segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Como seu glitter no Carnaval chega aos peixes

O que o glitter que você passa no rosto no Carnaval tem a ver com o oceano? Para alguns pesquisadores, tudo.

 
As pequenas partículas brilhantes que adornam o corpo dos foliões são feitas de plástico, material que não é biodegradável. Quando se lava o corpo ou rosto coberto de glitter, as peças escorrem pelo ralo. Pequenas demais para serem filtradas no sistema de tratamento de esgoto, acabam parando em rios e mares.
O plástico é o maior poluente do oceano. E o glitter é um "microplástico", como são chamadas as partículas desse material com menos de 5 milímetros. Nem todas têm o tamanho que o glitter tem originalmente: parte delas são grandes produtos de plástico que chegaram a esse tamanho depois de sua deterioração por forças mecânicas no oceano ou radiação solar.
O perigo das partículas de microplástico no oceano é que podem ser ingeridas pela fauna marinha.
"Pesquisas recentes dão conta de que microplásticos perturbam o início da cadeia de alimentação aquática, como os plânctons. Também afetam ostras e mexilhões", diz Trisia Farrelly, da Universidade de Massey, na Nova Zelândia, especialista em ecologia urbana.
"Os microplásticos ingeridos por esses organismos podem afetar seu crescimento e atrapalhar sua alimentação como um todo - e consequentemente impactar toda a cadeia de alimentação." Plânctons, por exemplo, são um alimento dos peixes, que, por sua vez, alimentam os humanos.
 
 
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Trilhões de partículas

Não há estudos sobre o glitter nesse contexto, especificamente, porque não é fácil identificar a origem de um microplástico. Mas o material é contabilizado entre os microplásticos que poluem o oceano - são entre 15 e 51 trilhões de partículas, segundo um estudo de 2015 conduzido por pesquisadores do Imperial College London, de Londres, em parceria com especialistas da Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Holanda, e outros países.
Para Joel Baker, diretor do Centro de Águas Urbanas da Universidade de Washington, não se pode medir o impacto dos microplásticos no oceano. "Não sabemos se há um problema, mas não é um absurdo ser cuidadoso e não querer colocar coisas no meio ambiente que o degradem."
Parte dos microplásticos são os microbreads, ou grânulos, como os presentes em pastas de dentes e esfoliantes.
"É plástico feito para ter uma vida muito curta. Você limpa seu rosto ou seus dentes, enxágua e eles vão direto para o ralo", diz Farrelly. O uso de grânulos em produtos como esses foi proibido no Canadá, nos Estados Unidos e no Reino Unido. A Nova Zelândia deve implementar a proibição no primeiro semestre de 2018. No Brasil, seu uso ainda é permitido.
Embora não tenha sido proibido, o glitter também entrou no escrutínio público. Empresas no Brasil e no mundo começam a fabricar glitter biodegradável a partir de celulose, também metalizada com uma camada de alumínio.
"Eu gosto de coisas brilhantes. Mas com 7 bilhões de pessoas no planeta, não podemos usar as coisas só da maneira como gostaríamos. Precisamos pensar no impacto que causamos", diz Sherri Mason, professora de química da Universidade do Estado de Nova York em Fredonia e especialista em poluição de plástico em ecossistemas aquáticos.
Ela observa que, embora seja uma iniciativa positiva, "glitter biodegradável não dará conta da demanda que temos". "Então eu insisto que temos que reduzir o uso de glitter."
Para ela, governos podem tarifar mais os produtos de plástico para embutir em seu preço o impacto no meio ambiente.
Farrelly, da Nova Zelândia, diz que "o glitter, em si, não é o problema". "O glitter é uma parte do problema. E se está chamando atenção para o problema maior, então ótimo."
O glitter de plástico como o conhecemos é produzido a partir de placas de PET ou PVC que são metalizadas com alumínio e, depois, tingidas com cores diferentes.
Depois desse processo, explica o americano Joe Coburn, um dos proprietários da fábrica de glitter RJA-Plastics GmbH, as placas de plásticos são revestidas novamente com uma camada transparente para tentar "segurar" sua cor e dar consistência ao alumínio.
Essas placas são então cortadas em pequenas partículas e passam por uma máquina que tem um cilindro com 60 dentes rotativos de corte e uma faca - uma espécie de combinação entre um triturador de galhos e um triturador de papel.

Hexágono e outras curiosidades

"Matematicamente, o formato das partículas que causa menos desperdício é o hexágono", diz Coburn. Por causa disso, este é justamente o formato em que a maior parte das partículas de glitter, segundo ele, são trituradas.
"E isso também faz com que as diferentes partículas de glitter nunca caiam no mesmo ângulo. Quando não estão uniformes, brilham mais, porque há mais chances de receberem luz em diferentes partes."
Ele também explica que há diferenças entre a durabilidade das cores: um vermelho intenso não se mantém dessa cor ao longo do tempo tão facilmente quanto o glitter verde claro. E o tamanho também varia: o menor tipo de glitter já produzido pela empresa tem 0.02 mm.
A fabricante empacota o glitter em grandes sacos e exporta o produto em caixas de 25kg, tomando o cuidado de não misturar as cores.
"Uma fábrica de glitter não é um país encantado. É para ser um ambiente bem estéril", diz - o que não significa que não aconteçam vazamentos.
Por causa da forma como precisam operar a máquina, com testes antes que seja ligada, funcionários ficam com o corpo repleto das partículas.
"É uma infestação. Fica nos seus ouvidos, nariz, embaixo das unhas, no volante do carro. O volante do nosso carro tem uma camada permanente de glitter", conta Coburn. "A única solução possível para tirar todo esse glitter é ar comprimido."
Coburn conta que, uma vez, por causa da umidade, uma caixa de 25kg cedeu, espalhando glitter por todas as partes.
Coburn e seu irmão herdaram a fábrica de seu pai, morto em 2011. Seu avô tinha uma fábrica de adesivos nos Estados Unidos - "a família sempre trabalhou com coisas brilhantes" - e duas máquinas de glitter foram encontradas por ele e seu filho.
"Meu avô pediu que meu pai as vendesse, mas meu pai descobriu como funcionava e começouno oceano a produzir e vender", diz Coburn. Na época, "era uma tecnologia secreta".
Em 2018, segundo ele, a empresa começará a produzir glitter biodegradável.
sua deterioração por forças mecânicas no oceano ou radiação solar.
O perigo das partículas de microplástico no oceano é que podem ser ingeridas pela fauna marinha.
"Pesquisas recentes dão conta de que microplásticos perturbam o início da cadeia de alimentação aquática, como os plânctons. Também afetam ostras e mexilhões", diz Trisia Farrelly, da Universidade de Massey, na Nova Zelândia, especialista em ecologia urbana.
"Os microplásticos ingeridos por esses organismos podem afetar seu cr escimento e atrapalhar sua alimentação como um todo - e consequentemente impactar toda a cadeia de alimentação." Plânctons, por exemplo, são um alimento dos peixes, que, por sua vez, alimentam os humanos.

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