sexta-feira, 15 de junho de 2018

Copa do Mundo 2018: Como o futebol pode ajudar Putin a melhorar imagem da Rússia

Todos os holofotes estão postos sobre a Rússia. Desta vez, porém, a atenção que o país ganha não tem a ver com acusações de envenenamentos de espiões, interferência em eleições e outros pontos de tensão com a comunidade internacional.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, em discurso na abertura da Copa
O motivo é o futebol, o Mundial, o novo grande aliado de Vladimir Putin.
Embora o presidente russo admita não ser entusiasta desse esporte, ele tem se dedicado à causa na Copa do Mundo que começou na quinta-feira, tendo o seu país como sede.
Não em vão, é a vitrine perfeita para melhorar a imagem global da Rússia em um momento de isolamento, segundo analistas consultados pela BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
A guerra na Síria, o conflito na Ucrânia, o caso do ex-espião russo envenenado junto com a filha, no Reino Unido, ou a suposta interferência em processos eleitorais nos Estados Unidos e em outros países s são algumas das questões que vinham causando duras críticas à Rússia e causando um desgaste considerável a sua imagem no cenário internacional.
É nesse contexto que, para o correspondente da BBC em Moscou, Steve Rosenberg, a Copa do Mundo é uma oportunidade de ouro para Putin.
"É o primeiro dia, mas eu já posso revelar o vencedor desta Copa do Mundo: Vladimir Putin", disse o jornalista após a abertura do torneio na quinta-feira.
O fato de o maior campeonato de futebol do mundo estar ocorrendo no país já é uma vitória para o Kremlin, destaca Rosenberg, e apesar de alguns críticos no Ocidente terem pedido um boicote ao evento, o fato é que "suas equipes e seus seguidores também estão" no país, participando.

'Um país moderno e aberto'

A expectativa é que meio milhão de pessoas visitem a Rússia para a Copa do Mundo e Putin está ciente disso.
Depois da apresentação do cantor britânico Robbie Williams na abertura do torneio em Moscou e antes da Rússia marcar 5 gols contra a Arábia Saudita na partida de abertura, o presidente expressou sua satisfação e aproveitou a oportunidade para se dirigir ao mundo.
"Nós amamos o futebol aqui. A Rússia é um país aberto, hospitaleiro e amigável", disse Putin em seu discursou.
 
"Desde a invasão da Crimeia em 2014" - logo após os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi (Rússia) - "os países do Ocidente têm concentrado parte de suas políticas em isolar a Rússia e esse isolamento tem afetado o prestígio do país", explica o cientista político Andrew Radin, da consultoria independente RAND, dos Estados Unidos.
"A Copa do Mundo é uma oportunidade para reorientar a imagem internacional da Rússia e destacar que o país é uma sociedade moderna e desenvolvida com história e cultura ricas."
"Uma das maneiras de fazer isso é abrir-se ao exterior: não apenas acolhendo os torcedores com o melhor sorriso, mas convidando artistas estrangeiros, como Robbie Williams, ou outras personalidades para fazerem parte da celebração.", diz Alina Polyakova, especialista em Rússia do Instituto Brookings.
"Tudo para mostrar que a Rússia é um país semelhante ao Reino Unido, à França ou aos Estados Unidos, e não o regime autoritário como aparece na imprensa, algo que é claro que é. É possível ser as duas coisas: uma nação moderna e um regime autoritário", acrescentou ela à BBC News Mundo.
O evento também pode servir para manter a popularidade de Putin dentro do país, diante das reformas que vem realizando para enfrentar os problemas econômicos do país.
Na quinta-feira, o governo anunciou que aumentaria o imposto sobre consumo - equivalente ao ICMS no Brasil - e a idade de aposentadoria para homens e mulheres, uma decisão impopular que evitou tomar por anos e que só foi divulgada algumas horas antes do início da Copa do Mundo.

Uma mudança?

A questão agora é: a posição da Rússia mudará em âmbito global graças à Copa do Mundo? Os especialistas acham difícil.
"Eu não acredito que isso será um ponto de virada (para a relação entre a Rússia e o Ocidente)", diz Jeff Mankoff, especialista em Rússia no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês).
"Os chefes de Estado dos principais países do Ocidente não foram a Moscou para a abertura da Copa do Mundo, e eu acho que a evidência é de que a relação segue como antes", analisou ele em entrevista à BBC News Mundo.

Robbie Williams

"As disputas sobre a guerra na Síria, o conflito na Ucrânia, a suposta interferência nas eleições em todo o mundo ou as sanções contra Moscou continuarão a fazer parte da conversa entre as elites políticas durante o campeonato", diz Mankoff, e "voltarão ao primeiro plano quando terminar."
"Muita gente pode ficar impressionada com a gestão russa da Copa do Mundo, mas geralmente essas impressões têm uma recompensa limitada", diz Stephen Sestanovich, ex-embaixador extraordinário dos EUA para os novos países que surgiram com o colapso da União Soviética e membro do grupo de analistas do think tank Conselho de Relações Exteriores.
Em sua opinião, há apenas uma maneira pela qual a Copa do Mundo pode propiciar uma mudança: se Putin realmente quiser que aconteça e utilizar a boa atmosfera do futebol para dar um passo atrás nos grandes conflitos.
"Ele vai fazer isso? Aí está a oportunidade, se quiser aproveitá-la", diz Sestanovich. "Mas não estou tão certo de que Putin seja tão criativo."
BBC Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário