terça-feira, 6 de junho de 2017

O manual do desmatamento zero na Amazônia já existe. Agora só falta aplicar

 Imagem de satélite mostra desmatamento da Amazônia em Rondônia (Foto: Reprodução/Google Earth)
Pesquisadores do Imazon juntaram todo o conhecimento adquirido e lançaram um guia com as medidas de controle e mercado para acabar com a devastação.

O desmatamento da Amazônia é desnecessário e indesejável. É mais ou menos consensual que o Brasil precisa se livrar desse processo contínuo de devastação do patrimônio cultural. Até as entidades que representam os setores de produção agrícola mais acirrados entendem que o desmatamento, principalmente ilegal, especialmente no ritmo atual, não se justifica, nem é sustentável para o país. A questão é como sair desse ciclo maligno.
Os pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) juntaram todo o conhecimento adquirido em algumas décadas de acompanhamento do assunto e lançaram uma espécie de manual do desmatamento zero. É o relatório Desmatamento zero no Pará – Desafios e oportunidades. O trabalho é concentrado no estado do Pará, porque cada pedaço da Amazônia tem uma situação particular. Mas é possível dizer que o desafio no Pará é um dos maiores de todos. O que for aplicado com sucesso lá pode ser mais ou menos adaptado às condições de outros estados da região.
O relatório trabalha com diversos cenários. Primeiro, diferencia os tipos de desmatamento zero. Existe o desmatamento zero ilegal, quando apenas acaba o corte fora da lei, mas ainda é possível derrubar 20% de cada propriedade, segundo o Código Florestal para a Amazônia. Ou o desmatamento líquido zero, quando é possível desmatar desde que se compense com recuperação de área igual ou maior na mesma região.
O trabalho do Imazon dá os passos e as medidas necessárias em vários campos para zerar o desmatamento. Isso inclui incentivos e cobranças para o enquadramento da pecuária e para uma produção de gado mais intensiva. Também inclui melhorar a agricultura. Olhar para os assentamentos. Incentivar a silvicultura. Promover a restauração florestal. Combinar a fiscalização de sempre com incentivos de mercado.
“Há muito tempo se conversa sobre o desmatamento zero. Mas não tínhamos entrado em detalhe de forma sistemática como agora”, diz Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon e um dos autores do relatório.
Segundo ele, o próximo passo é fazer uma “prova de conceito” do que se sabe sobre como chegar ao desmatamento zero. Essa prova consistiria em escolher uma área, como um conjunto de municípios, e neles aplicar todas as estratégias para zerar o desmatamento durante alguns anos. E observar se é possível fazer isso com o desenvolvimento econômico e humano. “A gente mais ou menos já sabe o que fazer. Mas isso nunca foi testado. Nenhum município está livre do desmatamento ainda”, afirma.

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