sexta-feira, 29 de março de 2019

Ouvir´música pode ser bom remédio contra dor e inflamações



A maioria dos camundongos não ouve música clássica, mas aqueles que escutam tendem a sofrer significativamente menos de dor e inflamação do que aqueles que não escutam, de acordo com um novo estudo publicado na revista Frontiers in Neurology. Com base nas descobertas, espera-se que surjam novas linhas de tratamento da dor e seja possível reduzir o uso de medicamentos.
Durante 21 dias, pesquisadores da Universidade de Utah (EUA) tocaram três composições de Mozart por 3 horas para ratos com patas feridas – seja como resultado de um corte ou inflamação. Os roedores que escutaram o austríaco aguentaram o calor e a pressão de suas patas por 77% mais tempo do que aqueles que não ouviram a música.
A equipe também descobriu que a música aumentou significativamente a eficácia de uma série de medicamentos. Por exemplo, o tratamento com ibuprofeno foi potencializado por Mozart, reduzindo 93% mais o inchaço do que o ibuprofeno sozinho. Já o canabidiol foi 21% mais eficaz quando combinado com a música.
O autor do estudo, Grzegorz Bulaj, explicou que, usando a música para melhorar a eficácia dos analgésicos, pode ser possível tratar as dores usando menores doses e reduzindo assim a toxicidade e os efeitos adversos gerados por esses medicamentos. Nem toda música é adequada para esse propósito. Mozart foi escolhido porque a repetição rítmica de suas composições já havia evidenciado um efeito calmante sobre o sistema nervoso.
Os pesquisadores ainda não conseguem definir exatamente como a música ajuda a tratar a dor, mas pesquisas anteriores mostraram que sons melodiosos diminuem hormônios do estresse, como o cortisol, que estão ligados à inflamação. Também já tinha sido mostrado que a música melhora a regulação de proteínas pró-inflamatórias, chamadas citocinas, e que auxilia o desenvolvimento de novos neurônios no cérebro.
Terra.com

quinta-feira, 28 de março de 2019

ONU informa sobre novos recordes de temperatura nos oceanos

Resultado de imagem para fotos recordes de temperaturas nos oceanos
 
Os oceanos atingiram recordes de temperatura em 2018, alertou nesta quinta-feira a ONU, que teme os riscos à vida devido à mudança climática.
A ONU indicou em fevereiro que o período 2015-2018 foi o mais quente desde o início dos registros meteorológicos.
No relatório divulgado nesta quinta-feira sobre o estado do clima no mundo, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) forneceu detalhes sobre a proliferação de "manifestações físicas" das mudanças climáticas, tais como eventos climáticos extremos, e forneceu detalhes de seu impacto socioeconômico.
Segundo a OMM, o conteúdo térmico dos oceanos atingiu novos níveis em 2018 entre 0 e 700 m de profundidade (registros que datam de 1955) e entre 0 e 2000 m (registros que datam de 2005), "pulverizando os recordes 2017".
A subida do nível do mar continuou "a um ritmo acelerado", atingindo um recorde, de acordo com a OMM.
Esta aceleração do aumento do nível médio do mar é especialmente causada pelo "aumento da taxa de perda de massa glaciar dos inlandsis" (geleiras permanentes e calotas polares).
A extensão do gelo do Ártico foi menor do que o normal ao longo de 2018, mostrando recordes de queda em janeiro e fevereiro. E até o final de 2018, a extensão do gelo marinho, em média diária, estava próxima do menor nível já observado.
Os dados divulgados são muito preocupantes. Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registrados, e a temperatura média na superfície do globo em 2018 foi superior em 1°C os valores pré-industriais", ressaltou o secretário-geral da ONU, António Guterres, na introdução do relatório.
"Não há tempo para hesitação", acrescentou.
De acordo com o relatório, em 2018, a maioria dos perigos naturais, dos quais cerca de 62 milhões de pessoas foram vítimas, estiveram relacionados a condições climáticas extremas. Como no passado, as inundações afetaram mais pessoas, atingindo a cifra de 35 milhões.
Além disso, mais de 1.600 mortes estiveram relacionadas às ondas de intenso calor e incêndios florestais que afetaram a Europa, Japão e Estados Unidos, e os danos materiais se aproximam dos 24 bilhões de dólares nesse último país.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Escola para a vida: como deve ser o ensino no século 21?

 
Mais do que alunos prontos para gabaritar provas e destacar-se em rankings, que cidadãos queremos formar? Os tempos mudaram, a neurociência aponta os caminhos da aprendizagem e o ensino precisa ser repensado para fazer o mundo melhor.
 Para educar as crianças de qualquer geração, é preciso mirar o mundo em que elas viverão quando forem jovens e adultos produtivos. Diante das intensas e profundas transformações vividas nas últimas décadas, entretanto, fica bem difícil imaginar qual será a realidade de 2040 ou 2050. Para se ter uma medida das mudanças, cerca de 85% das profissões de 2030 ainda nem foram inventadas, segundo estudo do Instituto para o Futuro (IFTF). Apenas uma coisa fica clara: a realidade presente e do futuro, mesmo próximo, já não tem nada a ver com a do século passado. Apesar dessa certeza incontestável, as escolas ainda continuam seguindo a mesma lógica de ensino e passando os mesmos conteúdos de, pelo menos, 50 anos atrás.
“A educação básica é feita para preparar as pessoas para a vida e, atualmente, ela prepara para uma vida que não existe mais. É como querer instalar um aplicativo moderno num celular velhinho; ele trava. O sistema educacional hoje está travado”, resume Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare, dedicado a contribuir para que a educação faça mais sentido aos estudantes. Ela ressalta que a única coisa do século 21 que tem na escola, hoje, são os próprios alunos. E que, além de pensar no mercado de trabalho, é preciso preparar as pessoinhas em formação para construir um mundo melhor. “Precisamos instrumentalizá-los para que sejam capazes de fazer transformações positivas no seu entorno.”
 
 
Nesse ambiente tão incerto da atualidade, o desenvolvimento do intelecto e o acúmulo de conhecimento – focos principais do ensino convencional – vão perdendo a relevância, já que essas áreas são cada vez mais dominadas pelas máquinas. Para poder encarar os desafios e se adaptar às mudanças, cabe aos seres humanos potencializar o que há de mais humano em si mesmos: criatividade, autoconhecimento, autonomia, pensamento crítico, capacidade de resolver problemas, de ter iniciativa, flexibilidade, empatia, entre outras coisas mais.
Apesar dessas constatações, as instituições de ensino de hoje – sejam­ elas públicas ou particulares – mais se assemelham a uma linha de montagem de estudantes para obterem boas notas no boletim ou em exames de ingresso nas faculdades. Sendo assim, sobra pouco espaço­ ou quase nenhum tempo para se dedicar a desenvolver qualquer uma dessas “competências”, como estão sendo chamados as habilidades pessoais que prometem fazer (e já fazem) uma diferença positiva na vida­ das pessoas.
Mas como ensinar isso na escola? Essa é a resposta que o mundo inteiro busca, mesmo os países com ótimos resultados no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Esse sistema que compara o desempenho escolar de alunos de mais de 80 nacionalidades se resume a provas de matemática, ciências e leitura. Uma análise bem restrita diante da proposta de “educação integral”, que trabalha, além do aspecto intelectual, o social, o emocional, o cultural e o físico ao mesmo tempo. E que aos poucos vai se tornando um consenso mundial da direção a ser seguida pelas escolas para entrarem, de fato, no século.

Dar a mão à palmatória

Para o educador e pedagogo espanhol Antoni Zabala, referência mundial na área (leia entrevista aqui), o conteúdo do que é ensinado deve mudar radicalmente. “Seguimos atados a conteúdos históricos e outros pré-históricos. As matérias tradicionais morreram ou deveriam morrer, necessitamos de outros conteúdos de aprendizagem.” A afirmação, em geral, faz muita gente arregalar os olhos. Diminuir o volume teórico das aulas parece estar atrelado à queda da qualidade de ensino. Mas Zabala não ameniza seu parecer e sugere uma reflexão: “Você gostaria de ir a um dentista que usa métodos de 40 anos atrás? Temos ou não temos que mudar? Temos que continuar ensinando o mesmo da mesma maneira?”
Ele conta que, para melhorar o que escreve, não sabe usar a morfossintaxe que aprendeu na escola, embora tirasse sempre boas notas no tema. Isso porque a matéria foi ensinada para que ele pudesse fazer análise sintática das orações, mas não para melhorar um texto. “O objetivo do estudo como é hoje é errado: se ensina matemática, português e química, mas não para a vida. Embora para entender a vida seja necessário aprender matemática, português e química.”
Um dos responsáveis pela transformação curricular do ensino espanhol no período pós-Franco – reforma que ainda não conseguiu sair de fato do papel –, Zabala enfatiza que o mundo hoje exige mais capacidades do que conhecimentos teóricos isolados da realidade das pessoas. Assim como não é possível ser competente ou capaz sem conhecimento, este não serve de nada, por si só, se não puder ser usado para a compreensão e intervenção nos problemas da vida real, seja nos âmbitos pessoal, interpessoal, social ou profissional.
 

“Se perguntar aos empresários do mundo inteiro que características querem nos seus funcionários, a resposta é que fundamentalmente precisam de pessoas que saibam aprender a aprender, porque vamos ter sempre mudanças. Pessoas que saibam resolver problemas, trabalhar em equipe, que sejam solidárias e generosas”, argumenta. Como se aprende essas coisas? Na visão dele, só na prática é possível. “A dinâmica das aulas deve levar os alunos a fazer coisas dentro de sua individualidade”, afirma.
 
Zabala aponta que, com os avanços científicos em neurociência e comportamento dos últimos anos sobre como as pessoas aprendem, é possível deduzir novas formas de ensinar. Construtivismo é o nome que se dá aos estudos que procuram entender como se estrutura o conhecimento e, como o nome já sugere, segue a lógica de uma construção. “O construtivismo diz que devemos partir do conhecimento prévio dos alunos. Quando uma pessoa quer construir uma casa, a fundação não é a mesma para um terreno rochoso e para um arenoso. Portanto, devemos construir de acordo com o terreno”, exemplifica.
Dessa lógica da construção também surge a ideia de trabalhar as aulas por meio de projetos multidisciplinares. A proposta é permitir que os alunos escolham trabalhos práticos para desenvolver sobre temas de seu interesse. Por meio deles, os professores passarão os conceitos teóricos antes transmitidos de forma desconexa e teórica em intermináveis e maçantes aulas expositivas. Algo muito próximo de ir ao dentista sem medo e sem dor, para manter a comparação feita por Zabala.
Para se chegar a um novo sistema de ensino mais contemporâneo, é preciso também muita desconstrução de velhos conceitos, como carteiras enfileiradas, estudantes sentados e calados por horas, sinais sonoros marcando início e fim de atividades, séries definidas por idade, lições padronizadas por séries e relações hierarquizadas e autoritárias. A diversidade nos grupos de projetos – reunindo alunos de diferentes idades e diferentes níveis de aprendizado – vem substituir as tradicionais turmas de classe e costuma promover uma troca maior e um desenvolvimento mais personalizado de cada um.
 
 
“Não existe mais aluno de primeiro, segundo ou terceiro ano – existem João, Pedro, Maria, Teresa. Existem alunos, mas não grupos de alunos. Cada um é diferente, tem suas habilidades, talentos, valores, família, experiência distintas”, afirma Zabala. Para ele, o problema da forma de ensinar não está tanto na introdução das tecnologias, que são um meio eficaz de oferecer a cada um os conhecimentos mais apropriados a suas características, adequados ao seu ritmo e estilo. A questão maior é a resistência de boa parte do professorado.
Nessa mudança profunda de estímulo pedagógico, baseado em práticas e vivências, os alunos se tornam protagonistas do aprendizado, precisam ser ouvidos, podendo e devendo ser cocriadores das soluções. Ao professor já não cabe mais transmitir conhecimento; ele assume um papel de mentor, que interage, motiva, direciona e apoia o processo de descoberta dos estudantes.
 
“Não estamos pedindo ao educador nada diferente do que todas as profissões tiveram que fazer, que foi se reinventar a partir do aparecimento das tecnologias, das novas demandas, dos novos cenários”, argumenta Anna Penido. A diretora do Instituto Inspirare considera que o professor ainda é insubstituível, e provavelmente continuará a ser. Mas apenas se resgatado o papel do educador como alguém que pode transformar a vida do aluno é que a profissão ganhará valorização social. A recompensa financeira deve vir acompanhada.

Ponto de partida

O Brasil já iniciou de alguma forma o processo de inovação do ensino por meio do currículo, a grande bússola capaz de puxar a mudança. Ele determina os alunos que o país quer formar e, a partir dele, se definem infraestrutura de escola, formação de professor e práticas pedagógicas para se construir uma escola diferente. Mas, assim como na Espanha, ainda é preciso sair do papel.
Anna explica que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem um capítulo introdutório muito contemporâneo, apontando que a orientação para a educação básica é a promoção do desenvolvimento integral, trabalhando a multidimensionalidade do estudante por meio de competências gerais que são realmente o estado da arte no que hoje é a visão mundial desse assunto.
 
 
Mas as instituições escolares ainda têm dificuldade de trazer as competências gerais para o trabalho das disciplinas convencionais de português, matemática, ciências humanas, da natureza, etc. “Não sabemos ainda como trabalhar empatia, criatividade, cultura digital como algo basilar. Porque o que fizemos até agora nesse sentido foi como algo complementar. Então, ainda temos essa dificuldade de propor o novo.”
A BNCC do ensino infantil e fundamental já está homologada e sendo trabalhada para aplicação nas escolas. Mas a BNCC do ensino médio, que ainda não foi aprovada nem homologada, propõe mudanças para além daquele capítulo introdutório e ainda gera polêmica. “Imposta por meio de uma medida provisória, a polêmica da BNCC às vezes está mais no atropelo do processo do que no conteúdo. Mas pior seria se o país não estivesse discutindo essas questões. Temos que falar sobre isso”, afirma.
Mas as instituições escolares ainda têm dificuldade de trazer as competências gerais para o trabalho das disciplinas convencionais de português, matemática, ciências humanas, da natureza, etc. “Não sabemos ainda como trabalhar empatia, criatividade, cultura digital como algo basilar. Porque o que fizemos até agora nesse sentido foi como algo complementar. Então, ainda temos essa dificuldade de propor o novo.”
A BNCC do ensino infantil e fundamental já está homologada e sendo trabalhada para aplicação nas escolas. Mas a BNCC do ensino médio, que ainda não foi aprovada nem homologada, propõe mudanças para além daquele capítulo introdutório e ainda gera polêmica. “Imposta por meio de uma medida provisória, a polêmica da BNCC às vezes está mais no atropelo do processo do que no conteúdo. Mas pior seria se o país não estivesse discutindo essas questões. Temos que falar sobre isso”, afirma.
Não se justifica mais querer encontrar razões para não fazer essa transição, por mais drástica que pareça, porque o processo educacional já não pode mais ficar parado no tempo. As limitações das avaliações, da burocracia e da falta de recursos são dificultadores, mas não podem ser impeditivos. “As taxas crescentes de depressão e até de suicídios entre crianças e jovens, no Brasil e no mundo, são um fenômeno da inadequação e inadaptação à sociedade como um todo, e à escola em particular”, afirma Anna. Para ela, os níveis de angústia, ansiedade e infelicidade entre os estudantes estão levando as famílias – que na maior parte pensam com a cabeça do século 20 – a refletir se querem isso mesmo para seus filhos. Quando pais se unem a educadores e governos, a transformação do sistema de ensino se torna ainda mais consistente e possível.
 
Inovação no DNA
 
 
Com duas unidades abertas no ano passado, em Ribeirão Preto (SP) e Salvador (BA), e uma este ano, em São Paulo, capital, a Concept nasceu inovando. Trouxe de países e instituições de referência as bases para um ensino que pretende inspirar, inclusive, as outras 44 escolas do grupo SEB.
O currículo acadêmico se combina com um currículo socioemocional, que envolve atividades com ONGs locais e internacionais e metodologias como as rotinas de pensamento e os hábitos da mente. Persistência, entendimento com empatia, visão do problema com curiosidade (e não como obstáculo) e o controle da impulsividade são algumas das questões focadas diariamente. “Principalmente por estar em situação privilegiada, nossas crianças precisam entender que não vivem numa bolha e têm de devolver para a sociedade”, diz Priscila Torres, diretora da unidade paulistana, que cobra mensalidades em torno de R$ 6 mil.
Tudo é trabalhado por meio de projetos. Temas de geografia, história, moral e ética, por exemplo, são integrados a questões amplas, como “Por que acontece a guerra em um mundo que quer a paz?”. “A criança deve entender a razão de aprender aquele tópico para se manter engajada”, afirma Priscila.
Evidenciando que o aluno protagoniza esse processo, as reuniões de pais e mestres são lideradas pelos pequenos, que usam um portfólio digital para apresentar suas conquistas e dificuldades dentro das metas do seu ciclo de aprendizagem.
 
Quando o aluno faz a escola
 
 
Na Escola Manuel Bandeira, da prefeitura de Guarulhos (Grande São Paulo), democracia se aprende desde cedo. Isso significa incluir alunos da educação infantil e do fundamental 1 no processo de decisão sobre como devem ser as aulas, o investimento de dinheiro, o recreio, as refeições ou as respostas à indisciplina. Desde 2013, representantes de classe participam de um “conselhinho”, que avalia propostas saídas das rodas de conversa em sala de aula. Uma vez aprovadas, essas sugestões são votadas por todos os alunos.
Mas para se chegar a esse ponto, os professores tiveram que rever certos conceitos que aprenderam durante sua formação. “Até o professor levanta a mão em sala e espera sua vez para falar. As crianças escolhem o que querem estudar, e dentro disso a gente trabalha todos os eixos dos saberes (linguagem oral e escrita, matemática, natureza e sociedade). O bom é que você não precisa falar para o aluno que ele precisa ficar fazendo lição e se interessar mais.” Os estudantes desenvolvem projetos de acordo com seus interesses. Toda essa autonomia gera mais engajamento e aprendizagem. “Fica mais gostoso aprender assim, porque não tem aquela aula chata que você não vê a hora de acabar”, diz Mariana, do quinto ano.

segunda-feira, 25 de março de 2019

Estamos perto de construir bases permanentes na Lua?

Em 1975, três anos após o último pouso de uma missão Apollo na Lua, a série Space: 1999 foi ao ar pela primeira vez na televisão britânica. A história começa com uma explosão nuclear que tira o satélite de sua órbita e leva uma colônia lunar de mais de 300 pessoas em uma viagem pelo espaço.
 
Ilustração da Lua com a Terra ao fundo
O programa obviamente deixou um jovem Elon Musk impressionado, porque, quando o fundador da empresa SpaceX revelou em agosto de 2017 seus planos de criar uma colônia na Lua, ele a batizou de Moonbase Alpha, o nome da base de Space: 1999. "Era um programa ruim", Musk tuitou. "Mas eu adorava."
A SpaceX não está sozinha em sua intenção de levar humanos de volta à Lua. A Administração Espacial Nacional da China, a agência estatal do país, anunciou os próximos estágios de suas bem-sucedidas missões de exploração lunar Chang'e - pouco depois de a Chang'e 4 se tornar a primeira espaçonave a fazer um pouso suave no lado oculto da Lua.
As Chang'e 5 e 6 serão missões de teste de viagens de retorno enquanto a Chang'e 7 fará um levantamento do polo sul da Lua, uma região de especial interesse para a colonização humana, porque ali existe água congelada.
"Esperamos que a Chang'e 8 ajude a testar algumas tecnologias e faça algumas explorações para a construção de uma base lunar a ser compartilhada por vários países", disse em janeiro o vice-diretor da agência chinesa, Wu Yanhua.
A China não está sozinha nessa ambição. Em todo o mundo, 50 anos após os primeiros desembarques da Lua, os aspectos práticos da construção de uma base lunar estão ganhando corpo. A ironia é que, enquanto apenas os Estados Unidos deixaram pegadas na Lua, os americanos agora estão atrasados.
O país não revelou planos para uma base lunar até agosto de 2018. O foco principal da Nasa até então era Marte. Enquanto isso, a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) estava um passo à frente.

Os planos da ESA para uma 'vila na Lua'

A ESA anunciou em 2016 seus planos para uma base lunar. Os planos capitaneados por seu novo diretor-geral, Jan Woerner, preveem criar uma "vila lunar" a ser habitada por uma população diversificada - de cientistas a artistas - e usada por diferentes organizações públicas e privadas, seja para pesquisa, turismo ou prospecção geológica de minerais escassos na Terra.
O assessor científico da ESA, Aidan Cowley, conta ter embarcado na ideia de Woerner porque havia sido um dos primeiros a trabalhar com tecnologias lunares no Centro Europeu de Astronautas da agência, em Colônia, na Alemanha.
Ele diz que, no começo, quando falava de uma base na Lua, "todos me olhavam como se tivesse uma segunda cabeça". "Então, para mim, foi muito gratificante ver o aumento de interesse e esse foco na Lua. Jan Woerner vislumbrou o futuro."

Ilustração mostra astronautas na Lua

Ao contrário da Nasa, que tem uma política de não trabalhar com a China em missões espaciais, a ESA colabora com a agência espacial chinesa. "No ano passado, os astronautas da ESA Matthais Maurer e Samantha Cristoforretti participaram com colegas chineses de treinos de resgate e sobrevivência no mar", diz Cowley.
A Nasa pretende levar astronautas à superfície lunar até 2030 e planeja uma plataforma orbital lunar chamada Gateway. Empresas privadas também estão indo para lá. A Blue Origin desenvolve em parceria com as companhias OHB e MT Aerospace, por exemplo, uma espaçonave de carga tendo em vista um pouso na Lua.
Mas, qualquer que seja a organização que chegue primeiro, a principal prioridade será a sobrevivência. O maior tempo que os humanos passaram na Lua até agora foi de apenas três dias. Para estadias mais longas, não é o mais acolhedor dos destinos.

Os desafios para a sobrevivência humana na Lua

A Lua tem temperaturas que variam entre 127ºC e -173ºC. Há ainda a radiação cósmica e a baixa gravidade, que é de um sexto da existente da Terra.
Um dia lunar equivale a cerca de 29 dias terrestres, o que significa duas semanas de luz do dia seguidas por duas semanas de escuridão - um problema para equipamentos movidos à energia solar. Qualquer nova tecnologia para um posto avançado lunar deve, portanto, funcionar sob essas condições.
Com esse objetivo em mente, várias organizações - incluindo Blue Origin, Airbus Defence, SpaceX e ESA - ajudaram recentemente a criar uma organização sem fins lucrativos chamada Corrida à Lua.
Trata-se de uma competição global para incentivar empresas a desenvolver tecnologias em áreas como manufatura, produção de energia, recursos (como encher uma garrafa com água lunar) e biologia (para uma estufa na Lua). Será lançada oficialmente em outubro de 2019 no Congresso Internacional de Astronáutica.
"Vamos divulgar as diretrizes e regras no próximo mês", diz Pierre-Alexis Joumel, engenheiro espacial da Airbus e o cofundador da iniciativa. "A competição durará cinco anos. Queremos levar as melhores ideias para a superfície da Lua."
Os protótipos selecionados para testes viajarão a bordo de uma missão lunar realizada por alguma agência espacial ainda a ser definida.

Como construir uma base no espaço

Apesar de as imagens conceituais das primeiras bases lunares serem bastante chamativas, a realidade será mais básica - e cinza.
Viajar para a Lua é caro. Quanto mais pesada for a carga útil, mais combustível será necessário e maior será o custo. Por isso, faz sentido usar os recursos da própria Lua para construir um local habitável.
É possível, por exemplo, usar canais e túneis de lava, formados no passado vulcânico da Lua, como abrigos com acesso ao gelo sob a superfície. Um plano mais imediato é construir usando o regolito lunar, uma areia basáltica escura semelhante à areia vulcânica da Terra.

Ilustração mostra astronautas com bandeira da China na Lua

Matthias Sperl, professor da Universidade de Colônia, trabalha com a Agência Espacial Alemã (DLR, na sigla em alemão), usando pó vulcânico para fazer tijolos.
O material é solidificado pela exposição à luz solar concentrada ou por meio de lasers. Ele usou impressoras 3D para construir tijolos de formas diferentes para ver qual funciona melhor. "O que podemos criar com as técnicas e métodos atuais são elementos de construção interligados", disse Sperl.
Esses tijolos permitem "fazer algo como um iglu, então, é algo que resiste à pressão adicional que vem de cima". Esta pressão seria de uma camada de mais ou menos um metro de regolito solto, para oferecer uma proteção natural contra a radiação.
"Seria necessário levar uma lente de um metro quadrado ou mais para captar a luz solar e fazer os tijolos", diz Sperl. "Depois, um astronauta ou um robô juntariam as peças para construir um assentamento."
Mas fazer essa estrutura seria um processo lento. "Criar um tijolo leva cerca de cinco horas, e você precisa de 10 mil tijolos para fazer um iglu. Vai demorar meses", afirma Sperl.
Esse tempo pode ser reduzido se mais lentes estiverem em operação e a construção for feita por robôs, tornando o plano viável. "O regolito lunar pode ser usado para fazer algo tão forte quanto concreto", diz Sperl. "As tecnologias atuais conferem apenas um quinto desta força, por isso é necessário mais investimento."
O próximo estágio já está em desenvolvimento. Começará no final deste ano a construção de uma grande instalação da ESA para ajudar a desenvolver tecnologias e no preparo para habitar a Lua.

A Lua tem mais recursos que podem ser aproveitados

Como evidências da existência de gelo foram detectadas nos polos lunares e finalmente confirmadas pela Nasa em agosto do ano passado, é provável que qualquer base lunar seja construída nestes locais.
Não é coincidência que a missão Chang'e 4 esteja coletando informações na bacia Aitken, no polo sul. O gelo pode ser encontrado na sua superfície, em áreas que ficam permanentemente sob a sombra em crateras, e abaixo da terra.
O oxigênio existente no próprio regolito lunar também poderia ser extraído e usado para se respirar. A fonte mais provável é a ilmenita (FeTiO3) que, quando combinada com o hidrogênio a temperaturas de cerca de 1.000ºC, produz vapor de água, que pode então ser separado em hidrogênio e oxigênio.
Os astronautas também precisarão levar suprimentos de comida e bebida. A Chang'e 4 causou empolgação ao germinar uma semente na Lua, mas produzir alimentos de forma sustentável no espaço não é uma ideia nova.

Imagem da sonda Chang'e 4 na Lua

Tudo começou em 1982, quando astronautas soviéticos cultivaram Arabidopsis thaliana, um membro da família das mostardas, na estação espacial Salyut 7.
Em 2010, a Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, desenvolveu um protótipo de estufa lunar - um sistema hidropônico que usa um tubo coberto por uma membrana, lâmpadas de vapor de sódio e o dióxido de carbono da respiração e a urina dos astronautas. Cabos de fibra ótica fornecem luz solar.
Novas tecnologias energéticas serão fundamentais para se viver na Lua. As células de combustível na Terra exigem uma reação química entre hidrogênio e oxigênio (geralmente do ar) para produzir eletricidade, com a água como subproduto. Ainda que não haja atmosfera na Lua, estes ingredientes estão lá.
"Você poderia separar os elementos da água que há na Lua e, durante a noite, recombiná-los para produzir eletricidade", diz Cowley, que está desenvolvendo estas novas tecnologias. "Durante o dia, temos muita energia solar, provavelmente mais do que o necessário para dividir a água em hidrogênio e oxigênio. É uma ferramenta única que podemos usar na Lua para sustentar uma missão de longa duração."
Há também o potencial de armazenamento de energia térmica usando um processo semelhante ao de bombas de calor. "Na Lua, como não há vento, o calor do Sol permanece no regolito", diz Cowley. "Poderíamos usar uma lente ou espelho para focar a luz solar no solo e usar este recurso para manter uma base aquecida ou gerar eletricidade."
Uma vez que estas tecnologias estejam aperfeiçoadas e testadas para garantir que funcionam sob condições lunares, os astronautas poderão construir uma base. E isso acontecerá mais cedo do que você pensa.
BBC

sexta-feira, 22 de março de 2019

Sonda Juno mostra beleza de Júpiter com riqueza de detalhes em nova fotografia

Lançada em 2011 e chegando a seu destino final — o planeta Júpiter — em 2016, a sonda Juno, da NASA, já nos enviou várias imagens deslumbrantes do gigante gasoso, e continua mostrando que Júpiter é ainda mais belo do que sabíamos.
Nesta semana, a agência espacial dos Estados Unidos nos deixou boquiabertos mais uma vez ao divulgar uma imagem recente registrada com a JunoCam, a câmera de alta resolução instalada na Juno. Na foto, vemos a região do planeta onde fica a Grande Mancha Vermelha, que é uma tempestade gigantesca que acontece no hemisfério sul de Júpiter, e podemos ver os desenhos da atmosfera joviana com uma riqueza de detalhes incrível.
 
Incrível (Foto: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Kevin M. Gill)
 
A imagem foi tirada no dia 12 de fevereiro deste ano, e é resultado da junção de 3 fotos individuais que posteriormente foram coloridas, respeitando as cores verdadeiras do planeta, e reunidas para montar uma única foto em alta resolução. No momento dos cliques, a Juno estava entre 26 mil e 93 mil quilômetros acima da atmosfera do planeta.
Em comunicado oficial, a NASA revelou que o responsável pela criação da imagem final, usando imagens originais da Juno, foi o cientista cidadão Kevin M. Grill. Todas as imagens cruas registradas pela JunoCam ficam disponíveis no site da missão, e qualquer pessoa que tiver habilidades de processamento de imagens pode não somente baixar os registros para fazer seus próprios tratamentos, como também enviar o resultado final à NASA — se a imagem chamar a atenção da agência, ela pode ser divulgada ao mundo como aconteceu com esta bela imagem de Júpiter feita por Kevin M. Grill.
 

segunda-feira, 18 de março de 2019

Grande asteróide passará próximo da Terra, distância é menor que a da Lua

Wikimedia
 
Um asteroide de tamanho raro vai passar perto da Terra na próxima semana. Calcula-se que a rocha tenha entre 15 e 39 metros de extensão. Apesar de grande, o fenômeno não deve causar preocupação.O asteroide, chamado de 2019 EA2, foi detectado no início de março e sua velocidade é de 5 km por segundo, o que é tida como lenta para os padrões já analisados, segundo informações do site Cnet.
A previsão é de que ele passe "por aqui" no dia 22 de março a uma distância segura de aproximadamente 303 mil km, de acordo com dados da Nasa, agência espacial norte-americana.Para se ter uma ideia, a distância total da Terra para a Lua é de cerca de 384 mil km. O que mostra que a rocha espacial vai passar a uma distância mais próxima daqui do que a da Lua.Por ser grande, os pesquisadores conseguirão avistar o asteroide mais facilmente, o que pode contribuir com os seus estudos.
 Outro "gigante"Um outro grande asteroide também deve "rondar" a Terra alguns dias antes.Chamado de 2019 CD5, a rocha espacial tem entre 110 e 240 metros de extensão. Apesar de ser ainda maior, o asteroide vai passar bem mais longe da Terra. Podemos respirar aliviados.Caso um desses asteroides colidissem com o nosso planeta, o impacto seria grande.
Em 2013, um meteorito "explodiu" em uma região russa e deixou centenas de feridos. A rocha tinha 10 toneladas e se chocou com a atmosfera da Terra a uma velocidade de pelo menos 54 mil km por hora.
UOL
 

Explosão de meteoro sobre o Pacífico liberou energia equivalente a dez bombas de Hiroshima

Uma grande explosão de um meteoro foi detectada na atmosfera da Terra em dezembro, segundo a agência espacial americana, a Nasa.
 
Ilustração de meteoro caindo na Terra 
 
Foi o segundo maior incidente do tipo nos últimos 30 anos, e o maior desde o ocorrido em Chelyabinsk, na Rússia, há seis anos. Mas a explosão passou praticamente despercebida, porque se deu sobre o Mar de Bering, no extremo norte do oceano Pacífico.
A explosão de dezembro liberou uma quantidade de energia equivalente a dez vezes a explosão da bomba atômica lançada pelos EUA sobre Hiroshima, no Japão, em 1945.
Lindley Johnson, chefe do departamento de defesa planetária da Nasa disse à BBC News que a queda de um meteoro tão grande na Terra é algo que ocorre duas ou três vezes a cada cem anos.

O que se sabe até agora?

Em 18 de dezembro, por volta do meio-dia no horário local, um asteróide entrou na atmosfera terrestre a uma velocidade de 32 km/s, em uma trajetória quase vertical, com apenas sete graus de inclinação.
Com vários metros de largura, o meteoro explodiu a 25,6 km da superfície da Terra, liberando uma energia equivalente a 173 kilotons, ou 173 mil toneladas de dinamite.
"Foi 40% da energia liberada em Chelyabinsk, mas este episódio ocorreu sobre o Mar de Bering, então, não teve o mesmo efeito nem foi noticiado pela imprensa", diz Kelly Fast, gerente do programa do observação de objetos próximos da Terra da Nasa, que falou sobre este incidente recente na 50ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, nos Estados Unidos.
"Isso é mais uma coisa que temos para nos defender: há muita água em nosso planeta."
Satélites militares captaram a explosão no ano passado, e a Força Aérea americana notificou a Nasa do ocorrido.
Johnson disse que o meteoro caiu em uma área que não fica muito distante de rotas usadas por voos comerciais entre a América do Norte e a Ásia. Pesquisadores estão checando com empresas áreas se a explosão foi avistada.

Por que isso é importante?

Em 2005, o Congresso americano deu à Nasa a missão de encontrar 90% dos asteróides próximos da Terra com um tamanho de 140 metros ou mais até 2020.
Rochas espaciais grandes assim são chamadas de "problemas sem passaportes", porque espera-se que afetem regiões inteiras se colidirem com a Terra. Mas cientistas estimam que levarão mais 30 anos para cumprir a meta estabelecida pelo Congresso.

Ilustração do telescópio NeoCam

Uma vez que um objeto em curso de colisão é identificado, a Nasa tem conseguido com sucesso calcular onde o impacto ocorrerá no planeta, com base em uma análise de um sua órbita.
Em junho de 2018, o asteroide 2018 LA, de três metros de largura, foi descoberto por um observatório no Arizona, nos Estados Unidos, oito horas antes do impacto.
O Laboratório de Propulsão da Jato (JPL, na sigla em inglês) do Centro de Estudos de Objetos Próximos da Nasa identificou sua órbita e a usou para calcular o local mais provável da colisão. Isso mostrou que a rocha deveria cair no sul da África.
Conforme calculado, o meteoro foi avistado sobre Botsuana por uma câmera de segurança de uma fazenda. Fragmentos foram encontrados depois nesta área.

Como o monitoramento pode ser aperfeiçoado?

O incidente sobre o Mar de Bering mostra que objetos maiores podem colidir com o planeta sem qualquer aviso, o que ressalta a importância de aperfeiçoar o monitoramento destes corpos espaciais.
Uma rede mais robusta necessitaria não apenas de telescópios em terra, mas também de observatórios espaciais.
Um conceito em desenvolvimento prevê o lançamento de um telescópio chamado NeoCam para um certo do ponto no espaço, de onde poderia identificar e analisar asteróides com mais de 140 metros.
Amy Mainzer, cientista-chefe do NeoCam no JPL, diz que, sem o lançamento do telescópio, projeções indicam que "levaremos muitas décadas para atingir a meta de 90% estabelecida pelo Congresso com os equipamentos terrestres existentes hoje".
"Mas, se você tiver à disposição um telecópio com tecnologia infravermelha, o progresso será bem mais rápido."
BBC

O filósofo muçulmano que formulou teoria da evolução mil anos antes de Darwin

A teoria da evolução, do cientista britânico Charles Darwin, é uma das pedras angulares da ciência moderna.
A ideia de que as espécies mudam gradualmente por meio de um mecanismo chamado de seleção natural revolucionou nossa compreensão do mundo vivo.
Em seu livro A Origem das Espécies, de 1859, Darwin definiu a evolução como uma "descida com modificações", demonstrando como as diferentes espécies surgiram de um ancestral comum.
Mas parece que a própria teoria da evolução também tem um ancestral no mundo islâmico.

Seleção natural

Cerca de mil anos antes de Darwin, um filósofo muçulmano que vivia no Iraque, conhecido como Al-Jahiz, escreveu um livro sobre como os animais mudam através de um processo que também chamou de seleção natural.
Seu nome real era Abu Usman Amr Bahr Alkanani al-Basri. Seu apelido, Al-Jahiz, significa alguém com olhos esbugalhados.

Selo que representa al-Jahiz

Não é a forma mais amistosa de chamar alguém, mas a fama de al-Jahiz se deve mesmo a seu livro Kitab al-Hayawan (O livro dos animais, em tradução livre).
Ele nasceu no ano 776 na cidade de Baçorá, sul do atual Iraque, numa época em que o movimento Mutazilah - uma escola de pensamento teológico que defendia o exercício da razão humana - estava crescendo na região, no auge do califado Abássida.
Obras acadêmicas eram traduzidas do grego para o árabe, e Baçorá sediava importantes debates sobre religião, ciência e filosofia que moldaram a mente de Al-Jahiz e o ajudaram a formular suas ideias.
O papel havia sido introduzido no Iraque por comerciantes chineses, o que impulsionou a difusão de ideias, e o jovem Al-Jahiz começou a escrever sobre vários temas.
Seus interesses envolviam muitas áreas acadêmicas, como ciência, geografia, filosofia, gramática árabe e literatura.
Acredita-se que ele tenha publicado 200 livros durante a vida, mas só um terço sobreviveu até nossos dias.

Charles Darwin

O Livro dos Animais

Sua obra mais famosa, O Livro dos Animais, foi concebida como uma enciclopédia que apresenta 350 espécies. Nela, Al-Jahiz postula ideias que se parecem muito com a teoria da evolução de Darwin.
"Os animais estão envolvidos numa luta pela existência e pelos recursos, para evitar serem comidos e se reproduzirem", escreve Al-Jahiz.
"Os fatores ambientais influenciam nos organismos fazendo com que desenvolvam novas características para assegurar a sobrevivência, transformando-os assim em novas espécies."
Ele prossegue: "Os animais que sobrevivem para se reproduzir podem transmitir suas características exitosas a seus descendentes".
Estava claro para Al-Jahiz que o mundo animal estava numa luta constante para sobreviver, e que uma espécie sempre era mais forte que outra.

Revista satírica francesa La Petite Lune em 1871

Para sobreviver, os animais tinham de possuir características competitivas para achar comida, evitar virar comida de outros e se reproduzir. Isso os obrigava a mudar de geração em geração.
As ideias de Al-Jahiz influenciaram outros pensadores muçulmanos posteriores. Seu trabalho foi lido por homens como Al-Farabi, Al-Arabi, Al-Biruni e Ibn Khaldun.
O "pai espiritual" do Paquistão, Muhammad Iqbal, também conhecido como Allama Iqbal, reconheceu a importância de Al-Jahiz em sua coleção de conferências, publicadas em 1930.
Iqbal ressaltou que "foi Al-Jahiz quem assinalou as mudanças que se produzem na vida dos animais devido à migração e às mudanças no meio ambiente".

'Teoria maometana'

A contribuição do mundo muçulmano à ideia da evolução não era um segredo para intelectuais europeus do século 19. De fato, um contemporâneo de Darwin, o cientista William Draper, falava da "teoria da evolução maometana" em 1878.
No entanto, não há evidências de que Darwin conhecesse o trabalho de Al-Jahiz ou de que entendesse árabe.

Espécies de pássaros observadas por Dawin em Galápagos

A merecida a reputação que o naturalista britânico ganhou como um cientista que passou anos viajando e observando o mundo natural. Ele elaborou sua teoria com detalhes e claridade sem precedentes, transformando a forma com que pensamos o mundo.
Mas o jornalista científico Ehsan Masood, que realizou uma série para a BBC chamada Islam and Science (O Islã e a Ciência), diz que é importante recordar outros que contribuíram com a história do pensamento evolutivo.

Criacionismo

Ehsan Masood também destaca que o criacionismo não parecia existir como um movimento significativo no século 9 no Iraque, quando Bagdá e Baçorá eram os principais centros de ensino avançado na civilização islâmica.
"Os cientistas não passavam horas examinando paisagens da Revelação para ver se eram comparáveis com o conhecimento observado no mundo natural", escreveu Masood em artigo sobre Al-Jahiz no jornal britânico The Guardian.
Ao fim, foi também a busca pelo conhecimento que provocou a morte de Al-Jahiz. Conta-se que, aos 92 anos, ele tentou alcançar um livro em uma estante pesada, quando a estrutura desabou, matando-o.
BBC

sexta-feira, 15 de março de 2019

Mercúrio, e não Vênus, é o planeta mais próximo da Terra, dizem cientistas

Uma equipe de cientistas acaba de demonstrar algo que pode te chocar: Mercúrio, e não Vênus, é o planeta mais próximo da Terra em média.


Os pesquisadores apresentaram seus resultados nesta semana, em um artigo na revista Physics Today. Eles explicam que nossos métodos atuais de calcular qual planeta é "o mais próximo" simplificam demais a questão. Mas isso não é tudo.
"Além disso, Mercúrio é o vizinho mais próximo, em média, a cada um dos outros sete planetas no Sistema Solar", escrevem. Espera aí, como é que é?
Os nossos equívocos sobre o quão próximos os planetas estão uns dos outros vêm da forma como normalmente estimamos as distâncias para outros planetas. Geralmente, calculamos a distância média entre o planeta e o Sol. A distância média da Terra é de uma unidade astronômica (UA), enquanto a de Vênus é de cerca de 0,72 UA. Se subtrairmos uma da outra, calculamos a distância média da Terra a Vênus como 0,28 AU, a menor distância entre qualquer par de planetas.
Porém, um trio de pesquisadores percebeu que essa não é uma maneira precisa de calcular as distâncias para os planetas. Afinal, a rra passa metade do tempo no lado oposto de sua órbita de Vênus, colocando-a a 1,72 UA de distância. É preciso, em vez disso, calcular a distância média entre cada ponto da órbita de um planeta e cada ponto da órbita do outro planeta. Os pesquisadores fizeram uma simulação com base em duas suposições: de que as órbitas dos planetas eram aproximadamente circulares e de que elas não estavam em um ângulo uma em relação à outra.
Isso meio que faz sentido — se você ganhasse ingressos para um jogo de futebol, você iria preferir um assento próximo à linha de meio de campo para ver maior parte da ação, e não atrás dos gols, mesmo que, ocasionalmente, você fosse ficar mais perto dos jogadores no ataque nesse último caso. É basicamente isso o que acontece aqui nesse estudo levantado pelos pesquisadores. 
De fato, eles descobriram que Mercúrio era o planeta mais próximo da Terra na maior parte do tempo, em média — e de cada um dos outros planetas do Sistema Solar. A órbita inclinada e excêntrica de Plutão não funciona com as suposições dos pesquisadores, mas ele não é um planeta mesmo, conforme definido pela União Astronômica Internacional.
Você pode ler tudo sobre a conta feita no periódico científico Physics Today ou então ver uma explicação da conta no YouTube.
Mas considerando que não existem erros flagrantes na análise, acho que está na hora de dizermos "tchau" para Vênus e dar as boas-vindas ao nosso novo vizinho mais próximo, o melhor dos planetas: Mercúrio.

Como pesquisadores brasileiros descobriram quase por acaso três novos aglomerados de estrelas

Pesquisadores do departamento de Física da UFMG identificaram três novos aglomerados de estrelas em movimento na Via Láctea e os batizaram em homenagem à universidade
 
Tão logo as imagens em alta definição capturadas pelo satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia, foram divulgadas publicamente no ano passado, o físico mineiro Filipe Andrade Ferreira, de 27 anos, baixou os arquivos e começou a usar uma técnica elaborada por ele para identificar objetos em ambientes muito densos do espaço.
Para a surpresa de Ferreira, que é doutorando em astrofísica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a ferramenta não apenas funcionou como lhe permitiu um feito inédito: descobriu três novos aglomerados - clusters - de estrelas em movimento na Via Láctea.
Segundo o cientista, é a primeira vez que pesquisadores brasileiros descobrem aglomerados a partir das imagens do Gaia, lançado em 2013 e que, desde o ano passado, permite acessar imagens em 3D da galáxia da qual o sistema solar faz parte.
Ferreira conta que a descoberta foi quase por acaso. "Estava em casa numa tarde mexendo nos dados, não estava procurando aglomerados. Primeiro vi dois montinhos desconhecidos, o terceiro descobri depois. Fiquei empolgado, mas logo pensei que não podia ser possível. Perguntei: será mesmo que ninguém mais achou esses caras?", recorda o pesquisador que, depois de consultar bases de dados, mandou uma mensagem para o telefone do orientador. "Acho que descobri uns carinhas novos", escreveu.
Assim que recebeu a mensagem do aluno, o professor Wagner Corradi mobilizou a equipe do laboratório de astrofísica da UFMG para conferir se "os carinhas" eram mesmo novos aglomerados até então não identificados.
Além de Ferreira, que tem se dedicado a explorar áreas densas do Universo, e Corradi, que estuda onde nascem as estrelas, o laboratório conta com pesquisadores como Mateus Angelo e Francisco Maia, que estudam as estrelas mais jovens e as muito velhas, respectivamente - os quatro assinam a publicação junto com o também professor da UFMG João Francisco Santos.
Confirmada a descoberta, os pesquisadores correram para dar nome aos três aglomerados e para publicar os resultados do estudo.
 
O professor da UFMG Wagner Corradi e o doutorando Filipe Ferreira assinam, com outros três pesquisadores, artigo publicado na revista científica inglesa Monthly Notices of the Royal Astronomical Society
 
Os aglomerados foram batizados em homenagem à universidade e os cinco pesquisadores da UFMG assinaram um artigo na edição de março da conceituada revista científica inglesa Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
"É uma descoberta importante porque foi de uma equipe de brasileiros totalmente radicados no Brasil, e mostra como investimento em pesquisa é fundamental", afirma Corradi, acrescentando que achados como o desses três aglomerados ajudam a entender melhor a evolução das galáxias bem como de onde viemos.

Centenas de estrelas

Corradi diz que a descoberta não foi meramente golpe de sorte. Salienta que o laboratório, a partir dos estudos de Filipe, criou uma metodologia que permite avaliar deslocamento de objetos e medir distâncias percorridas em zonas densas do Universo.
Além disso, afirma o professor, o aluno tem o mérito de ter "mergulhado" numa área considerada mais jovem para os parâmetros estelares, que normalmente é mais difícil de ser analisada.
Cada um dos aglomerados identificados pelos pesquisadores brasileiros reúne mais de 200 estrelas ligadas por meio da gravidade.
O UFMG 1 tem cerca de 800 milhões de anos e está a 5,2 mil anos luz do Sol. Já o UFMG 2, o maior e mais velho dos aglomerados, existe há aproximadamente 1,4 bilhão de anos, tem 600 estrelas e está a uma distância de 4,8 mil anos luz. O UFMG 3, por sua vez, tem idade estimada em 100 milhões de anos e está a uma distância do Sol similar a do UFMG 2.
Um aglomerado é formado por estrelas que nasceram simultaneamente na mesma região, têm características físicas semelhantes e se movimentam de forma muito parecida.
Com o tempo, estrelas de aglomerados tendem a perder a conexão.

diagramas da regão NGC 5999, onde pesquisadores encontraram novos aglomerados de estrelas
Próximos passos
Depois da descoberta, os pesquisadores da UFMG pretendem explorar duas novas frentes.
Além de buscar mais detalhes desses três aglomerados, eles pretendem aplicar o método para procurar e catalogar novos grupos de estrelas que permanecem escondidos e sem identificação.
"Temos 40 possíveis candidatos", diz o professor Wagner Corradi, salientando a importância do trabalho do satélite Gaia para a astrofísica O satélite Gaia foi lançado com a missão de fazer uma espécie de "censo estelar" da Via Láctea. Durante cinco anos, coletou dados que estão sendo considerados como o mais completo catálago de estrelas já feito, segundo a Agência Espacial Europeia.
Trata-se do maior mapa em três dimensões da nossa galáxia feito a partir de informações recebidas por um satélite que já está provando ser revelador.
Segundo Corradi, apesar de pesquisadores de todo o mundo estarem debruçados sobre as imagens coletadas pelo Gaia, estima-se que apenas 1% das estrelas registradas serão medidas.
O equipamento mediu com alta precisão cerca de 1,7 bilhão de estrelas e revelou, de acordo com a ESA e, conforme indica a descoberta dos pesquisadores braisleiros, coletou detalhes da nossa galáxia nunca antes vistos.
Além de permitir novas descobertas de objetos no espaço, a astronomia, afirma o professor da UFMG, tem contribuído para avanços em outras áreas.
Por exemplo, câmeras de altíssima resolução com grande capacidade de processamento, desenvolvidas para a astronomia, foram usadas como base tecnológica para criar câmeras de celular de que hoje milhões de pessoas usufruem.
"Sabemos das dificuldades de financiamento, mas para avançar é preciso investir. Não teremos condições de evoluir na pesquisa sem apoio. O esforço da equipe que se dedicou ao Gaia é prova disso", avalia Wagner Corradi.

quinta-feira, 14 de março de 2019

Existe a realidade? O experimento que indica que, no nível quântico, não há fatos objetivos

Imagem mostra mulher com a cabeça dentro de um aquário com peixes
 
Na vida cotidiana, há fatos que são indiscutíveis.
Se duas pessoas, por exemplo, observam uma bola de tênis, ambas aceitarão que ela é uma esfera. Se elas jogam uma pedra para cima, não poderão negar também que o objeto vai voar pelos ares e depois cairá no chão.
Esses são "fatos" e constituem o que chamamos de "realidade". São coisas que continuarão sendo verdadeiras, independentemente de quem as observa, ou mesmo se ninguém as observar.
A questão, no entanto, se complica quando mudamos nosso foco para escalas nanométricas em que, de acordo com a física quântica, as regras que regem nosso mundo parecem não se aplicar da mesma maneira.
Nesse nível, acontecem coisas estranhas que até agora só foram formuladas de maneira teórica, mas um grupo de pesquisadores afirma que, pela primeira vez, foi capaz de demonstrar em um experimento que no nível quântico não há "fatos objetivos" e que a realidade depende de quem a vê.

Pontos de vista

A teoria quântica afirma que o observador de um fato influencia em como esse fato é percebido.
É como dizer que uma mesma bola de tênis para uma pessoa pode representar uma esfera, mas para outra, um cubo.

fotón

Para provar isso, físicos da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, criaram uma experimento que envolveu quatro observadores: Alice, Amy, Bob e Brian.
Esses personagens não são pessoas. Eles são, na verdade, quatro máquinas sofisticadas em um laboratório.
No teste realizado com eles, Alice e Bob recebiam uma mensagem, que nesse caso era um fóton, ou seja, uma partícula quântica da qual a luz é composta.
Depois, Alice e Bob enviavam esse fóton a Amy e Brian, ou seja, transmitiam a mensagem a eles.
Eis o que surpreendeu os pesquisadores: apesar de Alice e Bob terem enviado a mesma informação a Amy e Brian, os dois últimos a interpretaram de maneira diferente.
O processo é bastante complexo, mas poderia ser exemplificado como um telefone quebrado em que uma mesma mensagem se transforma à medida que passa de uma pessoa para outra.
Este resultado está relacionado a um conceito de mecânica quântica que diz que as partículas podem se entrelaçar e mudar dependendo de quem as observa.
Para entender melhor as implicações do experimento, a BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, conversou com o físico Alessandro Fedrizzi, líder da pesquisa, que trabalha como
professor no Instituto de Fotônica e Ciências Quânticas da Universidade Heriot-Watt.
BBC

Qual é a principal contribuição deste experimento?

Esta é a primeira vez que alguém realiza um experimento mostrando que os fatos não são universais no nível quântico.
A mensagem é que na teoria quântica não há fatos objetivos. Isso quer dizer que um mesmo fato não é visto da mesma forma por diferentes observadores.
Isso é algo que normalmente não esperamos na ciência, porque na ciência é muito importante que os fatos sejam iguais para todos que os observam.
Quando falamos de fatos na vida real, são coisas que podem ser verificadas muito rapidamente. O que estamos dizendo é que na teoria quântica, em um nível profundo, os fatos não são objetivos.

Isso quer dizer que os fatos não existem?

Os fatos existem, mas podem ser subjetivos. Na ciência, é muito importante que haja fatos sobre os quais todos possamos estar de acordo, que é o que permite o desenvolvimento científico.
Ocorre que, na teoria quântica, talvez esse não seja o caso, ou seja, diferentes observadores podem ter acesso a diferentes fatos que podem coexistir entre eles.
Na vida cotidiana, isso dificilmente nos afetará, mas significa que teremos de reescrever ou mudar nossa compreensão do que a mecânica quântica realmente significa no nível fundamental.

Este experimento pode ser visto como prova de que 'fatos alternativos' existem?

Eu vi gente tomando este experimento como uma forma de dizer que existem realmente "fatos alternativos". "Essas pessoas sempre vão dizer o que se encaixa em suas crenças, mas nada do que vimos em nossa pesquisa sustenta essas afirmações", disse Fedrizzi.

Existe a realidade em nível quântico?

Ainda há debate sobre se sistemas quânticos têm uma realidade. Esse experimento não redefine o que é a realidade, mas questiona como percebemos essa realidade e afirma que a realidade observada por um indivíduo pode não ser a mesma que outro observa.
Os cálculos usados ​​na ciência não marcam uma linha entre o quântico e o que chamamos de clássico. As fórmulas não nos dão uma regra sobre em que ponto exatamente as coisas deixam de ser clássicas.
Em teoria, eu poderia descrever qualquer coisa, incluindo o universo inteiro, como um sistema quântico, no entanto, experimentalmente ainda estamos tentando descobrir se existe uma fronteira. Até agora, os sistemas que temos conseguido ver que são regidos pela mecânica quântica são muito pequenos, são sistemas de nanogramas ou microgramas.

Como assim?

Imagem mostra mulher e criança sentadas de costas e cercadas por prédios, balões e animais
 
Eu poderia descrever uma bola de tênis usando as regras da mecânica quântica, mas o que acontece é que as propriedades quânticas que ela possui são imperceptíveis em um objeto tão grande. As quantidades obtidas do tratamento quântico deste grande objeto tão grande nos dizem que os efeitos quânticos nessa escala simplesmente não podem ser observados no mundo real.
Isso não significa que não seja quântico, apenas significa que os efeitos não são visíveis nessa escala. Mas, atualmente, não podemos dizer se a bola de tênis é um sistema clássico ou um sistema quântico.

Qual é o próximo passo?

Gostaríamos de aplicar este experimento com observadores cada vez maiores, talvez um dia com observadores conscientes. Talvez falhe, nesse caso podemos concluir que na verdade existe uma escala acima da qual a mecânica quântica já não se aplica.
Mas se funcionar, uma conclusão pode ser que, mesmo para observadores humanos, as observações podem ser subjetivas.
Nesse ponto, possivelmente precisaremos questionar até mesmo a realidade dos fatos objetivos que percebemos em nossa vida cotidiana.
BBC 

A vida abre caminho no ecossistema radioativo de Chernobyl

Chernobil
 
Era a segunda vez que um peixe escapava de suas mandíbulas, mas a ágil nutria (caxingui) não desistiu. Continuou nadando e seguindo o rastro dos peixes. O cheiro de uma nova presa a levou até a margem, onde havia um peixe morto. Um lanche fácil para a nutria, que não hesitou em dar conta da carniça. Não percebeu, mas enquanto aproveitava o momento de sorte, uma câmera imortalizou a cena. Dias depois, longe de lá, um cientista assentiu satisfeito ao ver as imagens. A vida prolifera nas águas poluídas do rio Prípiat.
O peixe havia sido colocado na margem do rio por uma equipe de cientistas que queria ver quais animais iriam se servir do bufê. Nutrias, visões-americanos e águias-rabalva se aproximaram para comer os peixes oferecidos, enquanto as câmeras as espiavam. Sem saber, eles se tornaram parte de uma lista cada vez mais ampla: as espécies que vivem na Zona de Exclusão de Chernobyl (ZEC).
Após o desastre de 26 de abril de 1986, a URSS estabeleceu uma zona de segurança de 30 quilômetros ao redor da usina nuclear de Chernobyl. Milhares de pessoas foram forçadas a abandonar suas casas, deixando mais de 4.200 quilômetros quadrados livres da influência humana direta. Desse espaço, pouco mais da metade pertence à Ucrânia. O restante é administrado pela Belarus, que o transformou na Reserva Radioecológica do Estado da Polésia, uma das maiores reservas naturais da Europa.
 
Uma das nutrias capturadas pelas câmeras-armadilha colocadas na Zona de Exclusão de Chernobyl (ZEC)
 
James Beasley, ecologista da Universidade da Geórgia, é um dos pesquisadores que está estudando como a vida prolifera em Chernobyl. Junto com uma equipe internacional, ele começou a documentar os animais que habitam a reserva radioecológica, estudando pegadas e fazendo a contagem a partir de helicópteros. Os resultados foram promissores e isso os levou a instalar câmeras-armadilha com odores para atrair animais. Em 2016 publicaram suas descobertas: 30 anos após o desastre, a vida selvagem é abundante na zona de exclusão da Belarus. As câmeras capturaram 14 espécies de mamíferos, incluindo alces, corças, javalis, lobos-cinzentos, raposas e cães-guaxinins. De acordo com Beasley, os dados são o "testemunho da resistência da vida selvagem quando é liberada das pressões humanas diretas".
O lado ucraniano não fica muito atrás. O projeto TREE (Transferência - Exposição - Efeitos) é uma iniciativa do programa britânico Radioatividade e Meio Ambiente. Seu objetivo principal é reduzir a incerteza que existe na estimativa do risco para seres humanos e animais selvagens quando expostos à radioatividade. Com a ajuda de cientistas ucranianos, entre 2014 e 2015 o projeto TREE instalou 42 câmeras-armadilha em diferentes pontos da ZEC.
Aves, cervos, esquilos, linces e lobos foram alguns dos animais que desfilaram diante das câmeras. Além disso, bisões europeus e cavalos de Przewalski, espécies introduzidas em outras áreas para sua conservação. Até mesmo a presença de ursos-pardos foi documentada no território ucraniano. Os ursos retornaram a essas florestas após serem eliminados por humanos há 100 anos.
Olhando para o catálogo de espécies, é tentador argumentar que a radiação poderia ser um escudo para proteger a vida selvagem. Os animais parecem mesmo desenvolver todo o seu esplendor. Os rios ao redor de Chernobyl abrigam o que alguns descrevem como monstruosos peixes mutantes, por seu grande tamanho. Mas na realidade esses peixes não são o resultado da radioatividade nem jamais farão parte do roteiro de um filme da série B. A explicação é muito simples: sem a pressão humana, as espécies crescem desenvolvendo seus verdadeiros tamanhos. Nas palavras de Jim Smith, professor de ciências ambientais na Universidade de Portsmouth, "isso não significa que a radiação seja boa para a vida selvagem, mas apenas que os efeitos da vida humana, incluindo a caça, a agricultura e a silvicultura, são muito piores".
A ciência tem um bom repertório de papers para provar que viver exposto ao césio-137 também tem efeitos sobre a fauna. Uma meta-análise publicada em 2016 mostrou que a radiação em Chernobyl amplia a frequência e grau de cataratas nos olhos, diminui o tamanho do cérebro, aumenta a incidência de tumores, afeta a fertilidade e promove o aparecimento de anomalias do desenvolvimento nas aves. Este estudo foi realizado por pesquisadores da Chernobyl + Fukushima Research Initiative, um grupo de pesquisa que utiliza uma abordagem multidisciplinar para a compreensão dos efeitos da radiação sobre a saúde humana e o meio ambiente. Seu diretor é Tim Mousseau, da Universidade da Carolina do Sul. Com Anders Møller, da Universidade de Paris-Sud, comandou mais de 35 expedições a Chernobyl e outras 16 a Fukushima.
Em uma dessas expedições, eles observaram que nas florestas da ZEC ainda se pode encontrar árvores que morreram no dia do desastre. Depois de tantos anos, seus troncos parecem resistir à passagem do tempo. Para entender o que estava acontecendo eles colocaram centenas de amostras de folhagens não contaminadas em diferentes pontos da ZEC. Depois de nove meses ao ar livre, coletaram amostras e mediram o peso que perderam. O resultado mostrou que nas zonas mais poluídas a decomposição das folhas era 40% menor do que a registrada nas florestas não contaminados.
 
A central de Chernobyl vista de Prípiat
 
Isto é, a radiação impede que os microrganismos possam realizar a decomposição dos restos mortos das plantas. Isto significa que o ciclo de nutrientes fica mais lento, fazendo com que grande parte dos nutrientes permaneçam inacessíveis às plantas e o restante da cadeia trófica. Mas a falta de decomposição tem uma faceta mais sinistra. A acumulação de matéria vegetal morta favorece os incêndios florestais, que no caso da ZEC pode espalhar, através da fumaça, radiação para outras áreas. Até o momento, o pior incêndio registrado foi em abril de 2015, quando cerca de 400 hectares queimaram a cerca de 20 quilômetros da usina nuclear.
Então, se a radioatividade também penetra em animais, plantas e micro-organismos, por que a vida ser recupera em Chernobyl? Temos de buscar a resposta na capacidade de algumas espécies para sobreviver. Na década de 90, uma equipe de pesquisadores dos Estados Unidos analisou os genes mitocondriais de ratos-do-campo capturados na ZEC.
A taxa de mutação de DNA mitocondrial dos ratos que viviam na zona contaminada era maior do que a daqueles de outras regiões. Mas, ainda assim, estando no limite do que sua espécie pode suportar, os ratos se multiplicam e sobrevivem. Em outros casos, temos de olhar para a dinâmica das populações que constituem uma espécie. Por exemplo, as andorinhas praticamente desapareceram após o acidente. Foi o fluxo constante de novos indivíduos que chegavam migrando de outras áreas que permitiu o estabelecimento de novas populações. A recolonização explicaria a presença de grandes animais, tais como os alces e os lobos. No entanto, ainda é preciso ver como estão sendo afetados pela acumulação de partículas de césio-137 ao longo da cadeia alimentar.
Mas, além da capacidade de sobrevivência e recolonização, podemos incluir na equação a adaptação das espécies. Voltemos às andorinhas. Em uma das expedições de Mousseau e Møller, eles coletaram penas desses pássaros e as enviaram para o pesquisador espanhol Mario Ruiz-González. Queriam ver que tipo de bactérias viviam nelas e, depois de isolá-las, colocá-las para crescer sob diferentes doses de radiação. Os experimentos mostraram que as colônias que melhor cresciam eram aquelas cujas bactérias vieram de locais com níveis intermediários de radiação. As bactérias de lugares com níveis mais altos ou mais baixos de radiação tinham um crescimento menor. Em outras palavras, as doses intermediárias de radiação pareciam ser uma pressão seletiva, que estava proporcionando às bactérias a capacidade de sobreviver em ambientes contaminados.
 
Lobos captados pelas câmeras-armadilha na Zona de Exclusão de Chernobyl
 
A radiação também pode alterar a taxa de mutação das bactérias e torná-las mais virulentas, promovendo a adaptação das andorinhas nas quais vivem. Em 2017, a pesquisadora espanhola Magdalena Ruiz-Rodríguez publicou na PLoS One, com Mousseau e Møller, um estudo demonstrando que as andorinhas em Chernobyl têm maior capacidade de se defender de bactérias. Nesta pesquisa, o plasma sanguíneo das andorinhas foi exposto a doze espécies de bactérias. Os resultados mostraram que os indivíduos que vivem nas áreas mais contaminadas tiveram maior capacidade de se defender contra bactérias. Essa adaptação é explicada pela seleção natural que vem ocorrendo em Chernobyl desde o desastre. Durante anos, a mortalidade das andorinhas foi alta, deixando apenas indivíduos que poderiam lidar com as bactérias mais virulentas. Segundo Magdalena Ruiz-Rodríguez, "provavelmente havia um processo de seleção muito intenso, e somente aqueles indivíduos que conseguiram sobreviver às novas condições puderam permanecer vivos e se reproduzir".
Que a vida sobreviva a um desastre nuclear pode parecer incrível. Mas é assim que as espécies funcionam: sobrevivem na base da tentativa e erro.
El País

terça-feira, 12 de março de 2019

Ruptura de icebergs na Patagônia chilena provoca preocupação

Blocos de gelo que se romperam da geleira Grey flutuam no Parque Nacional Torres del Paine
29/11.2017
REUTERS/Stringer

Dois novos icebergs se soltaram da geleira Grey, na Patagônia chilena, nas últimas semanas, em meio a receio de que tais rupturas estejam se tornando mais frequentes, disseram cientistas à Reuters.
Os rompimentos, que ocorreram em 20 de fevereiro e 7 de março, ocorreram após um bloco maior de gelo --do tamanho de três campos de futebol (380 metros por 350 metros--, se separar da geleira, que fica em um lago glacial no Parque Nacional Torres del Paine, no sul do Chile, em novembro de 2017.
A ruptura mais significativa na geleira antes disso foi registrada no início dos anos 1990. Cientistas relacionam o aumento da frequência das rupturas ao aumento das temperaturas.
"Há uma frequência maior na ocorrência de rupturas no lado leste da geleira e mais dados são necessários para avaliar sua estabilidade", disse Ricardo Jana, pesquisador e membro da área de mudança climática do Instituto Antártico Chileno. (INACH)
Nos últimos dias, "a temperatura se elevou acima da média normal e chuvas intensas foram registradas em conjunto com um aumento no nível da água no lago, fatores que poderiam explicar a separação", acrescentou.
Pesquisadores de universidades da Alemanha e do Brasil, juntamente com especialistas do INACH e de outras entidades locais, estudam a geleira Grey desde 2015, sob um programa de cooperação internacional.
Em dezembro deste ano, o Chile sediará a cúpula das Nações Unidas sobre mudança climática, a COP 25.
 

A vida das mulheres no Irã antes e depois da Revolução Islâmica

A Revolução Islâmica de 1979 provocou abalos sísmicos no Irã, principalmente para as mulheres. Em pouco tempo, a forma com que elas se vestiam e usavam o cabelo até então passou a ser questionada.
O véu muçulmano tinha sido banido pelo antigo xá, Reza Shah Pahlavi, nos anos 1930 - e a polícia tinha ordens de remover os lenços à força.
Mas, no início dos anos 1980, as novas autoridades muçulmanas impuseram um código de vestimenta obrigatório que determinava o uso do hijab (véu islâmico) por todas as mulheres.
 
Abaixo algumas imagens que mostram como era a vida das mulheres iranianas no passado e a s mudanças ocorrridas após a instauração do regime teocrático.
 
Antes da revolução
 
Estudantes fazem teste num laboratório de química na Universidade de Teerã, em 1977
 
Estudando na Universidade de Teerã em 1977: Enquanto muitas mulheres estavam no ensino superior na época da revolução, os anos subsequentes viram um aumento no número de mulheres nas universidades. Isso ocorreu em parte porque as autoridades conseguiram convencer famílias religiosas de áreas rurais a permitir que suas filhas estudassem longe de casa.
"Eles tentaram impedir as mulheres de frequentar a universidade, mas houve uma reação tão negativa que eles tiveram de permitir seu retorno", diz Haleh Afshar, professora de estudos das mulheres da Universidade de York, no Reino Unido, que cresceu no Irã nos anos 1960.
"Algumas pessoas escolarizadas deixaram o Irã, e as autoridades perceberam que para governar o país precisavam formar tanto os homens quanto as mulheres."
 
Loja de sapatos femininos em Teerã em 1976
 
Vitrine em Teerã em 1976: Antes da revolução, muitas mulheres vestiam roupas ocidentalizadas, incluindo jeans justos, minissaias e blusas com mangas curtas. "Os sapatos não mudaram - e a paixão por sapatos em todas nós! As mulheres no Irã não são diferentes das mulheres de todo o mundo, e ir às compras é apenas uma forma de sair do estresse do dia a dia", diz a professora Afshar.
 
Grupo de homens e mulheres fazem piquenique em Teerã em 1976
 
Piquenique em Teerã em 1976: Famílias e amigos costumavam se reunir às sextas, que são um dia de folga no Irã. "Piqueniques são uma parte importante da cultura iraniana e são muito populares entre as classes médias. Isso não mudou desde a revolução. A diferença é que hoje homens e mulheres que se sentam juntos estão muito mais conscientes de seus gestos e mais contidos em suas interações", diz Afshar.
 
Duas mulheres se cumprimentam num salão de beleza em Teerã em 1976
 
Salão de beleza em Teerã em 1977: "Esta é uma cena que você não esperaria ver mais no Irã - mas mesmo depois da Revolução Islâmica, cabeleireiras continuaram a existir", diz Afshar. "Hoje você não veria um homem dentro do salão de beleza - e as mulheres teriam de cobrir a cabeça assim que ele entrasse no recinto. Algumas pessoas talvez mantenham salões de beleza secretos em suas próprias casas, onde homens e mulheres podem se misturar."
 
Seguranças barram aproximação de uma jovem que buscava conversar com o xá Mohammad Reza Pahlavi, em 1971
 
Seguranças cercam o xá em 1971: Uma jovem se aproxima do Xá Mohammad Reza Pahlavi (à extrema dir.) numa grande celebração que marcou 2.500 anos da monarquia persa - a extravagância do evento foi amplamente criticada por seus opositores de esquerda e religiosos. "Nessa altura, o xá já era muito impopular e alguns acreditavam que sua imagem de excessos e indulgência pode ter contribuído para os eventos que levaram à revolução oito anos depois", diz Afshar.
 
Estudante caminha em Teerã em 1976
 
Caminhando na neve em Teerã em 1976: "Você não pode impedir as mulheres de caminhar nas ruas do Irã, mas isso não ocorreria hoje em dia - os brincos e a maquiagem tão à mostra", diz Afshar. "Há um conceito de 'decência' no Irã - então hoje em dia as mulheres que saem às ruas costumam vestir um casaco até os joelhos e um lenço."
 
Depois da revolução
 
Mulheres protestam contra o véu islâmico em 1979
 
Iranianas com véus protestam na embaixada dos EUA em Teerã, em 1979
 
Protesto fora da embaixada dos EUA em Teerã em 1979: Estudantes revolucionários tomaram como reféns dezenas de funcionários da embaixada dos EUA, enquanto milhares de manifestantes cercaram o edifício.
"Nesse momento, era normal ver diferentes tipos de pessoas alinhados em seu ódio absoluto contra os EUA no Irã", diz Afshar. "Os americanos e os britânicos têm uma longa história de tentar influenciar e controlar o petróleo do Irã, então essa desconfiança arraigada contra os EUA e o Reino Unido vem de longa data."
 
Família caminha na Universidade de Teerã, em 1980
 
Família se dirige para as orações de sexta-feira em 1980: "As orações de sexta-feira são um momento para que os religiosos ou simpatizantes das autoridades islâmicas se encontram - é um momento de solidariedade", diz Afshar. "Mas eles ainda estão muito restritos ao domínio masculino. As mulheres não podem ficar na mesma sala que os homens - elas têm de se sentar em áreas separadas para rezar, longe dos homens."
 
Duas mulheres com xadores pretos olham para vitrine com vestidos de casamento, em 1986
 
Vestido de casamento em shopping de Teerã em 1986: "Os vestidos expostos nas vitrines são todos ocidentais - as iranianas vestem o que querem, desde que seja a portas fechadas", diz Afshar. "Casamentos e festas são supostamente segregados, então não importa o que você veste se só haverá algumas convidadas mulheres presentes. Mas há festas com os dois sexos que ainda ocorrem - algumas pessoas contratam pessoas para vigiar a entrada, outros pagam a polícia para fechar os olhos."
 
Iranianas com véus caminham do lado de fora de um shopping de Teerã, em 2005
 
Caminhando em Teerã em 2005: Nem todas as mulheres no Irã optam por usar um xador preto, um tecido que cobre o corpo da cabeça aos pés e só deixa o rosto exposto. Algumas preferem vestir lenços soltos e blusas. "A questão real é o quanto se pode puxar seu lenço para trás? As mulheres têm seus próprios atos de resistência e sempre tentam puxar os lenços o máximo que conseguem", diz Afshar.
 
Iranianas em praia no Mar Cáspio, em 2005
 
Praia no Mar Cáspio em 2005: Iranianas são proibidas de usar trajes de banho em áreas públicas. "Homens e mulheres não devem nadar juntos - mas eles encontram formas de burlar a regra alugando barcos que os levem longe da costa, onde possam nadar lado a lado", diz Afshar.
 
Menina com lenço colorido se destaca em meio a mulheres vestidas com xadores, em protesto em 2006
 
Manifestação pró-hijab em Teerã, em 2006: Mais de 25 anos depois da revolução, mulheres que apoiam a linha dura do regime fizeram um protesto contra o que consideravam falhas das autoridades em cumprir a lei que torna o véu mandatório. Aqui todas elas vestem xadores pretos, com a exceção de uma menina.
 
Iranianas com véus assistem a jogo de futebol em um shopping em Teerã, em 2008
 
Mulheres vendo jogo de futebol em shopping de Teerã em 2008: Embora as mulheres nunca tenham sido oficialmente impedidas de assistir jogos de futebol masculino no Irã, elas são frequentemente barradas em estádios, e algumas das que tentaram entrar foram detidas. Antes da revolução, elas podiam comparecer a eventos esportivos.
BBC