quarta-feira, 27 de novembro de 2019

O bar que vende doses de oxigênio em Nova Déli

 
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Com a cidade tomada pela poluição, um bar em Nova Déli, capital da Índia, vende doses de oxigênio aromatizado para a população. A promessa é que a inalação ajuda o corpo a se desintoxicar de poluentes.
O estabelecimento cobra dos clientes o equivalente a até R$ 27 por 15 minutos de "ar puro". Entre as opções de aroma, estão menta e lavanda.
Nova Déli sofre com altos índices de poluição e até estado de emergência já foi declarado na cidade por esse motivo. E o problema também afeta outras áreas do país.
Das 30 cidades mais poluídas, 22 estão na Índia, segundo pesquisa da ONG Greenpeace e do IQ AirVisual, grupo baseado na Suíça.
Médicos questionam, no entanto, os benefícios da inalação de oxigênio como oferecido no bar, já que o problema é a baixa qualidade do ar na cidade, e não o baixo nível de oxigênio.
Além disso, não há comprovação científica a respeito dos benefícios do suplemento de oxigênio.

Linhas de Nazca no Peru: os intrigantes geoglifos descobertos com tecnologia de última geração

Linhas de Nazca

Algumas têm formas humanas, de animais ou de plantas; outras são seres míticos, desconhecidos, que parecem frutos da imaginação.
Quase todas são uma espécie de mensagem da Terra para o cosmos, traços — como caligrafias desconhecidas — criados no passado para a eternidade.
As chamadas "Linhas de Nazca", localizadas em um deserto no centro-sul do Peru, continuam intrigando cientistas e visitantes, centenas de anos após sua criação.
Algumas estão em perfeito estado, enquanto outras foram parcialmente apagadas pelos ventos, pela erosão e pela passagem do tempo.
Mas, agora, um grupo de especialistas japoneses encontrou, por meio de tecnologia de última geração, uma série de geoglifos desconhecidos até então.
São mais de 140 formas que vão desde as já conhecidas, como macacos e cobras, até outras que surpreendem os cientistas, como a de uma figura humanoide com um bastão, cujo significado começará a ser estudado.

linhas de Nazca

Linhas de Nazca

Segundo informou o comunicado da Universidade de Yamagata, que apoiou o estudo, acredita-se que os geoglifos encontrados foram criados entre os anos de 100 a.C. e 300 d.C., sendo que a maioria está em estado precário.

Como fizeram o estudo

A equipe de especialistas japoneses, liderada pelo arqueólogo Masato Sakai, partiu da análise de imagens de satélite de alta resolução tiradas do deserto, para depois realizar estudos de campo, entre 2016 e 2018, até identificar as novas linhas.
Com os dados obtidos e o processamento das imagens, realizaram projeções das figuras e descobriram 142 novas linhas, representando peixes, lhamas, macacos e aves.

Linhas de Nazca

A partir daí, com os dados coletados, utilizaram técnicas de inteligência artificial (IA) para reconstruir algumas das formas, que não podiam ser definidas por métodos convencionais.
Foi assim que a iniciativa chegou à identificação de um geoglifo surpreendente: uma figura humana com um bastão.

Linhas de Nazca

"O estudo explorou a viabilidade do potencial da inteligência artificial para descobrir novas linhas e introduziu a capacidade de processamento de grandes volumes de dados por meio de IA, incluindo fotos aéreas de alta resolução em alta velocidade", detalha o comunicado sobre a pesquisa.

O que os cientistas encontraram?

As figuras encontradas variam tanto em sua complexidade quanto em sua idade e tamanho.
A maior entre elas mede mais de 100 metros de ponta a ponta — um pouco maior do que a Estátua da Liberdade — e a menor, apenas cinco metros, praticamente o mesmo tamanho da estátua de Davi, de Michelangelo.

Linhas de Nazca

Para facilitar a identificação, os especialistas japoneses separaram dois grupos:

Grupo A

  • São desenhos lineares e que tendem a ser maiores, medindo mais de 50 metros cada um.
  • Acredita-se que foram feitos mais recentemente, e sua origem varia entre os anos 100 e 300 d.C.
Linhas de nazca
 

Grupo B

  • Tendem a ser estruturas mais complexas e de tamanho menor, com menos de 50 metros.
  • Acredita-se que tenham sido produzidas por volta do ano de 100 a.C., ou em períodos anteriores.
Linhas de Nazca
 
De acordo com os cientistas, cada grupo tinha propósitos diferentes. O primeiro seria utilizado para rituais e o segundo, como pontos de referência para viajantes.

O que são as 'Linhas de Nazca'?

Localizadas a cerca de 400 quilômetros de Lima, as Linhas de Nazca permaneceram desconhecidas por séculos. O início das atividades de aviação permitiram o descobrimento dessas formas enigmáticas, que só são visíveis de grandes alturas.
Ao todo, elas ocupam uma área aproximada de 517 quilômetros quadrados em um deserto, e incluem centenas de geoglifos, criados pela civilização nazca entre 500 a.C. e 500 d.C.

linhas de Nazca

"Segundo os pesquisadores, todas as figuras foram criadas com a remoção de rochas negras que cobriam o terreno, expondo a areia embaixo", explicou a equipe japonesa. As condições áridas do terreno permitiram sua conservação ao longo de séculos.
Com tais figuras, a antiga sociedade de nazca, que existiu há cerca de 2.300 anos, "transformou um extenso território estéril em uma paisagem cultural com alta conotação simbólica, ritual e social", segundo o Ministério da Cultura do Peru.
As linhas foram descobertas em 1927 e, segundo Paul Kosok, um pesquisador americano que se dedicou ao seu estudo, eram "o maior livro astronômico do mundo", que marcava os solstícios de inverno e de verão.

Linhas de Nazca

Entretanto, até hoje não se sabe qual era de fato a sua finalidade.
Em 1993, os geoglifos passaram a integrar uma reserva arqueológica e a ser parte do Patrimônio Cultural da Nação do Peru.
Um ano depois, foram classificados como Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
"São o grupo de geoglifos mais notável do mundo e são incomparáveis em extensão, magnitude, quantidade, tamanho e diversidade em relação a qualquer outro trabalho similar no mundo", afirmou a Unesco.
"Constituem um feito artístico singular e magnífico da cultura andina", adiciona a instituição.

Linhas de Nazca

A aura de mistério que rodeia essa obra pré-inca deve-se a três características fundamentais:
  • suas proporções monumentais;
  • o fato de que seus desenhos só podem ser apreciados por completo de grandes alturas;
  • sua localização no meio de um dos desertos mais áridos do mundo.
BBC

segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Por que o Muro de Berlim caiu?

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Queda do muro em 9 de novembro de 1989
 
Por que o Muro de Berlim caiu?
Sua queda está intimamente ligada à derrocada soviética.
Em meados dos anos 80, a União Soviética passava por uma profunda crise econômica.
Isso fez com que ela cortasse a ajuda que deu por décadas a outros países comunistas, como a Alemanha Oriental.
Crescia a insatisfação social.
O líder soviético, Mikhail Gorbachev, tentou atenuá-la, implementando uma maior abertura política e social. O plano ficou conhecido como Glasnost.
A recém-adquirida liberdade levou o povo a criticar governos e convocar protestos.
A Polônia organizou suas primeiras eleições parcialmente livres.
Já a Hungria abriu suas fronteiras, permitindo a milhares de alemães do lado oriental cruzar o bloco
ocidental via Áustria.
Na Alemanha Oriental, o presidente Erich Honecker teve que renunciar.
Em 9/11, o governo prometeu flexibilizar restrições de viagem.
Os berlinenses aproveitaram o momento para destruir o muro.
A multidão eufórica cruzou a fronteira, agora aberta.
Milhares de alemães ocidentais esperavam do outro lado.
Parentes e amigos separados puderam se reencontrar pela primeira vez.
Um mês depois, a Alemanha Oriental entrou em colapso.
Um a um, outros governos do bloco comunista começaram a cair. Em 1991, a URSS desmoronou, marcando o fim da Guerra Fria.
As Alemanhas foram finalmente reunidas.
Hoje, pedaços do muro permanecem como uma recordação da história dividida do país.
BBC

Como o comércio transatlântico de escravos explica o caminho do óleo até as praias do Nordeste

Se o vazamento de óleo que atinge as praias do Nordeste tivesse ocorrido no início do século 19, navegadores que viajavam entre o Brasil e a África seriam capazes de palpitar sobre o local de origem do incidente.
 
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Cartas náuticas daquela época já descreviam as principais correntes marítimas que operam na região — e que explicam o caminho percorrido pelo óleo até as praias brasileiras, no maior acidente a atingir o litoral do país em extensão.
As correntes permitiram que o Brasil dominasse o tráfico negreiro no Atlântico. Sozinho, o país recebeu 4,8 milhões de africanos escravizados, dez vezes mais do que os Estados Unidos e quase a metade de toda a população transportada à força para as Américas em quatro séculos.
E, se no passado as correntes favoreceram a economia escravocrata, hoje elas deixam a costa brasileira vulnerável a acidentes que ocorram a milhares de quilômetros, à medida que a extração de petróleo se expande no Golfo da Guiné, no litoral africano.

A força da Corrente Sul Equatorial

Quando as manchas de óleo já se espalhavam por nove Estados, no início de outubro, o professor de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) Ilson Silveira fez uma simulação para tentar identificar o local do vazamento.
experimento apontou que o óleo havia entrado em contato com o oceano a uma distância entre 400 e 1.000 km da costa brasileira. De lá, teria sido transportado pela Corrente Sul Equatorial, um gigantesco rio que corre no Atlântico Sul no sentido leste-oeste. A corrente, que tem quatro ramos, se inicia no Golfo da Guiné, na costa ocidental da África, e vai até o litoral do Brasil.
"Desde o início percebi que a dimensão do acidente só se explicava por um grande sistema de correntes", diz Silveira à BBC News Brasil.
 
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A simulação do professor também indicou que o vazamento ocorrera em latitude próxima às dos Estados de Pernambuco e Paraíba. Ao chegar ao litoral brasileiro nessa latitude, a Corrente Sul Equatorial se bifurca. Um ramo dela se torna a Corrente Norte do Brasil e sobe a costa, rumo ao Amapá, enquanto o outro ramo vira a Corrente do Brasil e desce o litoral, rumo ao Rio Grande do Sul.
Isso explicaria a chegada do óleo tanto a Estados ao norte da bifurcação (Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão) quanto a Estados ao sul (Alagoas, Sergipe e Bahia). Não por acaso, as primeiras manchas de petróleo apareceram justamente na Paraíba, onde se dá a bifurcação.
Por essa lógica, se o vazamento tivesse ocorrido um pouco mais ao norte ou um pouco mais ao sul, dificilmente atingiria todos os Estados do Nordeste. E se tivesse acontecido perto da costa, o óleo perderia o impulso da bifurcação e avançaria só para o norte ou para o sul, a depender do local da ocorrência.
A hipótese do professor Ilson Silveira foi reforçada na semana passada, quando a Polícia Federal divulgou dados de um relatório produzido pela empresa Hex Tecnologias Geoespaciais. Imagens de satélite coletadas pela empresa mostraram o que seria uma mancha original de petróleo a 733 km do litoral paraibano — dentro, portanto, do perímetro e da latitude calculados pelo pesquisador.

A influência das correntes na formação do Brasil

A bifurcação da Corrente Sul Equatorial justifica o esforço dos holandeses para controlar o arquipélago de Fernando de Noronha no século 17. No livro O trato dos viventes: Formação do Brasil no Atlântico Sul - séculos 16 e 17, o historiador Luiz Felipe de Alencastro diz que o arquipélago "era a ponte para duas estratégicas rotas de ataque" às bases portuguesas nas Américas.
Uma dessas rotas ia do norte do litoral nordestino até o Caribe, e a outra descia toda a costa brasileira. A bifurcação também explica a decisão da Coroa portugesa de dividir o Brasil em duas unidades administrativas: ao norte dela ficava o Estado do Grão-Pará e Maranhão, e, ao sul, o Estado do Brasil.
As correntes antagônicas tornavam quase impossível realizar viagens marítimas entre os dois Estados. Alencastro cita o isolamento que o padre português Antonio Vieira sentiu durante uma estadia no território ao norte: em uma carta de 1654, ele escreveu que "alguém mais facilmente navega da Índia a Portugal do que desta missão (Maranhão) para o (Estado do) Brasil".
Missionários e autoridades que quisessem ir da Bahia até São Luís ou Belém costumavam primeiro viajar até Lisboa e só de lá partiam para o Grão-Pará.
 
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Tentativas de contornar as condições naturais resultaram em fracassos notáveis. Alencastro conta que, no século 19, um navio da Marinha deixou o Rio de Janeiro carregado de soldados na expectativa de chegar ao Maranhão para conter a Revolta da Balaiada. A embarcação enfrentou fortes correntes contrárias e foi forçada a aportar em Montevidéu, no Uruguai, centenas de quilômetros ao sul do ponto de partida.
As correntes explicam por que, desde o surgimento das primeiras manchas, o professor Ilson Silveira descartou que o óleo tivesse vazando diretamente de alguma plataforma na Venezuela. Afinal, a Corrente Norte do Brasil vai do Rio Grande do Norte até a Venezuela, no sentido contrário ao da propagação das manchas.

Trocas entre Brasil e África

A lógica das correntes também influenciou o desenvolvimento econômico dos territórios brasileiros num momento em que o tráfico de africanos escravizados era um dos pilares da economia nacional.
As viagens dos navios negreiros até o Estado do Grão-Pará e Maranhão eram triangulares. As embarcações costumavam partir de Lisboa rumo à atual Guiné-Bissau e, de lá, viajavam com escravos até o Maranhão, de onde voltavam a Portugal carregados com drogas do sertão (produtos florestais).
As trocas entre a África e o Estado do Brasil, porém, dispensavam a escala em Portugal. Segundo Alencastro, por causa das condições naturais favoráveis, viagens de ida e volta entre a África e os portos brasileiros ao sul de Recife eram 40% mais curtas do que deslocamentos entre o continente africano e portos no Caribe ou nos Estados Unidos, outros importantes destinos de africanos escravizados.
 
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Enquanto a Corrente Sul Equatorial facilitava o trajeto África-Brasil, outras condições naturais favoreciam a viagem de volta. Para chegar à costa africana, os navios luso-brasileiros podiam pegar carona no anticiclone de Santa Helena, uma zona de alta pressão atmosférica que opera como uma grande roldana, com os ventos soprando em espiral. Podiam ainda pegar a Contracorrente Sul Equatorial, um canal que corre no sentido contrário à Sul Equatorial, entre os dois ramos austrais da corrente.
  1. "A relativa segurança e facilidade como se navegava da costa brasileira ao golfo de Guiné ou Angola permitia que navios de pequeno porte, como as escunas de dois mastros que navegavam no rio São Francisco, empreitassem viagens negreiras", escreve Alencastro.
  2. Tanto assim que, quando o Brasil se tornou independente, em 1822, comerciantes de escravos em Benguela, na Angola atual, iniciaram um movimento separatista para tentar se integrar ao país do outro lado do Atlântico. Na época, duas das principais rotas no comércio transatlântico de escravos uniam Brasil e África: a maior delas, entre Luanda e Rio de Janeiro, e a rota entre Salvador e o Golfo da Guiné, com escala na ilha de São Tomé.
  3. Segundo Alencastro, as correntes também ajudam a explicar por que a escravidão de indígenas nunca alcançou a mesma dimensão que a dos africanos no Brasil.
  4. "Mesmo que todos os ameríndios da Amazônia aparecessem acorrentados nas margens do Pará e do Maranhão para se entregar", diz o historiador, os ventos e as correntes continuariam a bloquear seu transporte até os principais mercados em Pernambuco, na Bahia e em São Paulo. "Já as travessias Brasil-Angola eram 'quase sempre acompanhadas por bom tempo ou por muito poucos distúrbios no mar e ventos'", como escreveu em 1799 o governador de Angola.
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Vazamentos no futuro?

Essas correntes marítimas que favoreceram a navegação entre Brasil e África no tempo da escravidão hoje tornam o Brasil vulnerável a vazamentos de petróleo que ocorram a milhares da costa brasileira, perto do litoral africano.
A extração do petróleo em plataformas marítimas é atualmente a principal atividade econômica de vários países do Golfo da Guiné, entre os quais Congo, Gabão e Guiné Equatorial. Espera-se que a produção cresça ainda mais conforme tecnologias de extração em águas profundas, como as adotadas pelo Brasil no pré-sal, se expandam pela região.
O professor Ilson Silveira diz que, em tese, a força das correntes marítimas pode fazer com que o litoral brasileiro seja afetado por vazamentos nessas plataformas no futuro. Nesse caso, porém, diz que o óleo provavelmente chegaria à costa brasileira "bastante intemperizado" (desfigurado pelas intempéries enfrentadas no trajeto).
Talvez antevendo possíveis problemas desse gênero, a Marinha brasileira tem se aproximado de nações africanas no Atlântico Sul. Desde o início da década, forças navais brasileiras e africanas vêm realizando vários exercícios conjuntos. Oficiais da Marinha costumam dizer que a distância entre Natal e Dacar, a capital do Senegal, é menor que a linha que une os pontos extremos do Brasil, o que tornaria os países africanos tão importantes para a defesa marítima nacional quanto as nações sul-americanas.
No fim de outubro, a força naval brasileira participou pela primeira vez da Comissão Grand African Nemo, operação que agrega os 16 países do Golfo da Guiné e que, nesta edição, também teve entre os convidados Bélgica, Estados Unidos, França e Espanha.
Segundo uma nota divulgada pela Marinha, um dos objetivos do exercício foi justamente "adestrar as Marinhas amigas dos países africanos da costa ocidental" para incidentes no Golfo da Guiné, o que inclui o "combate à poluição no mar".

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Aumento do nível do mar ameaçará 300 milhões de pessoas em 2050

 
A partir de 2050 as zonas costeiras onde atualmente vivem 300 milhões de pessoas serão inundadas todos os anos. Ou pelo menos isso acontecerá se não forem tomadas medidas de contenção de água, como diques e muros. É uma das consequências mais diretas do aumento incontrolável do nível do mar devido às mudanças climáticas. Os 300 milhões de afetados são o triplo do que havia sido estimado até agora com os modelos de previsão habituais, de acordo com um estudo publicado terça-feira pela Nature Communications.
A Ásia é, sem dúvida, a região mais afetada. Mas na Espanha, por exemplo, também haverá impactos: cerca de 200.000 pessoas residem hoje em áreas que serão expostas a essas inundações anuais a partir de 2050. Na zona vermelha do mapa de risco — elaborado pelos autores do relatório e pela organização Climate Central —, existem áreas importantes por seu valor econômico e natural, como Doñana, o Delta do Ebro, a Manga del Mar Menor e municípios de Cádiz e Huelva.
O aumento do nível do mar já é um dos impactos irreversíveis da mudança climática que o ser humano provocou com as emissões de gases de efeito estufa que superaquecem o planeta, segundo a maioria dos cientistas. O nível do mar continuará subindo principalmente devido ao degelo nos polos, como alertou um relatório recente do IPCC, o painel de especialistas internacionais que assessora a ONU.
“Embora atenuemos, mesmo se cumprirmos o Acordo de Paris, o nível médio do mar continuará subindo durante séculos”, explica Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria e um dos autores do relatório do IPCC. Portanto, Losada destaca a importância de medidas de adaptação à mudança climática por meio, por exemplo, de infraestruturas de contenção de água. O especialista também enfatiza que são necessárias mais pesquisas em áreas de risco.
É a isso que aspira o modelo criado pela Climate Central. Benjamin Strauss, presidente desta organização e coautor do estudo, argumenta que as projeções até agora subestimaram o número de pessoas que podem ser afetadas. “As comunidades humanas se concentram de forma desproporcional nas áreas mais baixas do litoral”, alerta. De fato, o estudo indica que 250 milhões de pessoas residem atualmente em áreas de risco de inundação; as projeções atuais limitavam esse número a 65 milhões, segundo o relatório.

Reduzir emissões

O modelo desenvolvido por essa organização trabalha com vários cenários partindo da evolução das emissões de gases de efeito estufa e da velocidade do degelo. Dependendo desses parâmetros, o nível do mar aumenta mais ou menos e, portanto, varia o número de pessoas que vivem nas áreas afetadas.
Nos diferentes cenários, as projeções para 2050 não oferecem grandes diferenças em relação aos afetados. A grande variação ocorreria no final deste século. Em 2100, no cenário mais otimista (uma rápida redução de gases de efeito estufa e um degelo menos acentuado) na zona vermelha de inundação haveria 340 milhões de pessoas. No pior cenário (com um aumento das emissões e um alto nível de degelo), esse valor aumentaria para 480 milhões em 2100.
O mesmo acontece com as projeções para a Espanha. Em 2050, o intervalo varia pouco — entre 190.000 e 210.000 pessoas — em função das emissões e do nível de degelo. Mas em 2100, o cenário mais otimista fixa a população afetada em 260.000 pessoas, em comparação com as 690.000 do pior cenário. Portanto, como ressaltam os autores, se se deseja limitar os impactos do nível do mar é necessário que as emissões de gases de efeito estufa sejam reduzidas imediatamente. Ou seja, que se cumpra o Acordo de Paris, que estabelece o objetivo de que o aumento da temperatura média do planeta fique abaixo de dois graus em relação aos níveis pré-industriais e, se possível, abaixo de 1,5ºC.

Novo modelo

“Sem estar livre de limitações, contribui claramente para reduzir cada vez mais as incertezas que temos na determinação do que pode acontecer no futuro”, diz Losada sobre o novo modelo, que inclui um mapa interativo para explorar as áreas afetadas. “Os autores tocam numa questão essencial: devemos ter modelos digitais de terreno que nos sirvam para conhecer os elementos expostos do futuro”, explica Losada. Entre as limitações desse modelo está o fato de que a população afetada pelas projeções ao longo do tempo é a atual. Ou seja, não é levado em consideração o aumento da população mundial que todos os relatórios apontam para este século.
Para Losada, o modelo melhora os dados sobre a elevação do terreno em relação àqueles que estavam sendo utilizados. O problema, segundo os autores do relatório, é que o sistema de cálculo mais difundido até o momento (que como este se baseia em dados de satélites) subestimava a superfície afetada, uma vez que não identificava bem elementos como copas de árvores ou telhados. O novo sistema, segundo os autores, corrige essa distorção, o que faz com que a população potencialmente afetada se multiplique.
A Ásia é sem dúvida a área mais afetada em todo o planeta devido ao risco de inundações relacionadas à mudança climática. “É uma área dominada por áreas muito baixas e superpovoadas”, diz Íñigo Losada, diretor do Instituto de Hidráulica da Cantábria. O relatório publicado na terça-feira indica que a maioria das pessoas expostas reside em seis países asiáticos: China,
Bangladesh, Índia, Vietnã, Indonésia e Tailândia. Dos 300 milhões que vivem em áreas de risco de inundação até 2050, aproximadamente 237 milhões residem nesses seis países. A China, com 93 milhões de pessoas agora vivendo em áreas de risco de inundação, é o país mais afetado, segundo o relatório. É seguida por Bangladesh, com 42 milhões, e Índia, com outros 36 milhões de pessoas em risco. Depois deles, Vietnã (31 milhões), Indonésia (23) e Tailândia (12).
BBC