impunidade são interpretadas como estímulo por quem pratica ações ilícitas. É preciso que o Estado dê uma resposta rápida", afirma.
O procurador Daniel Azeredo, que também trabalha em processos de dano ambiental, concorda que casos de desmatamento deveriam ser priorizados.
"Há algumas áreas da Justiça, como a Trabalhista, que trabalham com metas de resolução de processos. Talvez essa seja uma alternativa a se estudar nesse campo", diz ele, que atua no projeto Amazônia Protege, grupo de trabalho do MPF e do Ibama criado para combater a destruição de áreas florestais.
Desde 2017, o projeto já moveu 2.539 ações judiciais de danos ambientais. Nenhuma delas recebeu condenações definitivas até agora, segundo levantamento do UOL.
Azeredo também é a favor de um endurecimento das penas criminais impostas a quem desmata. Hoje, a lei prevê de um a cinco anos de prisão para quem causar danos em áreas públicas protegidas e de conservação. Na prática, as condenações de prisão são, em sua maioria, convertidas em multas ou prestação de serviços à comunidade.

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"É importante que a punição tenha o efeito de ser um exemplo. As pessoas precisam entender que crime ambiental pode dar cadeia", afirma Azeredo.
Em entrevista recente à BBC News Brasil, o procurador Luís de Camões, que trabalha no Pará, resumiu a situação das penas com outras palavras: "Hoje, se você furtar um celular, talvez fique mais tempo preso do que se botar fogo na floresta", disse.
É difícil resumir os motivos de tanta demora, pois cada caso tem problemas próprios, como enorme quantidade de recursos, problemas para ouvir testemunhas, excesso de processos e até indefinições sobre qual seção da Justiça Federal tem competência para julgar.
A Operação Curupira da Polícia Federal (PF) e MPF, por exemplo, descobriu em 2005 um esquema de desmatamento e extração ilegal de madeira em três Estados. O processo completou 14 anos e ainda está aberto na Justiça Federal, sem resolução.
BBC

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Homem morto há 22 anos é encontrado com ajuda do Google Earthart

William Moldt

Os restos mortais de um homem desaparecido há duas décadas, nos EUA, foram encontrados dentro de um carro submerso em um lago graças ao Google Earth.
William Moldt foi dado como desaparecido em Lantana, na Flórida, em 7 de novembro de 1997.
Ele tinha 40 anos na época e não voltou para casa após uma noitada em uma boate.
A polícia abriu um inquérito sobre seu desaparecimento, mas a investigação não avançou, e o caso acabou sendo encerrado.
Em 28 de agosto deste ano, 22 anos depois, a polícia recebeu a denúncia de que havia um carro afundado em um lago em Moon Bay Circle, Wellington, na Flórida.
Quando retirou o veículo da água, se deparou com restos mortais dentro.
Uma semana depois, foi confirmado que se tratava de Moldt.

Ajuda do Google Earth

Google Maps mostra carro afundado


 A delegacia do condado de Palm Beach informou na quinta-feira que "um ex-morador de Grand Isles estava fazendo uma pesquisa no Google Earth, nessa região, quando notou o que parecia ser um veículo no lago".
A pessoa entrou em contato imediatamente com um ex-vizinho para contar o que achava ter visto dentro do lago, que ficava logo atrás da casa dele.
Este último ativou, por sua vez, seu drone pessoal, confirmando a descoberta. E, na sequência, notificou as autoridades, conforme informou a polícia em sua conta do Facebook.


Um residente anterior que vivia em grand isles estava fazendo uma "Pesquisa no google" no Google Earth, na área e notou o que parecia ser um veículo no lago atrás de uma residência. Aquele residente anterior entrou em contato com o atual residente que vive em moon bay circle e aconselhou que ele notou o que parece ser um veículo em um lago atrás de sua casa. O atual morador ativou o seu drone pessoal e confirmou o que o residente anterior viu e imediatamente entrou em contato... com a pbso.
À chegada, os delegados confirmaram que havia um veículo no lago. O exterior do veículo estava fortemente calcificada e estava obviamente na água por uma quantidade significativa de tempo. Ao remover o esqueleto do veículo, foram encontrados restos do esqueleto do veículo
Os detetives e a cena do crime responderam e assumiram a investigação. O veículo e os restos foram rebocados para o escritório do médico-legal para processamento.
Em 10 de setembro de 2019, os restos foram positivamente identificados como William Moldt, que foi dado como desaparecido em 1997. De Novembro de 1997.
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Quando a polícia chegou, constatou que havia um carro submerso no lago e que estava bem calcificado por estar há bastante tempo na água.
Ao retirar o veículo, encontraram os restos mortais dentro dele.
"Surpreendentemente, o veículo estava claramente visível em uma foto de satélite do Google Earth da área desde 2007, mas aparentemente ninguém percebeu até 2019", publicou o site do Charley Project, banco de dados online sobre casos não resolvidos nos EUA.

'Desapareceu da face da Terra'

A polícia presume que Moldt tenha perdido o controle do veículo e caído no lago, conforme informou à BBC.
E afirma que, durante a investigação inicial sobre seu desaparecimento, "não havia evidências de que isso tivesse acontecido". Apenas recentemente, uma mudança no nível da água tornou o carro visível.
"Não é possível determinar o que aconteceu há tantos anos", explicou Therese Barbera, porta-voz da delegacia.
"Tudo o que sabemos é que ele desapareceu da face da Terra e agora foi descoberto."
Na noite em que desapareceu, Moldt deixou a casa noturna às 23h, de acordo com um relatório do Sistema Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Identificadas.
O mesmo documento acrescenta que ele era um homem tranquilo que não socializava muito, não parecia embriagado e saiu do local sozinho dirigindo o carro.
"Ele não bebia frequentemente, mas tomou várias bebidas no bar", especifica o relatório.
Moldt ligou para a namorada por volta das 21h30 e disse que chegaria logo em casa, mas ele nunca mais foi visto, tampouco se ouviu falar dele.
BBC

De chuva de diamantes a megafuracões, os extremos do clima em outros planetas

Muitas vezes reclamamos do clima, principalmente quando eventos extremos se tornam cada vez mais comuns aqui na Terra.

Nave espacial sobrevoando furacão na Terra

E se passássemos nossas férias lutando com ventos que chegam a 8.000 km/h ou temperaturas quentes o suficiente para derreter o chumbo?
O clima, bom ou ruim, é um elemento permanente em nosso planeta - mas lá fora, nas profundezas do espaço, pode ser ainda mais intenso. Aqui estão alguns exemplos:

Vênus infernal

Vamos começar perto de casa, com nosso vizinho Vênus, o lugar mais inóspito do sistema solar.
Basicamente, Vênus é um buraco apocalíptico. Lar de uma atmosfera densa, composta principalmente de dióxido de carbono, a pressão atmosférica em Vênus é 90 vezes maior que a da Terra.
Essa atmosfera retém grande parte da radiação solar, o que significa que as temperaturas em Vênus podem chegar a 460° C - você seria esmagado e fervido em segundos se colocasse os pés ali.
Mas se isso não parecer doloroso o suficiente, a chuva em Vênus é composta de ácido sulfúrico extremamente corrosivo, que queimaria gravemente a pele ou o traje espacial de qualquer viajante interestelar, caso chegasse à superfície.

Planeta com a atmosfera laranja

Devido às temperaturas extremas do planeta, essa chuva evapora antes de tocar o solo.
Ainda mais bizarro: há "neve" em Vênus. Não é do tipo com a qual você poderia fazer guerra de bolas de neve: esse material é composto dos restos de basalto e geada de metais vaporizados por sua atmosfera.

Netuno turbulento

Por outro lado, temos os planetas gigantes de gás, Urano e Netuno.
Este último, nosso planeta mais distante, abriga nuvens congeladas de metano e os ventos mais violentos do sistema solar.
Por causa da topografia do planeta, que é bastante plana, não há nada para diminuir a velocidade desses ventos supersônicos de metano, que podem atingir velocidades de até 2.400 km/ h.

Interpretação artística de Netuno gelado, com anéis planetários e uma grande mancha escura indicando uma tempestade em sua superfície

Além de poder ouvir a barreira do som quebrando, uma visita aqui também incluiria chuva de diamantes, graças ao carbono na atmosfera sendo comprimido.
Mas você não precisaria se preocupar em ser atingido por uma pedra caindo, pois já teria sido congelado instantaneamente - a temperatura média é de -200° C.

Planetas fora do sistema solar

Os exoplanetas estão localizados fora do nosso sistema solar e orbitam em torno de um sol.
Tom Louden, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Warwick, no Reino Unido, é uma espécie de meteorologista intergaláctico. Seu trabalho é descobrir quais são as condições atmosféricas em outros planetas.
Sua especialidade são exoplanetas, particularmente um batizado de HD 189733b.

Arte do planeta extra-solar HD 189733b do tamanho de Júpiter sendo eclipsado por sua estrela-mãe

Este mundo azul profundo a 63 anos-luz de distância é um bom candidato para hospedar o clima mais extremo conhecido em outro planeta.
Pode parecer bonito, mas suas condições climáticas são cataclismaticamente terríveis.
Com ventos de 8.000 km/ h (os mais fortes registrados na Terra têm pouco mais de 400 km/ h), também é 20 vezes mais próximo do sol do que nós, com temperatura atmosférica de 1.600 ° C - a mesma de lava derretida.
"As rochas do nosso planeta seriam vaporizadas em líquido ou gás aqui", diz Louden. E também chove vidro derretido. Lateralmente.

Há algum lugar habitável por aí?

Louden diz que existem planetas semelhantes em tamanho e massa à Terra que orbita estrelas anãs M menores, ou "anã vermelha".
Essas são as estrelas mais comuns da Via Láctea, mas se escondem nas sombras, muito escuras para serem vistas a olho nu da Terra.

Paisagem de planeta semelhante à Terra

Se esses planetas são habitáveis ​​ou não é outra questão.
Muitos desses exoplanetas estão de fato na "zona Cachinhos Dourados", que não é nem muito próxima nem muito longe do Sol. Infelizmente, é provável que muitos também estejam "ordenadamente travados" em sua estrela.
Isso significa que eles sempre têm o mesmo lado voltado para o objeto em que estão orbitando - assim como o mesmo lado da Lua sempre é virado para a Terra.
Por esse motivo, você terá um lado com luz do dia permanente e o outro, noite perpétua.
"Quando você cria modelos de computador, há ventos fortes se movendo do dia para o lado escuro", diz Louden.
"Isso é uma consequência do efeito de travamento das marés. Um lado do planeta fica muito mais quente que o outro, então ventos fortes são uma conseqüência quando o planeta tenta redistribuir o calor", diz ele.
"Qualquer água líquida do lado do dia evapora em nuvens, que são sopradas para o lado noturno, onde congelam e nevam. Você tem um lado que é deserto e outro que é ártico".

 Arte representa um furacão se movendo sobre um deserto de areia 

Mas Louden diz que essas são apenas previsões de modelos e outros especialistas estão mais otimistas sobre a vida em exoplanetas que sofrem influência da maré.
Ingo Waldmann, professor de planetas extrasolares da UCL, disse à BBC News que, se existir uma atmosfera espessa o suficiente, a circulação do dia para a noite deve ser suficiente para impedir que a noite fique totalmente congelada.
Outros modelos sugerem que a água que evapora no ponto mais quente do dia se condensará em nuvens e formará uma cobertura permanente de nuvens no lado do dia.
Essas nuvens poderiam refletir o suficiente da radiação da estrela de volta ao espaço para diminuir a temperatura do planeta e tornar habitáveis ​​partes do dia.
Então, até encontrarmos condições habitáveis ​​fora do planeta Terra, realmente não haverá lugar como nosso lar.
BBC

Água anima cientistas sobre possibilidade de vida em planeta a 111 anos-luz da Terra


 K2-18b

Astrônomos encontraram água, pela primeira vez, na atmosfera de um planeta que orbita a "zona habitável" de uma estrela distante.
A descoberta faz do planeta - chamado K2-18b - um candidato plausível na busca por vida extraterrestre.
Dentro de 10 anos, novos telescópios espaciais serão capazes determinar se a atmosfera do K2-18b contém gases que podem ser produzidos por organismos vivos.
Os detalhes foram publicados na revista científica Nature Astronomy.
A cientista Giovanna Tinetti, da University College London (UCL), descreveu a descoberta como "surpreendente".
"Esta é a primeira vez que detectamos água em um planeta na zona habitável ao redor de uma estrela onde a temperatura é potencialmente compatível com a presença de vida", disse ela.
A zona habitável é a região ao redor de uma estrela onde as temperaturas são suficientemente favoráveis para que a água exista na forma líquida na superfície de um planeta.
O K2-18b está a 111 anos-luz de distância, longe demais para o envio de uma sonda - para efeito de comparação, nosso Sol está a 0,00001581 ano-luz da Terra.
Por isso, a única opção é esperar o lançamento da próxima geração de telescópios espaciais, na década de 2020, e procurar gases na atmosfera do planeta que só possam ser produzidos por organismos vivos, segundo Ingo Waldmann, da University College London.
"Essa é uma das maiores questões da ciência e sempre nos perguntamos se estamos sozinhos no universo", disse Waldmann. "Nos próximos 10 anos, saberemos se lá existe produção química compatível com vida."

O que é um exoplaneta?

  • Planetas fora do nosso Sistema Solar são chamados exoplanetas;
  • O primeiro exoplaneta foi descoberto em 1992, orbitando um pulsar (estrela de nêutrons que emite radiação eletromagnética);
  • Mais de 4 mil foram detectados até hoje, usando várias técnicas;
  • Muitos são grandes planetas que se assemelham a Júpiter ou Netuno;
  • Muitos planetas gigantes foram encontrados orbitando muito perto de suas estrelas.

A equipe responsável pela descoberta examinou os planetas descobertos pelo telescópio espacial Hubble entre 2016 e 2017.
Os pesquisadores determinaram alguns dos produtos químicos na atmosfera dos planetas ao estudar as mudanças na luz das estrelas durante as órbitas dos planetas. A luz filtrada pelas atmosferas dos planetas foi sutilmente alterada pela composição da atmosfera.
Somente o planeta K2-18b revelou a molécula da água, que é um ingrediente imprescindível para a vida na Terra. A modelagem computacional dos dados sugeriu que até 50% de sua atmosfera poderia ser água.
O novo planeta tem pouco mais que o dobro do tamanho da Terra e tem uma temperatura fria o suficiente para ter água líquida, entre zero e 40°C.
Angelos Tsiaras, membro da equipe de cientistas, disse que encontrar água na atmosfera de um exoplaneta potencialmente habitável é "incrivelmente emocionante".
"Isso nos aproxima de responder à pergunta fundamental: a Terra é única?", afirmou.

Longo caminho

Uma dificuldade em relação a essa abordagem, porém, é que os astrônomos não conseguem chegar a um consenso sobre quais gases seriam indícios de vida. Esse será um longo caminho.
É provável que isso exija um levantamento da composição química de centenas de planetas e uma compreensão de como é essa evolução, de acordo com o professor Tinetti.
"A Terra realmente se destaca em nosso próprio sistema solar. Tem oxigênio, água e ozônio. Mas se encontrarmos tudo isso em torno de um planeta em torno de uma estrela distante, teremos de ser cautelosos ao dizer que isso sustenta a vida", afirmou.
"É por isso que precisamos entender não apenas alguns de planetas na galáxia, mas centenas deles. E o que esperamos é que os planetas habitáveis ​​se destaquem, que veremos uma grande diferença entre os planetas habitáveis ​​e os aqueles que não são."

Representação da missão Ariel

Beth Biller, do Instituto de Astronomia da Universidade de Edimburgo, diz acreditar que evidências de vida em um planeta ao redor de uma estrela distante eventualmente serão descobertas.
"Isso seria uma mudança de paradigma para toda a humanidade", disse ela à BBC News.
"Não será necessariamente um 'E.T. telefonando para casa', mas provavelmente micróbios ou alguma outra forma de vida simples. Mesmo assim, quando isso acontecer, será uma descoberta enorme."
O lançamento do Telescópio Espacial James Webb (JWST) da Nasa, previsto para 2021, e a missão Ariel da Agência Espacial Europeia sete anos depois, permitirão que os astrônomos estudem em detalhes as atmosferas dos diversos planetas que foram detectados até agora.
A água foi identificada em outros planetas, mas eles eram muito grandes ou muito quentes para sustentar a vida. Planetas menores e mais frios são muito mais difíceis de detectar.
A equipe da UCL conseguiu fazer isso desenvolvendo algoritmos capazes de identificar a composição química das atmosferas de planetas potencialmente habitáveis.
O K2-18b foi descoberto em 2015 e é uma das centenas de super-Terras - planetas com massa entre a Terra e Netuno - encontradas pela sonda Kepler da Nasa. Espera-se que a missão Tess da Nasa detecte mais centenas nos próximos anos.
A pesquisa foi financiada pelo Conselho Europeu de Pesquisa e pelo Conselho de Instalações de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, que faz parte da Agência de Pesquisa e Inovação do Reino Unido (UKRI).
BBC News

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Cientistas encontram vapor de água em Super - Terra potencialmente habitável


 

De acordo com um estudo publicado pela revista "Nature Astronomy", o K2-18b está localizado a 100 anos-luz da Terra. Ainda de acordo com o estudo, ele tem características que podem propiciar a existência de vida extraterrestre.
ONDRES - Cientistas detectaram sinais de vapor d'água na atmosfera de um planeta localizado em uma zona habitável do espaço. Trata-se do o planeta K2-18b - e essa é uma evidência importante na busca de vida fora do Sistema Solar.
O K2-18 b é uma “Super-Terra” que fica eu uma zona habitável, a região ao redor de uma estrela na qual a água líquida pode potencialmente se acumular na superfície de um planeta rochoso.
Astrônomos do Center for Space Exochemistry Data da University College London, no Reino Unido, usaram dados do Telescópio Espacial Hubble, da NASA, para encontrar vapor de água na atmosfera de K2-18b, um exoplaneta que gira em torno de uma pequena estrela anã vermelha a cerca de 110 anos-luz de distância, na constelação de Leo.
Se a presença de água for confirmada por estudos adicionais, este será o único exoplaneta conhecido por ter água na atmosfera e temperaturas que poderiam sustentar a água líquida em uma superfície rochosa.
Astrônomos do Center for Space Exochemistry Data da University College London, no Reino Unido, usaram dados do Telescópio Espacial Hubble, da NASA, para encontrar vapor de água na atmosfera de K2-18b, um exoplaneta que gira em torno de uma pequena estrela anã vermelha a cerca de 110 anos-luz de distância, na constelação de Leo.
Se a presença de água for confirmada por estudos adicionais, este será o único exoplaneta conhecido por ter água na atmosfera e temperaturas que poderiam sustentar a água líquida em uma superfície rochosa.
Os autores do estudo acreditam que outras moléculas, incluindo nitrogênio e metano, podem estar presentes, mas permanecem indetectáveis ​​com as observações atuais. Mais estudos são necessários para estimar a cobertura de nuvens e a porcentagem de água atmosférica presente.
O K2-18b é uma das centenas de “superterras” – exoplanetas com massas entre as da Terra e Netuno – encontrados pela sonda espacial Kepler. Espera-se que a missão TESS da NASA detecte centenas de superterras nos próximos anos.
A próxima geração de telescópios espaciais, incluindo o Telescópio Espacial James Webb, será capaz de caracterizar a atmosfera de exoplanetas com mais detalhes.
O Telescópio Espacial Hubble é um projeto de cooperação internacional entre a ESA (Agência Espacial Européia) e a NASA.

A história por trás da impressionante foto da NASA após os ataques de 11 de setembro

"As lágrimas não fluem da mesma maneira no espaço". Essa foi uma das conclusões comoventes do astronauta americano Frank Culbertson após enviar à Agência Espacial Norte Americana (NASA) a fotografia feita pouco depois dos ataques às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001.
 
Foto da Terra
O capitão Culbertson era o comandante da Expedição 3 da Estação Espacial Internacional (EEI) naquele dia trágico e , apesar de não estar sozinho na espaçonave - já que dividia a tripulação com os russos Vladimir Dezhurov e Mikhail Turin -, era único americano no espaço.
Na imagem feita por ele é possível ver duas enormes colunas de fumaça preta arrastadas pelo vento a partir do sul da ilha de Manhattan, onde um pouco antes estavam as torres de 110 andares de escritórios no World Trade Center, centro financeiro da cidade.
Nesta manhã, há 15 anos, às 08h46 da manhã, horário de Nova Iorque, o voo 11 da American Airlines, que havia sido sequestrado, se chocou contra a Torre Norte.
O avião estava a 700 km/hora, e levava 92 passageiros e nove membros da tripulação a bordo.
Às 09h03, 18 minutos mais tarde, a Torre Sul foi atingida pelo voo 175 da United Airlines na altura dos andares 77 ao 85, a uma velocidade de 540 km/hora.
Os passageiros dos dois aviões foram somente algumas das 3 mil vítimas dos ataques e posterior destruição das torres, que caíram após o fogo derreter as estruturas que as mantinham firmes.
Os eventos desse dia foram uma série de ataques coordenados cometidos pelo grupo Al Qaeda, que deixaram mais de 6 mil feridos.

A tragédia vista do espaço

A EEI é um centro de investigação espacial que orbita a Terra desde 1998 e é administrado pelo programa de cooperação entre cinco agências espaciais, entre as quais estão a NASA e a Agência Espacial Federal Russa.
 
Frank Culbertson
 
Em 2001, a EEI não tinha televisão ao vivo ou internet, mas ao receber a notícia através de uma conferência por rádio com a equipe médica da NASA na Terra, Culbertson conseguiu ver no mapa que estavam passando pelo Canadá e quem em breve sobrevoariam Nova Iorque.
"Percorri toda a EEI e encontrei uma janela que me dava uma vista de Nova Iorque e peguei a câmera mais próxima", disse Culbertson em uma carta enviada à NASA no dia seguinte aos ataques.
"Estávamos olhando para a cidade no exato momento, ou logo depois do colapso da segunda torre. Que horrível", escreveu o astronauta sobre o momento em que tirou a foto.
"É horrível ver fumaça saindo de uma das feridas do próprio país com essa vista privilegiada. A dicotomia de estar em uma nave espacial dedicada a melhorar a vida na Terra e ver a vida ser destruída com atos intencionados, estes atos terríveis mexem com o nosso psique, não importa quem seja", afirmou Culbertson ao ver um vídeo com imagens da fumaça saindo do World Trade Center.
"Além do impacto emocional do nosso país, dos milhares dos nossos cidadãos sendo atacados e talvez alguns amigos mortos, estar onde estou é a sensação mais esmagadora de isolamento", escreveu o astronauta que já viajou ao espaço três vezes e passou 129 dias a bordo da EEI.
"O mundo mudou hoje. Tudo o que se diga ou faça é pequeno comparado ao significado do que aconteceu com nosso país ao ser atacado".
Foto da EEI

A Estação Espacial Internacional completa 16 voltas por dia à Terra. É uma plataforma de observação remota que coleta informações sobre a superfície do planeta, sobre os oceanos e a atmosfera.
Parte das funções dos astronautas a bordo da nave - que sempre variam entre três e seis e são substituídos cada semestre - é ajudar a monitorar os eventos na Terra.
"NA EEI recebemos relatórios da Terra e somos parte de um grupo internacional de monitoramento de desastres, o que nos obriga a fazer fotografias dos eventos na Terra", explicou o astronauta Kjell Lindgreen à BBC Mundo.
"Fazemos fotos para ajudar a quem está trabalhando durante os desastres na Terra", disse ele, que já participou de expedições na EEI entre junho e dezembro de 2015.
"É muito comovente quando alguém vê tragédias do espaço, pensar nos bombeiros que perdem a vida tentando combatê-los quando se está tão longe. A pessoa acaba desenvolvendo uma relação pessoal com esses eventos porque se sente parte deles. E é de certa forma gratificante poder ajudar", afirma.
Depois dos ataques de 11 de setembro, também foram ativados Programas Científicos de Monitoramento do Ar na NASA com sensores de detecção de agentes contaminantes no ar.

Imagem de Nova Iorque do satélite Landsat 7

Ataque ao Pentágono

Além dos aviões que se chocaram contra as Torres Gêmeas, outros dois aviões foram sequestrados em 11 de setembro de 2001.
O voo 93 da United Airlines se chocou em um campo no estado da Pensilvânia quando os passageiros tentaram retomar o controle da aeronave. Os 37 passageiros e os sete membros da tripulação morreram.
Um quarto avião se chocou contra um dos maiores edifícios de escritórios do mundo: o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA.
Às 09h37, o voo 77 da American Airlines se chocou a 530 km/horas contra o Pentágono, matando os 64 passageiros e tripulantes, assim como 125 civis e militares que estavam trabalhando no prédio, nos arredores de Washington.
"Havia uma fumaça sobre Washington, mas não dava para identificar uma fonte específica", escreveu Culbsertson na primeira carta, escrita justamente em 11 de setembro.
No dia seguinte, recebeu uma notícia devastadora.
"Soube que o capitão do voo da American Airlines que se chocou contra o Pentágono era (Charles) Chic Burlingame, um companheiro de escola. Eu o conheci durante um verão e tivemos um monte de aulas juntos", escreveu o astronauta.
"Tenho certeza que Chic lutou valentemente até o final. E as lágrimas não fluem da mesma forma no espaço", concluiu.
BBC

11de setembro: a surpreendente tese que tenta explicar por que a CIA ignorou os sinais dos ataques

O fracasso da CIA em identificar os sinais de alerta dos ataques de 11 de setembro se tornou um dos assuntos mais controversos na história dos serviços de inteligência. Houve comissões, análises, investigações internas e muito mais.
 
Um dos ataques de 11 de setembro de 2001
De um lado, estão aqueles que dizem que a agência de inteligência americana não percebeu sinais de alerta óbvios. Do outro, os que argumentam que é notoriamente difícil identificar ameaças de antemão e que a CIA fez tudo o que era razoavelmente possível.
Mas e se os dois lados estiverem errados? E se a verdadeira razão pela qual a CIA falhou em detectar o plano de ataque for mais sutil do que ambas as partes imaginam? E se o problema vai muito além do serviço de inteligência e afeta hoje silenciosamente milhares de organizações, governos e equipes?
Embora muitas das investigações tenham se concentrado em julgamentos específicos sobre os preparativos do 11 de Setembro, poucas deram um passo atrás para examinar a estrutura interna da própria CIA e, em particular, suas políticas de contratação.
Em determinado nível, os processos eram impecáveis. Os analistas em potencial eram submetidos a uma bateria de exames psicológicos, médicos, entre outros. E não há dúvida de que contratavam pessoas excepcionais.
"Os dois principais exames eram uma prova no estilo SAT (usadas para admissão em universidades americanas) para analisar a inteligência do candidato e um teste de perfil psicológico para avaliar seu estado mental", conta um veterano da CIA.
"Eles eliminavam qualquer um que não fosse brilhante nos dois testes. No ano em que me candidatei, eles admitiram um candidato para cada 20 mil inscritos. Quando a CIA falava que contratava os melhores, tinha razão."
Mesmo assim, o perfil da maioria das pessoas recrutadas também parecia muito semelhante - homens, brancos, anglo-saxões, americanos, de religião protestante.
Esse é um fenômeno comum nos processos de recrutamento, às vezes chamado de "homofilia": as pessoas tendem a contratar profissionais que pensam (e geralmente se parecem) com elas mesmas.
É validador estar cercado por indivíduos que compartilhem as mesmas perspectivas e crenças. De fato, tomografias sugerem que, quando outras pessoas refletem nossos próprios pensamentos, isso estimula os centros de prazer do cérebro.

Homem cruza o lobby da sede da CIA

Em seu estudo sobre a CIA, os especialistas em inteligência Milo Jones e Phillipe Silberzahn escrevem: "O primeiro atributo consistente da identidade e cultura da CIA de 1947 a 2001 é a homogeneidade de sua equipe em termos de raça, sexo, etnia e origem de classe".
O estudo de um inspetor-geral sobre o processo de recrutamento constatou que em 1964, um braço da CIA, o Escritório de Estimativas Nacionais, "não tinha profissionais negros, judeus ou mulheres, e apenas alguns católicos".
Em 1967, o relatório informava que havia menos de 20 afro-americanos entre cerca de 12 mil funcionários não administrativos da CIA, e a agência manteve a prática de não contratar minorias entre as década de 1960 e 1980.
Até 1975, a comunidade de inteligência dos EUA "proibia abertamente a contratação de homossexuais".
Ao falar sobre sua experiência na CIA nos anos 1980, um informante escreveu que o processo de recrutamento "levou a novos oficiais que se pareciam muito com as pessoas que os recrutaram - brancos, sobretudo anglo-saxões; de classe média e alta; graduados em artes liberais". Havia poucas mulheres e "poucas etnias, mesmo de origem europeia recente".
"Em outras palavras, não havia sequer a diversidade que havia entre aqueles que ajudaram a criar a CIA."
A diversidade foi reduzida ainda mais após o fim da Guerra Fria. Um ex-oficial de operações afirmou que a CIA tinha uma "cultura branca como arroz".

Imagem aérea da sede da CIA em Langley, no estado da Virgínia

Nos meses que antecederam o 11 de Setembro, a revista acadêmica International Journal of Intelligence and Counterintelligence comentou:
"Desde o início, a Comunidade de Inteligência [era] composta pela elite protestante branca masculina, não apenas porque essa era a classe no poder, mas porque essa elite se via como garantidora e protetora dos valores e da ética americanos."
Por que essa homogeneidade importava? Se você está contratando uma equipe de revezamento, não vai querer ter apenas os corredores mais rápidos? Por que importaria se são da mesma cor, gênero, classe social etc.?
No entanto, essa lógica, apesar de fazer sentido para tarefas simples como correr, não se aplica a tarefas complexas como inteligência. Por quê? Porque quando um problema é complexo, ninguém tem todas as respostas. Todos nós temos pontos cegos, lacunas na nossa compreensão.
Isso significa, por sua vez, que se você reunir um grupo de pessoas que compartilham perspectivas e origens semelhantes, é provável que compartilhem os mesmos pontos cegos.
Ou seja, em vez de desafiar e abordar esses pontos cegos, é provável que sejam reforçados.
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Os atentados

No dia 11 de setembro de 2001, dois aviões de passageiros se chocaram contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, como parte de uma série de ataques coordenados contra alvos nos EUA.
Um outro avião sequestrado por terroristas caiu sobre o Pentágono, na Virgínia, e um quarto, sobre a Pensilvânia, depois que passageiros resolveram enfrentar os sequestradores.
Os ataques de 11 de Setembro mataram ao todo quase 3 mil pessoas e foram reivindicados pela rede extremista Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, morto em 2011 pelos EUA no Paquistão.
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A cegueira de perspectiva se refere ao fato de que muitas vezes somos cegos para nossos próprios pontos cegos. Nossos modos de pensamento são tão habituais que mal percebemos como eles filtram nossa percepção da realidade.
A jornalista britânica Reni Eddo-Lodge descreve o período em que decidiu ir pedalando para o trabalho:
"Uma verdade incômoda me ocorreu enquanto carregava minha bicicleta para cima e para baixo pelos lances de escada: a maioria dos transportes públicos não era acessível facilmente... Antes de precisar carregar minhas próprias rodas, nunca havia me dado conta desse problema. Estava alheia ao fato de que essa falta de acessibilidade estava afetando centenas de pessoas."
Este exemplo não sugere necessariamente que todas as estações devem estar equipadas com rampas ou elevadores. Mas mostra que só conseguimos realizar uma análise significativa se os custos e benefícios forem percebidos.
Isso depende da diversidade de perspectivas. Pessoas que podem nos ajudar a ver nossos próprios pontos cegos, e a quem podemos ajudar a enxergar os deles.
Osama Bin Laden declarou guerra aos Estados Unidos a partir de uma caverna em Tora Bora, no Afeganistão, em fevereiro de 1996. As imagens mostravam um homem com barba até o peito. Ele usava uma túnica por baixo do uniforme de combate.
Hoje, dado o que sabemos sobre o horror que ele provocou, a declaração parece ameaçadora.
Mas uma fonte da principal agência de inteligência americana afirmou que a CIA "não podia acreditar que esse saudita alto de barba, agachado ao redor de uma fogueira, pudesse ser uma ameaça para aos Estados Unidos da América".

Osama Bin Laden declarou guerra aos EUA de uma caverna no Afeganistão

Para uma massa crítica de analistas, Bin Laden parecia primitivo e não representava um grande perigo. Richard Holbrooke, alto funcionário do presidente Clinton, colocou desta maneira:
"Como um homem em uma caverna pode alcançar a sociedade líder em informação do mundo?"
Outro disse: "Eles simplesmente não conseguiram justificar a necessidade de destinar recursos para descobrir mais sobre Bin Laden e a Al-Qaeda, já que o sujeito morava em uma caverna. Para eles, ele era a essência do atraso".
Agora, pense como alguém mais familiarizado com o Islã teria percebido as mesmas imagens.
Bin Laden estava de túnica não porque era primitivo em intelecto ou tecnologia, mas porque se inspirou no profeta Maomé. Jejuava nos dias em que o profeta jejuou. Suas poses e posturas, que pareciam tão atrasadas para o público ocidental, eram as mesmas que a tradição islâmica atribui ao mais sagrado de seus profetas.
Como Lawrence Wright destacou em seu livro sobre o 11 de Setembro, vencedor do Prêmio Pulitzer, Bin Laden orquestrou sua operação "invocando imagens que eram profundamente significativas para muitos muçulmanos, mas praticamente invisíveis para aqueles que não estavam familiarizados com essa fé".
Jones escreveu: "A anedota da barba e da fogueira é a evidência de um padrão mais amplo, no qual americanos não-muçulmanos - inclusive os consumidores de inteligência mais experientes- subestimaram a Al-Qaeda por razões culturais".

Osama Bin Laden

Já a caverna tinha um simbolismo ainda mais profundo.
Como quase todo muçulmano sabe, Maomé procurou refúgio em uma caverna depois de escapar de seus perseguidores em Meca. Para um muçulmano, uma caverna é sagrada. A arte islâmica está repleta de imagens de estalactites.
Bin Laden conduziu seu exílio em Tora Bora como sua própria hégira (fuga de Maomé de Meca para Medina), e usou a caverna como propaganda.
Como disse um acadêmico muçulmano: "Bin Laden não era primitivo; ele era estratégico. Ele sabia como usar as imagens do Alcorão para incitar aqueles que mais tarde se tornariam mártires nos ataques do 11 de Setembro".
Os analistas também foram induzidos ao erro pelo fato de Bin Laden frequentemente fazer pronunciamentos em forma de poesia.
Para analistas brancos de classe média, isso parecia excêntrico, reforçando a ideia de um "mulá primitivo em uma caverna".
Para os muçulmanos, no entanto, a poesia tem um significado diferente. É sagrada. E os talebãs costumam se expressar em poesia.
A CIA estudava, no entanto, os pronunciamentos de Bin Laden com um marco de referência enviesado.
Como Jones e Silberzahn observaram: "A poesia em si não estava apenas em uma língua estrangeira, o árabe; derivava de um universo conceitual a anos luz de Langley (onde está localizada a sede da CIA)".

'Ralé antimoderna'

Em 2000, a "ralé antimoderna e sem instrução" que seguia Bin Laden havia crescido, chegando a cerca de 20 mil pessoas, a maioria com curso superior e inclinada à engenharia. Yazid Sufaat, que se tornaria um dos pesquisadores de antraz da Al-Qaeda, era formado em química e ciências laboratoriais. Muitos estavam prontos para morrer por sua fé.
Enquanto isso, o alto funcionário da CIA Paul Pillar (branco, meia-idade, formado em universidade de elite) descartava a possibilidade de um grande ataque terrorista.
"Seria um erro redefinir o contraterrorismo como uma tarefa para lidar com o terrorismo 'catastrófico', 'grandioso' ou 'superterrorismo'", disse ele, "quando, na verdade, esses rótulos não representam a maior parte do terrorismo que os Estados Unidos provavelmente devem enfrentar'".
Outra falha nas deliberações da CIA foi a relutância em acreditar que Bin Laden iniciaria um conflito com os EUA. Por que começar uma guerra que ele não seria capaz de vencer?
Os analistas não deram o salto conceitual necessário para entender que, para os jihadistas, a vitória não seria garantida na terra, mas no paraíso.
De fato, o codinome dado pela Al-Qaeda ao plano de ataque foi "O Grande Casamento". Na ideologia dos homens-bomba, o dia da morte de um mártir também é o dia do seu casamento, quando ele será recebido por virgens no céu.
 
Islamistas pro-Bin Laden

A CIA poderia ter destinado mais recursos para investigar a Al-Qaeda. Poderia ter tentado se infiltrar na organização. Mas a agência foi incapaz de entender a urgência.
Não alocaram mais recursos, porque não perceberam uma ameaça. Não tentaram se infiltrar na Al-Qaeda porque ignoravam a lacuna em suas análises.
O problema não foi (apenas) a incapacidade de ligar os pontos no outono de 2001, mas uma falha em todo o ciclo de inteligência.

A falta de muçulmanos dentro da CIA é apenas um exemplo de como a homogeneidade enfraqueceu a principal agência de inteligência do mundo.
E dá uma ideia de como um grupo mais diverso teria possibilitado uma compreensão mais rica, não apenas da ameaça representada pela Al-Qaeda, mas também dos perigos em todo o mundo. Como diferentes pontos de referência, perspectivas distintas teriam criado uma síntese mais abrangente, diversificada e poderosa.
Uma parcela surpreendentemente alta de funcionários da CIA cresceu em famílias de classe média, enfrentou poucas dificuldades financeiras, e questões que poderiam atuar como precursores da radicalização, ou inúmeras outras experiências que poderiam ter enriquecido o processo de inteligência.
Em uma equipe mais diversa, cada um deles teria sido um ativo valioso. Como grupo, no entanto, eram falhos.
Esse problema, no entanto, não se restringe à CIA. Basta olhar para muitos governos, escritórios de advocacia, equipes de liderança do Exército, altos funcionários públicos e até executivos de algumas empresas de tecnologia.

Imagem ilustrativa com reflexo de pessoas

Inconscientemente, somos atraídos por pessoas que pensam como nós, mas raramente percebemos o perigo, porque desconhecemos nossos próprios pontos cegos.
John Cleese, o comediante, falou uma vez: "Todo mundo tem teorias. As pessoas perigosas são aquelas que não têm conhecimento de suas próprias teorias. Ou seja, as teorias sobre as quais operam são amplamente inconscientes".
Obter a combinação certa de diversidade em grupos humanos não é fácil. Reunir as mentes certas, com perspectivas que desafiam, ampliam, divergem e polinizam - em vez de papagaios, que corroboram e restringem - é uma verdadeira ciência.
E deve se converter em uma fonte importante de vantagem competitiva para as organizações, sem mencionar as agências de segurança. É assim que o todo se torna maior do que a soma de suas partes.
A CIA, por sua vez, deu passos importantes para alcançar uma diversidade significativa desde o 11 de Setembro.
Mas a questão continua perseguindo a agência - um relatório interno de 2015 foi bastante crítico.
Como John Brennan, então diretor da agência, afirmou: "O grupo de estudo analisou com atenção nossa agência e chegou a uma conclusão inequívoca: a CIA simplesmente precisa fazer mais para desenvolver o ambiente de liderança diversificado e inclusivo que nossos valores exigem e que nossa missão demanda".
BBC 

terça-feira, 3 de setembro de 2019

O que era a pílula número 9, comprimido "cura tudo" dado a soldados da 1 Guerra Mundial

Médicos e enfermeira na 1ª Guerra Mundial

Sua presença era onipresente entre os soldados aliados que lutaram durante a 1ª Guerra Mundial. E a regularidade com que foi prescrita ajudou a chamada "pílula número 9" a ficar imortalizada nos diários e memórias de muitos dos que participaram desse conflito no início do século 20.
Seu uso foi tão frequente que na gíria dos soldados a "nove" se tornou sinônimo de estar doente e fez com que, na Inglaterra, quando se joga bingo e que esse número sai, é anunciado com a frase "ordem do médico".
A pílula número 9 foi prescrita para tipos muito diferentes de doenças. De acordo com os testemunhos dos soldados, era o remédio favorito para aqueles casos em que alguém ainda não havia sido diagnosticado e quando a receita era o famoso "remédio e serviço", o que implicava que, embora o paciente tivesse sido medicado, deveria cumprir normalmente suas funções.
"Não importa qual problema você tenha, sempre lhe dão a mesma pílula", escreveu o soldado canadense James Fargey em dezembro de 1915, em carta à mãe, referindo-se medicamento.
Como "uma panaceia para todas as doenças", o soldado canadense George Bell também descreveu em tom irônico em suas memórias, conforme registrado no livro Glimpsing Modernity: Military Medicine in World War I (Vislumbrando a modernidade: medicina militar na 1ª Guerra Mundial, em tradução livre).
E, apesar de sua onipresença, a eficácia real da pílula número 9 para tratar muitas das doenças era, no mínimo, duvidosa.

13 comprimidos

A 1ª Guerra Mundial trouxe consigo a aplicação massiva de grandes avanços no campo da medicina. Os hospitais de campo foram dotados de importantes inovações que permitiram diagnosticar e tratar melhor os doentes e feridos. Esses novos recursos incluíam, por exemplo, o uso de raios X, desenvolvidos no final do século 19, mas cuja utilização na 1ª Guerra Mundial os tornou uma ferramenta comum.
Por iniciativa da física polonesa Marie Curie (1867-1934), o Exército francês conseguiu ter cerca de 20 veículos que serviam como unidades equipadas com aparelhos de raios X e um quarto escuro para revelar as imagens.
E, apesar de sua onipresença, a eficácia real da pílula número 9 para tratar muitas das doenças era, no mínimo, duvidosa.
Outro avanço importante foi a realização de transfusões de sangue, cujo uso se generalizou e permitiu salvar muitas vidas entre as tropas aliadas durante o último estágio do conflito, depois que os Estados Unidos entraram em combate.
Havia também uma variedade de opções analgésicas. "Oficiais médicos receberam todos os tipos de analgésicos. Eles tinham pílulas de morfina. Eles tinham cocaína", diz Tim Cook, historiador do Museu de Guerra Canadense à BBC News Mundo.
"Um de medicamentos mais importantes foi o rum, que eles também poderiam dar aos pacientes para se aquecerem. E tudo isso poderia ser combinado com o objetivo de atenuar a dor."
 
Kit de transfusão de sangue usado pelo Exército britânico
 
Os médicos que estavam diretamente no front, ao lado das unidades de combate, no entanto, tinham um número limitado de recursos.
Levavam consigo uma caixa de lata preta na qual guardavam 13 tipos diferentes de pílulas disponíveis para tratar as doenças dos soldados.

Caixa de medicamentos usado na 1ª Guerra Mundial

Como é explicado na seção de serviços médicos do projeto de comemoração da 1ª Guerra Mundial desenvolvido pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, "cada medicamento era identificado pelas autoridades médicas com um número e mantido em seu respectivo compartimento, e etiquetas descritivas foram evitadas para desencorajar o roubo e automedicação por parte das tropas".
Além das pílulas que tinham um efeito analgésico forte - como as que continham morfina e ópio -, havia outro com fenacetina (acetaminofeno), que servia para diminuir a febre e amenizar a dor. Existia também uma pílula com epinefrina (adrenalina), uma com quinina, outra que servia contra a tosse, uma para diarréia ou dor de estômago e outra com permanganato de potássio.
A número 9, entretanto, continha cloreto mercuroso, ruibarbo e Citrullus colocynthis. Isto é, nada mais era do que um poderoso laxante. Mas então, por que se prescrevia isso com tanta frequência?

Médicos e guardiões

Cook diz que, embora esses militares fossem médicos que se alistaram para cuidar dos soldados quando estavam doentes ou feridos, eles também tinham um papel adicional cuidar da disciplina da tropa.

Médicos e soldados na 1ª Guerra Mundial

"Havia soldados que estavam genuinamente doentes e outros que fingiam estar porque estavam fartos da guerra e queriam deixar o front. Então, cabia ao médico determinar quem estava dizendo a verdade", explica Cook.
Parte do problema era que, durante os meses de inverno, todos estavam exaustos e doentes. "Os médicos tiveram um papel muito difícil e foram vistos como cruéis pelos soldados, que achavam que eles não estavam realmente interessados ​​em cuidar da sua saúde. Mas o Exército esperava que os médicos mantivessem as tropas sob controle. E a pílula número 9 tornou-se um símbolo do que muitos soldados viam como um tratamento cruel com eles", acrescenta o historiador.
Em um artigo sobre medicina durante a 1ª Guerra Mundial, o historiador Leo Van Bergen aponta que essa "dupla lealdade" dos médicos em relação aos pacientes e às necessidades do Exército resultou em uma forte desconfiança dos soldados, mesmo nos casos em que seu bem-estar era realmente a preocupação predominante.
Sendo a pílula 9 um poderoso laxante, o fato de ter sido usado como um remédio genérico para "tratar" todos os tipos de doenças também teve um efeito parcialmente dissuasivo sobre os soldados que não estavam doentes ou ao menos não o suficiente para não poderem seguir no combate.
"O laxante número 9, quando combinado com a dieta do Exército, com seu excesso de carne enlatada e sua falta de frutas e vegetais frescos, poderia ter um efeito explosivo no trato digestivo", escreveu Cook. Aqueles que o tomavam podiam acabar fazendo uma longa visita às latrinas.
De fato, para aqueles soldados nos quais uma doença não era muito evidente, muitas vezes a receita recebida era de "remédio e serviço", o que significava que eles recebiam o laxante e eram enviados para cumprir suas funções.
Este papel disciplinar da pílula foi evidenciado durante um debate no Parlamento britânico em 1959, quando Charles Simmons questionou o então Secretário de Estado da Guerra, Christopher Soames. Simmons elogiou o uso da prescrição de "remédio e serviço", bem como a pílula número 9.
"Se esse tratamento ainda está disponível, por que não se aplica aos preguiçosos e neuróticos que parecem ser dispensados ​​do Exército sob qualquer pretexto?", perguntou o parlamentar. Mas, àquela altura, aquela pílula não tinha qualquer serventia no Exército.

Legado cultural

O uso extensivo feito pelas forças aliadas da pílula número 9 durante a 1ª Guerra Mundial permitiu que ela se tornasse parte da herança cultural deixada por esse conflito. Nos panfletos que os soldados faziam e imprimiam durante o conflito para seu divertimento nas trincheiras, havia muitos "poemas", piadas, bem como "anúncios" falsos e jocosos que se referiam a esse remédio.

Soldado com enfermeiras durante a 1ª Guerra Mundial

Um desses anúncios dizia: "Para você. Você se sente cansado. As marchas deixam seus pés doloridos? Sua carga de trabalho pesada faz você tremer? Experimente a famoso pílula número 9. Isso irá surpreendê-lo. À venda em todos os postos de saúde".
Os soldados também compartilharam com suas famílias algumas dessas piadas sobre o modo excessivo como a pílula número 9 foi prescrita.
Em uma carta para sua mãe em dezembro de 1916 sobre as coisas divertidas que acontecim no Exército, o soldado canadense Gordon MacKay contou: "Um soldado vai ao médico, e o médico diz ao seu assistente para lhe dar o comprimido número 9 (um dos seus favoritos). O assistente diz-lhe que eles haviam acabado. 'Bem', diz ele, 'dê um 4 e um 5 que somam 9 '. Eles te dão a mesma pílula se tiver pés machucados, febre do sarampo ou qualquer outra coisa".

Unidade médica na 1ª Guerra Mundial

Cook, que publicou uma dezena de livros sobre a história militar do Canadá, ressalta que, embora não tenha sido muito útil em termos médicos, a pílula número 9 teve valor como parte da cultura dos soldados. "O humor ajudou alguns a tolerar e a resistir. Embora eles zombassem disso, era um mecanismo para lidar com a situação", diz ele.
"E a pílula do número 9 em si fazia parte de uma estrutura médica maior que tentava administrar essa guerra verdadeiramente sem precedentes, com milhões de soldados lutando, com terríveis perdas e a experiência nas trincheiras."
Assim, mesmo que não curasse a tosse ou diminuísse a febre ou aliviasse a dor, esta pílula quase esquecida pode ter cumprido um papel mais importante do que foi atribuído à ela.
BBC
 

 

 

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

A Amazônia é realmente o pulmão do mundo?

A Amazônia é, de fato, um ecossistema importante para todo o mundo, mas chamá-la de pulmão do planeta é equivocado. A suposição de que faltaria oxigênio no mundo devido às queimadas da floresta não é correta, afirma Niklas Höhne, professor da Universidade de Wageningen, na Holanda, especialista em redução de gases do efeito estufa. Os incêndios, porém, são perigosos para o clima.

Floresta Amazônica.

Florestas, incluindo a Amazônica, absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e, através da fotossíntese, convertem esse CO2 em moléculas de açúcar ou glicose, que se espalham pela planta, e em oxigênio, que é devolvido à atmosfera. À noite, quando não há luz, esse processo é inverso. No balanço, mais CO2 é consumido do que produzido, porque ele é armazenado pela floresta.
Por ser um sistema complexo com muitas plantas e micróbios, a Amazônia produz menos oxigênio do que, por exemplo, campos, como os pampas e savanas. Ao mesmo tempo, florestas e solos absorvem dióxido de carbono, embora os oceanos armazenem uma quantidade maior.
"As florestas e os solos absorvem em todo o mundo cerca de um terço das emissões de CO2 produzidas por humanos, sendo a Amazônia responsável por um sexto desse montante, ou seja, a Amazônia absorve 5% das emissões provocadas pela ação humana", afirma Höhne, que integra também o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Segundo uma análise do Instituto de Pesquisa sobre o Impacto Climático de Potsdam (PIK), a Floresta Amazônica armazena em sua biomassa e solo entre 290 bilhões e 440 bilhões de toneladas de CO2, ou seja, entre 290 e 440 gigatoneladas, por isso é tão importante para o clima da Terra.
Apesar de não impactar na quantidade de oxigênio, a situação é alarmante. Höhne ressalta que a destruição da floresta tem efeitos devastadores. "O desmatamento transformou a Amazônia num grande emissor de CO2. As emissões chegam a até uma ou duas gigatoneladas de CO2 por ano. Isso é muito se considerado que as emissões de gases do efeito estufa global são cerca de 50 gigatoneladas", acrescenta.
De acordo com a especialista em Amazônia do PIK, Kirstin Thonike, 20% dos 5,3 milhões de quilômetros quadrados da floresta já foram desmatados. Essa área é maior do que toda a União Europeia (UE), que possui 4,4 milhões de quilômetros quadrados. "Essa perda levou a um aquecimento de 0,8 °C e 0,9 °C na região, além de aumentar o período da seca", afirma Thonike.
Os incêndios são devastadores para a biodiversidade e para os moradores da região, incluindo os povos indígenas.
De acordo com Höhne, se a Amazônia continuar sendo desmatada, pode-se chegar a um limite irreversível, causando uma mudança em todo o clima da região que será irreparável. O especialista teme que ocorra uma diminuição significativa na quantidade de chuvas e que a Região Amazônica seque. "Assim, não é só a Amazônia que está em perigo, mas também todo o abastecimento de água da região, incluindo a cidad"Começa a chover cada vez mais tarde no outono. Se continuar assim, resultará em uma extinção em larga escala. A quantidade de carbono liberada nesse processo seria tão grande que afetaria diretamente o clima", destaca Thonike. A essa altura, então, os efeitos da devastação da floresta seriam sentidos em todo o mundo. e de São Paulo, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas", ressalta.
 
 

Dorian: os recordes do furacão que devastou as Bahamas e ameaça a Flórida

O furacão Dorian chegou às Bahamas neste domingo e causou uma terrível destruição, deixando casas debaixo d'água, carros virados e linhas de energia derrubadas.
 
 Vídeo incorporado
 
O furacão – o mais intenso deste ano – atingiu o pico da escala Saffir-Simpson (que chega a 5) neste domingo, pouco antes de atingir as Ilhas Ábaco, no nordeste do arquipélago.
Apesar de ter tocado o chão, a intensidade do furacão continuou a subir. A força dos ventos às 21h GMT no domingo atingiu 297 km/h, de acordo com o Centro Nacional de Furacões dos EUA (NHC, na sigla em inglês).
O furacão Dorian deixou muitas pessoas desabrigadas nas ilhas Ábaco e, nesta segunda-feira ( 2/9), rumava a oeste. Com a aproximação do furacão dos Estados Unidos, Carolina do Sul e Geórgia determinaram a evacuação obrigatória de centenas de milhares de residentes ao longo de suas costas.
O deslocamento de Dorian se desloca lentamente , a apenas 7 km/h, o que implica em um dano potencial maior, já que os ventos fortes permanecem sobre a região por mais tempo.
Segundo o NHC, isso pode levar a uma "destruição extrema".
Meteorologistas dizem que algumas das características do furacão Dorian já o deixam entre os "mais intensos e potencialmente catastróficos" já registrados.

Passagem do Dorian pelas Bahamas deixa rastro de destruição.
 
Não há consenso entre os cientistas sobre que fatores medir para determinar quais são os piores furacões: velocidade do vento, tamanho, quantidade de chuva, pressão barométrica, danos materiais ou humanos, Mas o fato é que Dorian já superou, em termos técnicos, alguns furacões de outras estações.
Confira alguns dos recordes que Dorian já bateu ou igualou:

O mais intenso dos tempos modernos a tocar terras no Atlântico

Em 1935, um furacão havia estabelecido um recorde que nunca havia sido alcançado – até domingo (1/9).
O furacão surgiu na mesma época do ano e foi batizado Dia do Trabalho (que se comemora em setembro nos Estados Unidos), devido ao dia em que chegou ao país.
O furacão registrou a maior velocidade de seus ventos máximos sustentados quando atingiu o solo: 295 km/h.
Depois de 84 anos, Dorian empatou: quando chegou às ilhas Ábaco, nas Bahamas, ele tinha a mesma velocidade dos ventos.

O mais intenso a chegar ao noroeste do Caribe

Antes de tocar o solo nas Ilhas Ábaco, Dorian também atingiu Elbow Cay, nas Bahamas, com ventos máximos sustentados de 289 km/h.
Segundo o NHC, essa é a maior força de um furacão a tocar o arquipélago na história moderna.
De fato, desde que se começaram os registros, nunca um furacão de categoria 5 havia atingido as Ilhas Ábaco.
Bahamas não recebia um furacão desde 2017, quando Maria e Irma deixaram pequenos danos.
O recorde anterior para o noroeste do Caribe havia sido deixado por Irma, que atingiu Barbuda, San Martin e Ilhas Virgens Britânicas com ventos de 289 km/h.

Uma energia descomunal

Os furacões geram mais energia em sua trajetória do que centenas de bombas atômicas juntas: isso é conhecido como Energia Ciclônica Acumulada (ECA), um dos índices que os cientistas levam em consideração para estimar o possível impacto.
No final de cada temporada, os especialistas também consideram os registros de cada furacão para estimar a quantidade de energia gerada.
Mas Dorian, até domingo, já tinha gerado mais ECA do que todos os ciclones que se formaram durante toda a temporada de furacões no Atlântico de 1983.
E, de acordo com o meteorologista Philip Klotzbach, da Universidade Estadual do Colorado, ele também vai superar, antes de terça-feira, a quantidade de energia gerada durante toda a temporada de furacões no Atlântico de 1977.

Entre os piores desde 1980

Quando o avião de reconhecimento detectou, na tarde de domingo, a intensidade dos ventos ao redor dos olhos de Dorian, ela era de quase 300 km/h.
Isso não apenas tornou o furacão o mais intenso no Atlântico desde 1980, mas também o segundo com maior força de ventos desde que há registros, ao lado de Gilbert (1988) e Wilma (2005), que também alcançaram 297 km/h.
Em primeiro lugar está o furacão Allen, que atingiu território na fronteira dos Estados Unidos com o México em 1980. Allen tem o recorde de ventos máximos sustentados: 305 km/h.
Mas não para aí: os ventos de Dorian são os mais fortes já vistos a leste da Flórida, no norte do Oceano Atlântico, de acordo com Klotzbach.
Recorde de pressão
Para quem acompanha meteorologia, a pressão central dos ciclones é um dos dados mais interessantes.
Isso porque, no olho do furacão, a pressão atmosférica é geralmente menor do que no resto do planeta – mas quanto mais baixa, maior a sua intensidade. Quanto mais baixa a pressão, maiores as forças dos ventos.
Dorian também já está na lista de furacões que atingiram a terra com menor pressão atmosférica desde que há registro.
Quando chegou às Bahamas no domingo, sua pressão central era de 910 hectopascais. O patamar é ainda mais baixo que o do furacão Andrew, que devastou a Flórida em 1992.
O furacão do Dia do Trabalho de 1935, no entanto, detém o recorde de pressão: 892 hectopascais.