No instante em que o último elefante do exército de Aníbal caiu morto no norte da África , sabia-se que um nova página da história começaria a ser escrita. A queda simbólica do poderoso general de Cartago, principal adversária política e econômica de Roma no século 3 a.C, encerrava um intenso e duradouro conflito. O fim da 2ª Guerra Púnica, em 201 a.C, fez nascer a dominação romana no Mar Mediterrâneo – não à toa chamado anos mais tarde, carinhosamente, de mare nostrum.
Sem escolhas, os cartagineses precisaram assinar um acordo de paz nada agradável: além de perderem boa parte de sua frota marítima e seus tão preciosos elefantes de guerra, teriam de pagar uma pesada indenização aos vencedores. A dívida anual de 10 mil talentos de prata seria um fardo pesado para os próximos 50 anos. Só para você ter uma ideia, um talento romano correspondia a um peso aproximado de 32 kg. Ou seja, a cada ano, o império derrotado teria de se virar para arranjar 320 toneladas de prata só para quitar suas contas com Roma.
Porém, uma nova pesquisa descobriu que o minério já se encontrava em mãos romanas bem antes de a treta terminar por completo – e a prata de Cartago passar a ser embolsada deliberadamente por Roma. A análise de moedas da época comprovou que em 209 a.C o império cartaginês já tinha sido varrido da península Ibérica, atuais territórios de Portugal e Espanha. Roma aproveitou a deixa para começar a utilizar a prata das minas dessa região, já que elas tinham qualidade superior às da Grécia e sul da Itália – de onde o metal prateado era retirado até então.
As 70 moedas estudadas foram produzidas entre 225 e 201 a.C. Por meio de uma técnica chamada espectrometria de massa, os pesquisadores conseguiram estudar com precisão as moléculas que estão no dinheiro. Os isótopos de chumbo, na hora, acusaram a mudança: os trocados deixaram de ser feitos em quintal italiano e passaram a vir do lado de lá dos montes Pireneus.
“A fluxo gigantesco de prata vinda da península Ibérica mudou drasticamente a economia do império romano, possibilitando que ele se tornasse a superpotência que conhecemos hoje”, explicou Katrin Westner em entrevista ao The Guardian . O trabalho de seu grupo foi apresentado ao mundo pela primeira vez na última segunda-feira, 14, durante a conferência “ Goldschmidt geochemistry” , em Paris.
“Podemos entender tudo isso lendo as histórias de Tito Lívio, Políbio e outros poetas romanos, mas nosso trabalho dá prova científica de que a ascensão de Roma aconteceu dessa forma. Trouxemos evidências de que a derrota de Aníbal e o início da era de ouro estão gravadas nas moedas do império romano”, completa.
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