quinta-feira, 31 de maio de 2018

Qual é a origem do feriado de "Corpus Christi" ?


procissão

A frase em latim "Corpus Christi" - o que é:
O que poucos sabem é que não se trata de um feriado nacional, mas sim de ponto facultativo. Ou seja, na maioria das cidades, os empregadores não têm obrigação de liberar os funcionários. Cada empresa decide se vai ou não paralisar os serviços por um dia.
A regra é outra em cidades que aprovaram leis tornando Corpus Christi um feriado municipal. Para a alegria de quem se programa todo ano para tirar o dia de folga, muitos municípios optaram por isso. É o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Maceió (AL) e Vitória (ES).
No Distrito Federal, por outro lado, esta quinta-feira será dia de ponto facultativo. E aquela "enforcada" da sexta-feira para viabilizar uma viagem ou um descanso mais longo depende, também, da boa vontade de cada empresa.
Alguns dos tribunais de Brasília, como o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), folgarão nesta quinta-feira, mas trabalharão normalmente na sexta-feira. No Congresso Nacional, deputados e senadores devem ter nesta quarta as últimas sessões da semana.
 
cruz
 

Mas o que quer dizer Corpus Christi?

Significa, em latim, "corpo de Cristo". É uma data móvel celebrada pela Igreja Católica sempre 60 dias depois do domingo de Páscoa ou na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade. Na tradição católica, esta quinta-feira é considerada o dia no qual Jesus Cristo instituiu o sacramento da eucaristia.
De acordo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no Corpus Christi se celebra a "presença real de Jesus Cristo no pão e no vinho".

Ouro Preto

Desde quando a data é celebrada?

A festa foi instituída pelo papa Urbano IV, no dia 8 de setembro de 1264 - ele publicou uma bula papal sobre o tema, chamada de "Transiturus", instituindo a data e concedendo indulgências às pessoas que fossem à missa neste dia. Segundo alguns biógrafos, o papa medieval incumbiu o filósofo e teólogo italiano São Tomás de Aquino (1255-1274) de redigir um rito ("ofício") para a celebração da data.
Urbano, porém, morreu poucos anos após instituir a festa, em outubro do mesmo ano - o que acabou retardando a adoção das celebrações. A comemoração de Corpus Christi só "pegaria" para valer décadas depois, quando a data foi reafirmada pelo Concílio de Viena, em 1311.
Uma forma tradicional de celebrar é com uma procissão em alusão à caminhada do "povo de Deus" em busca da Terra Prometida.
Em Portugal, o dia é chamado também de "Corpo de Deus", e é comemorado às vezes com procissões pelas ruas - que também acontecem em algumas cidades do Brasil. Em algumas cidades brasileiras, há o costume de adornar as ruas com "tapetes" feitos de serragem colorida e outros materiais.

terça-feira, 29 de maio de 2018

A 'Disneylândia' de Sadam: como ditadores exploram ruínas históricas

 
Mural de Hussein
 
De tão reluzente, torna-se difícil mirar o palácio que se ergue em fachadas angulares e janelas abertas sob o intenso sol do Iraque. Uma curta estrada em espiral leva a seu topo, onde cascalhos soltos são cobertos por sombras de oliveiras e palmeiras que crescem livres nos jardins outrora luxuosos.
Esse foi um dos palácios mais opulentos de Saddam Hussein. Em seu interior, restam marcas de sua extravagância nas portas e revestimentos delicadamente esculpidos e no grande candelabro ainda pendurado sobre o salão de entrada.
Agora, as paredes estão pichadas de grafite, crianças das redondezas jogam futebol em espaços que produzem eco, e pedaços de vidro do candelabro se espalham pelo chão. E assim o palácio do então poderoso ditador se tornou uma ruína vazia.
 
Da varanda do quarto do ditador, as planícies se alongam e outra ruína aparece à vista: as paredes quebradas de onde, há 2.500 anos, a cidade de Babilônia governava o mundo.
 
Ruínas de Hussein
 
A surpreendente vista não é coincidência. A intenção era que visitantes olhassem para as ruínas da Babilônia e se dessem conta de que estavam diante de um grande líder cujo legado duraria por milênios. Saddam não é o primeiro ditador a usar ruínas antigas dessa forma.
Na verdade, a relação entre a idealização de ruínas e governantes totalitários é histórica. Isso porque ruínas nunca são apenas o que parecem: uma coleção de paredes virando areia. Elas são repositórios de memória e mito. Elas ajudam a construir a narrativa fascista da busca pela grandeza do passado perdida para a decadência dos novos tempos.
Intimidação na Babilônia
O Iraque hoje tem um dos patrimônios arqueológicos mais ricos do mundo. A bacia do Tigre-Eufrates que forma a espinha dorsal do país abriga algumas das primeiras cidades do mundo, entre elas Uruk, Ur, Babilônia e Nineveh. Essas ruínas foram há muito tempo saqueadas por forças coloniais, e seus artefatos levados para mobiliar museus estrangeiros. No século 19, as gravuras assírias de Nineveh foram expostas no British Museum, em Londres; e a Porta de Ishtar, da Babilônia, despojada de seus ladrilhos e reconstruída no Museu Pergamon, em Berlim.
Mas depois que assumiu a Presidência do Iraque, Saddam determinou que as preciosas ruínas do país fossem usadas de outra maneira: para construir um culto à supremacia iraquiana, com ele à frente.

Ruínas de Babilônia

A arqueologia teve um papel fundamental nesse plano. Um dos primeiros grupos a se encontrar com Saddam Hussein depois que este assumiu o poder, em 1968, foi justamente o dos arqueólogos iraquianos. "As antiguidades são as relíquias mais preciosas dos iraquianos", teria dito o ditador durante uma reunião. Essas relíquias, continuou, "mostram ao mundo que nosso país é [descendente] de civilizações que, no passado, contribuíram enormemente para a humanidade".
Na década que veio após a tomada de poder no Iraque pelo Partido Baath, de Saddam, o orçamento do Departamento de Antiguidades aumentou em mais de 80%. Os sítios arqueológicos de Nineveh, Hatra, Nimrud, Ur, Aqar Quf, Samarra e Ctesiphon foram submetidos a uma pesada reconstrução. Mas para Saddam, a joia da coroa iraquiana sempre foi Babilônia.
Entre os séculos 18 e 6 a.C., Babilônia foi uma das grandes metrópoles do planeta. Foi a maior cidade do mundo em pelo menos dois momentos históricos, e talvez a primeira a ter mais de 200 mil habitantes. Foi ocupada por Alexandre, o Grande, no século 4 a.C., e prosperou brevemente antes de ser esvaziada devido a guerras posteriores ao seu governo. Após a conquista muçulmana da Arábia no século 7, os viajantes que visitavam a área descreviam apenas ruínas.
 
Babilônia
 
Saddam sempre foi fascinado pelas ruínas da Babilônia. Ele ordenou uma ambiciosa reconstrução dos muros da cidade, o que custou milhões de dólares em pleno auge da Guerra Irã-Iraque. E ergueu os muros a uma altura historicamente improvável de 11,5 metros, provocando críticas da comunidade arqueológica internacional, que o acusou de transformar a Babilônia em "Disneylândia para um déspota". Como gota d'água, Saddam construiu nas ruínas um anacrônico teatro de estilo romano. E, quando os arqueólogos lhe disseram que antigos reis como Nabucodonosor gravavam seus nomes nos tijolos da antiga Babilônia, Saddam insistiu que seu nome também fosse eternizado nos tijolos da reconstrução.
Esses esforços foram depois descritos por Paul Bremer, líder da autoridade provisória da coalizão que assumiu o governo do país interinamente após a queda de Saddam, em 2003, como "uma caricatura(…) monstruosidades artificiais".
 
Pintura de John Warwick Smith
 
Para o teatro do regime totalitário, as ruínas eram um cenário indispensável. A partir de 1981, Babilônia foi palco de celebrações do primeiro aniversário da invasão iraquiana ao Irã, com oficiais usando o slogan: Nebuchadnasar al-ams Saddam Hussein al-yawm, que significa Ontem Nabucodonosor, hoje Saddam Hussein.
Saddam chegou a ordenar que uma representação gigante dele mesmo em compensado fosse colocada sobre o Portão de Ishtar, em Bagdá. E no festival de 1988, um ator representando Nabucodonosor entregou uma faixa ao ministro da Cultura iraquiano, declarando que Saddam Hussein era "neto de Nabucodonosor" e "embaixador dos rios gêmeos (Eufrates e Tigre)."
Peças de museu de Mussolini
Saddam seguiu o modelo de Mussolini. Na Itália, no começo do século 20, o autoproclamado "Líder" (Il Duce) transformou as ruínas de Roma Antiga em um poderoso instrumento de propaganda política. Embora governos anteriores italianos também tivessem feito reivindicações similares, os fascistas de Mussolini levaram essa idealização a outro nível. Mussolini era frequentemente descrito nas propagandas como "um novo Augusto", evocando o imperador romano que reconstruiu grande parte da cidade durante seu reinado.
 
Berlim na Segunda Guerra
 
"Roma é nosso ponto de partida e referência", disse Mussolini a uma multidão durante a celebração do aniversário da cidade em 1922, pouco depois de tomar o poder. "Ela é nosso símbolo ou, se preferirem, nosso mito. Sonhamos com uma Itália romana, que é sábia e forte, disciplinada e imperial. Muito do que foi o espírito imortal de Roma ressurge no Fascismo."
Mas os fascistas se depararam com um problema: desde a Antiguidade, Roma cresceu cobrindo suas ruínas, absorvendo-as no tecido de uma cidade em constante mudança. Pessoas ergueram casas entre capitéis e pilares antigos, construíram suas casas sobre eles com pedras removidas de suas estruturas. Distritos inteiros cresceram cobrindo ruínas e apagando o legado do qual os fascistas dependiam.
 
Desfile nazista
 
Para resolver esse problema, Mussolini ordenou grandes escavações, removendo casas e distritos inteiros e realocando populações que lá viviam. Ele escavou o mausoléu de Augusto, construindo uma praça fascista a seu redor; removeu prédios que se aglomeravam perto do Teatro de Marcellus; e desenterrou o solo da Arena do Coliseu, retirou toda a verdejante vegetação local e trazendo à tona seu hipogeu (monumentos funerários que ficavam no subsolo).
Em maio de 1938, apenas 16 meses antes do início da Segunda Guerra Mundial, Hitler visitou Roma. Durante a visita, Mussolini mostrou ao ditador alemão uma capital italiana transformada, com ruínas recuperadas e em evidência. Hitler passeou pela cidade à noite, e técnicos de Mussolini destacaram as ruínas recém-escavadas com luzes vermelhas. O passeio cruzou as principais ruínas de Roma, terminando no bem-iluminado Coliseu.
O Führer alemão ficou tão impressionado quanto Mussolini esperava. Hitler também sempre fora fascinado por ruínas. Em seu escritório no Reichstag, Hitler pendurou um retrato do Fórum Romano feito pelo artista francês Hubert Robert, do século 18; o próprio Hitler retratou várias ruínas quando foi pintor. E com frequência, o líder nazista expressava seu ódio à arquitetura moderna e seu amor pela arquitetura clássica da Roma Antiga.
 
"Se Berlim vier a ter o mesmo destino de Roma", elaborou Hitler em 1925, "as gerações seguintes poderiam admirar apenas as lojas de departamentos dos judeus e os hotéis de algumas corporações como as obras mais imponentes do nosso tempo, a expressão característica da cultura de nossos dias".
Para Hitler, as ruínas do passado apontavam para uma versão idealizada da história, o que ele esperava emular em seu Terceiro Reich. "Hitler gostava de dizer que o propósito de suas construções era transmitir seu tempo e seu espírito à posteridade", lembrou o arquiteto-chefe do Terceiro Reich, Albert Speer, em suas memórias.
"Em última análise, tudo o que restou para lembrar os homens dos grandes períodos da história foi sua arquitetura monumental", observou ele. "O que restou dos imperadores do Império Romano? O que lhes daria evidência hoje se não suas construções (...) Assim, as edificações do Império Romano permitiriam que Mussolini se referisse ao espírito heroico de Roma quando quisesse inspirar seu povo com a ideia de um império moderno."
Em resposta a essa ansiedade, Hitler e Speer criaram a teoria do Ruinenwert, ou "valor da ruína". A ideia era criar uma arquitetura que deixasse, mesmo em seu estado decadente, um exemplo inspirador para as futuras gerações. Essa filosofia da arquitetura é visível em grandes projetos arquitetônicos como a arquibancada do campo de Zeppelin (obra de Speer), em Nuremberg, inspirada no antigo Altar de Pérgamo, exposto no mesmo museu (Berlim) onde está a Porta de Ishtar, da Babilônia.
No final das contas, nem as construções da era Hitler, nem os palácios de Saddam conseguiram deixar legados monumentais - ou foram destruídos ou estão largados para a ação do tempo e de grafiteiros.
BBC Brasil

42 bilhões de reais: a conta que a América Latina paga por não estar integrada em uma zona de livre comércio

 
Visão general do porto de Veracruz, o cais comercial mais antigo de México.
A integração comercial é um dos grandes mantras latino-americanos dos últimos tempos. Depender menos das vendas para países terceiros e mais das exportações aos seus próprios vizinhos é uma das grandes metas, muito parcialmente cumpridas, das principais economias da região. Este objetivo deixaria de lado a atual plêiade de acordos de livre comércio em favor de um único tratado que uniria todo o subcontinente, desde Ciudad Juárez até o Cabo Horn. Os números impressionam: o fluxo comercial aumentaria em até 11,3 bilhões de dólares (cerca de 42,2 bilhões de reais) — um crescimento de 3,5% —, de acordo com um estudo divulgado nesta terça-feira pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), um dos mais completos publicados até o momento.
Embora quase 90% dos bens comercializados na América Latina e no Caribe estejam livres de integrar, um acordo único latino-americano teria efeitos positivos de segunda ordem: o comércio de bens intermediários — que são incorporados aos bens exportados — aumentaria 9%, fortalecendo as atuais frágeis cadeias de valor regionais. E as exportações de produtos acabados, por sua vez, mostrariam uma alta entre 1% — dos produtos de mineração nos países andinos — até 21% para os produtos agrícolas da América Central; as exportações de bens manufaturados do México poderiam crescer 8%.
"É difícil entender por que as três maiores economias da região, Brasil, México e Argentina, continuam sem um acordo comercial", observa Mauricio Moreira, economista-chefe do setor de Integração e Comércio do BID. "Representam, em conjunto, metade do PIB de toda a América Latina e do Caribe. Mas o comércio entre eles não chega a 8%." "A chave é que esses três países possam se integrar", acrescenta Ignacio Bartesaghi, diretor do departamento de Negócios Internacionais e Integração da Universidade Católica do Uruguai. "No entanto, não acho que haja vontade política suficiente para isso."
A América Latina está dividida hoje, em termos gerais, em dois grandes blocos comerciais e uma série de pequenos tratados. A Aliança do Pacífico (que desde 2011 inclui o México, a Colômbia, o Peru e o Chile) e o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) representam mais de 80% do PIB de toda a região. Embora esta gama de acordos tenha conseguido aumentar em 64% o comércio inter-regional, seus benefícios não estiveram, segundo os técnicos do BID, "à altura do que um mercado de cinco trilhões de dólares poderia oferecer". Tampouco conseguiram fazer com que o subcontinente desse um verdadeiro salto de competitividade em escala global.
A organização financeira internacional com sede em Washington propõe um roteiro ambicioso com um único objetivo: aproveitar todas as possibilidades oferecidas pelo livre comércio por meio da convergência de várias áreas de livre intercâmbio ou, pelo menos, de comércio preferencial. "Isolados e sem uma massa crítica", explica Antonio Estervadeordal, gerente do setor de Integração e Comércio do BID, "estes tratados estão condenados à irrelevância ou mesmo a uma morte lenta, à luz dos mega-acordos já em vigor na Europa, Ásia e América do Norte".
A onda protecionista iniciada por Donald Trump desde sua chegada à Casa Branca, há um ano e meio, é uma exceção à regra. Alheio a essa regressão, o restante do mundo, com a China, Japão e União Europeia na liderança, continua apostando no livre comércio como via à prosperidade. Nos últimos meses foram criadas as bases do TPP, que – já sem os Estados Unidos, que se autoexcluiu após a vitória do magnata republicano – permitirá a livre movimentação de bens e serviços entre 11 nações da bacia do Pacífico, entre elas o México, Chile e Peru. E foi reeditado o pacto comercial entre o México e o bloco europeu. São, todos elas, mensagens claras de que o mundo segue um caminho diferente ao escolhido por Trump. Nesse entorno tumultuoso ao comércio internacional, uma verdadeira unidade latino-americana é um desejo mais importante do que nunca: como uma espécie de seguro contra potenciais perdas de mercados. “Um tratado de livre comércio desse tipo poderia atenuar em até 40% os efeitos negativos dos atritos do comércio mundial sobre as exportações latino-americanas”, diz Estervadeordal.
Em abril do ano passado, durante o Foro Econômico Mundial sobre a América Latina realizado em Buenos Aires, os chanceleres do Mercosul e da Aliança do Pacífico iniciaram um processo de integração que consideraram irremediável e irreversível. Para os dois blocos, se tratava de um movimento defensivo diante de um mundo que se tornou mais complicado ao comércio dos países emergentes. O protecionismo dos EUA acabou por convencer a região da necessidade de potencializar suas relações inter-regionais. Enquanto o México olhou em direção ao Sul, como uma maneira de diversificação de sua matriz exportadora muito concentrada na maior potência mundial, as economias do Mercosul decidiram olhar em direção ao Oeste, onde encontraram até agora posições irreconciliáveis com as políticas de esquerda que caracterizaram seus Governos. Tudo mudou com o rumo liberal tomado na Argentina em dezembro de 2015, com a chegada de Mauricio Macri ao poder.
A mudança de época é evidente. Os membros do Mercosul sempre olharam com receio seus vizinhos da Aliança. O primeiro via o segundo muito alinhado aos EUA. O segundo acusava o primeiro de ser politizado e pouco eficiente. Mas Macri e seu homólogo brasileiro, Michel Temer, decidiram abrir o Mercosul ao mundo. E Trump fez o resto para convencer o México e, em menor medida, o Chile, da necessidade de reduzir a dependência comercial com Washington.
Decidiram então avançar à integração com um bloco, o Mercosul, que agora se apresenta mais amigável.
O BID entende que uma eventual união dos dois maiores blocos sub-regionais criará um mercado de 4,3 trilhões de dólares (16 trilhões de reais). “Já existem sinais concretos e promissores de que essa convergência é algo mais do que uma expressão de desejos”, diz o texto do BID, em referência ao acordo de 2017. Qualquer acordo possível, entretanto, não contempla uma fusão e sim entendimentos que agilizam o comércio e derrubam barreiras alfandegárias. Isso já seria o bastante, se for levado em conta todo o caminho que resta percorrer. Basta comparar o nível do comércio inter-regional em outras áreas do mundo: 69% na União Europeia, 55% na Ásia e somente 18% na América Latina.
“Os lucros dos 33 acordos existentes foram menores do que o esperado: os Governos devem ir além da retórica política e fazer um esforço unificador em detrimento do mosaico atual de pequenos acordos”, diz Moreira. “O momento político no México, Argentina e Brasil é propício. E a dificuldade na renegociação do TCL [que une o México, EUA e Canadá desde 1994, e que Trump ameaça implodir se suas exigências não forem atendidas] é um incentivo a mais”, finaliza o economista chefe do setor de Integração e Comércio do BID.
 

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Projeto de trem que viaja a 1.200 km/h prevê viagem de Orlando a Miami em 25 minutos

 
O projeto do Hyperloop One, um trem de alta velocidade que será movido à energia elétrica e viajará a cerca de 1.200 quilômetros por hora, está cada vez mais próximo de se tornar realidade. Na última quinta-feira (14), foram anunciados os trajetos escolhidos para participar da próxima etapa de desenvolvimento. Agora, os finalistas receberão investimentos para desenvolver estudos de capacidade dos projetos.
Segundo informações do Fox News, o Hyperloop One, que começou com um esforço privado e foi lançado pela primeira vez em 2013 pelo bilionário Elon Musk, CEO da empresa automotiva Tesla, tem quatro representantes dos Estados Unidos entre os dez escolhidos para a final, incluindo uma rota que liga as cidades de Orlando e Miami, ambas no estado da Flórida, em uma viagem de aproximadamente 26 minutos.



"O Hyperloop One Global Challenge começou como um apelo à ação para inovadores, engenheiros e sonhadores ao redor do mundo, pessoas que compartilhassem a nossa visão de criar um novo modelo de transporte", afirmou Shervin Pishevar  co-fundador e presidente executivo do grupo Hyperloop One, no comunicado que anunciou os finalistas. "O projeto foi um sucesso. Recebemos propostas de mais de 100 países. Como nós, eles acreditam que o Hyperloop não vai apenas resolver problemas de transporte e de desenvolvimento urbano, mas também tem um vasto potencial econômico e pode transformar as cidades e o modo que as pessoas vivem", disse Shervin.
Após o anúncio, a empresa confirmou que pretende iniciar os primeiros testes no Hyperloop One ainda este ano. De acordo com o planejamento, a ideia é que os veículos possam transportas cargas a partir de 2020 e, no ano seguinte, isso se expanda também para passageiros.



A proposta do trecho Miami-Orlando, que é a segunda menor entre todos os finalistas, com apenas 413 quilômetros, terá como adversárias na última etapa as seguintes rotas: Cheyenne-Denver-Pueblo (EUA), Chicago-Columbus-Pittsburgh (EUA), Dallas-Houston (EUA), Edinburgo-Londres (Inglaterra), Glasgow-Liverpool (Reino Unido), Cidade do México-Guadalajara (México), Bengaluru-Chennai (Índia), Mumbai-Chennai (Índia) e Toronto-Montreal (Canadá). 
 

Exercícios de força para as pernas trazem benefícios para o corpo

Se você precisava de algum incentivo para subir as escadas com mais frequência, sair para correr ou mesmo se arriscar em uma sequência de agachamentos, aqui está.
 
Exercitar as pernas tras benefícios para o cérebro. 
 
De acordo com o estudo "Redução do Movimento nas Doenças Neurológicas: Efeitos nas Características das Células-Tronco Neurais", publicado na revista acadêmica Frontiers in Neuroscience, trabalhar regularmente as pernas, especialmente quando você faz uso de estímulos de força com ajuda de cargas e pesos, é essencial para a produção de células neuronais saudáveis.
"Não é por acaso que somos programados a ser ativos: caminhar, correr, agachar para sentar e usar os músculos das pernas para erguer as coisas fazem parte do nosso cotidiano. A saúde neurológica não é uma via de mão única com o cérebro dizendo que os músculos levantam, andam e assim por diante. Eles precisam ser exercitados", explica a médica e pesquisadora Raffaella Adami, da Università degli Studi di Milano, na Itália.
Os pesquisadores realizaram um experimento de 28 dias em que permitiram que um grupo de camundongos usasse apenas as suas patas dianteiras em atividades do seu dia a dia. Os ratos tiveram um comportamento normal, sem quaisquer sinais de estresse exibido.
Após os 28 dias, os pesquisadores foram estudar os cérebros dos animais, particularmente a zona sub-ventricular, onde os neurônios são produzidos por células-tronco neurais.
Quando comparado a um grupo controle de camundongos irrestritos e autorizados a utilizar todas as suas patas, o número de células-tronco neurais diminuiu em 70% nos camundongos que tinham o uso das patas traseiras restrito.
Os pesquisadores também observaram que tanto os neurônios quanto os oligodendrócitos (células neurais especializadas) eram incapazes de amadurecer completamente quando a atividade física era reduzida.
"Nosso estudo parte da ideia de que as pessoas que não são capazes de fazer exercícios de peso - como os pacientes que estão acamados - não perdem apenas a massa muscular, mas a química do seu corpo é alterada em nível celular, e até mesmo o seu sistema nervoso é prejudicado ", explicou Adami.
Estudando as células individuais, os pesquisadores também notaram alterações no metabolismo dos ratos devido à redução de oxigênio pela falta de exercício. Além disso, a capacidade reduzida de movimento impactou a saúde da mitocôndria, responsável por liberar energia para o corpo.
Doenças neurológicas, como a atrofia muscular espinhal (AME), têm sido uma área de interesse para o grupo de pesquisadores. Para ao médico Daniele Bottai, co-autor da pesquisa, os músculos do cérebro e das pernas têm uma relação direta. A saúde neurológica depende de sinais enviados pelos músculos das pernas, tanto quanto a saúde muscular depende dos sinais do cérebro.
Para os pesqusiadores, os resultados do estudo podem ajudar os profissionais a entender melhor por que os pacientes com doença dos neurônios motores, esclerose múltipla e outras doenças neurológicas tem o quadro piorado quando o movimento das pernas se torna limitado.

Quem foi Roland-Garros, o aviador que deu nome ao famoso torneio de tênis francês?

Roland Garros 2018
 
Pouco antes de começar, o torneio de Roland Garros proporcionou neste domingo uma jornada lúdica e calorosa em que as crianças parisienses puderam curtir seus heróis de perto. Participaram do tradicional Kid’s Day ídolos como Rafael Nadal, Novak Djokovic e Maria Sharapova, que arrancaram sorrisos e ovações com uma divertida exibição na quadra central de um belo complexo que lentamente vai mudando de fisionomia por exigência dos novos tempos. Na corrida para a modernidade, o grande torneio francês está atrás dos outros três Grand Slams, mas há um ano implantou um plano de reestruturação ambicioso para ficar no mesmo nível do Aberto da Austrália, Wimbledon e do Aberto dos Estados Unidos. Mas sem perder a essência ou esquecer as raízes. Paris é Paris, la grandeur est la grandeur (a grandeza é a grandeza) e Roland Garros é Roland Garros. História pura.
Ontem, nas ruas ao redor do complexo, muitos fãs carregavam orgulhosamente uma pequena revista em que não apareciam Nadal, Djokovic e Sharapova; na verdade, não havia tenista algum em suas páginas. Na capa, um retrato antigo de um homem com olhar desafiador, perfilado, com uma boina de trás para a frente e um curioso bigode. Uma imagem que, aparentemente, o faz ter muito pouco a ver com a raquete. Aparentemente
Tratava-se de Roland Garros, l’homme qui flirtait avec les nuages (o homem que flertou com as nuvens), como o descreveu uma manchete da revista Paris Match. O mito, o combatente, o aviador que flertava com as nuvens e que, ao contrário do que muita gente pensa, nunca jogou tênis profissionalmente. Porque foi um símbolo, herói nacional e origem do nome do grande torneio francês em 1928, mas nunca tenista.
Neste ano completam-se exatamente 100 anos de sua morte e Paris prepara eventos de grande pompa que acontecerão ao longo das próximas duas semanas. “Tudo é pouco para homenageá-lo”, diz o diretor do torneio, o ex-jogador Guy Forget, para recordar Eugène Adrien Roland Georges Garros, pioneiro da aviação nascido na Ilha da Reunião, no sudeste da África, que morreu 30 anos depois durante um combate nas Ardenas, perto de Vouziers. Um homem que deixou sua marca no ar e na memória histórica da França, pois se tornou o primeiro piloto que conseguiu cruzar o Mediterrâneo sem paradas, em 1913, em uma travessia que começou em Fréjus e terminou em Bizerta (Tunísia), em menos de seis horas.
Tenista e ciclista amador, naquele mesmo ano conseguiu estabelecer um novo recorde de altitude, atingindo 18.410 pés, e um ano depois, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, alistou-se voluntariamente nas forças aéreas do exército francês. Sua perícia nas nuvens não impediu que realizasse em 1915 um pouso de emergência na Alemanha, onde foi capturado. Permaneceu durante três anos em um campo de prisioneiros, mas conseguiu fugir usando um uniforme do inimigo. Depois de passar pela Holanda e pelo Reino Unido, voltou a Paris e retomou o combate. Pilotava um SPAD S.VII, mas um Fokker D VII das forças inimigas o abateu e ele morreu em 1918, quando não tinha completado 30 anos.

‘Mort pour la France’ e outras honrarias

Pioneiro também no desenvolvimento de um sistema de metralhadoras que permitia disparar através das hélices o avião, após a morte foi ganhando reconhecimento. Mort pour la France – distinção nacional em honra aos caídos em combate e oficial da Legião de Honra, em 1928 foi homenageado para sempre. Um ano antes, seus compatriotas René Lacoste, Henri Cochet, Jacques Brugnon e Jean Borotra – conhecidos como Os Quatro Mosqueteiros do tênis francês – derrotaram os Estados Unidos na Copa Davis, em uma série decidida na Filadélfia. Para sediar a final, a Federação Francesa de Tênis (FFT) decidiu construir um estádio em menos de um ano, muito perto da Porte d’Auteuil, que recebeu o nome de Roland Garros.
O precedente aponta para 1891, quando surgiu o Campeonato da França, mas o nome definitivo (Les Internationaux de France de Roland-Garros) ficou inscrito depois de o aviador ter sido abatido, há 100 anos. Por isso é lembrado por seu país e pelo tênis. “Champion des Champions”, sugere uma definição daquela época. Campeão nas alturas, mas não tenista.

sábado, 26 de maio de 2018

A pioneira da tecnologia que proíbe aparelhos eletrônicos e telas em sua casa

Belinda Parmar costumava se referir a si mesma como uma "evangelizadora da tecnologia".
 
Belinda Parmar
Ela fazia visitas frequentes a escolas para incentivar meninas a explorar essa área de conhecimento e até mesmo recebeu da rainha Elizabeth 2ª a Ordem do Império Britânico, conferida pela Coroa por contribuições a artes e ciências, e, no caso dela, por ajudar a aumentar a participação feminina nessa indústria.
Hoje em dia, ela continua a ser uma entusiasta da tecnologia e da liberdade e benefícios que isso gera, mas também conheceu seu lado negro em primeira mão - e se preocupa em como isso pode afetar seus filhos.
Com base em novas pesquisas e sua experiência pessoal, ela acaba de lançar a campanha #TheTruthAboutTech (#AVerdadeSobreATecnologia, em inglês) para alertar adultos e crianças sobre os possíveis malefícios da tecnologia.
Parmar não tem problema em falar sobre o que a motivou a ter essa iniciativa. "Tenho um filho viciado em videogames. Um sobrinho passou seis semanas em um hospital psiquiátrico, porque se negava a ir à escola, só queria jogar videogame o dia todo", conta ela à BBC.
"Isso me fez enxergar o lado ruim da tecnolgia. A verdade é que não podemos controlá-la, ela é que nos controla."

'Tecnologia lixo'

A neurociência aponta que o desenvolvimento cognitivo de uma pessoa continua até os 25 anos.

Desde que nascemos até atingirmos essa idade, a maturidade emocional, nossa autopercepção e a forma como avaliamos o que ocorre à nossa volta vão se alterando conforme o córtex pré-frontal do cérebro se desenvolve.
Nesse período, as crianças usam a tecnologia, de redes sociais a videogames muitas vezes sem supervisão de um adulto.
Parmar analisou pesquisas sobre o tema e diz que os potenciais danos da "tecnologia lixo", aquela que não enriquece nossas vidas, podem ser:
- Desensibilização e agressão: "Jogar games violentos não transformará seu filho em um assassino, mas, quando jogam, eles são levados a ver a violência como algo trivial", explica Parmar.
- Achar que ações não têm consequências: nos videogames, o mau comportamento não é punido. Se você comete um erro, tem uma outra vida para seguir jogando.
- Desenvolver uma obsessão: Parmar diz que 5% das crianças se viciam em videogames.
"Algumas crianças podem ter uma relação perfeitamente saudável com a tecnologia, enquanto outras ficam patologicamente dependentes dela", diz.

Mulher usa smartphone

Gratificação instantânea

Isso tem alguma relação com o transtorno de déficit de atenção e a hiperatividade? Ou com a dopamina, neutransmissor ligado a sensações de prazer, gerada em nosso corpo quando matamos um monstro virtual ou recebemos uma curtida nas redes sociais?
Foram perguntas feitas por Parmar a si própria: "Como mãe, como compenso esse nível de excitação ou gratificação instantânea?".
Ao fundar sua empresa, a Lady Geek, consultoria para aproximar as mulheres e a indústria de tecnologia, ela costumava pensar que a tecnologia era uma forma de democratizar o mundo. "O maior erro foi crer que a tecnologia é neutra", ela diz hoje.
"A verdade é que, apesar de todas as promessas de democratização, creio que a tecnologia está alimentando um déficit de empatia no mundo."
Parmar diz que a tecnologia "não é como a obesidade: todo mundo sabe que isso é algo ruim para nós, podemos fazer campanha contra ela". "O problema com a tecnologia é que ela tem muitos benefícios e aspectos positivos", afirma.

Equilíbrio como solução

Crianças usam computador
 
Parmar defende que tenhamos uma vida mais equilibrada. Por isso, lançou sua campanha. "Trata-se de usar a tecnologia de forma que nos conecte, nos ponha de novo em contato com nossas famílias", explica.
Ela acredita que os "ditadores digitais do Vale do Silício" devem refletir sobre as plataformas que estão criando e os produtos que oferecem. "Há muitas técnicas de apropriação e manipulação extrema", diz, citando "o retrato perfeito no Instagram que nos reafirma com base no número de curtidas. O valor de nossas amizades segundo o Snapchat. As bolhas sociais criadas pelo Facebook".
Parmar diz que os os adultos são responsáveis por controlar não só seus próprios hábitos, mas os de seus filhos. Ela avalia que 70% da tecnologia consumida por crianças pode ser definida como "tecnologia lixo".

Meninos jogam videogame

As dificuldades

Mas ela reconhece não ser fácil impôr limites. "Está em nossas mãos esse controle, mas, para cada pessoa que decide como usar um aparelho ou aplicativo, há milhares de desenvolvedores que trabalham para mantê-la conectada. Como competir?"
Sean Parker, cocriador do Facebook, diz que a rede social deve grande parte de seu êxito à dopamina que produz em nós. Sua frase "Só Deus sabe o que isso está fazendo ao cérebro de nossos filhos" viralizou em novembro do ano passado.
Parmar vai um pouco além: "O inventor do botão 'curtir' do Facebook, Justin Rosenstein, apagou sua conta na rede social por medo de ficar viciado. Steve Jobs não deixava seus filhos brincar com iPads... Sem dúvida, essas empresas deveriam ajudar-nos a controlar esse problema em nossas famílias."
Ela também avalia que não somos bons em lidar com esse problema, porque, em parte, negamos nossa obsessão com a tecnologia.

Crianças usam celular

"Sabe quantas vezes uma pessoa checa seu celular por dia? Em média, 82!", diz.
"Uma estatística que me impactou foi a de que um adulto subestima em 50% a quantidade de tempo que passa no celular. Assim, se nós não temos nem ideia disso, imagine uma criança?"

Como dar o exemplo

Parmar diz que muitas vezes nos esquecemos que devemos dar o exemplo. "Sei disso por experiência própria. Quando estava fundando a Lady Geek, a primeira coisa que fazia ao acordar era checar o Twitter", diz.
"A essa altura, eu tinha dois filhos e deveria dar mais atenção a eles e não às redes sociais. O que tinha de fazer - e reconheço que ainda trabalho nisso - é parar e pensar que, se quero que meus filhos façam o que digo, devo ser um exemplo a ser seguido por eles."
Em outras palavras, afirma ela, "não podemos restringir todo o acesso de nossos filhos a tecnologia se não nos comportamos de forma adequada".
Parmar afirma que "não há uma solução mágica", mas faz algumas sugestões do que ter em mente ao tentar afastar as crianças da "tecnologia lixo".
1. Não é culpa do seu filho: estamos enfrentando uma epidemia, lembre-se disso.
2. Dê o exemplo: ninguém gosta de hipocrisia, então seja um exemplo a ser seguido.
3. Proíba as telas: quando estiverem comendo, quando estiverem conversando, quando saírem. Decida as atividades em família em que as telas são vetadas. Seja firme.
4. Crie espaços livres de telas: algumas áreas deveriam ser livres de tecnologia, e as crianças não deveriam nunca ter telas em seus quartos.
5. Seja consistente: para que seu plano tenha sucesso, todos os membros de sua família devem participar dele. Pais, cuidadores e filhos devem seguir as mesmas regras.
 

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Índia registra vários eventos extremos em maio de 2018

Cidade foi atingida por mais de 40 mil raios em 13 horas

A Índia foi atingida por uma série de trovoadas, tempestades de poeira e relâmpagos intensos desde o início de 2018. Os eventos destruíram casas, plantações e tiraram a vida de mais de cem pessoas.
No ultimo mês de abril, o estado de Andhra Pradesh, no sudeste da Índia, recebeu cerca de 40 mil raios em 13 horas - número maior do que o registrado em todo o mês de maio de 2017. Diversas pessoas e casas foram atingidas.
No dia 2 de maio de 2018, fortes tempestades acompanhadas de vento intenso e relâmpagos varreram a região de Rajhastan, no norte indiano, e derrubaram grandes estruturas. As potentes tempestades provocaram uma das tempestades de poeira mais mortais em décadas.
Uma semana depois, a mesma região foi atingida por mais tempestades violentas que provocaram relâmpagos, ventos de 110 km/h e violentas tempestades de areia.
O mapa acima abaixo aerossóis, incluindo poeira, sobre o norte da Índia no dia 14 de maio de 2018, próximo do horário da segunda tempestade de poeira. As medições dos aerossóis foram registradas pelo "Ozone Mapping and Profiler Suite (OMPS)", a bordo do satélite Suomi NPP. A poeira é naturalmente impedida de se mover para o norte pela cordilheira do Himalaia. Além de causar acidentes e baixa qualidade do ar, os aerossóis de poeira podem influenciar a quantidade de calor transmitida à superfície da Terra, espalhando ou absorvendo a entrada de luz solar.



Tempestades de poeira e tempestades são comuns na Índia neste período, mas a intensidade deste ano parece ser anormal. O clima incomum pode ter uma série de causas, incluindo a umidade extra de uma circulação ciclônica sobre a Bengala Ocidental colidindo com ventos empoeirados e destrutivos. Altas temperaturas na área também tornaram a atmosfera instável, o que aumentou as tempestades e ventos fortes. Algumas pesquisas sugerem que altas temperaturas em um mundo em aquecimento podem aumentar a intensidade das futuras tempestades de poeira.
O número excepcionalmente alto de raios foi causado por ventos frios do Mar da Arábia que colidiram com ventos mais quentes do norte da Índia. Isso causou a formação de mais nuvens do que o normal. A Índia tem sido propensa a raios, que acredita-se que seja a causa de mais mortes do que qualquer outro perigo natural no país.
O segundo mapa mostra a média anual de relâmpagos na Índia, entre 1998 a 2013. A visualização foi feita a partir de dados adquiridos pelo Lightning Imaging Sensor (LIS) no satélite da missão de medição de chuva tropical da NASA. O sudeste da Índia geralmente tem atividade relâmpago aumentada antes da estação das monções, à medida que os padrões de aquecimento e clima se tornam instáveis e mutáveis.



Coca-Cola: Embalagens 100% recolhidas

 
A The Coca-Cola Company anunciou em janeiro sua nova política de embalagens, cuja meta mundial é, até 2030, ajudar a recolher o equivalente a 100% desses itens que põe no mercado. No Brasil, a empresa chegará ao fim de cinco anos (2016-2020) com investimento de R$ 1,6 bilhão para garantir a realização desse objetivo, atuando em design, coleta e parceria. Atualmente, a Coca-Cola Brasil garante a destinação correta para 51% das embalagens produzidas (eram 36% em 2016) e busca chegar a 66% até 2020, graças ao aumento de participação de embalagens retornáveis, uso de resina reciclada na confecção de novas garrafas e apoio a mais de 200 cooperativas de reciclagem locais. A empresa está investindo em infraestrutura, entre ampliação de linhas de retornáveis, equipamentos de fábrica, compra de vasilhames e engajamento do consumidor, e em cooperativas de reciclagem. Do R$ 1,6 bilhão previsto entre 2016 e 2020, R$ 1,2 bilhão representa o investimento de hoje até 2020.
 

quinta-feira, 24 de maio de 2018

6 perguntas para entender a alta nos preços da gasolina e do diesel

Bomba de gasolina
 
A gasolina ultrapassou a barreira dos R$ 4 nos postos de gasolina em dezembro de 2017 e, desde então, sobe de forma contínua e gradativa em todo o país. Influenciada pelo aumento do dólar e do petróleo, a escalada de preços dos combustíveis se intensificou neste mês, irritou consumidores e motivou uma greve de caminhoneiros, que estão parados desde segunda-feira.
A variação é reflexo da política de preços vigente desde 2016 na Petrobras, que passou a acompanhar as oscilações internacionais. Até 2015, os preços da gasolina e do diesel eram influenciados por decisões do governo, que chegou a usá-los como instrumento para controlar a inflação, com prejuízo bilionário para o caixa da estatal.
Na última semana, depois de cinco dias consecutivos de reajustes, o governo chegou a cogitar novos mecanismos de controle e corte de impostos. Na noite de terça-feira, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, anunciou que a Cide, o tributo que tem menor peso sobre o preço nas bombas, seria zerada sobre o diesel.
A BBC Brasil explica em seis perguntas por que a medida deve ter impacto limitado, os fatores por trás do aumento dos combustíveis e o cenário para os próximos meses.

Por que o preço subiu tanto?

Desde julho do ano passado, quando os preços da Petrobras passaram a acompanhar as oscilações internacionais, a variação do dólar e da cotação do petróleo são as principais influências sobre o valor praticado nas refinarias.
Hoje, a trajetória desses dois preços é desfavorável para os consumidores de combustível brasileiros, explica o economista da MacroSector Consultores Fabio Silveira.
O petróleo, depois de dois anos em mínimas recordes, vem ficando mais caro desde junho de 2017. Na semana passada, o barril do tipo Brent, negociado na bolsa de Londres, atingiu o maior valor desde 2014, US$ 80, pressionado pelas incertezas em dois grandes produtores, o Irã, que voltou a ser alvo de sanções pelos EUA, e a Venezuela, mergulhada em uma crise política e econômica.
No início de 2016, o preço do barril chegou a US$ 30.
Gráfico
O dólar, por sua vez, tem ficado mais caro diante do aumento dos juros nos Estados Unidos - à medida que ele eleva a rentabilidade dos ativos americanos, considerados mais seguros, estimula a saída de dólares de mercados como o Brasil.
Esses dois movimentos explicam porque, entre fevereiro e maio, o preço da gasolina que saiu das refinarias para as distribuidoras saltou de R$ 1,57 para R$ 2,08 e o do diesel, de R$ 1,81 para R$ 2,37.
Nas bombas, a alta foi de R$ 4,12 para R$ 4,28 para a gasolina e de R$ 3,38 a R$ 3,59 para o diesel, de acordo com os números da Agência Nacional do Petróleo (ANP), que acompanha os preços em todo o país.
Entre julho de 2017, quando a política de preços da Petrobras permitiu que os reajustes nos preços fossem diários, e abril deste ano, a gasolina ficou quase 30% mais cara, calcula o economista Walter de Vitto, da Tendências Consultoria.
Colocando os números preliminares do mês de maio na conta, o aumento salta para 46%.

Como era antes?

Entre 2011 e 2015, a variação dos preços internacionais era repassada de forma defasada aos preços dos combustíveis no país, um mecanismo usado pelo governo para tentar segurar o aumento da inflação.
Quando a conjuntura internacional era desfavorável, a Petrobras chegou a importar combustível mais caro e vendê-lo mais barato no mercado interno.
Essa diferença gerou uma série de prejuízos para o caixa a estatal - uma conta que passou de R$ 75 bilhões no fim de 2014. A política orientada para o controle da inflação é apontada como uma das principais responsáveis pelo alto nível de endividamento da Petrobras no período, que chegou a US$ 124 bilhões.

Como é formado o preço da gasolina?

Os valores praticados pela Petrobras são aproximadamente um terço do preço pago pelo consumidor nos postos. Do total, 11% é o custo do etanol, que, por lei, deve compor 27% da gasolina comum, e 12% corresponde aos custos e lucro dos distribuidores, conforme os cálculos da Petrobras, que levam em conta a coleta de preços entre os dias 6 e 12 de maio em 13 regiões metropolitanas do país.
Cerca de 45% são tributos, sendo 29% ICMS, recolhido pelos Estados, e 16% Cide e Pis/Cofins, de competência da União.
Os tributos federais são cobrados como um valor fixo por litro - o de Pis/Cofins, por exemplo, é de R$ 0,7925 por litro de gasolina; a Cide, de R$ 0,10 por litro.
Na última semana, depois de cinco dias de reajustes consecutivos nos preços, o governo chegou a cogitar ambas as saídas, gerando reações negativas da equipe econômica e da Petrobras, e acabou decidindo zerar a Cide.
 
Mais tarde, contudo, o ministro da Fazenda anunciou que a Cide seria zerada para o diesel e que a perda de arrecadação do governo com a medida seria compensada pela reoneração da folha de pagamentos das empresas, medida que tramita na Câmara e que os deputados teriam se comprometido a aprovar como contrapartida ao corte.
"Acabaram mexendo no imposto que tem menos impacto para o consumidor", diz De Vitto, da Tendências. A Cide é cobrada como um valor fixo, de R$ 0,05 por litro de diesel, com impacto de cerca de 2% sobre o preço.
Apesar de a carga tributária sobre os combustíveis ser alta, economistas avaliam que este não seria o momento ideal para cortar impostos por causa da situação frágil das contas do governo, que não permitiria que ele abrisse mão de fontes de receita.
Uma eventual influência na política de preços da Petrobras para baixar "à força" os preços, por sua vez, seria ainda pior, com impacto negativo sobre o processo de recuperação da empresa.
Na terça-feira, pouco depois de a Petrobras anunciar redução nos preços dos combustíveis nas refinarias, motivada pela queda do dólar, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, e o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco - que havia declarado que o governo poderia discutir mudança na política de preços da estatal - se reuniram para discutir a questão.
Na saída do encontro, Guardia declarou que não havia espaço para cortar impostos, diante da dificuldade de equilibrar as contas públicas, e Parente destacou que o mecanismo de reajuste não seria alterado.
 
Pedro Parente
O ICMS, por sua vez, é um percentual sobre o preço de venda - ou seja, cada vez que ele sobe, os Estados recolhem mais impostos.
 
 
Mais tarde, contudo, o ministro da Fazenda anunciou que a Cide seria zerada para o diesel e que a perda de arrecadação do governo com a medida seria compensada pela reoneração da folha de pagamentos das empresas, medida que tramita na Câmara e que os deputados teriam se comprometido a aprovar como contrapartida ao corte.
"Acabaram mexendo no imposto que tem menos impacto para o consumidor", diz De Vitto, da Tendências. A Cide é cobrada como um valor fixo, de R$ 0,05 por litro de diesel, com impacto de cerca de 2% sobre o preço.
Apesar de a carga tributária sobre os combustíveis ser alta, economistas avaliam que este não seria o momento ideal para cortar impostos por causa da situação frágil das contas do governo, que não permitiria que ele abrisse mão de fontes de receita.
Uma eventual influência na política de preços da Petrobras para baixar "à força" os preços, por sua vez, seria ainda pior, com impacto negativo sobre o processo de recuperação da empresa.
"A ideia de intervir foi objeto de muita crítica no governo Dilma e deveria ter sido superada faz tempo", pondera o economista da Tendências.
"Esse tipo de coisa acabou com o caixa da Petrobras e provocou um 'tarifaço' em 2015, quando os preços voltaram a flutuar", concorda a professora da Coppead/UFRJ Margarida Gutierrez.
Para ela, contudo, fariam sentido mudanças que tornassem mais transparentes as regras de reajuste de preços e que fixassem uma periodicidade para as mudanças - por exemplo, a cada 15 dias. "Os preços de fato estão flutuando demais".
 

Os preços podem aumentar mais?

O cenário para a cotação do petróleo e o comportamento do câmbio, diz De Vitto, indicam que os preços de combustível devem continuar pressionados até o fim do ano.
 
Barris
 
De um lado, o barril de petróleo parmaneceria no patamar entre US$ 75 e US$ 80 nos próximos meses, enquanto o real manteria a tendência de desvalorização pelo menos até as eleições, uma das fontes de incerteza que têm tido impacto sobre o câmbio.
"A gente caminha para um período de preços altos de combustíveis", concorda Silveira, da MacroSector.

O etanol pode ser alternativa?

O alívio que o etanol pode dar em momentos como o atual é limitado, acrescenta o economista.
Em algumas regiões, a alta nos preços de derivados do petróleo pode até fazer o combustível valer a pena financeiramente.
"Mas as usinas de álcool estão fundamentalmente concentradas no Sudeste e Centro-Oeste. No Nordeste, o preço acaba sendo bem mais elevado", pondera. Em geral, o uso do álcool é vantajoso quando seu valor for menor que 0,7 vezes o da gasolina.
A "janela" para transformar o álcool em combustível relevante no país, ele afirma, se fechou alguns anos atrás.
BBC

Como funcionam as latas de bebidas, que se esfriam sozinhas, recém-lançadas nos EUA

Latas de refrigerantes
 
Tomar uma cerveja quente pode ser uma experiência ruim. Os ácidos do lúpulo se desfazem com a luz, afetando seu sabor e fazendo com que ele fique desagradável. Da mesma forma, um refrigerante quente pode ter gosto excessivamente doce e pode perder o sentido se não for tomado na temperatura adequada.
 
Lata que se autorresfria
Mas o que fazer se a pessoa não está perto de uma geladeira e não tem gelo para esfriar o produto?
A empresa californiana The Joseph Company, especializada em tecnologia e alimentação, acaba de lançar um sistema com o qual pretende solucionar o problema. A companhia anunciou o produto como "a primeira lata do mundo que esfria sozinha".
A Joseph Company afirma que passou duas décadas desenvolvendo e aperfeiçoando a tecnologia por trás das latas - chamada de "MicroCool" -, que o setor de bebidas, por sua vez, já tentava criar havia 70 anos.
"Consumidores em zonas com refrigeração limitada, participantes de atividades como camping, pesca ou navegação e pequenos comerciantes entenderão o impacto que a autorrefrigeração representa hoje em dia para a sociedade", diz a empresa.
As latas, que supostamente se resfriam em um minuto sem usar eletricidade, energia ou gelo, ainda são vendidas apenas em algumas lojas de Los Angeles, na Califórnia.

Frio 'sob demanda'

O primeiro produto a adotar as novas latas foi uma linha de café gelado espumante. O líquido vem em embalagens de 250 ml que se resfriam quando se gira uma pequena peça na base do recipiente.
Esse gesto libera o dióxido de carbono (CO2) de um depósito interno na lata. É ele que resfria a bebida dentro de 75 a 90 segundos, fazendo com que sua temperatura caia cerca em de 16ºC.
O sistema adiciona um peso de 150 gramas à lata, que custa aproximadamente US$ 4 - mais que o dobro de uma lata de Coca-Cola, por exemplo.
Mas ainda que a tecnologia seja nova, esta não é a primeira tentativa de desenvolvê-la.
 
Latas de café gelrado
 
Em 2012, a mesma empresa tentou criar essas latas para a multinacional americana PepsiCo. Naquela ocasião, no entanto, usaram um gás chamado HFC-134a, que causou polêmica.
É um gás refrigerante do tipo hidrofluorocarboneto (que contém hidrogênio, flúor e carbono) criado como alternativa aos clorofluorcabonetos (CFC), considerados mais nocivos à camada de ozônio da atmosfera.
No entanto, os hidrofluorocarbonetos persistem por mais tempo no ambiente e são mais ativos que o CO2, sendo considerados gases de efeito estufa muito potentes. Principalmente o HFC-134a, que é usado em aparelhos de ar-condicionado de automóveis.
Segundo a ONG ambientalista Greenpeace, o HFC-134a é um gás "promovido pela indústria química que, se não fere diretamente a camada de ozônio, tem uma alta influência no aquecimento global".
Por isso, o gás foi substituído pelo CO2 no novo sistema, que os fabricantes definem como "seguro para o meio ambiente".
BBC Brasil

quarta-feira, 23 de maio de 2018

O devastador negócio do tráfico de areia

Um imenso guindaste para dragagem extrai areia do leito marinho para um novo terminal do porto de Tuas, na costa oeste de Singapura.
 
Mergulhar por um dos maiores recifes de coral nas primitivas águas das Ilhas Gili. Percorrer as infinitas praias de areia branca de Lombok. Sucumbir à cativante espiritualidade de Bali.
Ficar maravilhado com os templos e vulcões de Java. Descobrir os orangotangos da selva de Bornéu. Ficar surpreso com os dragões de Komodo. São algumas das maravilhas da Indonésia, país de sonho composto por 17.500 ilhas. Um paraíso que corremos o risco de perder, porque está afundando lentamente.
O motivo? A atividade clandestina dos ladrões de areia, que de noite se aproximam da costa para roubá-la e vendê-la no mercado negro. No começo da década de 2000, o comércio ilegal de areia na Indonésia chegou a uma situação tão extrema que o país começou a perder território. Atualmente 25 ilhas já desapareceram e, com elas, suas praias.

depois da água e à frente dos combustíveis fósseis. Ela se transformou em um bem muito valioso, imprescindível às civilizações modernas. “Nossa sociedade está literalmente construída sob areia”, diz Pascal Peduzzi, chefe da unidade de Mudança Global e Vulnerabilidade do Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente e autor do relatório Areia, mais escassa do que pensamos (2014).
Tudo o que nos cerca contém areia: o cimento, o vidro, o asfalto, os aparelhos eletrônicos. Até os plásticos, os cosméticos e a pasta de dentes contêm esse elemento. Mas seu principal uso é a construção, que consome um quarto da areia do planeta. Pelos grãos angulares e desiguais da areia de praia, esta adere melhor ao se fabricar cimento; de modo que o boom imobiliário devora quantidades enormes desse recurso. A regulamentação escassa em muitos países encoraja a presença de redes mafiosas.
De acordo com um relatório das Nações Unidas, 54% da população mundial vive em áreas urbanas e se prevê que o número aumente até 66% em 2050, sendo a Índia e a China os dois países em que o aumento será maior. Esse desenvolvimento urbano exige enormes quantidades de areia para o cimento. Uma casa de tamanho médio precisa de 200 toneladas; um hospital, 3.000; um quilômetro de estrada, 30.000. Por ano são extraídos 59 bilhões de toneladas de materiais ao redor do mundo; até 85% é areia para construção, diz Pascal Peduzzi.
O problema é que a formação de areia é um processo natural lento, que precisa de anos, e a demanda é superior à capacidade de regeneração e fornecimento da própria natureza. “A nível mundial, consumimos o dobro de areia que os rios podem transportar, de modo que precisamos escavar em outras parte”, explica Nick Meynen, do Escritório Europeu do Meio Ambiente. “Agora ela é obtida dragando rios e, em escala bem menor, fundos marinhos. A estimativa é que entre 75% e 90% das praias do mundo estão diminuindo”.
As consequências ao meio ambiente são irreversíveis: destruição dos habitats, degradação dos leitos marinhos, aumento de materiais em suspensão, aumento da erosão... Se o ritmo vertiginoso da extração de areia continuar, as gerações futuras verão entornos de paisagens lunares, praias de rocha e ondas agitadas, rios e pântanos secos, territórios áridos e extinção da flora e da fauna. “Todas essas mudanças ambientais colocam em risco os ecossistemas nos rios, deltas e áreas costeiras, de modo que existem inúmeras espécies ameaçadas, de pequenos crustáceos a golfinhos de rio e crocodilos”, diz Aurora Torres, pesquisadora do Centro Alemão à Pesquisa Integral da Biodiversidade. E isso não é tudo. “Não somos conscientes do efeito cascata que essa degradação causa em nosso bem-estar”, alerta, já que a exploração excessiva de areia é ligada a um aumento de secas, inundações, vulnerabilidade contra tempestades e tsunamis e a proliferação de doenças infeciosas, como a malária. Também pode expulsar a população dos locais mais afetados e transformar as pessoas em refugiados climáticos.
 
Montanhas de material para construção, provavelmente com areia misturada com granito, entram no porto ocidental de Singapura de barco.
 
Não é preciso viajar à Indonésia para comprovar os efeitos do tráfico de areia. O negócio está em alta no Marrocos. Armados com simples pás, os trabalhadores ilegais carregam a areia em lombos de burro a caminhões de transporte. Entre Safim e Essaouira, no oeste do país, o contrabando transformou a costa dourada em uma paisagem rochosa. A areia é obtida até do Saara. Apesar de não ter a qualidade da areia das praias, as cidades de hoje precisam tão desesperadamente desse recurso finito e limitado que o obtêm de qualquer lugar.
As Ilhas Canárias são um dos principais destinos espanhóis da areia desse deserto, de acordo com denúncia da ONG Western Sahara Resource Watch (WSRW), que há anos investiga o material que sai do porto de El Aiune (Saara) em direção à Espanha para a regeneração de praias e construção de edifícios. “As Canárias importam areia do Saara; a praia de Las Teresitas é um exemplo conhecido”, diz Cristina Martínez, porta-voz da WSRW.
O Ministério da Agricultura e Pesca, Alimentação e Meio Ambiente da Espanha admite que a areia das praias do país é um recurso muito escasso. “A Lei de Costas de 1988 estabeleceu uma série de medidas para limitar a extração de materiais rochosos naturais nos trechos finais dos leitos dos rios e proibiu taxativamente a extração de areia para construção”, diz um porta-voz. O ponto 2 do artigo 63 dessa lei proíbe as extrações de areia para a construção, com exceção à criação e regeneração de praias. O Ministério de Fomento acrescenta que a tendência atual espanhola é “usar areia de trituração, que é a gerada pelos seres humanos através da trituração de material de construção”.
 
Vista aérea das obras para aumentar a área terrestre em Tuas, em Singapura, para a construção de um dos maiores portos do mundo a partir da escavação do leito marinho e da abertura de túneis na terra.
 
O negócio da areia é tão lucrativo que se tornou um fenômeno mundial, expandindo-se na mesma velocidade que a urbanização. O que há um quarto de século era uma matéria-prima comum, abundante e barata, é hoje um recurso escasso. Sua exploração é difícil de se controlar, porque está ao alcance de todos. Apesar de existirem cada vez mais leis que regulamentam sua extração, ainda não é o suficiente. “Em muitos casos o problema não é a ausência de leis e sim sua falta de aplicação”, diz a pesquisador Aurora Torres.
Essa aplicação frouxa das leis cria o cenário perfeito para que apareçam grupos organizados que controlam o negócio. Na Índia essas máfias são particularmente poderosas, porque têm ligações com a Administração e podem ter acesso aos processo de contratação. A extração e venda de areia nesse país são regulamentadas a nível provincial, mas o Governo central não é firme no cumprimento da lei. A corrupção é palpável.
“Normalmente, os políticos estão envolvidos e controlam diretamente o negócio ilícito de areia” afirma Sumaira Abdulali, ecologista, fundadora da Fundação Awaaz e uma das principais vozes de denúncia em seu país. “Os dirigentes consideram que colocar restrições a esse negócio deteria os ambiciosos planos de crescimento da Índia”. O país extrai por ano 500 milhões de toneladas de areia, alimentando uma indústria que movimenta 42 bilhões de euros (185 bilhões de reais). As redes de extração de areia utilizam frequentemente pessoas em condições deploráveis, sem equipamento e ferramentas, mergulhando no fundo dos rios com um balde metálico.
Como a Índia, nenhum dos países que vivem um período de expansão e prosperidade urbana sem precedentes estão dispostos a deter esse lucrativo negócio. Uma vez que a areia está cada vez mais em alta, esses cenários são caldo de cultura para seu contrabando, que está crescendo em outras partes do mundo. E quanto mais esse recurso é explorado em excesso, mais rápido aumentam os impactos no meio ambientes e na economia a nível global.
A China usa 57% do cimento do mundo e é também o principal produtor mundial. Com tudo o que usa, poderia construir por ano um muro de 27 metros de largura por 27 de altura ao redor da Terra, de acordo com Pascal Peduzzi. A maioria da areia usada sai do lago Poyang, uma das maiores reservas de água doce e hoje a maior mina de areia do mundo, segundo pesquisadores de Harvard. Por ano são extraídos desse lago 236 milhões de metros cúbicos de areia, e os efeitos ao meio ambientes são devastadores.
 
O devastador negócio do tráfico de areia
 
E não se trata somente de cobrir as necessidades imobiliárias de sua população: desde 2014, a China construiu sete ilhas artificiais no arquipélago de Spratly, no Pacífico Sul, que disputa com Taiwan e o Vietnã. O dano ao ecossistema marinho é irreparável. Uma das principais consequências que mais preocupam os ecologistas é que está destroçando as barreiras de coral que existem nessa área, que usam como base para construir o novo território. Seu vizinhos Vietnã, Malásia, Filipinas e Taiwan também expandiram seu território nesse arquipélago, mas nenhum o fez com a magnitude e velocidade da China.
Mas liderando os países que estão aumentando seu território de maneira artificial encontra-se Singapura, que além disso é o maior importador per capita de areia do mundo. Nos últimos 40 anos cresceu 130 quilômetros quadrados em terra (20%)utilizando 637 milhões de toneladas de areia. E ainda pretende aumentar mais 100 quilômetros quadrados antes de 2030. Os principais fornecedores são países vizinhos: Indonésia, Filipinas, Vietnã, Myanmar (antiga Birmânia) e Camboja. Mas todos eles começam a ver como suas reservas escasseiam e estão parando as exportações, o que disparou o preço da matéria-prima em 200%.
 
Fotos tiradas durante a construção do novo megaporto em Tuas, na costa ocidental de Singapura.
 
O primeiro a fazê-lo foi a Indonésia, após ver como muitas de suas ilhas afundavam e desapareciam. Em 2007 decidiu acabar com todos os negócios de areia, especialmente com Singapura, seu principal exportador. Uma decisão que lhe custou uma disputa política com seu vizinho sobre os limites exatos de suas fronteiras e o direito de uso desse recurso.
Em 2017, o Governo do Vietnã anunciou que se o ritmo da demanda continuasse como estava, em 2020 ficaria sem areia. Ao mesmo tempo, o Ministério de Minas e Energia do Camboja anunciou que impediria todas as exportações de areia a Singapura, que na última década comprou desse país, de acordo com dados das Nações Unidas, mais de 72 milhões de toneladas, equivalente a 624 milhões de euros (2,75 bilhões de reais). Mas muitos especialistas duvidam que a situação tenha mudado. “No Camboja governa uma cleptocracia que saqueia os recursos naturais em detrimento do meio ambiente”, afirma George Boden, diretor da ONG Global Witness.
Os Emirados Árabes Unidos são outros dos maiores importadores de areia, apesar de estarem cercados de deserto. Como consequência da erosão do vento, essa areia não é a mais adequada ao cimento porque é de baixa qualidade. Nas últimas décadas, Dubai importou da Austrália enormes quantidades de areia para a construção de diversos complexos e edifícios. Só para a torre Burj Khalifa, a mais alta do mundo, com 828 metros, foram necessários 110.000 toneladas de cimento. E as ilhas Palm, um projeto ainda não terminado formado por três conjuntos de ilhas que aumentará em aproximadamente 520 quilômetros a superfície das praias de Dubai, devoraram 385 milhões de toneladas de areia, com um custo de 10 bilhões de euros (44 bilhões de reais).
O mercado manda. E a demanda de areia está em alta. Nada irá deter a exploração excessiva e o comércio ilegal desse recurso se a sociedade internacional não unir forças. “Os Governos e líderes políticos devem aumentar sua consciência sobre o tema e procurar alternativas ao uso de areia”, diz Peduzzi. E é necessário fazê-lo rápido, porque o tempo joga contra.
Em um país como a Espanha, que vive do turismo, a erosão das praias pode causar estragos na economia. Não é preciso somente uma regulamentação legal nacional – que já existe – e sim padrões internacionais que regulem a extração e obriguem países como a Índia, Marrocos e Camboja a cumprir as regras do jogo para preservar o meio ambiente e a economia tanto de seus países como de terceiros.
“Nossa dependência da areia é enorme e em um futuro próximo não vamos deixar de usá-la”, diz Peduzzi. Mas sua utilização pode ser racionalizada com medidas como evitar a construção de infraestrutura desnecessária, planejá-la para que dure mais e modernizar as existentes. Várias equipes de pesquisa em todo o mundo estudam materiais alternativos na construção, a partir da reutilização de entulho e vidro, mas hoje não existe nada que possa responder à enorme demanda desse recurso. “Em áreas que não têm um ritmo de desenvolvimento elevado, a reciclagem de materiais de construção pode cobrir parte da demanda, mas os países que estão experimentando um rápido desenvolvimento urbano não podem satisfazer a necessidade de areia com a reciclagem”, afirma Torres. Além disso, o preço do material alternativo costuma ser mais alto e causa mais emissões de gases de efeito estufa em sua produção.
“É absolutamente necessário criar uma regulamentação internacional para evitar o descumprimento que certos países cometem”, diz Sumaira Abdulali. E isso significa saber a quantidade de areia usada a nível local e global, assim como a quantidade que pode ser reposta através de processos naturais. “É preciso conhecer quais são as reservas e supervisioná-las para que a lei seja cumprida”.
Caso contrário, nesse ritmo, o dragão de Komodo, os recifes de coral e amplas áreas do deserto do Saara estão a caminho de se transformarem em recordações que as futuras gerações só poderão ver em fotografias e documentários.
El País

terça-feira, 22 de maio de 2018

As 11 cidades da Rússia sedes da Copa do Mundo 2018


Cidades-sede da Copa do Mundo 2018

Doze estádios de 11 cidades — Moscou, Samara, Kaliningrado, Kazan, Nijni Novgorod, Rostov-na-Donu, São Petersburgo, Saransk, Sochi, Volgogrado e Ekaterimburgo — espalhadas entre o Cáucaso e o Mar Báltico sediarão, entre 14 de junho e 15 de julho, a Copa do Mundo 2018.

1. Moscou
Metrópole de mais de 12 milhões de habitantes com um dos metrôs mais suntuosos do mundo. Essencial: a boêmia Rua Arbat, o Parque Gorky, a extraordinária Galeria Tretyakov e o Museu Pushkin. E a imensa Praça Vermelha, emoldurada pelos muros do Kremlin, a Catedral de São Basílio, o edifício do Museu de História e o centro de compras GUM.

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2. São Petersburgo
Além de sua beleza arquitetônica, a antiga capital imperial dos czares permite acompanhar os principais eventos da história do século XX, em lugares como o Palácio de Inverno, onde há pouco mais de um século eclodiu a revolução bolchevique e abriga desde então o museu Ermitage, um dos mais importantes do mundo.

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3. Kaliningrado
A antiga e alemã Königsberg onde nasceu o filósofo Immanuel Kant. Visitas: Museu do Mundo do Oceano e Museu do Âmbar.

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4. Nijny Novgorod
Conhecida como Gorky na era soviética, fica a menos de quatro horas de trem de Moscou. Essencial: seu Kremlin, uma imponente fortaleza do século XVI com quatro portões e 13 torres, e a escadaria Chkalovskaya, em forma de oito e com 560 degraus à beira do Volga.

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5. Volgogrado
A antiga Stalingrado se estende por 65 quilômetros na margem direita do rio mais longo da Europa. Reduzida a escombros na Segunda Guerra Mundial, foi reconstruída no mais puro estilo stalinista, uma espécie de neoclassicismo monumental.

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6. Ekaterimburgo
Cidade mineradora e industrial onde os revolucionários bolcheviques executaram o czar Nicolau II e sua família. Essencial: Igreja da Catedral do Sangue Derramado, construída no local onde a família Romanov foi assassinada; o museu Geomineral, com uma coleção única de rochas e minerais; a Casa Sevastyanov (foto), um luxuoso palacete kitsch e o cemitério dos mafiosos.

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7. Sochi
Sochi é uma popular estância de férias na costa nordeste do Mar Negro, a única cidade da Rússia com clima subtropical.

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8. Rostov-na-Donu
Capital dos cossacos do Rio Don, a casta guerreira que defendeu as fronteiras da Rússia durante séculos. Para visitar: a fortaleza Liventsovskaya, passeio fluvial e o monumento ao Prêmio Nobel de Literatura Mikhail Sholokhov, autor de O Plácido Don, que nasceu perto dali.

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9. Saransk
A capital da república russa de Mordóvia é a menor sede, e tem como epicentro a Praça Sovetskaya, onde serão instalados os telões da FanFest para acompanhar os jogos ao vivo.

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10. Samara

Com pouco mais de um milhão de habitantes, Samara é o principal centro da indústria aeroespacial russa. O que ver: o bunker subterrâneo de Stalin, o monumento à nave espacial Soyuz 1 (a do primeiro voo espacial tripulado) e o parque natural de Jigulevskie.

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11. Kazan
A capital do Tartaristão (1,2 milhão de habitantes), localizada na confluência dos rios Volga e Kazanka. Essencial: o seu Kremlin, reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco.

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