quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Estamos ficando sem café!

Café recém cosechado em Yayu, no sudoeste de Etiópia, a terra do 'Arabica'.

A maioria das espécies silvestres de café corre o risco de desaparecer nas próximas décadas. De algumas só restam três ou quatro plantas e de outras não há notícias há quase um século. Uma das ameaçadas é a Coffea arabica, da qual procede a maior parte das variedades cultivadas. Ainda que somente três espécies tenham interesse comercial hoje, a extinção de somente uma das demais ameaça o futuro tanto do café silvestre como do cultivado.
Quase 100% dos 10 milhões de toneladas de café em grão que serão colhidas nessa temporada são arabica e robusta (Coffea robusta). Há uma terceira espécie (Coffea liberica) que é consumida em diversas partes da África, mas seu principal valor no cultivo do cafeeiro é como enxerto no rizoma das outras duas espécies. Na natureza, entretanto, há muito mais café. Que se saiba, existem pelo menos 124 espécies silvestres de Coffea. E a maioria não é originária das terras úmidas da Etiópia. Estão em Serra Leoa, no extremo ocidental do continente africano, até no Estado de Queensland no leste da Austrália.
Agora, pesquisadores do Real Jardim Botânico de Kew (Reino Unido) determinaram o estado em que se encontram todas as espécies silvestres conhecidas de café. Os resultados, baseados em uma década de expedições, acabam de ser publicados na Science Advances. Das 124 espécies, 75 estão ameaçadas (60%), de acordo com os critérios estabelecidos pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).
A porcentagem de ameaçadas sobe até 70% se for descontado do total as quase vinte espécies das quais não existem dados confiáveis. De 14 não há informação recente, em boa parte pelas guerras que impediram seu estudo. De algumas, há mais de um século não se têm notícias e de cinco, todas asiáticas, só existem provas nos herbários ocidentais. Do total, 13 estão em perigo crítico de extinção e somente 35 foram catalogadas como não ameaçadas. Ainda que o risco exista em toda a distribuição geográfica do café silvestre, o drama se concentra em Madagascar, com 43 espécies ameaçadas, Tanzânia, com 12, e Camarões, com sete.
“Entre as espécies ameaçadas de extinção estão aquelas com potencial para ser usadas no cultivo e desenvolvimento dos cafés do futuro”, diz o responsável pela pesquisa do café em Kew e principal autor do estudo, Aaron Davis. Não se trata somente de que salvar uma espécie do desaparecimento seja um valor em si mesmo, é que, ainda sem ter interesse comercia hoje, muitas delas podem contribuir com resistência a doenças e ser capazes de enfrentar as cada vez mais complicadas condições climáticas. “O aproveitamento e desenvolvimento dos recursos do café silvestre podem ser determinantes à sustentabilidade a longo prazo do café”, afirma Davis.
Os autores do estudo classificaram todas as espécies em três grupos de acordo com sua atual previsível relevância futura ao cultivo comercial do café. Em um primeiro grupo colocaram as parentes silvestres do arabica, do robusta e do liberica, além do Coffea eugenioides, antecessor do primeiro. Sua proximidade genética com as espécies comerciais as transformam em reservas vitais à renovação de seu acervo genético. Em um segundo grupo incluíram 38 espécies que, mesmo sem hibridar naturalmente com as comerciais, podem trazer melhoras em resistência, aromas, rendimento... mediante as modernas técnicas agronômicas. No último grupo estão 82 espécies sem interesse comercial agora, ainda que possam ser aproveitáveis graças à engenharia genética.
 
À direita, grão de café arabica, à esquerda um de café ambongo, de Madagascar e em perigo de extinção.
 
A principal espécie ameaçada, do primeiro grupo, é a arabica, base do cultivo do café. Do segundo grupo, existem outras 23 espécies em perigo. E do restante, outras 51 espécies. Para compreender o alcance desses números e porcentagens, podem ser comparados com o estado geral da conservação das plantas. Enquanto no conjunto do reino vegetal, somente 22% das espécies estão ameaçadas, o estão quase três de cada quatro espécies de café.
Entre as causas há uma natural e o restante de origem humana. A primeira é a própria rigidez biológica do café. Apesar das variedades comerciais estarem presentes em todas as regiões tropicais do planeta, a maioria das espécies silvestres estão em faixas geográficas reduzidas e localizadas, muito adaptadas às condições locais. Por isso, perturbações humanas como a perda do habitat, o avanço da agricultura e efeitos da mudança climática como a redução da temporada de chuvas e o aumento dos dias de calor, estão afetando a resiliência dos cafezais silvestres.
“No café a questão é crítica. Só existem duas espécies utilizadas comercialmente e dessas somente uma pequena parte da variabilidade genética é utilizada”, diz o diretor do Centro Nacional de Pesquisas de Café da Colômbia (Cenicafe), Álvaro León Gaitán, não relacionado a esse estudo. “O problema é que na medida em que as condições de cultivo mudam, é preciso trocar as plantas e a pouca diversidade genética utilizada nas variedades comerciais não dá para selecionar novos tipos de plantas”, afirma. Por isso a importância das espécies silvestres, que podem ter genes com respostas a esses problemas. “No caso do arabica, entretanto, as florestas naturais da Etiópia e do Sudão do Sul nas quais a espécie se originou foram se degradando, de modo que é preciso recorrer às coleções de germoplasma coletadas nos anos 60”, diz o responsável do Cenicafe.
Mas o problema da conservação in situ se agrava porque muitas das espécies silvestres não têm cópias de respaldo fora. Boa parte da biodiversidade vegetal (e animal) possui estratégias de conservação ex situ. Nos jardins botânicos criados no século XIX, herbários e bancos de sementes e germoplasma, em vários locais do planeta estão guardados recursos da maioria das plantas de interesse aos humanos. Mas enquanto 71% dos 63 principais cultivos humanos contam com alguma cópia de segurança, isso ocorre com somente um terço das espécies de café.
“Ao contrário do feijão e do milho, a viabilidade das sementes de café se reduz significativamente se elas são secas e congeladas (o embrião morre)”, diz a pesquisadora do Global Crop Diversity Trust, Nora Castañeda, autora do estudo com os 63 principais cultivos. “Por isso, é preciso contar com outras alternativas para conservação desses recursos genéticos, como os bancos de germoplasma de campo, cultivos in vitro, criopreservação, parques naturais e até nas próprias fazendas dos produtores”, afirma a cientista colombiana. O objetivo da organização internacional, com sede em Bonn (Alemanha) é preservar a diversidade de cultivos para proteger a segurança alimentar mundial.
Para Castañeda, os resultados do estudo (em que não interveio) são um reflexo do estado de vulnerabilidade da vida silvestre no planeta em geral. “Não deixa de surpreender, entretanto, que os parentes do café se encontrem dentro do grupo de plantas com maior risco de extinção e que, além disso, são vulneráveis pois não recebem ações concretas para sua conservação”, diz por e-mail. Em 2017, em colaboração com o World Coffee Research, sua organização publicou uma estratégia global para a conservação do café. Estimaram que seria preciso investir apenas 25 milhões de dólares (94 milhões de reais) para “conservar em perpetuidade recursos genéticos do café que nesse momento se encontram em coleções chave”, afirma a cientista colombiana.
El País

A megacolizão planetária que pode ter formado a Lua e tornado possível a vida na Terra

Talvez você já tenha se deparado com alguma teoria maluca dizendo que nós descendemos de alienígenas. De certa forma, essa ideia pode estar certa.
 
colisão planetária - Terra e Theia
Não significa que fomos criados por homenzinhos verdes como esses que habitam o imaginário da ficção científica, é claro. Mas, de acordo com um estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Rice, no Texas, Estados Unidos, e publicado na quarta-feira pelo periódico científico Science Advances, uma colisão planetária ocorrida há 4,4 bilhões de anos trouxe para nosso planeta os elementos fundamentais para o surgimento da vida.
"Nosso estudo indica que a Terra adquiriu sua cota de elementos essenciais à vida em um estágio muito tardio de sua acreção, possivelmente por meio do mesmo impacto que formou a Lua", afirma à BBC News Brasil o geólogo e cientista planetário Damanveer Grewal.
Em astrofísica, acreção é o nome que se dá ao acúmulo de material na superfície de um astro por conta da ação da gravidade.
"Como a Terra tem uma longa história de crescimento, espaçada por acúmulos de vários milhões de anos, impactos gigantescos devem ter desempenhado um papel primordial na origem da vida em nosso planeta", prossegue o cientista.

'Elementos-chave para a vida'

Uma das ideias mais aceitas ainda é de que meteoritos se chocando contra a Terra trouxeram os elementos necessários à vida ao longo de bilhões de anos (Imagem: Science Photo Library)
 
Em entrevista à BBC News Brasil, o geólogo e cientista planetário Rajdeep Dasgupta, lembrou que "carbono, oxigênio, hidrogênio, nitrogênio, enxofre e fósforo são os cinco elementos-chave para a vida como a conhecemos".
"Sem carbono, nitrogênio e enxofre, não é possível produzir os hidrocarbonetos, aminoácidos e proteínas necessários à vida. Portanto, nos concentramos na origem de alguns desses elementos fundamentais", explica ele. "Não podemos descartar a possibilidade de que a Terra tenha adquirido sua dose necessária de elementos essenciais à vida sem ter sofrido episódios de impactos gigantescos. No entanto, o inventário relativo de carbono, nitrogênio e enxofre na porção acessível do nosso planeta aponta para sua origem através de um impacto gigantesco, como sugerido em nosso estudo."

Viemos do espaço

Conforme contextualizam os pesquisadores, a partir do estudo de meteoritos primitivos há muito se sabe que planetas rochosos como a Terra são, originalmente, escassos de materiais voláteis. "O momento e o mecanismo que levou a Terra a adquirir tais elementos suscita entusiasmantes debates", diz Dasgupta. "Nosso cenário pode explicar tal fenômeno de forma consistente com todas as evidências geoquímicas."
Os pesquisadores compilaram resultados de uma série de experimentos realizados sob altas temperatura e pressão em um laboratório especializado na Universidade Rice. Ali, eles simularam reações geoquímicas que devem ter ocorrido na Terra há bilhões de anos.

Cientistas da Rice University (da esquerda para a direita) Gelu Costin, Chenguang Sun, Damanveer Grewal, Rajdeep Dasgupta e Kyusei Tsuno. Eles descobriram que a Terra provavelmente recebeu a maior parte de seu carbono, nitrogênio e outros elementos essenciais à vida da colisão planetária que criou a Lua há mais de 4,4 bilhões de anos. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Science Advances.

Partiram de uma teoria já existente, de que os voláteis da Terra seriam originários de uma colisão com um planeta cujo núcleo era rico em enxofre - denominado como "planeta doador".
"Nosso principal desafio foi explicar por que a superfície da Terra têm uma relação de carbono para nitrogênio que é nitidamente mais alta do que a dos meteoritos primitivos", comenta Grewal. "Nossos experimentos mostraram que se o núcleo de um planeta rochoso é rico em enxofre, então o carbono é expelido dele numa proporção maior do que o nitrogênio."
Nessas simulações, os cientistas concluíram que para o efeito ter sido assim, esse tal "planeta doador" teria de ter o tamanho aproximado de Marte. Uma colisão gigantesca, portanto. Deste tamanho, tudo indica ter sido a mesma colisão que formou a Lua.

O grande impacto

A teoria mais aceita hoje em dia pela comunidade científica para explicar a formação da Lua é aquela chamada de hipótese do grande impacto. Apresentada em 1975 por pesquisadores do Instituto de Ciências Planetários de Tucson e do Instituto Harvard-Smithsonian de Astrofísica, a teoria conclui que há 4,4 bilhões de anos um planeta mais ou menos do tamanho de Marte, chamado Theia, chocou-se com a Terra.
"Impactos planetários ocorrem ao longo da história de um sistema solar", explica o professor Dasgupta. "Impactos assim ocorrem até hoje, embora com uma frequência muito menor e com os planetas que se chocam geralmente sendo muito menores em tamanho. Os impactos planetários foram muito mais frequentes nas primeiras dezenas de milhões de anos da história do Sistema Solar. Naquela época, o disco protoplanetário ainda estava evoluindo e órbitas de vários corpos ainda estavam sendo estabelecidas."
A gigantesca colisão, a cerca de 40 mil quilômetros por hora, não teria sido frontal - mas sim, de lado. Do impacto, uma grande quantidade de material se desprendeu formando a Lua. Acredita-se que 90 por cento da composição lunar seja originária do antigo planeta Theia.
A teoria aponta que o material que deu origem à Lua se estabilizou a cerca de 22 mil quilômetros da Terra 27 horas após a colisão - a distância atual da Terra à Lua hoje é de 385 mil quilômetros.
 
A colisão de Theia com a Terra teria expelido detritos para o espaço, com esses pedaços de rocha se unido com a força gravitacional e, consequentemente, formando a Lua na órbita da Terra (Imagem: Smithsonian Air and Space Museum)
 
O resto da Theia foi incorporado pela Terra. E, como acabam de comprovar em laboratório dos cientistas, este material trouxe condições para o surgimento da vida no planeta. "A conclusão de que o corpo volátil da Terra foi originário de um planeta do tamanho de Marte veio da combinação de nossas medições experimentais, onde mostramos como o carbono e o nitrogênio podem ser separados uns dos outros durante a formação do núcleo de um planeta com um núcleo rico em enxofre", afirma o professor Dasgupta. "Essas simulações comprovaram que a maior probabilidade de obter carbono, nitrogênio e enxofre são quando o tamanho do corpo de colisão é o de um grande planeta."
Para chegar a tal conclusão, os cientistas realizaram modelagens de computador. Foram executados cerca de 1 bilhão de cenários diferentes, com condições conhecidas do Sistema Solar, até que os resultados indicassem uma versão mais possível do que realmente deve ter acontecido. "Então descobrimos todas as evidências - assinaturas isotópicas, relação entre carbono e nitrogênio e quantidades totais de carbono, nitrogênio e enxofre na Terra - consistentes com o impacto de formação da Lua: um planeta do tamanho de Marte com núcleo rico em enxofre", afirma Grewal.
"Realizamos mais de um bilhão de simulações numéricas para calcular a composição e a massa do planeta que deve ter fornecido os voláteis para a Terra. Nossas simulações previram um planeta do tamanho de Marte e com características específicas. Todas as restrições de massa e composição apontam para o momento coincidente ao da formação da Lua", resume o pesquisador.
"Isto também explica por que a Terra e a Lua são geoquimicamente similares", completa Dasgupta.

Vida em outros planetas

Dasgupta afirma que compreender como a vida se formou na Terra pode ajudar na pesquisa sobre fenômenos semelhantes em outros planetas. "O estudo indica que um planeta rochoso semelhante à Terra tem mais chances de adquirir elementos essenciais à vida se se formar e crescer a partir de impactos gigantescos com planetas que tenham elementos diferentes em sua composição", comenta.
BBC

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Fotos da superlua de sangue

Eclipse lunar visto do 'JK Memorial' em Brasília (Brasil).

A superlua de sangue, numa seleção de imagens


Durante a noite de 20 a 21 de janeiro, ocorreu o primeiro eclipse total de 2019. O que foi visto em todo o mundo foi batizado como 'superlua de sangue de lobo'.

Eclipse lunar no Parque do Jubileu em Bruxelas (Bélgica).

A superlua de sangue vista ao lado da estátua do 'Victoria Alada' em Madri (Espanha).

A superlua de sangue vista ao lado do Cristo Redentor, na cidade do Rio de Janeiro (Brasil).

O superlua vista sobre a cidade de Marina Del Rey, na Califórnia (EUA).

Colômbia quer criar cidade do futuro nos arredores de Cartagena

Colômbia quer criar cidade do futuro nos arredores de Cartagena
 
A Colômbia é hoje um dos países mais promissores do mundo, com crescimento econômico constante nos últimos anos e um acordo de paz com as FARC que terminou um conflito interno que durava 50 anos. Enquanto isso, Bogotá e Medellin crescem de maneira moderna, sendo exemplo de bom design urbano. Porém o mesmo não se pode dizer de Cartagena de Indias, cidade histórica do país no mar do Caribe, que cresce como muitas cidades litorâneas do Brasil: construção desenfreada de prédios de luxo na costa e moradias de baixo custo feitas sem o devido cuidado em áreas propensas a alagar.
Porém Daniel Haim quer mudar a perspectiva da cidade histórica. Em 1968, sua família comprou um terreno de 1.011 hectares nos arredores de Cartagena. Em 2018, o local está marcado para se tornar um empreendimento que irá mudar a cara da cidade.
Há apenas 11 km do centro histórico banhado pela mar caribenho, Serena Del Mar é o principal projeto da construtora Novus Civitas, em que Haim trabalha. A intenção é transformar o espaço de mais de mil hectares em um centro de desenvolvimento sustentável para a cidade, que atualmente sofre com o desenfreado aumento populacional e as mudanças climáticas que afetam o nível do mar. O intuito do projeto é criar um empreendimento cujo crescimento seja guiado pela natureza
Porém Daniel Haim quer mudar a perspectiva da cidade histórica. Em 1968, sua família comprou um terreno de 1.011 hectares nos arredores de Cartagena. Em 2018, o local está marcado para se tornar um empreendimento que irá mudar a cara da cidade.
Há apenas 11 km do centro histórico banhado pela mar caribenho, Serena Del Mar é o principal projeto da construtora Novus Civitas, em que Haim trabalha. A intenção é transformar o espaço de mais de mil hectares em um centro de desenvolvimento sustentável para a cidade, que atualmente sofre com o desenfreado aumento populacional e as mudanças climáticas que afetam o nível do mar. O intuito do projeto é criar um empreendimento cujo crescimento seja guiado pela natureza em 30 anos e o local abrigue até 100 mil pessoas.
ISTO É

EUA: Águas subterrâneas estão poluídas por contaminantes de fazendas

Resultado de imagem para fotos da cidade de wisconsin
 
Wisconsin, 21 - As fazendas dos Estados Unidos, embora mais produtivas do que nunca, estão poluindo a água potável para norte-americanos que vivem em áreas rurais. Entre os fatores que produzem contaminantes: menos fazendas mais intensamente trabalhadas, vacas maiores e produtos de culturas em rotação. Agricultores e seus defensores dizem que os EUA precisam equilibrar as preocupações ambientais com a segurança alimentar.
De acordo com o Serviço Geológico dos EUA (USGS, na sigla em inglês), um em cada sete cidadãos do país bebe água de poços privados. As concentrações de nitrato aumentaram significativamente em 21% das regiões em que os pesquisadores da USGS testaram as águas subterrâneas de 2002 a 2012, em comparação com os 13 anos anteriores. Os maiores aumentos foram nas áreas agrícolas. Amostragem mais recente mostra que o padrão continua, a uma taxa potencialmente maior.
Enquanto isso, mais de 16% das águas subterrâneas de poços amostrados entre 2002 e 2012 superaram o limite federal de nitrato de 10 partes por milhão, em comparação com 12% nos anos 90. A porcentagem acima do limite caiu ligeiramente nos poços amostrados após 2013, mas permaneceu elevada.
 
Imagem relacionada
 
O esterco também contribui: contém nutrientes como nitratos que os pesquisadores associaram a defeitos congênitos, problemas de tireoide, câncer e uma condição potencialmente fatal em bebês. Fonte: Dow Jones Newswires.

A marca que a inquisição deixou na genética de populações da América Latina

Pintura muestra os Reis Católicos
 
Nos livros de história das escolas da América Latina, 1492 costuma ser apresentado como o ano em que Cristovão Colombo chegou ao território americano.
Mas também foi o ano de outro evento que deixou um imenso legado no continente, segundo um novo estudo que analisou o DNA de milhares de pessoas da América Latina, inclusive do Brasil.
Em 1492, os Reis Católicos da Espanha, Isabel de Castilha e Fernando de Aragão, expulsaram todos os judeus do reino, no início do que seria uma perseguição brutal de décadas contra esse grupo religioso. Para permanecerem no território, os judeus precisavam comprovar conversão ao catolicismo.
O decreto de expulsão foi redigido pela autoridade máxima da inquisição, Tomás de Torquemada. Ele proibia que os judeus, inclusive aqueles haviam se convertido ao catolicismo embarcassem às novas colônias da América.
No entanto, um novo estudo demonstra não apenas que muito mais judeus convertidos viajaram ao continente americano do que se pensava, mas também a marca genética que deixaram em muitos latino-americanos.
"Na atualidade, a população da América Latina apresenta uma maior afinidade com o perfil genético dos judeus sefarditas que os espanhóis", disse à BBC Mundo o pesquisador Juan Camillo Chacón Duque, especialista em genética populacional e principal autor do estudo publicado na revista científica Nature Communications.
O cientista, que também teve o DNA analisado, encontrou resultados surpreendentes sobre os próprios ancestrais.

Migração

Os pesquisadores estudaram os genomas de mais de 6,5 mil pessoas que moram em áreas urbanas de cinco países do continente americano: Brasil, Colômbia, Chile, México e Peru. E compararam os dados com outras 2,3 mil pessoas de outras partes do mundo.
O resultado foi surpreendente: 23% dos latino-americanos que tiveram o DNA analisados têm como ancestrais judeus que, na época da inquisição, se converteram ao cristianismo.
"Esse resultado sugere que houve uma migração significativa de pessoas com esse perfil genético para a América Latina", diz Chacón Duque, que realizou o estudo na University College London, no Reino Unido. Atualmente, Duque é pesquisador do Museu de História Natural da capital britânica.

Diferenças entre populações

"99,9% do genoma de todos os seres humanos é igual, mas esse 0,1% de variação representa 3 milhões de bases ou letras de código genético, ou seja, uma grande quantidade de informação", diz Duque.
Como muitas populações humanas se mantiveram isoladas umas das outras durante longos períodos ao longo da evolução da nossa espécie, elas tiveram tempo de acumular mutações no seu DNA, explicou o cientista.
"Portanto, o que fazemos em matéria de genética de populações é tentar estabelecer de onde vieram essas mutações no código genético das diferentes populações humanas, para poder entender como elas se relacionam geneticamente."
"Neste estudo, utilizamos centenas de milhares dessas mutações para comparar de maneira muito detalhada e precisa os perfis genéticos dos latino-americanos com os de diferentes populações ao redor do mundo."

Identidade genética com judeus sefarditas

A análise dessas variações permitiu a Chacón Duque e seus colegas estabelecer um vínculo genético entre a população atual da América Latina e os judeus que se converteram ao cristianismo durante os anos da inquisição.
O pesquisador colombiano trabalhou com colegas de todos os países que tiveram amostras analisadas. E usou sofisticados métodos computacionais desenvolvimentos por Garrett Hellenthal, professor da University College London.
"Mais de 23% dos latino-americanos estudados têm alta afinidade genética com populações de diferentes locais do Mediterrâneo", diz Chacón Duque.
"E a afinidade maior é com uma população da Turquia que se identifica como judia sefardita e que descende dos judeus que foram expulsos da Espanha", explica.
Segundo o pesquisador, esse resultado mostra que "muitos judeus conversos conseguiram viajar para a América Latia na época da colonização e disseminaram essa genética."

Bandera e escultura

Herança antiga

"Com nossos métodos estatísticos e a grande quantidade de informação genética que obtivemos, pudemos definir o quão antiga é essa contribuição genética", diz Chacón Duque.
"Sabemos também, a nível histórico, que houve muitas migrações clandestinas de judeus conversos que provavelmente queriam seguir praticando a sua fé e evitar a perseguição no seu país de origem", acrescenta.
Mas alguns documentos, como o diário de Luis de Carvajal, um judeu converso que viveu no México, demonstram que a Inquisição estendeu seus tentáculos até a América Latina. Carvajal e sua família foram torturados e queimados vivos. A herança dos judeus conversos coincide, além de tudo, com a chegada dos espanhóis ao continente americano.

Diário de Luis de Carvajal

Diversidade

Chacón Duque esclarece que, embora 23% dos milhares de latino-americanos que participaram da pesquisa tenham identidade genética com judeus conversos, não é possível generalizar esse percentual para toda a América Latina.
"Eu, pessoalmente, como geneticista e latino-americano, diria que é quase impossível fazer uma generalização deste tipo com uma amostra de 6,5 mil pessoas."
A principal razão, segundo o cientista, é que as amostras foram coletadas em centros urbanos e não refletem a diversidade das populações em zonas periféricas, rurais ou costeiras.
"A população da América Latina é muito diversa quanto aos processos de miscigenação e, em cada região, a história pode ser muito diferente", afirma.
"Por exemplo, a costa pacífica colombiana tem uma alta ancestralidade africana e é muito pouco provável que ali haja herança de judeus sefarditas."
Os ancestrais do cientista
O estudo trouxe resultados surpreendentes sobre os ancestrais do próprio Chacón Duque.
O pesquisador trabalhava num laboratório da Universidade de Antioquia quando foram coletadas amostras de participantes colombianos.
"Eu cumpria todos os critérios para ter a amostra coletada. Era colombiano e meus ancestrais eram colombianos por gerações", diz.
"Acabei participando e, no final das contas, eu também tenho ancestrais sefarditas. Tenho de 10% a 15% dessa ancestralidade na minha genética", afirma.

Tamanho do nariz

indígenas andinos e mapuche

O estudo publicado na revista Nature Communications é parte de um projeto mais amplo de análise genética chamada Candela (Consórcio para a Análise da Diversidade Latino-americana).
O projeto, liderado pelo cientista colombiano Andrés Ruiz Linares, busca caracterizar a diversidade da população da América Latina a nível morfológico ou de aparência física.
Além do vínculo com os judeus conversos, Chacón Duque e seus colegas constataram diferenças no formato do nariz em latino-americanos com ancestrais provenientes de diferentes grupos indígenas.
Os cientistas coletaram amostras genéticas de populações do norte, centro e sul do Chile e também dos Andes- na Bolívia e Peru.
"No centro do Chile, há uma ancestralidade mapuche, que são indígenas que habitavam zonas mais ao sul que os indígenas dos Andes bolivianos e peruanos e do norte do Chile", diz Duque.
"As pessoas que têm ancestralidade maior relacionada aos aymaras e quéchuas nos Andes, têm nariz mais perfilado e menos achatado que as com ancestralidade mapuche", explica
A causa dessas diferenças é desconhecida, mas há uma hipótese.
"Estudos anteriores apresentaram a hipótese de que essa diferença física se dá em decorrência da adaptação a diferentes climas", afirma.
"De alguma maneira, ter um nariz com fossas nasais mais estreitas, como é o caso do nariz perfilado e com protrusão maior das populações andinas, é mais favorável em terras altas em relação ao nível do mar, porque permite aquecer e umedecer o ar inalado de maneira mais eficiente que as narinas amplas de quem tem nariz mais achatado."

A história contada pela genética

O projeto Candela é uma das maiores análises genéticas da população da América Latina e deve produzir novas publicações e surpresas.
"O que mais me emociona é que o DNA pode revelar novas informações sobre eventos importantes, como a migração dos judeus conversos, que poderiam ficar ocultas para sempre", ressalta Javier Mendoza Revilla, outro autor do estudo.
Tanto no caso dos judeus conversos como no da ancestralidade indígena, algo está claro, segundo o pesquisador.
"Enquanto os registros escritos podem ser destruídos ou alterados, o mesmo não pode ser feito com o DNA."
A história da América Latina está escrita em seus genes.

ONU: guerra comercial e mudanças climáticas afetam crescimento mundial

ONU: guerra comercial e mudanças climáticas afetam crescimento mundial
 
A ONU alertou nesta segunda-feira (21) que as disputas comerciais, as mudanças climáticas e as atitudes egoístas na solução de problemas globais estão ameaçando o crescimento mundial.
Espera-se que a economia mundial continue crescendo em um ritmo sustentado de cerca de 3% em 2019 e em 2020, mas há sinais de que o crescimento chegou a um teto, de acordo com o informe anual da ONU sobre a situação econômica global e suas perspectivas.
O crescimento econômico é desigual e em muitas ocasiões não chega aonde é mais necessário, afirmou o relatório publicado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas.
economista-chefe da ONU, Elliot Harris, garantiu que as disputas comerciais mostraram que cada vez se usa menos o enfoque multilateral, então é menor a probabilidade de uma resposta global a uma possível futura crise econômica.
“O que vemos que está acontecendo é uma tendência crescente de colocar o interesse individual à frente, em vez de manter uma atitude de colaboração e cooperação”, afirmou Harris em coletiva de imprensa.
As relações comerciais entre os Estados Unidos e a China se desgastaram após o presidente Donald Trump impor, no ano passado, novas tarifas às importações chinesas e de os Estados Unidos renegociarem um acordo comercial com o Canadá e o México.
Sobre o clima, Harris disse que a transição para economias sustentáveis “não está acontecendo rápido o suficiente”.
A ONU prevê uma queda do crescimento econômico dos Estados Unidos de 2,5% em 2019 a 2% em 2020, enquanto espera que a expansão se mantenha estável a 2% na União Europeia, apesar dos riscos de uma desaceleração pelos possíveis efeitos do Brexit.
O relatório prevê que a China crescerá 6,3% em 2019, menos que os 6,6% de 2018, enquanto antecipou uma alta moderada no crescimento de Brasil, Nigéria e Rússia.

Cidade pinta as ruas de azul para tentar amenizar o calor

4846_destaque_20190116093325: Rua da cidade de Tietê

Para enfrentar o calor que tem passado dos 30 graus, a Prefeitura de Tietê resolveu pintar as ruas do município, localizado no interior de São Paulo. A gestão municipal começou a aplicar, sobre o asfalto preto, uma camada de tinta azul ciano. A técnica vem da área de climatologia e é capaz de trazer bons resultados.
“A cor azul ciano reduz a temperatura em 10% e auxilia na economia de energia elétrica e na redução da evaporação, o que torna o ambiente mais fresco para pessoas, plantas e animais”, justifica a Prefeitura. A gestão afirma que o gasto com a tinta será compensado pela possível redução de consumo de energia elétrica pela população.
Para confirmar os efeitos da tinta azul, foram realizados testes com o uso de termômetros digitais. Sobre o asfalto preto, o aparelho chegou a marcar 53 graus, enquanto que no chão azul ficou em torno de 45 graus.
O trabalho começou na semana passada na calçada e na rua em frente à Secretaria de Meio Ambiente, Agricultura e Desenvolvimento Sustentável. A intenção é ampliar a pintura para outras vias, além de pontos de ônibus e telhados de escolas, hospitais e outros prédios públicos.
A prefeitura diz que não há contraindicação para a aplicação da tinta. Ela comentou, ainda, que preferiu não utilizar a de cor branca, capaz de absorver mais calor, porque gera mais luminosidade o que poderia ocasionar transtorno visual.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Planta que a China conseguiu germinar na Lua morre após oito dias

Pouco mais de oito dias. Exatamente, 212 horas. Esse foi o tempo de vida da primeira planta a germinar na Lua, um broto de algodão. A germinação foi considerada um marco na exploração espacial.

Broto de algodão germinando em experimento na Lua
O feito havia sido obtido pela missão chinesa Chang'e-4, uma sonda não tripulada, a primeira a pousar e explorar o lado oculto da Lua, aquele que não pode ser visto do nosso planeta. Como a rotação da Lua é sincronizada com seu movimento de translação ao redor da Terra, esse lado está sempre posicionado de costas para nosso planeta.
A planta havia germinado a partir de sementes levadas pela sonda e estava vivendo em um recipiente especial.
Não foram encontrados só dois micróbios. Os testes sugerem que são mais de 10 mil células bacterianas por milímetro de água.
Jonh Priscu, chefe da expedição na Antártica e professor de ecologia na Universidade de Montana, disse ao Live Science acreditar na existência de outras formas de vida que sejam até maiores do que os micróbios encontrados. No entanto, a pesquisa em campo só será retomada dentro de dois meses. Priscu diz que os diferentes lagos subterrâneos do continente podem estar interligados entre si e que podem abrigar vida, mesmo sendo ambientes hostis.
Mas o broto de algodão não sobreviveu à noite lunar, que dura até duas semanas (no tempo da Terra) e cujas temperaturas podem cair a -170 graus Celsius. Durante esse período noturno, toda a sonda chinesa entra em modo de hibernação, para poupar energia.
Não foi um erro ou um fracasso, pelo contrário, já estava previsto que isso poderia ocorrer. O professor Xie Gengxin, da Universidade Chongqing, que liderou o planejamento do experimento, afirmou a um jornal chinês que sua equipe já havia antecipado que a planta teria uma vida curta.

Fotografia da sonda chinesa Chang'e-4

Outros experimentos

Além de sementes de algodão, a sonda chinesa levou para a Lua sementes de batata e arabidopsis - uma planta da família da mostarda, usada em experimentos de botânica - e ovos de moscas de fruta.
A expectativa era criar um microecossistema, em que as plantas produziriam oxigênio, necessário para as moscas. Essas, por sua vez, produziriam dióxido de carbono, necessário para a fotossíntese.
Durante a noite lunar, era esperado que as temperaturas dentro desse microecossistema caíssem abaixo dos 52 graus Celsius negativos. Nessas condições, os organismos entrariam "em estado de congelação", disse a universidade chinesa, em um comunicado na terça-feira. Já à medida que as temperaturas voltassem a aumentar, no próximo mês, os organismos poderiam se "decompor lentamente".
"Alguns dos resultados (dos experimentos) excederam nossas expectativas", explicou Xie Gengxin para a TV estatal chinesa.

Fotografia da sonda Chang'e-3 - anterior à sonda usada atualmente

Por que isso é importante?

A capacidade de cultivar plantas na Lua é vista como essencial para as missões espaciais tripuladas com longa duração, pois isso significaria que os astronautas poderiam potencialmente cultivar sua própria comida no espaço, reduzindo a necessidade de voltar à Terra para reabastecer. Seria o caso de viagens a Marte, por exemplo, que podem levar até dois anos para chegar até o destino.
BBC News

Vikings pisaram na América antes de Colombo?

No verão de 1960, um casal norueguês, o aventureiro Helge Ingstad e sua esposa, a arquiteta Anne Stine, navegou até um remoto e pequeno vilarejo de pescadores no extremo norte de Terranova, na costa atlântica do Canadá.
 
Gramado no Canadá
"Eles chegaram e perguntaram às pessoas onde havia ruínas. Uma das pessoas com quem conversaram foi George Decker, meu avô...", disse à BBC Loretta Decker, que trabalha para a Parks Canada, entidade que cuida dos parques nacionais e reservas naturais do país, e mora na remota aldeia de pescadores onde tudo aconteceu: L'Anse aux Meadows, ou Caverna das Águas-vivas, em português.
"Meu avô, que era o representante da aldeia, mostrou o que havia em nossos campos. Há um rio que ainda tem salmão, um terraço marinho e uma praia elevada e coberta com grama. É um lindo lugar. E lá você vê o que essencialmente são os contornos das casas.
"Por muitas gerações, a região foi chamada de 'o campo índio' porque as pessoas daqui assumiram que ele tinha pertencido a povos indígenas.
"Mas quando os Ingstad viram esse campo, lembram-se muito do que haviam visto na Groenlândia."

Estátua de Leif Ericson

Foi uma descoberta promissora, pois o que os Ingstad esperavam encontrar eram provas físicas de que os vikings tinham ido da Groenlândia para a América do Norte há mil anos.
Isso significaria que eles teriam sido os primeiros europeus no continente - cerca de 500 anos antes de Cristóvão Colombo.
As ruínas dessas construções poderiam ser a evidência que buscavam, então começaram as escavações.

Um mundo desconhecido

A história de que os vikings cruzaram o Atlântico era antiga.
Aparece nas páginas das Sagas Nórdicas, a antiga coleção escandinava de mitos e lendas, que relata o auge da conquista e exploração viking há mil anos.

Mapa do que teria sido a chegada nórdica na América

De acordo com as sagas, um Viking chamado Leif Erikson liderou uma expedição a partir de uma colônia nórdica na Groenlândia em direção ao oeste. Ele navegou por mares desconhecidos, em busca de terra e recursos para suprir as carências na colônia da Groenlândia.
Erikson teria, segundo as sagas, encontrado uma terra de florestas e pradarias, com riachos cheios de salmão. Por ter encontrado videiras de uvas silvestres, chamou o novo território de Vinlândia.
"Durante muito tempo, os especialistas tentaram encontrar a terra da lenda, armados com instruções de navegação, descrições, mas ninguém a encontrou", diz Decker.
São Paulo — Pesquisadores da Universidade de Montana encontraram vida na Antártica em um ponto considerado inóspito: no fundo de um lago chamado Mercer, que fica bem abaixo da camada de gelo leste do continente. Os micróbios foram encontrados quando uma equipe de cientistas iniciou um projeto, em dezembro passado, para perfurar mil metros de gelo em direção ao lago. O objetivo era analisar a diversidade biológica da região.
O lago não é pequeno. Ele tem mais de 100 quilômetros quadrados, o que equivale a mais de duas vezes o tamanho do distrito de Manhattan, em Nova York.

Mapa feito por Sigurd Stefansson

"Há um mapa muito antigo, que é debatido se é realmente autêntico, chamado de o mapa de Skálholt, mostrando a Promontorium Winlandiae ("promontório ou cabo de Vinlândia") e os Ingstand pensaram que era localizado na península nórdica da ilha de Terra Nova (na costa nordeste da América do Norte) ".
É por isso que os Ingstad foram a L'Anse aux Meadows: estavam em busca da mítica Vinlândia.

O teste de ferro

Apesar de seu entusiasmo, o explorador e a arqueóloga tiveram que lutar contra a descrença da comunidade científica: eles não eram os primeiros a embarcar nessa lenda.
Durante mais de 100 anos, arqueólogos da Finlândia, Dinamarca e Noruega usaram os antigos épicos nórdicos para guiar sua busca pelo povoado perdido de Erikson.
"No começo, os viam com muito ceticismo, críticas e, em geral, com a reação 'de novo a mesma coisa!", Diz Decker.

Helge Ingstad

Mas o que encontraram nas escavações ao longo dos anos mudou tudo isso.
"Alguns dos artefatos encontrados eram claramente nórdicos, como um alfinete de bronze. Também encontraram muitas evidências de madeira que haviam sido esculpidas com ferramentas de ferro. Eles encontraram pinheiro europeu."
"Além disso...os detalhes da forma como as casas foram construídas e organizadas. E havia evidências de produção de ferro e forjamento."
Isso era algo que os nativos, cuja cultura era da Idade da Pedra, nunca fizeram.

E as uvas?

L'Anse aux Meadows foi finalmente a prova de que os vikings haviam chegado à América do Norte.

Uvas silvestres

A descoberta foi anunciada em todo o mundo. Mas era a lendária Vinlândia?
Na época do anúncio, as escavações descobertas em L'Anse aux Meadows foram descritas como "um campo de alojamento". "A própria Vinlândia mesmo é como uma província maior ou departamento - uma extensão de um território que continha diferentes lugares que eles usavam."
Mas então, onde os vikings encontraram as uvas míticas?
Segundo Loretta Decker, há descobertas promissoras em L'Anse aux Meadows que indicam que os vikings encontraram uvas em expedições mais ao sul.
"Encontramos nozes da nogueira branca americana, que significa que os vikings tinham que ter ido para o rio de San Lorenzo, mais ao sul, onde crescem, não apenas essas nogueiras, como também uvas do tipo River Bank Grape ou Frost Grape (Vitis riparia), que amadurecem no mesmo período que as nozes."

Casas vikings encontradas no norte do Canadá

"Se eles encontraram as nozes, encontraram as uvas, o que prova de alguma forma que o que dizem as Sagas é verdade."
Acredita-se que o assentamento viking em L'Anse aux Meadows tenha existido por apenas 20 anos.
Hoje é patrimônio da humanidade e, perto das ruínas, foram feitas reconstruções de casas vikings com madeira e cobertas de grama, há cerca de um milênio.
 

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Fontana di Trevi: Roma encerra disputa milionária com Igreja Católica pelas moedas jogadas por turistas

A disputa entre a prefeita de Roma, Virginia Raggi, e o Vaticano pelos cerca de 1,5 milhão de euros jogados na Fontana di Trevi todos os anos finalmente chegou ao fim.
 
A Fontana di Trevi, en Roma
A fonte é uma das principais atrações turísticas da cidade. É costume entre turistas jogar uma moeda em suas águas e fazer um desejo.
O dinheiro normalmente é recolhido e doado à Cáritas, uma rede de organizações humanitárias da Igreja Católica.
Mas nos últimos tempos a prefeita de Roma queria que o dinheiro fosse investido na infraestutura da cidade – a mudança já havia sido aprovada pelos vereadores municipais quando a Igreja publicou um artigo contundente na imprensa italiana dizendo que a perda atingiria os mais pobres.
A mudança estava prevista para abril, mas muitos italianos foram às redes sociais para pedir que a cidade reconsiderasse sua posição.
Após a repercussão negativa, a polêmica finalmente foi encerrada neste semana com o reconhecimento pela cidade do trabalho da Cáritas – e até uma ampliação dos fundos que a entidade recebe.
 
Fontana di Trevi
 
Raggi se tornou prefeita de Roma em 2016. Pertence ao Movimento 5 Estrellas, corrente política que se afirma "contra a classe política tradicional italiana" e que muitos classificam como populista – o grupo defende uma espécie de democracia direta através da internet.
Desde sua eleição, sua popularidade caiu por não conseguir resolver os problemas de infraestrutura urbana da cidade, que está altamente endividada.
Em outubro do ano passado, milhares de manifestantes tomaram as ruas da cidade para protestar contra problemas como o acúmulo de lixo nas ruas.
 
Detalhe das esculturas de mármore da fonte.

Três moedas em uma fonte

Feita de mármore, a Fontana di Trevi tem quase 300 anos de idade.
A tradição de atirar moeda em suas águas ficou famosa após o sucesso da comédia romântica A Fonte dos Desejos, de 1954.
O filme tinha a música Three Coins in a Fountain (Três Moedas em uma Fonte, em inglês), cantada por Frank Sinatra, que também ficou muito famosa.
Desde então a atração apareceu em dezenas de filmes famosos, inclusive La Dolce Vita (A Doce Vida), de 1960, que tinha a famosa cena em que a atriz sueca Anita Ekberg entrava na água de vestido.
BBC News

China na Lua: país anuncia primeiro nascimento de broto de planta no satélite da história

As sementes levadas para a Lua pela missão chinesa Chang'e-4 germinaram, informou a CNSA, agência espacial chinesa.
 
Foto com zoom da semente brotando embaixo de uma camada protetora
É a primeira vez que qualquer material biológico cresce na Lua, sendo um marco importante para a exploração espacial de longa duração.
A Chang'e 4 é a primeira missão a pousar e explorar o lado oculto da Lua, aquele que não pode ser visto do nosso planeta. Como a rotação da Lua é sincronizada com seu movimento de translação ao redor da Terra, esse lado oculto está sempre posicionado de costas para nosso planeta.
A sonda não-tripulada aterrissou no lado oculto da Lua no dia 3 de janeiro, equipada com instrumentos para analisar a geologia da região.
Já foram cultivadas plantas na Estação Espacial Internacional antes, mas nunca na Lua.
A capacidade de plantar no satélite será fundamental para missões espaciais de longa duração, como uma viagem a Marte, que levaria cerca de dois anos e meio.
Isso significa que os astronautas poderiam colher seus próprios alimentos no espaço, reduzindo a necessidade de voltar à Terra para reabastecer.
 
Rover
 
A sonda chinesa que pousou na Lua transportava sementes de algodão e batata, leveduras e ovos de mosca-das-frutas.
As plantas estão em um recipiente lacrado a bordo da sonda. As culturas vão tentar formar uma "minibiosfera" - um ambiente artificial e autossustentável.
Nesta terça-feira, a imprensa estatal chinesa informou que as sementes de algodão começaram a brotar.
O Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista, tuitou uma imagem da semente germinada, dizendo que ela marca "a conclusão do primeiro experimento biológico da humanidade na Lua".
Para Fred Watson, do Observatório Astronômico da Austrália, esta é "uma boa notícia".
"Isso sugere que pode não haver problemas intransponíveis para os astronautas no futuro ao tentar cultivar suas próprias plantações na Lua em um ambiente controlado", afirmou Watson à BBC.

Pouso da Chang'e-4

"Eu acho que certamente há um grande interesse em usar a Lua como plataforma, principalmente para voos para Marte, porque é relativamente perto da Terra", avalia Watson.
O professor Xie Gengxin, responsável pelo experimento, foi citado no jornal South China Morning Post:
"Nós levamos em consideração a sobrevivência futura no espaço."
"Aprender sobre o crescimento dessas plantas em um ambiente de baixa gravidade nos permitiria estabelecer as bases para a futura criação de uma base espacial", acrescentou Gengxin.
Segundo ele, o algodão pode eventualmente ser usado para roupas, enquanto as batatas podem ser uma fonte de alimento para os astronautas, e a colza para produção de óleo.
A agência de notícias chinesa Xinhua afirmou que as sementes foram "adormecidas", por meio de tecnologia biológica, durante a jornada de 20 dias da Terra à Lua.
Eles só começaram a crescer quando o centro de controle da missão enviou um comando para a sonda regar as sementes.
Ainda de acordo com a Xinhua, a sonda tirou cerca de 170 fotos até agora que foram enviadas de volta à Terra.
Na sexta-feira, o programa chinês de exploração espacial divulgou várias imagens, incluindo fotos panorâmicas do local de pouso, assim como vídeos da aterrissagem.
BBC

sábado, 12 de janeiro de 2019

Novo foguete da SpaceX parece ter saído de um filme de ficção científica




A vida imita a arte – até mesmo fora da Terra. Nesta sexta (11), Elon Musk divulgou no Twitter uma foto do protótipo da nova espaçonave da sua companhia, a SpaceX – um protótipo descaradamente inspirado nos foguetes de desenhos animados e de filmes de ficção científica dos anos 1950.
A nave, chamada Starship, possui 9 metros de largura e está sendo construída em uma base no Texas, nos EUA. Veja abaixo a foto compartilhada por Musk: De acordo com o bilionário, a nave é um protótipo que será usado para testes de pousos e decolagens. A versão final, que fará voos orbitais na Terra e que será usada em missões para a Lua e para Marte , terá janelas.

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Não faltaram comparações para a Starship, cuja estrutura remete aos clássicos foguetes das animações. A imagem acima, por exemplo, foi tirada de um episódio do Pica-Pau. Já a New Scientist, revista britânica de ciência e tecnologia, comparou o protótipo da SpaceX ao foguete de Destino à Lua, um filme de ficção científica dos anos 1950.
Não faltaram comparações para a Starship, cuja estrutura remete aos clássicos foguetes das animações. A imagem acima, por exemplo, foi tirada de um episódio do Pica-Pau. Já a New Scientist, revista britânica de ciência e tecnologia, comparou o protótipo da SpaceX ao foguete de Destino à Lua, um filme de ficção científica dos anos 1950.
Próximo destino: Lua
Atualmente, a SpaceX realiza as suas missões com os foguetes Falcon Heavy e Falcon 9. O projeto da Starship faz parte do plano de evolução da empresa para fazer viagens mais distantes nos próximos anos. Até novembro de 2018, a nova espaçonave se chamava Big Falcon Rocket (BRF).
Vale lembrar que, em setembro do ano passado, Musk anunciou o primeiro passageiro que irá para a Lua com a SpaceX. O empresário japonês Yasaku Maezawa comprou o pacote de viagem mais exótico que existe e irá para o nosso satélite natural em 2023.
À bordo com ele estará um time de artistas, de músicos a arquitetos, que voltarão para a Terra cheios de inspiração. O bilionário nipônico planeja montar uma exposição com as obras que serão feitas após a viagem.
A Starship terá duas vezes o tamanho do Falcon Heavy, que possui 70 metros de altura. O protótipo que está sendo construído no Texas possui aproximadamente 54 metros e sete motores – a versão final terá 31. De acordo com Musk, os testes poderão começar em até 8 semanas, e o objetivo é que um protótipo para realizar voos orbitais esteja pronto em junho.

Extinção: A onda de 1,6 mil metros que pode ter ajudado a dizimar os dinossauros

Em maio de 2018, cientistas documentaram nas Ilhas Campbell, na Nova Zelândia, a maior onda já registrada no hemisfério sul na história moderna.
 
Onda gigante
Ela media 23,8 metros de altura.
Você consegue imaginar uma onda quase 70 vezes maior?
Há 65 milhões de anos, um asteroide de 14 quilômetros de diâmetro atingiu a Terra com consequências catastróficas.
O impacto abriu uma cratera de 180 quilômetros de diâmetro, cujo centro está localizado na atual Península de Yucatán, no México.
Conhecido como asteroide de Chicxulub, nome da cidade mais próxima à cratera, o corpo celeste seria parte de um asteroide muito maior que, após uma colisão no espaço, se dividiu em vários fragmentos.
Entre outras coisas, ele pode ter ajudado a dizimar os dinossauros, que eram os vertebrados terrestres dominantes.

Dinossauro

Agora, pesquisadores do Departamento de Ciências da Terra e Meio Ambiente da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, afirmam que o asteroide também gerou um tsunami, responsável por uma destruição sem precedentes.

Força da água

Segundo a equipe de cientistas, o enorme impacto fez com que o asteroide afundasse a 1,5 mil metros de profundidade nos dez minutos que se seguiram à colisão.
A força um tsunami nunca visto.
Estima-se que a potência dele foi 29 mil vezes maior do que a do terremoto e do subsequente tsunami que matou mais de 200 mil pessoas no Oceano Índico em 2004.
Por meio de uma simulação, os pesquisadores concluíram que o impacto do asteroide Chicxulub gerou uma onda de 1,6 mil metros de altura - quatro vezes maior que o Empire State Building, em Nova York.
Nos primeiros metros, o tsunami chegou a alcançar velocidades superiores a 140 quilômetros por hora, segundo os cientistas.
Essa onda gigante inicial gerou centenas de réplicas menores que percorreram boa parte do planeta em alta velocidade.

Onda no oceano

Nas primeiras 24 horas, os efeitos do impacto do tsunami se estenderam do Golfo do México ao Atlântico.
"O asteroide Chicxulub causou um enorme tsunami, como nunca foi visto na história moderna", afirmou Molly Range, principal pesquisadora do projeto, ao site de notícias científicas Live Science.
"Só no início deste projeto que me dei conta da escala real do tsunami".
Sem dúvida, um divisor de águas para o nosso planeta.
BBC News

O campo magnético da Terra está se comportando de maneira imprevista

Ilustração da terra e de seu campo magnético

Uma movimentação com características inesperadas no magnetismo da Terra está intrigando cientistas do mundo todo e fazendo com que os modelos existentes de descrição do campo magnético precisem ser atualizados.
Por causa de seu núcleo feito de metal líquido, a Terra funciona como um enorme ímã com pólos positivo e negativo. O campo magnético é a uma "camada" de forças ao redor do planeta entre esses dois pólos.
Conhecida como magnetosfera, essa grande camada é extremamente importante para a vida terrestre.
"É o campo magnético que nos protege das partículas que vêm de fora, especialmente do vento solar (que pode ser muito nocivo)", explica o geólogo Ricardo Ferreira Trindade, pesquisador do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (USP).
A maior parte do campo magnético é gerada pela movimentação dos metais líquidos que compõem o centro do planeta. Conforme o fluxo varia, o campo se modifica.
 
Ilustração de como o campo magnético protege a Terra de ventos solares
 
A questão, segundo Trindade, é que nos últimos dez anos ele tem "variado numa velocidade muito maior do que variava antigamente".
O pólo norte muda magnético constantemente de posição, mas sempre dentro de um limite. Embora a direção dessas mudanças seja imprevisível, a velocidade costumava ser constante.
No entanto, nos últimos anos o norte magnético está se movendo do Canadá para a Sibéria em uma velocidade muito maior do que a projetada pelos cientistas.

Modelo de campo

A mudança está forçando os especialistas em geomagnetismo a atualizarem o Modelo Magnético Mundial, espécie de mapa que descreve o campo magnético no espaço e no tempo.
"Ele é criado a partir de um conjunto de observações feitas no mundo inteiro ao longo de 5 anos, a partir dos quais se monta um modelo global que muda no tempo e no espaço, mostrando a variabilidade do campo", explica Trindade. "É uma espécie de mapa 4D."
O modelo é importante porque é a base para centenas de tecnologias de navegação modernas - dos controles de rotas de navios ao Google Maps.
"Ele é fundamental para geolocalização e até para o posicionamento de satélites", afirma o geólogo.

Foto de bússula sobre mapa

A versão mais recente do modelo foi feita em 2015 e deveria durar até 2020, mas a velocidade com o que a magnetosfera tem mudado está forçando os cientistas a atualizarem o modelo antes do previsto.
Além da mudança do pólo, um pulso eletromagnético detectado sob a América do Sul em 2016 gerou uma mudança logo após a atualização do modelo em 2015.
As muitas mudanças imprevistas têm aumentando o número de erros no modelo atual o tempo todo.
Segundo a Nature, pesquisadores do Noaa (centro de administração oceânica e atmosférica), nos EUA, e do Centro de Pesquisa Geológica Britânica perceberam que o modelo estava tão defasado que estava quase excedendo o limite aceitável - e prestes a gerar possíveis erros de navegação.
A nova atualização deverá sair dia 30 de janeiro de 2019, segundo a Nature, uma das revistas científicas mais prestigiadas do mundo.

Segurança espacial

O modelo é essencial também para a segurança espacial.
Como distribuição do campo não é homogênea, onde ele é mais fraco, a proteção que oferece é menor - isso faz que com que essas regiões, principalmente a altíssimas altitudes, sejam um pouco mais vulneráveis a ventos solares.

Ilustração de campo magnético da Terra

"Temos regiões onde ele é maior e outras onde o campo magnético muito baixo. Aqui (na América do Sul) temos uma anomalia grande que faz o campo magnético ser de baixa intensidade", explica Ernesto.
"Equipamentos atmosféricos, satélites e telescópios, principalmente, têm maior probabilidade de sofrerem danos se estiverem sobre essas regiões", explica.

As causas

Os cientistas estão trabalhando para entender por que o campo magnético está se modificando com tanta velocidade.
"O campo é todo variável e muito imprevisível", afirma a geóloga Marcia Ernesto, também pesquisadora do Instituto de Astronomia e Geofísica da Universidade de São Paulo (USP).
A movimentação do pólo norte pode estar ligada um jato de ferro líquido se mexendo sob a superfície da crosta terrestre na região sob o Canadá, segundo um estudo de pesquisadores da Universidade de Leeds publicado na Nature Geoscience em 2017.
Segundo Philip W. Livermore, um dos autores do estudo, esse jato poderia estar enfraquecendo o campo magnético no Canadá, enquanto o da Sibéria se mantém forte, o que estaria "puxando" o norte magnético em direção à Rússia.
O campo é tão variável que o pólo norte e o pólo sul magnéticos já se inverteram muitas vezes desde a formação do planeta.
A sua atual configuração é a mesma há 700 mil anos, mas pode começar a se inverter a qualquer momento. Segundo Ernesto, essa inversão demoraria cerca de mil anos.
"Pode ser que (a aceleração nas mudanças no campo) signifique que ele está caminhando para uma inversão, mas não é certeza. Pode ser que seja apenas uma aceleração momentânea", diz Márcia Ernesto.
BBC Brasil

Como a erosão afeta 60% do litoral brasileiro e deforma centenas de quilômetros de praia

O Brasil tem cerca de 7.500 quilômetros de litoral, entre praias, falésias, dunas, mangues, restingas e muitas outras formações. Mais da metade disso, no entanto, está sendo progressivamente destruída pela erosão ou pelo acúmulo de sedimentos, agravados pela ação humana.
 
Foto da praia de Pititinga, em Natal, onde o avanço do mar diminuiu a faixa de areia e engoliu construções.
Juntos, esses dois problemas - erosão e acúmulo - atingem hoje cerca de 60% do litoral brasileiro, segundo o livro Panorama da Erosão Costeira no Brasil, publicado em novembro pelo Programa de Geologia e Geofísica Marinha, que reúne 27 universidades e instituições de pesquisa, e divulgado pela Fapesp no mês passado.
Isso significa que hoje 4.500 km de litoral são afetados pela erosão. Isso é um aumento de 50% em relação à primeira edição do levantamento, em 2003, quando cerca de 3.000 km do litoral eram afetados.
As regiões mais atingidas são Norte e Nordeste, segundo o geógrafo Dieter Mueher, coordenador do levantamento e pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). "Na verdade, o que piorou mais se deu no Ceará e em Pernambuco", afirma.
Isso é bem visível em locais como Paracuru (CE) - na praia de mesmo nome, as raízes dos coqueiros foram expostas pela ação das ondas e as árvores correm o risco de cair. No município de Fortim (CE), a linha da costa recuou 300 m, e o avanço do mar destruiu estradas, casas e atracadouros.
Nas praias de Pilar e Forno da Cal, em Itamaracá (PE), a erosão diminuiu a faixa de areia e já expôs as rochas sob a praia. No Recife, a praia de Boa Viagem sofre com o problema há décadas, e no município próximo de Paulista dezenas de famílias já perderam casas e comércios.
 
Falésia em Conceição da Barra, no ES
 
Embora concentrado nas regiões Norte e Nordeste, o efeito dramático da erosão é visível no Brasil todo. O problema altera a linha da costa e gera danos econômicos e sociais. Se a erosão for muito grande, a água do mar pode acabar entrando pelos estuários e contaminando o lençol freático, fazendo com que ele se salinize. As mudanças também afetam a vida marinha e de animais como pássaros e tartarugas.
Em São João da Barra (RJ), a erosão destruiu trechos da estrada de ligação entre o Farol de São Thomé e a Praia do Açu, que também teve várias casas e comércios próximos à linha da costa destruídos. O mesmo acontece em Ilha Comprida (SP), onde casas e árvores são derrubadas pelo efeito da erosão e onde, em alguns pontos, a linha da praia recuou até 100 metros.
Em Matinhos (PR), o problema aflige a Praia Brava de Caiobá desde os anos 1970 e nenhuma das obras feitas desde então conseguiu resolvê-lo - pelo contrário, acabaram agravando a situação, com barreiras sendo derrubadas e a praia, deformada.

Ação humana

A erosão é um fenômeno natural, mas que é intensamente agravado pela ação humana, diz Mueher, da Ufes.
O oceanógrafo Michel Mahiques, pesquisador do Instituto de Oceanografia da USP, explica que o processo de variação da linha da costa é algo que normalmente acontece ao longo de milhares de anos, não com a rapidez que se observa atualmente.
"A variação se dá em uma escala de tempo geológica. Quando o clima da Terra varia, o nível do mar sobe, o nível do mar desce", afirma. "Quando o homem atua como um agente que aumenta a temperatura do planeta, ele está acelerando um processo natural."

O canal do Furado com a retenção dos sedimentos a Sul dos guia-correntes e erosão pronunciada a norte

Mas o aquecimento global não é o único fator, segundo os pesquisadores: em escala local, a ocupação da praia e as obras costeiras têm um papel muito maior na deformação da paisagem. "O que afeta mais é a interferência local na paisagem, a ocupação cada vez maior da faixa costeira", diz Mueher.
"As obras costeiras que o homem faz bloqueiam o transporte de sedimentos (pelo vento, pela maré, pelas correntes, por rios) que formam a praia, causando déficit de um lado e a acumulação de outro", explica Michel Mahiques. "O mesmo efeito acontece quando você constrói uma estrada muito perto da costa, quando faz um píer na praia, quando altera a desembocadura de um rio"
"Para o gestor público, o prefeito, empreiteiro, é muito mais fácil culpar o aquecimento global e fingir que suas obras não têm impacto nenhum", afirma Mahiques. "Afinal, o aquecimento global não tem CNPJ. Mas não podemos ter uma postura fatalista. O que os estudos (reunidos no livro) mostram é que é dá para relacionar diretamente a deformação do litoral com a ocupação da linha da costa."
Os primeiros sinais registrados de erosão costeira em Pernambuco, por exemplo, são do início do século 20, quando a ampliação do porto do Recife afetou a orla de Olinda.
Muitas vezes, as próprias obras feitas para tentar conter a erosão em orlas urbanizadas são mal projetadas e acabam provocando deformação em outras áreas. "Fica tudo na mão do município, onde geralmente as prefeituras não têm condições, dinheiro e equipe técnica qualificada", diz Mueher, da Ufes.
Foi o que aconteceu em São Vicente, no litoral de SP, segundo Michel Mahiques, da USP. "Eles começaram fazendo uma série de obras de contenção, mas não houve uma avaliação correta do impacto e foram obrigados a fazer cada vez mais."
O acúmulo de areia também pode gerar danos. Em Iguape, no sul do Estado de São Paulo, foi aberto um canal chamado Valo Grande, que desvio o curso de um rio. "O sedimento do rio foi parar na cidade de Iguape e assoreou o porto", explica o oceanógrafo.

O que pode ser feito

Como o que mais causa deformação nas praias é a ocupação e a construção de estruturas na orla, a solução mais efetiva para o problema, segundo os pesquisadores, é interferir o mínimo possível na paisagem, ou seja, evitar ao máximo a ocupação das áreas próximas à praia.
"É preciso criar uma zona de recuo para garantir a não erosão", explica o professor Miguel Mahiques. "É preciso manter uma distância da linha da costa. Mas muitas vezes isso é feito de maneira errada. Em áreas que têm dunas, tem gente que retira as dunas. Não é pra retirar, elas são uma proteção."
"Nas áreas urbanizadas em que o dano é irreversível, o que se faz são medidas mitigadoras, como procurar areia para alimentar a praia."
Segundo os analistas, é preciso uma mudança de cultura e mais consciência ambiental inclusive dos proprietários. "Todo mundo quer ter o pé na areia, e casas e hotéis são construídos muito próximos ao mar. Isso é uma garantia de 100% de ter problema daqui a 10, 20 anos", diz Mahiques.
BBC Brasil