Surgiu um novo mistério envolvendo as pirâmides do Egito: cientistas descobriram o que parece ser um grande vazio dentro da pirâmide de Quéops, conhecida como a Grande Pirâmide de Gizé.
Não se sabe por que a cavidade existe ou se ela abriga algo de valor histórico, já que não parece ser acessível pelos caminhos conhecidos até o momento.
Cientistas japoneses e franceses fizeram o anúncio depois de estudar o complexo das pirâmides de Gizé, nos arredores do Cairo, por dois anos.
Eles têm usado uma técnica chamada muografia, que é muito usada para estudar vulcões e consegue detectar mudanças de densidade significativas dentro de grandes estruturas rochosas.
Com 146m de altura, a Grande Pirâmide é a maior das estruturas de Gizé e foi construída durante o reino do faraó Quéops, entre 2509 e 2483 a.C.
Uma equipe de cientistas egípcios, franceses, canadenses e japoneses trabalha desde o final de 2015 na pirâmide, utilizando tecnologia de ponta não invasiva, que permite observar através dela para descobrir possíveis espaços ou estruturas internas desconhecidas.
O objetivo é aprender um pouco mais sobre a construção das pirâmides, que sempre foi cercada de mistérios.
O monumento, de 139 metros de altura e 230 de largura, fica no complexo de Gizé, próximo do Cairo, perto da Grande Esfinge e das pirâmides de Quéfren e Miquerinos.
"Há muitas teorias sobre a existência de possíveis câmaras secretas nas pirâmides. Se juntássemos todas, obteríamos um queijo gruyere", brinca Mehdi Tayubi.
"Mas nenhuma delas previa a existência de algo tão grande", completou.
De acordo com o estudo publicado na Nature, o "big void" (grande vazio), como os cientistas denominam a descoberta, mede pelo menos 30 metros de comprimento e tem características similares às da grande galeria, a maior sala conhecida da pirâmide.
A cavidade se encontra a 40 ou 50 metros da câmara da rainha, no centro do monumento.
"O 'grande vazio' está totalmente fechado, nada foi tocado desde a construção da pirâmide. É uma descoberta muito emocionante", disse Kunihiro Morishima, da Universidade de Nagoya no Japão, integrante da missão ScanPyramids.
- Por quê este vazio? -
Para encontrar este "bonito presente", escondido desde o reinado do faraó Quéops, os cientistas recorreram a partículas cósmicas, os chamados múons.
Os muons também se movem com velocidade próxima à da luz e interagem muito pouco com a matéria. Logo, quando atingem a superfície da Terra, penetram bem fundo nas rochas. Alguns deles, no entanto, são refletidos pelos átomos existentes nos minerais que compõem as pedras. Se detectores de muons forem colocados em áreas de interesse, é possível então obter um registro da densidade e perceber anomalias.
O time da ScanPyramids usou três tecnologias de muografia diferentes e todas indicam presença do espaço na mesma posição e no mesmo tamanho.
Sébastien Procureur, especialista da Universidade de Paris-Saclay, destaca que a muografia só detecta grandes espaços, e que o time não estava apenas obtendo simples porosidade dentro do monumento.
"Com muons você mede a densidade integrada", ele explica. "Se há buracos por toda parte, a densidade geral será a mesma, mais ou menos, em todas as direções, porque a reflexão de partículas será média. Mas se você tem excesso de muons, significa que há um espaço maior - o que não acontece em uma estrutura que se assemelhe a um queijo suíço."
Quando estas partículas elementares, criadas na alta atmosfera por raios cósmicos, entram em contato com a matéria, são freadas até parar.
Os pesquisadores medem portanto a quantidade de múons que recuperam atrás de um objeto sondado. Se comprovam um excedente em algum lugar, significa que os múons atravessaram menos matéria, isto é, um vazio.
"Esta tecnologia não é nova, mas os instrumentos são mais precisos e mais robustos hoje. Podem sobreviver às condições do deserto egípcio", explica Sébastien Procureur, cientista francês que se uniu ao projeto em 2016.
A questão que surge agora é como aprofundar as investigações.
Jean-Baptiste Mouret, do Inria, um instituto nacional francês para ciência computacional e matemática aplicada, diz que o time teve uma ideia de como fazer a pesquisa, mas primeiro as autoridades egípcias precisam aprová-la.
"A ideia é fazer um furo minúsculo para explorar monumentos como esse. O objetivo é introduzir um robô que consiga passar por um buraco de 3 cm de diâmetro. Estamos trabalhando com pequenas máquinas capazes de voar", disse ele.
A pesquisa da Grande Pirâmide de Gizé por meio da muografia foi publicada na edição desta semana da revista científica Nature.
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