terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Por que as zebras têm listras? Os cientistas que tentam respoder a antiga pergunta

Em foto tirada desde cima, varias zebras correm em meio a poeira saindo do solo
 
Em fevereiro de 2019, em uma fazenda no Reino Unido, ocorreu um experimento fascinante. Biólogos da Universidade da Califórnia, especializados em evolução, vestiram vários cavalos com casacões listrados como zebras, comparando-os a zebras de verdade.
O objetivo era responder a uma pergunta que há muito tempo intriga leigos e cientistas: por que as zebras têm listras?
"As pessoas falam sobre listras de zebras há mais de cem anos, mas é apenas uma questão de realmente fazer experimentos e refletir sobre a incógnita para entendê-las melhor", diz Tim Caro, ecologista da Universidade St. Andrews, na Escócia, que estuda as listras das zebras há quase duas décadas.
Na fazenda, de propriedade de Terri Hill, uma apaixonada pela conservação de equídeos selvagens, Caro encontrou uma rara oportunidade de observar de perto zebras relativamente mansas. O rebanho dali é formado por animais que vieram de zoológicos de diversos locais no Reino Unido.
Como e por que as zebras evoluíram para exibir listras em preto e branco são perguntas que também testam os cientistas há bastante tempo. É possível listar pelo menos 18 hipóteses para isso, desde a função da camuflagem à de identificação, como acontece com a impressão digital nos humanos.
Mas, também por um longo tempo, essas possibilidades foram apresentadas sem serem submetidas a testes rigorosos.

No pasto, um cavalo com casaco estampado com listras simulando as de zebras

Preto com listras brancas?

As zebras, como os cavalos e asnos, fazem parte do gênero Equus.
As três espécies conhecidas de zebras que vagam pelo leste e sul da África, com seus pelos escuros divididos por fios brancos e não pigmentados, são os únicos equídeos listrados. Os padrões e a intensidade das faixas variam de acordo com a espécie e a localização.
Enquanto os cientistas ainda debatem as origens e funções exatas das listras, seus esforços recentes se concentram em três possibilidades principais: elas seriam uma ferramenta contra picadas de insetos; ou teriam função de termorregulação; ou ainda a de proteção contra predadores.
Moscas que picam e sugam sangue são uma ameaça comum aos animais da África. As mutucas e tsé-tsé, entre outras, transmitem também doenças como a do sono, a peste equina africana e a influenza equina, potencialmente fatal.
O pelo fino da zebra não seria uma barreira tão eficaz contra as picadas dos insetos. Mas análises feitas em moscas tsé-tsé, por exemplo, não encontraram vestígios de sangue de zebra.
Muitos estudos já mostraram que as moscas tendem a não pousar em superfícies listradas. Evidências consistentes vieram em 2014 com um estudo de Caro e colegas. Eles combinaram dados sobre clima, presença de leões e tamanho de rebanhos de zebras e relacionaram isso a informações sobre as listras de zebras na área.

Diversas zebras em campo aberto

As faixas eram mais pronunciadas em ambientes que favorecem a presença de moscas, de acordo com Caro.
Este ano, a pesquisa realizada pela equipe dele na fazenda de Terri Hill lançou avançou mais um passo. Os biólogos observaram moscas em torno de zebras e cavalos - alguns destes vestindo casacos pretos, outros brancos e listrados.
As moscas pairavam em zebras e cavalos em quantidades semelhantes, mas muito menos moscas pousavam em zebras - ou em cavalos com casacos listrados.
Ao tentar pousar nas listras, as moscas não desaceleravam como fariam chegando a uma superfície não listrada. É como se elas hesitassem e desistissem.
"Parece que elas não reconheciam essa superfície em preto e branco como um bom ponto de aterrissagem", explica o pesquisador da Universidade St. Andrews.
Caro diz que sua equipe está trabalhando com "muitos dados ainda não publicados" de vídeos de moscas chegando perto de diferentes padrões de superfícies.
E, na Universidade de Princeton, EUA, o biólogo Daniel Rubenstein e seus colaboradores estão abordando a questão por meio da "visão da mosca em realidade virtual".

Refresco

No entanto, outros pesquisadores que estudam zebras, como Alison Cobb, técnica de laboratório aposentada, e o zoólogo Stephen Cobb, de Oxford, no Reino Unido, não estão convencidos pela explicação da blindagem contra parasitas.
Eles acreditam que as faixas de zebra ajudam principalmente na termorregulação. Enquanto Alison reconhece as descobertas de Caro, ela acha que picadas de insetos "parecem um efeito sem muita importância" para ter impulsionado a evolução das listras de zebra.
"Toda zebra deve evitar o aquecimento. Já as moscas aparecerão em certos lugares e em determinadas épocas do ano, mas não são uma ameaça tão definitiva ou frequente quanto o superaquecimento", diz Cobb.
A ideia básica dos pesquisadores é a de que as listras pretas absorveriam o calor e aqueceriam as zebras na manhã; já as listras brancas refletem mais a luz e, portanto, poderiam ajudar a refrescar os animais enquanto eles pastam por horas sob o sol escaldante. Essa lógica aparentemente simples é alvo de controvérsia entre cientistas.

Uma zebra em área aberta fotografada de perto

Caro e sua equipe encontraram apenas uma fraca sobreposição espacial entre padrões de faixas das zebras e temperaturas altas.
Um ano depois, um estudo de modelagem espacial com zebras-das-planícies, liderado por Brenda Larison, da Universidade da Califórnia, encontrou listras mais fortes em áreas mais quentes ou com luz solar mais intensa.
Até agora, as experiências também não trouxeram mais clareza. Um estudo de 2018 descobriu que a água em barris pintados com listras não esfriava mais que a nos barris sem listras.
Mas Rubenstein não está convencido - ele acha que esse experimento teve poucas amostras. Segundo ele, um estudo em andamento conduzido por sua equipe com um número maior de garrafas de água mostra que as faixas ajudam no resfriamento.
Citando informações ainda não publicadas, ele diz que, analisando as temperaturas de diversos animais, descobriu que as zebras são alguns graus mais "frias" que os animais não listrados.
Mas barris e garrafas não conseguem representar todas as partes do mecanismo de resfriamento de uma zebra - o que talvez torne esses estudos muito simples para explicar completamente o objetivo das listras das zebras.
Como cavalos e humanos, as zebras esfriam suando. A evaporação do suor remove muito calor, mas a evaporação deve ocorrer rapidamente, caso contrário o suor fica preso e faz o animal ficar dentro de uma própria sauna. Por isso, os equídeos têm uma proteína chamada laterina que ajuda a espalhar o suor nas pontas dos pelos, aumentando a exposição ao ar e à evaporação.
No Journal of Natural History, os Cobbs relataram em junho que, nas horas mais quentes do dia, as listras pretas das zebras estavam consistentemente 12 a 15 ºC acima das listras brancas.
Eles propõem que a constante diferença de temperatura entre as faixas geraria uma espécie de circulação de ar. Outro mecanismo descrito por eles foi a ereção de pelos pretos, que ajudariam a reter ou liberar o calor e suor.

Camuflagem?

Quanto à última hipótese, a das listras tendo a função de proteção contra predadores, Caro é cético.
Em sua monografia de 2016, ele listou inúmeras evidências contrariando esta hipótese. Por exemplo, as zebras passam a maior parte do tempo em campos abertos, onde suas listras são evidentes; e pouco tempo na floresta, onde elas poderiam servir como camuflagem. Além disso, a tendência delas é de fugir da ameaça, e não de se esconder.
E os leões não têm demonstrado muitas dificuldades em comer zebras.
Rubenstein, no entanto, ainda está testando esta hipótese, segundo ele a "mais difícil" de verificar entre todas.
Ele observa que estudos anteriores apenas testaram se as listras confundem os seres humanos, mas não os leões. Assim, sua equipe está estudando como os leões atacam objetos listrados e não listrados.
Portanto, a dúvida sobre por que as zebras têm listras continua, e a resposta permanece inconclusiva. E não sem riscos - Stephen Cobb foi mordido no braço e internado duas vezes no hospital durante seus experimentos.
BBC
 

A misteriosa pandemia que deixou milhões de pessoas como estátuas vivas durante décadas

Milhões de pessoas ao redor do mundo ficaram 'presas' em seus corpos, congeladas no tempo
 
Na década de 1920, uma misteriosa epidemia matou cerca de um milhão de pessoas e deixou quase quatro milhões no que parecia ser um estado catatônico por décadas, incapazes de falar ou de se mover de forma independente.
Eram como estátuas vivas.
Os pacientes permaneceram assim por décadas, até que, no fim dos anos 1960, um experimento médico "os despertou".
Conhecido como "Tempo de Despertar", esse experimento mudou nossa compreensão sobre as condições neurológicas e revolucionou o atendimento a pacientes.

Adormecidos

Logo após a Primeira Guerra Mundial, em 1917, e até por volta de 1927, a misteriosa epidemia se espalhou pelo mundo.
Sua origem era um mistério, mas se sabia que era uma doença que atacava o cérebro, deixando suas vítimas sem fala e movimentos voluntários.
"Na Suíça, uma noiva adormeceu no altar; na França, nem as dores do parto despertaram uma mãe", informava a BBC, em seus primeiros anos de transmissão.
O conjunto de sintomas já havia sido descrito várias vezes no passado, inclusive por Hipócrates, o grande médico da Grécia Antiga, que batizou o fenômeno de lethargus:
"Febre, tremor, forte fraqueza física com a preservação da inteligência, que afeta indivíduos com mais de 25 anos, sobretudo quando está frio, e que pode levar à morte por pneumonia terminal."

Constantin von Economo é conhecido sobretudo por ter descoberto a encefalite letárgica

No início do século 1920, quando a neurologia dava os primeiros passos como disciplina científica, a condição foi chamada de encefalite letárgica ou "doença do sono", e quem escreveu o manuscrito mais preciso sobre ela foi o austríaco Constantin von Economo.
"...desde o Natal, tivemos a oportunidade de observar uma série de casos na clínica psiquiátrica que não atendem aos critérios de nossos diagnósticos habituais. Apesar disso, mostram semelhança na forma como começaram e na sintomatologia, o que nos obriga a agrupá-los em uma única entidade clínica", escreveu o médico.

Aqueles que sobreviveram foram "congelados" no tempo, presos em corpos quase sem vida por anos.

'Tem alguém vivo lá dentro?'

Em 1966, Oliver Sacks, um jovem neurologista britânico, chegou ao Hospital Beth Abraham, no Bronx, em Nova York, onde havia dezenas de pacientes com encefalite letárgica.
"Eu nunca tinha visto nada assim: tantos pacientes como aqueles imóveis, às vezes pareciam estar congelados em posições inusitadas, e você se perguntava: o que está acontecendo? Tem alguém vivo lá dentro?", disse Sacks à BBC nos anos 1970.
Saks começou a observar seus novos pacientes e percebeu que havia sinais de consciência... principalmente quando um assistente do hospital tocava piano para os residentes.
"O que ele viu é que, quando tocava uma música, algumas pessoas se levantavam e dançavam. Havia algo na música que penetrava e estimulava o sistema motor delas a ponto de entrarem em ação... Era incrível: não conseguia entender como era possível", lembra a médica Concetta Tomaino, diretora e cofundadora do Instituto de Música e Função Neurológica de Nova York.

Uma solução musical

Na década de 1970, Tomaino tinha acabado de começar sua carreira em musicoterapia, que na época era uma área de pesquisa nova.
"Oliver Sacks me escreveu um bilhete que dizia: 'Toda doença é um problema musical, toda cura, uma solução musical'.
"Despertou minha curiosidade e perguntei quem ele era. As pessoas diziam: 'É um louco britânico excêntrico que escreve os atestados médicos mais surpreendentes; você precisa conhecê-lo.'"
Connie Tomaino e Oliver Sacks iniciaram assim uma parceria de trabalho pioneira nos estudos de musicoterapia e nos efeitos neurológicos da música.
Os pacientes pareciam catatônicos, parecia que estavam em estado semivegetativo, mas quando havia música por perto, você via que eles estavam mentalmente presentes: eles conseguiam tocar tambor com ritmo e cantar, mesmo sem ser capaz de falar".

Um milagre

Antes de Connie Tomaino chegar ao hospital Beth Abraham, Oliver Sacks havia começado a testar um novo medicamento que é usado para tratar pessoas com doença de Parkinson.
Ele pensava que a "doença do sono" poderia ser uma forma extrema de Parkinson. E deu a medicação, levodopa, aos pacientes — os efeitos foram, em alguns casos, imediatos e dramáticos.
"Lola havia passado décadas em estado catatônico e seu despertar ocorreu em segundos. Ela pulou da cadeira e começou a falar. Foi uma cena incrível, e eu duvidaria da minha própria memória, se não fosse respaldada por todas as outras pessoas que também se lembram", recordou Sacks.
Parecia um milagre. Os pacientes de Sacks podiam conversar, caminhar e sentir alegria novamente.
"O clima no pavilhão do hospital era de carnaval, era de festa. Era um sentimento de euforia: as pessoas se apaixonavam, queriam sair e fazer coisas, explorar o mundo. Havia realmente um sentimento de magia e milagre... e provavelmente uma expectativa um tanto alarmante", afirmou o neurologista.
Muitos haviam contraído a doença do sono na infância e despertaram como adultos de meia-idade em um mundo completamente diferente.
"Quando conseguiram entender quanto tempo havia se passado, ficaram com medo e estupefatos. Alguns ficaram amargurados por terem perdido tanto tempo, mas a maioria queria viver cada segundo que tinha", disse Tomaino à BBC.
"Às vezes, isso era um desafio para a equipe do hospital", completou rindo.
Sacks, por sua vez, "se sentia muito responsável por eles e, às vezes, se perguntava se havia feito a coisa certa, porque quem eram eles agora que estavam acordados?", acrescentou a terapeuta.

Fim da magia

A mágica desapareceu depois de algumas semanas

A euforia durou pouco. O levodopa começou a perder efeito. E, depois de algumas semanas, em alguns casos, a medicação parou de funcionar, o que levou à piora de saúde dos pacientes.
Alguns mantiveram mais funções que outros, mas nenhum se recuperou completamente novamente.
Durante aquele breve período de despertar, Sacks encorajou os pacientes a descrever como tinha sido viver imóvel em um limbo; os relatos foram valiosos para se entender mais tarde muitas condições neurológicas.
Tomanino foi uma das pessoas que leram os diários escritos pelos pacientes.
"Eles descreveram como os cuidados eram horríveis quando estavam incapacitados, e isso me ajudou a mudar a maneira como os tratávamos".
E a música permaneceu sendo uma solução.
"Lembro de uma paciente, Lola, que adorava cantar e dançar. Mas quando ela piorou, não tinha controle da língua ou das mãos. No entanto, quando tocava tambor, conseguia acompanhar o ritmo com a voz, ela fazia isso tão bem que desfrutava e acabava sempre caindo na gargalhada."
"Lilian era um pouco mais autista e gostava do aspecto mais intelectual da música. Ela amava Rachmaninoff e, quando escutava, movia os dedos como se estivesse tocando piano.".
O que Connie Tomaino e Oliver Sacks estavam descobrindo por meio de pesquisas e observações práticas era inovador, mas naquela época alguns cientistas tratavam com ceticismo.
"Na década de 1980, os neurologistas não acreditavam que alguém pudesse se recuperar de uma lesão cerebral, e ainda assim podíamos ver as mudanças diante de nossos olhos", diz.
Pesquisas subsequentes mostraram que a musicoterapia pode melhorar e até ajudar a reparar lesões cerebrais.
"A música é tão complexa — tom, ritmo, padrões complexos de sons que ocorrem simultaneamente —, que se você vê o cérebro quando está ouvindo uma melodia, muitas de suas redes são ativadas e compartilhadas por outras formas de funções cognitivas."
"Essa é a beleza da música: permite que algumas funções da área onde ocorreu a lesão retornem", explica Tomaino.
Oliver Sacks, falecido em 2015, publicou vários livros, incluindo um chamado Tempo de despertar, que deu origem ao filme homônimo, protagonizado por Robert De Niro e Robin Williams.
Connie Tomaino se tornou uma referência internacional em musicoterapia.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O que é a passagem de Drake, complexa zona marítima onde um avião militar chileno desapareceu

É uma região onde a temperatura varia entre 0ºC e -25ºC durante todo o ano.

O avião desaparecido tinha como destino a Base Aérea Presidente Eduardo Frei - Getty Images

A Passagem de Drake, também chamada de Mar de Drake, é a região marítima que divide a Antártida da parte sul da América do Sul, e também é o epicentro das buscas pelo avião chileno Hércules C-130 que desapareceu na noite da segunda-feira (9/12) com 38 pessoas a bordo.
"As condições são extremamente difíceis" e "a situação é muito adversa" são alguns dos diagnósticos fornecidos pelas autoridades chilenas desde que o desaparecimento da aeronave foi confirmado.
O diagnóstico foi feito com base nas dificuldades sentidas pelas equipes de busca e salvamento durante a procura pela aeronave.
Além disso, um especialista na região considera a Passagem de Drake como uma das regiões marítimas "mais complicadas do mundo", com enormes dificuldades para navegação e ondas com alturas que variam de seis a dez metros.
"São áreas muito complicadas do sistema. Ali também convergem o Oceano Atlântico e o Pacífico, onde os dois mares estão entrelaçados", disse Nicolás Butorovic, diretor de climatologia da Universidade de Magalhães, ao jornal chileno El Mercurio.
Magalhães é a Província do sul do Chile onde fica a cidade de Punta Arenas, o local de decolagem do Hércules que perdeu contato às 18:13 de segunda-feira e que aterrissaria na base militar Presidente Eduardo Frei Montalva, na Antártida.

A área

Os ventos, a baixa visibilidade e as fortes correntes da Passagem de Drake são algumas das características da área marítima de cerca de 800 km, onde o Pacífico e o Atlântico se encontram.
Além disso, a grande profundidade de suas águas e seu sistema de circulação atmosférica produzem mudanças de tempo repentinas e muito difíceis de prever, deixando aqueles que a atravessam - navegando ou voando - à mercê desses fenômenos.
 
 

"São mudanças bruscas nas condições de temperatura, visibilidade e principalmente do vento, em um período muito curto. É um desafio para a navegação e tráfego aéreo enfrentar essas latitudes. Tanto pilotos quanto comandantes de aeronaves e navios passam por processos de treinamento especial para operar nessas áreas extremas, com processos de adaptação e treinamento muito rígidos", explicou o vice-almirante da Marinha do Chile e atual senador Kenneth Pugh.
Em uma entrevista ao jornal chileno La Tercera, a autoridade acrescentou que "normalmente nessas latitudes não há cobertura completa e permanente de satélites de comunicações geoestacionárias, por conta das características dessa órbita equatorial".
Pugh disse ainda que essas condições marítimas dificultam o uso de radares e reduzem a probabilidade de detecção de aeronaves.
Diferentes especialistas consultados pela imprensa chilena concordaram que no dia do desaparecimento do Hércules C-130 as ondas podiam atingir até 10 metros de altura com ventos de cerca de 100 km/h.

Essas condições podem significar que a área de buscas tenha de ser ampliada.

Quem foi Francis Drake

Resultado de imagem para fotos de francis drake
 
Francis Drake foi um navegador e corsário inglês que no final do século 16 que conseguiu atravessar o estreito de Magalhães.
Os historiadores apontam que outras expedições cruzaram as águas do que hoje é conhecido como Passagem de Drake décadas antes da jornada inglesa.
O corsário foi um dos primeiros financiados pela coroa inglesa a atacar as embarcações espanholas que transportavam a riqueza obtida na América para a Europa, algo que ele fez tanto no Peru quanto no Chile.
Séculos depois, os mais de 800 km da Passagem de Drake são compartilhados pela Argentina e pelo Chile, além de uma parte importante ser considerada águas internacionais.
Hoje, esses dois países, junto com o Uruguai e o Brasil, também compartilham o trabalho de procurar o avião danificado na segunda-feira. A tarefa, como já alertou o ministro da Defesa chileno Alberto Espina, é bastante difícil.
BBC

Maior parte do desmatamento em Mato Grosso é ilegal e acontece em propriedades privadas

MADRI - A maior parte do desmatamento registrado oficialmente no Estado de Mato Grosso neste ano foi ilegal. Dos 1.685 km² de floresta derrubados entre agosto de 2018 e julho deste ano, 85% não tinham autorização para ocorrer. É o que mostra uma análise feita pelo Instituto Centro de Vida (ICV), que cruzou os dados do sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), com as autorizações de supressão florestal concedidas pelo Estado. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira, 11, durante a Conferência do Clima da ONU, que ocorre em Madri.
MT é o único Estado que permite essa avaliação de forma rápida porque tem um sistema transparente de informações sobre as licenças para corte. A comparação dos dados revela ainda que mais da metade de todo o desmatamento (56%) aconteceu em propriedades privadas inseridas no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Isso significa que são propriedade com localização, limites e donos conhecidos do poder público.
Também chama a atenção que, entre as propriedades com CAR, mais da metade da floresta derrubada se concentrou em imóveis rurais grandes (acima de 1.500 hectares), seguidos dos imóveis médios, que possuem entre 400 e 1.500 hectares (28%). E os polígonos de desmatamento foram superiores a 50 hectares em 82% dos casos de desmatamento em imóveis privados.
Para os pesquisadores do ICV responsáveis pela avaliação, os dados apontam para um sentimento de impunidade no ar. “Esses proprietários de terra que estão desmatando sabem que o Estado tem os dados deles, telefone, CPF. Mais da metade é grande propriedade e 30% são grandes cortes, de mais de 50 hectares. Isso significa que há planejamento por trás, e que eles (os donos) consideram que vale a pena gastar dinheiro com o desmate.
 
Mayke Toscano/Gcom-MT

Estudos estimam que desmatar um hectare (área equivalente a um campo de futebol) custa cerca de R$ 1.000. Há polígonos de 200 hectares, ou seja, foram necessários R$ 200 mil para desmatar o local. "Estão apostando que vai mudar a lei”, disse ao Estado Alice Thuault, analista de política pública do ICV.
Ela lembra que, assim como aconteceu em toda a região, houve uma redução neste ano de 36% dos autos de infração do Ibama por crimes contra a flora no Estado. É um número que vem caindo a partir de 2015, mas teve o maior queda neste ano.
De todos os desmatamento ilegais no Estado, 74% ocorreram em 1.065 imóveis rurais - pouco mais de 1% do total de imóveis cadastrados. “Ou seja, são poucos os imóveis rurais que descumprem a legislação florestal e colocam em risco a legalidade e sustentabilidade da produção agropecuária de Mato Grosso”, aponta o relatório do ICV. É um perfil bastante diferente do observado nos demais Estados da Amazônia, onde a maior parte do desmatamento acontece em áreas públicas.
O desmatamento registrado em Mato Grosso representa 17% do total registrado em toda a Amazônia (o segundo maior porcentual, atrás apenas do Pará) . O Estado teve alta de 13% em relação ao período de agosto de 2017 a julho de 2018 e está cada vez mais longe de uma meta que o próprio Estado tinha feito, em 2015, de chegar ao desmatamento ilegal zero até 2020.

Alô, desmatador

O secretário-executivo da Secretaria de Meio Ambiente de MT, Alex Marega, presente na COP, afirmou que o Estado vem adotando novas estratégias para tentar conter o desmatamento. Ele destacou que, de 2004 a 2014, Mato Grosso teve uma redução de 90% da devastação da floresta. No início dos anos 2000, o Estado era o líder de desmatamento na Amazônia e perdia cerca de 12 mil km2 por ano. Em 2012, chegou à menor taxa - de 757 km² - ano em que toda a Amazônia teve a sua mais baixa perda de floresta. Nos últimos cinco anos, porém, o Estado tem sofrido altas consecutivas, mantendo taxas superiores a 1.480 km²/ano.
O Estado adotou, recentemente, um sistema de monitoramento de desmatamento com imagens do Planeta, sistema privado que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que planeja comprar para a Amazônia como um todo.
O número de fiscalizações aumentou a partir de agosto e foi adotada uma estratégia de começar a telefonar para os proprietários de terra quando a Sema detecta que um desmatamento está em curso.
“Há 15 dias começamos com essa estratégia de, a partir dessas novas imagens, entrar em contato no momento em que identificamos. Vimos, por exemplo, um desmatamento de 3 hectares. Identificamos de quem era a terra, ligamos para ele e avisamos: vimos que você desmatou tanto. Começamos a monitorar diretamente e vemos se parou ou não”, contou.
Segundo ele, o objetivo é tentar interromper a devastação. "Antes a gente só autuava e responsabilizava, mas objetivo não é penalizar, mas evitar que ocorra. É um novo modelo, acreditamos que vai dar um resultado melhor. E quem não parar… aí vamos lá mesmo. E já deixamos avisado: vamos multar, embargar, e correm o risco de perder equipamentos se forem pegos em flagrante."
Estadão