Uma equipe de astrônomos descobriu o objeto transnetuniano mais extremo nos limites externos do Sistema Solar. Chamado de “Farout”, o objeto tem uma distância 120 vezes maior que o percurso entre o Sol e a Terra. Dadas as estimativas preliminares sobre seu tamanho, este objeto pode ser, na verdade, um planeta anão — mas ele ainda é muito pequeno para ser qualificado como o misterioso Planeta X.
O recém-descoberto objeto foi anunciado nesta segunda-feira (17) pelo Centro de Pequenos Planetas do International Astronomical Union. Ainda serão necessários muitos anos de observação para poder caracterizar completamente o objeto e sua órbita, mas o IAU já o inseriu em sua base de dados com o nome provisório 2018 VG18, juntamente com suas coordenadas e notas observacionais. Farout, como foi apelidado, foi descoberto pelo astrônomo Scott S. Sheppard, do Instituto de Ciência de Carnegie, e seus colegas da Universidade do Havaí e da Universidade do Norte do Arizona.
O Farout foi observado por astrônomos pela primeira vez em 10 de novembro de 2018, usando o telescópio japonês Subaru, que conta com uma lente de 8 metros e fica localizado no topo do Mauna Kea, no Havaí. O objeto, então, foi novamente observado no início de dezembro com o telescópio Magellan, no observatório Las Campanas, no Chile. Estas múltiplas observações, além de confirmarem o objeto, foram usadas para estabelecer seu caminho através do céu noturno, bem como seu tamanho, brilho e cor.
Este objeto extremo transnetuniano está a cerca de 120 UA (unidades astronômicas; ou AU, na sigla em inglês) da Terra, com 1 UA sendo a distância média entre a Terra e o Sol (cerca de 149 milhões de quilômetros). Farout é tão longe que a luz do Sol leva 16 horas e 40 minutos para viajar uma distância de 18 bilhões de quilômetros.
“2018 VG18 é o primeiro objeto encontrado além dos 100 UA em nosso Sistema Solar”, disse Sheppard ao Gizmodo. “Ele se mexe tão devagar, que levará anos para ver movimento o suficiente para podermos determinar a órbita deste objeto ao redor do Sol.”
Sheppard e seus colegas não se surpreenderiam se um ano de Farout dure mais de 1.000 anos na Terra.
Em comparação, Plutão tem uma distância de 34 UA do Sol, então Farout é 3,5 mais distante. Outros objetos extremos transnetunianos incluem Eris (com 96 UA) e Goblin, que foi descoberto no início deste ano, com 90 UA.
Os astrônomos ainda não sabem muito sobre as características físicas do Farout, pois seu sinal é muito fraco.
“Baseado no seu brilho e distância, é provável que ele tenha entre 500 e 600 km de diâmetro. Com este tamanho, a gravidade dominará qualquer força material que o objeto possa ter e, portanto, deve ter uma forma esférica”, afirmou Sheppard. “Isso o classificaria como um planeta anão. A cor do objeto é entre rosada e vermelha, o que sugere que ele tenha uma superfície gelada. O gelo geralmente adquire este tom avermelhado após ser irradiado por longos períodos de tempo radiação solar.”
Farout foi descoberto como parte da busca pelo distante Planeta Nove, às vezes conhecido também como Planeta X. Acredita-se que este planeta hipotético exista fora dos domínios do Sistema Solar por causa da forma como outros objetos do Cinturão de Kuiper estão orientados. Mas, como Sheppard observou, Farout não deve ser o Planeta X, pois acredita-se que ele seja muito maior que o objeto recém-encontrado.
“O Planeta X precisa ser muitas vezes maior que a Terra para que ele possa empurrar gravitacionalmente outros objetos menores ao redor dele e conduzi-los a tipos similares de órbitas”, explicou Sheppard. “O Planeta X também parece estar ainda mais distante, com algumas centenas de UA.”
É razoável imaginar como este objeto foi parar tão longe do nosso sistema solar e os astrônomos não saberão a resposta desta questão até que a órbita de Farout possa ser determinada.
“Se a órbita dele o trouxer mais para perto em algum ponto, como Netuno ou um dos outros planetas gigantes, então é provável que ele tenha ido para fora de sua atual localização e orbita gravitacionalmente interagindo com um planeta como Netuno”, disse Sheppard. “Se sua órbita nunca se aproximar de um planeta gigante de nosso Sistema Solar, então se torna uma grande questão sobre como ele foi parar lá. Isso sugeriria que o Planeta X o puxou para esta grande distância.”
Qualquer um dos resultados será animador; o primeiro nos ajudará a entender melhor a história do Sistema Solar, enquanto a segunda hipótese nos ofereceria mais provas da existência do Planeta X.
Como um divertimento final, enviar uma sonda para Farout não seria uma ideia tão terrível. Atualmente, a sonda New Horizons está programada para visitar o Ultima Thule, um objeto distante do Cinturão de Kuiper, no dia da virada, e ela está viajando a uma velocidade de 58.500 km/h. Com essa velocidade, levaria de 35 a 40 anos para uma sonda sair da Terra e chegar ao Farout. Talvez seja algo para a NASA pensar ao planejar sua próxima geração de missões espaciais.
Foi num sábado, 22 de março de 1941, que a tensão da Segunda Guerra Mundial chegou de vez ao Brasil. O navio brasileiro Taubaté havia saído do Chipre e navegava pelo Mar Mediterrâneo com uma carga de batatas, lã e vinho quando, próximo de Alexandria, no Egito — seu destino final —, foi atacado por um avião da Luftwaffe, a Força Aérea alemã. As bombas não atingiram a embarcação, mas os tiros de metralhadora fizeram a primeira vítima fatal brasileira, o conferente de mercadGuorias José Fraga. Oito pessoas ficaram feridas. A agressão contra uma embarcação do país, neutro até aquele momento, fez com que a sociedade cobrasse uma posição firme do presidente Getulio Vargas. “Bombardeado”, estamparam os jornais do dia 26, quando a notícia chegou ao Brasil.
Vargas preferiu manter cautela. O país vivia sob o Estado Novo, o regime ditatorial implantado pelo caudilho gaúcho em 1937. Apesar de flertar com os ideais fascistas, o ditador mantinha boas relações com os Estados Unidos. Em 28 de janeiro de 1942, sob pressão americana, o Brasil abandonou a posição de neutralidade e rompeu relações com os países do Eixo — a Alemanha, a Itália e o Japão. Submarinos alemães e italianos começaram então a atacar embarcações brasileiras. Em sete meses, 20 navios foram bombardeados e mais de 700 brasileiros morreram. Em 22 de agosto de 1942, Vargas finalmente declarou guerra ao Eixo.
Passaram-se, porém, quase dois anos para que o Brasil entrasse de fato no conflito. A demora gerou o dito popular de que “é mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da guerra”. Da máxima nasceu a expressão “a cobra vai fumar”, que virou lema da campanha e símbolo do brasão da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Somente em julho de 1944 — depois de outros 14 navios brasileiros terem sido bombardeados, com mais de 300 mortes — os primeiros combatentes da FEB embarcaram para a Itália — 25 mil participaram do conflito.
O governo Vargas demorou para ir à guerra contra o Eixo, mas tomou rapidamente medidas contra cidadãos alemães, italianos e japoneses em território brasileiro. Entre elas, a proibição de que falassem em público outra língua que não fosse o português. Jornais e rádios voltados para essas comunidades foram proibidos. Associações e clubes tiveram de mudar de nome e encerrar atividades ligadas a suas culturas de origem. O controle de entrada desses imigrantes no país ficou muito mais rigoroso.
Numa quarta-feira, 11 de março de 1942, os cidadãos dos países do Eixo sofreram um duro golpe. Eles tiveram os bens confiscados por meio do Decreto-Lei 4.166. O governo Vargas alegou que a Alemanha não havia cumprido a promessa de indenizar o Brasil pelo ataque ao cargueiro Taubaté e tinha provocado novos prejuízos ao país com ataques a outros navios. Os bens dos “súditos alemães, japoneses e italianos” serviriam, segundo o Decreto, como uma garantia até o pagamento das indenizações pelo governo alemão. A medida abarcava propriedades de todos os cidadãos de países do Eixo, sem exceções. Ou seja, mesmo as famílias judias que haviam fugido do nazismo teriam de pagar pelos ataques da máquina de guerra de Adolf Hitler. O Decreto determinava que os bancos entregassem dinheiro e objetos valiosos depositados pelos “súditos” do Eixo ao Banco do Brasil, que ficaria responsável por guardá-los.
Mais de 70 anos depois, uma parte esquecida desse tesouro foi resgatada dos porões do banco — onde esteve guardada em um baú, sofrendo os efeitos do tempo — e virou objeto de desejo de museus. Segundo o diretor do Museu Histórico Nacional, Paulo Knauss, há três anos o banco havia sondado o interesse do Instituto Brasileiro de Museus em receber o acervo, que era discutido em um processo administrativo desde 1998. “O interesse do Banco do Brasil era encerrar esse processo. Eles tinham a guarda do material desde a década de 40 e, por alguma razão, eram obrigados a mantê-lo até o processo encerrar. Então, eles nos procuraram”, explicou Knauss. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN), a Advocacia-Geral da União e outros órgãos discutiam o que fazer com os itens não reclamados, já que de 1950 a 1967 o governo editou diversos decretos permitindo a restituição dos bens. No entanto, parte dos imigrantes jamais reivindicou seus objetos confiscados. O tempo passou e eles ficaram no depósito da Agência 01 do Banco do Brasil, na Rua Senador Dantas, no centro do Rio de Janeiro, oxidando e acumulando pó.
A museóloga Adriana Bandeira Cordeiro lembra bem quando, em 24 de maio de 2016, integrou uma comitiva de especialistas que resgatou os itens da sede do banco no Rio. Ela recorda que os objetos estavam guardados em cinco conjuntos, cada um em nome de uma família diferente. “Não havia nenhuma outra informação, além do que estava junto aos conjuntos em si”, contou a ÉPOCA. Cordeiro e o restante dos pesquisadores pegaram a listagem de itens e passaram a conferir se tudo que o banco indicou estava realmente armazenado.
Uma caixa com a inscrição “J.C. Muller & Cia” continha um conjunto de peças de uma máquina de fabricação de charutos. Na segunda caixa, em nome de Walter Coleman, havia cinco álbuns de selos postais do mundo todo, alguns inéditos no Brasil e datados até de 1910. Um envelope com identificação “C. de Montenegro” continha dois anéis. O primeiro, dourado e rodeado por pedras verdes, aparentemente feminino. O outro, também dourado e com duas pedras brilhantes, tinha ainda uma central na cor rubi, com símbolos na lateral.
A maior parte dos objetos, porém, estava em nome de dois casais. No envelope de Egon e Alice Levinstein foi identificado um conjunto de 17 moedas de ouro dos séculos XVIII e XIX, tanto do Brasil quanto da Inglaterra — itens raros de colecionador. Já Alfred e Erna Lindinger tinham em seu nome uma pesada mala de madeira, marrom e quadrada, com algumas joias e repleta de prataria que incluía bandejas, castiçais, talheres e troféus, entre outros itens.
Uma vez verificado que tudo estava em ordem e felizes com a descoberta, os pesquisadores dividiram os itens de acordo com as especificidades de suas instituições. O Museu da República, localizado no antigo Palácio do Catete, ficou com todos os objetos dos Lindingers. Já o Museu Histórico Nacional agregou a seu acervo a coleção de moedas do casal Levinstein e os álbuns de selos de Walter Coleman. Havia muito trabalho de restauração a ser feito, mas nenhuma informação sobre as pessoas que um dia possuíram aqueles objetos.
Ao saber da descoberta dos artigos, ÉPOCA se dedicou, nos últimos dois meses, a encontrar essas famílias e seus descendentes. A pesquisa nos arquivos de navios e nos processos de naturalização que constam no Arquivo Nacional permitiu conhecer a história de Egon e Alice Helene Levinstein, além de sua filha, Ruth. Eles chegaram ao Brasil a bordo do vapor Algorab, que atracou no porto de Santos, no litoral paulista, no dia 15 de maio de 1940. Depois seguiram para o Sul do país e foram morar em Blumenau, em Santa Catarina, onde se tornaram sócios da tradicional Fábrica de Chocolates Saturno.
Os motivos que trouxeram os Levinsteins a um país do outro lado do oceano foram conhecidos depois que ÉPOCA localizou, em São Paulo, o único neto do casal. O psicólogo Marcelo Rosenfeld, de 62 anos, não carrega o sobrenome da mãe, o que dificultou a busca por seu paradeiro. Somente com a ajuda de um banco de dados de famílias judias alemãs, que mapeia vítimas do holocausto, foi possível identificá-lo.
Marcelo recebeu a reportagem em seu escritório em Higienópolis, região central de São Paulo. Lá, entre estantes de concreto e livros coloridos, ele guarda as maiores relíquias trazidas por sua família da Alemanha e herdadas por ele com o falecimento dos avós e da mãe. São álbuns de fotos, bonecos, prataria, toalhas e uma caixinha estofada da cor bordô, onde guarda os itens mais antigos.
Nos olhos azuis, no rosto redondo e na pele clara, Marcelo carrega as evidentes feições da família. No primeiro contato, o neto dos Levinsteins até duvidou do encontro com os objetos de seus avós. Foi somente quando viu as imagens que se rendeu à história da família que ainda não conhecia. “Que interessante. Então vocês estavam certos: foi um confisco por causa da guerra”, exclamou, emocionado.
Em 1939, os Levinsteins partiram de Stolp, uma cidade que à época pertencia à Alemanha, mas hoje fica na Polônia. Família de comerciantes, o casal trabalhava com tecidos e alfaiataria em uma loja espaçosa. Os negócios iam bem até a ascensão de Hitler e o início da perseguição aos judeus, cujos comércios eram identificados com placas e pichações para que fossem achincalhados pela população simpática ao regime. A família, facilmente identificada como judia por seu sobrenome, percebeu a tempo a ameaça de trabalhar na Alemanha em meio a escalada das perseguições, que pioraram com a eclosão da guerra. “Eles até demoraram para sair. Acho que não acreditaram, no início do governo de Hitler, que tudo aquilo aconteceria. Minha avó falava com muita saudade de sua vida na Alemanha, antes da guerra”, recordou Marcelo.
O passaporte de Egon e Alice registrava a saída do casal de Berlim em direção a Roterdã, na Holanda. De lá, vieram para o Brasil, um destino que parecia provisório, já que o visto final era para o Paraguai. Apesar disso, o casal desembarcou aqui para nunca mais voltar. Mas o recomeço no Brasil também reservaria tragédias para a família Levinstein. Enquanto o casal refazia a vida em Blumenau, sua filha, Ruth, foi para São Paulo cursar faculdade de farmácia e, depois, odontologia. Morava em um pensionato na Rua Monte Alegre, no bairro de Perdizes. Lá, o destino fez com que ela cruzasse caminhos com um vizinho que também se reerguia dos terrores da época.
Gerson Rosenfeld era judeu, de origem iugoslava, e havia sobrevivido a um dos capítulos mais sombrios da história do mundo — os campos de concentração nazistas. Tinha sido conduzido por vários deles durante pelo menos um ano — entre os quais Dachau e Auschwitz, dois dos maiores construídos pelo regime de Adolf Hitler. Os sobreviventes dos campos de concentração jamais esqueceram os horrores presenciados dentro dos muros de concreto e arame farpado. Apenas em Auschwitz, mais de 1 milhão de judeus foram mortos.
“Eu sempre fui muito banhado pelas histórias de minha mãe. Já meu pai tinha mais dificuldade de falar do passado”, contou Marcelo. “Quando falamos, pouco tempo antes de ele morrer, foi uma das primeiras vezes que vi meu pai chorar. Ele tinha uma memória fantástica, lembrou-se de quando meu avô deu para ele o último pedaço de pão que tinha, quando os dois estavam entrando no campo. Essa foi a última vez que se viram, porque meu avô foi morto logo depois. Na família de minha mãe, as perdas tiveram um delay, ela foi descobrindo aos poucos, depois da guerra. Com meu pai, foi tudo ao vivo.” Depois do fim da guerra, Gerson voltou a sua cidade natal, até que, em 1947, chegou ao Brasil.
Gerson Rosenfeld e Ruth Levinstein se casaram em 1954, na capital paulista. Marcelo nasceu dois anos depois. Em 1957, enquanto Ruth esperava um segundo filho, outra reviravolta mudaria drasticamente a vida de todos. Ela atravessava a Avenida São João quando foi atropelada por um caminhão. Depois da morte da mãe, Marcelo foi morar com os avós em Blumenau. “Lembro-me muito da gente andando de mãos dadas na fábrica de chocolate”, recorda ele, como que num sonho. Em 1963, os três voltariam a viver em São Paulo. O avô, Egon, faleceu em decorrência de problemas no coração, em 1967. A avó, Alice, se foi nos anos 2000, e o pai, Gerson, morreu em 2017. Marcelo decidiu então procurar parentes na Europa, mas não obteve sucesso.
A única informação sobre a coleção de moedas dos avós estava justamente no envelope que as manteve guardadas desde 1942. No papel almaço dizia: “Contém 17 moedas contabilizadas ao câmbio de 10,50 cruzeiros vigente em 11 de março de 1942 no valor de 295,10 cruzeiros entregues pelo Banco Holandês Unido – Santos (SP) para custódia em nome de Egon e Alice Levinstein”. Marcelo agora deseja ver de perto as moedas de ouro que jamais conheceu.
O outro casal, Erna e Alfred Lindinger, donos originais da maioria das peças resgatadas do Banco do Brasil, possui uma história bastante diferente. No Arquivo Nacional e nos Arquivos Públicos do estados do Rio de Janeiro e de São Paulo não havia nenhum registro da data em que o casal chegou ao Brasil. A única informação localizada no arquivo da Polícia Política paulista foi um prontuário que investigou alemães no Brasil e no qual constava que um homem, identificado como Franz Lindinger, filiou-se ao partido nazista de São Paulo, em 1935. Não há, porém, outros registros sobre ele ou relações diretas com o casal Erna e Alfred.
Apesar da ausência de documentos, ÉPOCA encontrou inúmeros registros, em colunas sociais de jornais, de uma vida pública ativa do casal anterior à Segunda Guerra Mundial, nos anos 30. Os dois tiveram um filho, de nome Axel Essiu Alfred Lindinger, nascido no Rio de Janeiro em 16 de agosto de 1933. Amantes do hipismo, o casal praticava provas de salto nas competições do Centro Hípico Brasileiro (CHB), no Rio. Nos jornais da época, há registros de provas em que Erna Lindinger competiu aos olhos da sociedade carioca, incluindo representantes do governo Vargas, em dezembro de 1932. Entre 1938 e 1939, seu marido, Alfred, integrou o Conselho Fiscal da entidade.
No mesmo período, o CHB deu lugar à recém-criada Sociedade Hípica Brasileira (SHB). O casal Lindinger esteve entre os fundadores, com o título adquirido em 25 de novembro de 1938. Como a mulher, Alfred também figurou nas competições, como se pode ver nas páginas da revista Esporte Ilustrado, na edição de 5 de junho de 1941, dia de evento na SHB. “O Sr. Alfred Lindinger (SHB) dirigiu muito bem o seu ‘Paladino’, e, apenas com uma falta e tempo muito bom, conseguiu o 3° lugar”, dizia a reportagem.
Na grande mala marrom onde os objetos confiscados ficaram todos esses anos, havia outras pistas da atividade profissional da família. O tempo não destruiu uma etiqueta colada na parte de cima com a inscrição “prataria de propriedade de Alfred e/ou Erna Lindinger guardada na Casa Forte do Banco Alemão Transatlântico”. O peso: 26,8 quilos.
Na parte de baixo da caixa, entre lacres e anotações já amareladas pelos anos, uma etiqueta da Gunther Wagner Ltda. deu outra pista sobre o casal. De origem alemã e famosa por suas canetas-tinteiros, conhecidas sob a marca Pelikan, a fábrica teve uma filial funcionando no Rio de Janeiro. Uma pesquisa no Diário Oficial comprovou que Alfred foi um dos sócios da empresa. Mas não por muito tempo.
O clima de perseguição aos estrangeiros no Brasil deve ter pesado aos Lindingers, que começaram a se desfazer de suas propriedades no país a partir do fim de 1941 — o título na SHB foi vendido em outubro daquele ano. Em 1942, o Diário Oficial registrou a cessão das ações na Gunther Wagner para Jorge Reis Buchmuller até 1952. O valor do negócio, na ocasião, foi de 10 mil cruzeiros.
O governo Vargas, porém, não aceitou a venda e confiscou as ações e os valores do negócio. Em 1º de dezembro de 1944, o então presidente anulou a cessão por meio de um decreto e determinou que os valores do negócio ficassem retidos no Banco do Brasil, já que Alfred vivia em Hannover, na Alemanha. Depois disso, não foram encontrados outros registros de Alfred e Erna Lindinger no Brasil, indicando que o casal tinha saído do país, sem data para voltar.
A prataria abandonada no Banco Alemão Transatlântico foi então enviada ao Banco do Brasil, um movimento forçado pelo Decreto de Vargas. Mas o próprio banco, que funcionou no Brasil a partir de 1911, com filiais no Rio, em São Paulo e no Paraná, também tinha relação com o governo nazista.
Quando Getulio baixou a ordem de confisco, em 1942, imediatamente o banco também se tornou um alvo. Suas atividades foram paralisadas em todo o país, e interventores nomeados encerraram as operações. Segundo os arquivos da Polícia Política de São Paulo, pelo menos oito integrantes da instituição eram filiados a uma célula nazista, além de outros quatro que estavam envolvidos em suas atividades. A historiadora Priscila Perazzo, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, disse que muitos foram presos nesse período. “Os altos funcionários do banco tinham bastante relação com os nazistas, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo. Eles foram presos em 1942 e, na ficha deles, estão descritos como filiados ao partido”, explicou.
A descoberta da prataria junto às moedas dos Levinsteins indica que as duas famílias tiveram seus destinos entrelaçados por suas relações individuais com Auschwitz. Nos anos 40, a companhia alemã Gunther Wagner seguiu crescendo na Alemanha e se espalhou por diversos países, mesmo em meio à guerra. Em 2005, o escritor Ian Thompson publicou um artigo no jornal inglês The Guardian sobre as pesquisas que, naquele período, revisavam os estudos do Holocausto. Thompson explica como algumas empresas alemãs exploraram a presença de judeus em Auschwitz, citando entre elas Bayer, Agfa, Basf e a Pelikan, a marca das canetas-tinteiros da Gunther Wagner, que fornecia tinta para tatuar prisioneiros. Ao chegar aos campos, os judeus eram marcados com números, e essas tatuagens permaneceram ao longo de toda a vida.
Demorou 70 anos para que os objetos alemães tivessem seu reencontro com Getulio Vargas — ou o que restou dele, no Museu da República. O acervo da família Lindinger foi distribuído em duas grandes gavetas, alocadas no mesmo corredor que a peça mais importante do museu, o pijama perfurado pelo projétil que matou o ditador em 1954. Quando foram desembalados da mala, viu-se que os objetos estavam todos cobertos por uma camada negra de corrosão. “Como estavam fechados numa mala, houve a oxidação normal da prataria. Mas não foi um processo violento, a ponto de destruir as peças. Não foi necessário fazer uma restauração, optamos por uma higienização mecânica, sem produtos químicos e com o auxílio da borracha”, explica Regina Capela, técnica responsável pela limpeza das peças.
A prataria limpa da família Lindinger foi levada para a reserva técnica, destino de 80% dos acervos dos museus de todo mundo. Ao longo dos anos, as instituições acumulam tantas peças que só uma pequena parte pode ficar exposta ao mesmo tempo. O revezamento também ajuda a manter os itens em constante observação, fazendo reparos logo que algum defeito aparece. “Aqui, no Palácio do Catete, essa proporção é ainda maior, só 9% fica exposto”, explicou o museólogo Andre Angulo.
A corrosão escondia detalhes como inscrições, iniciais de famílias, nomes completos e mensagens talhadas na prata alemã. Vinte e sete itens, a maioria talheres, revelaram inscrição de uma letra “B” maiúscula. No meio das peças estava, ainda, um conjunto de alianças com os nomes “José e Judith” gravados na face interna. Uma bandeja marcada com a letra “L” no fundo é o único objeto com gravação diretamente relacionável com o sobrenome Lindinger. Há também uma carteira de cigarros com uma mensagem escrita em alemão. “Para lembrar o trabalho bem-sucedido e as horas felizes.” Alfred recebeu dedicatória em dois troféus pela prova Dragões da Independência — regimento de cavalaria subordinado ao Exército Brasileiro —, um deles datado de 1933.
O diretor do museu, Mário Chagas, lamentou que os itens tenham ficado tanto tempo sem contribuir para a pesquisa da época, longe dos olhares do público. “Faz todo sentido que isso esteja no Museu da República. Ao todo, nós recebemos 214 peças, muita coisa em prata de excelente qualidade e com indicações históricas, marcas, monogramas. Nossa meta é expor esse acervo assim que conseguirmos conectá-lo com o restante da nossa coleção”, explicou.
Uma grande quantidade de alemães transitou pelo país entre os anos 30 e 50, deixando objetos de suas famílias, alguns deles já recolhidos pelo museu. Como parte desses imigrantes foi ligada ao partido criado por Hitler, o Brasil abrigou a maior célula nazista fora da Alemanha, chegando a 2.822 integrantes oficialmente registrados. Algumas influências dessa comunidade acabaram eternizadas, como os pedalinhos da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, implantados por um aviador letão de nome Herbert Cukurs. Pouco tempo depois de conquistar a simpatia dos cariocas com o projeto que chamava de “bicicletas aquáticas”, Cukurs foi acusado de cometer crimes de guerra durante a ocupação nazista da Letônia — que aconteceu entre 1941 e 1944. Acusado pela Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro de ser membro ativo da SS, organização paramilitar ligada ao partido nazista, acabou assassinado em 1965, no Uruguai, pelo serviço secreto israelense. Sobre o corpo, baleado à queima-roupa e abandonado dentro de um baú, foi achado um bilhete assinado por “aqueles que jamais esquecerão”.
Conhecido por seu esforço de preservação da memória, o Estado alemão procura, até hoje, nazistas espalhados pelo mundo. Desde 2009, integrantes do Escritório Central de Administração Judiciária Nacional em Ludwigsburg fizeram várias visitas ao Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, à procura de alemães nascidos entre 1916 e 1931. Na última delas, em outubro deste ano, tentaram localizar funcionários de baixo escalão. Os que se encaixam no perfil tem seus dados enviados à sede, na Alemanha, que verifica se aquela pessoa esteve a serviço do Terceiro Reich. Além do Brasil, o procedimento também acontece na Argentina, Bolívia, Chile, Peru e Uruguai.
Entre todos os nazistas que fugiram para o Brasil, o caso mais conhecido é o de Josef Mengele, conhecido como Anjo da Morte. Ele foi médico em Auschwitz, encarregado da triagem dos prisioneiros que eram enviados ou para trabalho forçado ou para a morte nas câmaras de gás. Mengele morreu afogado em 1979, aos 67 anos, em Bertioga, no litoral paulista, sem nunca ter sido julgado.
Por outro lado, muitas famílias imigrantes também sofreram perseguição indiscriminada. Para ser alvo, bastava ser alemão, italiano ou japonês. No livro O retrato da repressão: as perseguições a alemães no oeste de Santa Catarina durante o Estado Novo (1937-1945), o historiador Leandro Mayer conta como Antônio Kliemann, filiado à Ação Integralista Brasileira, foi acusado de um crime que nunca cometeu. O comerciante foi preso e terminou com sequelas mentais por causa das torturas que sofreu na prisão. Acusado de trazer armas da Argentina para a região de Itapiranga, no extremo-oeste catarinense, Kliemann foi o único anistiado do Estado Novo reconhecido pelo Estado.
No mesmo período, o CHB deu lugar à recém-criada Sociedade Hípica Brasileira (SHB). O casal Lindinger esteve entre os fundadores, com o título adquirido em 25 de novembro de 1938. Como a mulher, Alfred também figurou nas competições, como se pode ver nas páginas da revista Esporte Ilustrado, na edição de 5 de junho de 1941, dia de evento na SHB. “O Sr. Alfred Lindinger (SHB) dirigiu muito bem o seu ‘Paladino’, e, apenas com uma falta e tempo muito bom, conseguiu o 3° lugar”, dizia a reportagem.
Na grande mala marrom onde os objetos confiscados ficaram todos esses anos, havia outras pistas da atividade profissional da família. O tempo não destruiu uma etiqueta colada na parte de cima com a inscrição “prataria de propriedade de Alfred e/ou Erna Lindinger guardada na Casa Forte do Banco Alemão Transatlântico”. O peso: 26,8 quilos.
Na parte de baixo da caixa, entre lacres e anotações já amareladas pelos anos, uma etiqueta da Gunther Wagner Ltda. deu outra pista sobre o casal. De origem alemã e famosa por suas canetas-tinteiros, conhecidas sob a marca Pelikan, a fábrica teve uma filial funcionando no Rio de Janeiro. Uma pesquisa no Diário Oficial comprovou que Alfred foi um dos sócios da empresa. Mas não por muito tempo.
O clima de perseguição aos estrangeiros no Brasil deve ter pesado aos Lindingers, que começaram a se desfazer de suas propriedades no país a partir do fim de 1941 — o título na SHB foi vendido em outubro daquele ano. Em 1942, o Diário Oficial registrou a cessão das ações na Gunther Wagner para Jorge Reis Buchmuller até 1952. O valor do negócio, na ocasião, foi de 10 mil cruzeiros.
O governo Vargas, porém, não aceitou a venda e confiscou as ações e os valores do negócio. Em 1º de dezembro de 1944, o então presidente anulou a cessão por meio de um decreto e determinou que os valores do negócio ficassem retidos no Banco do Brasil, já que Alfred vivia em Hannover, na Alemanha. Depois disso, não foram encontrados outros registros de Alfred e Erna Lindinger no Brasil, indicando que o casal tinha saído do país, sem data para voltar.
A prataria abandonada no Banco Alemão Transatlântico foi então enviada ao Banco do Brasil, um movimento forçado pelo Decreto de Vargas. Mas o próprio banco, que funcionou no Brasil a partir de 1911, com filiais no Rio, em São Paulo e no Paraná, também tinha relação com o governo nazista.
Quando Getulio baixou a ordem de confisco, em 1942, imediatamente o banco também se tornou um alvo. Suas atividades foram paralisadas em todo o país, e interventores nomeados encerraram as operações. Segundo os arquivos da Polícia Política de São Paulo, pelo menos oito integrantes da instituição eram filiados a uma célula nazista, além de outros quatro que estavam envolvidos em suas atividades. A historiadora Priscila Perazzo, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, disse que muitos foram presos nesse período. “Os altos funcionários do banco tinham bastante relação com os nazistas, sobretudo no Rio de Janeiro e São Paulo. Eles foram presos em 1942 e, na ficha deles, estão descritos como filiados ao partido”, explicou.
A descoberta da prataria junto às moedas dos Levinsteins indica que as duas famílias tiveram seus destinos entrelaçados por suas relações individuais com Auschwitz. Nos anos 40, a companhia alemã Gunther Wagner seguiu crescendo na Alemanha e se espalhou por diversos países, mesmo em meio à guerra. Em 2005, o escritor Ian Thompson publicou um artigo no jornal inglês The Guardian sobre as pesquisas que, naquele período, revisavam os estudos do Holocausto. Thompson explica como algumas empresas alemãs exploraram a presença de judeus em Auschwitz, citando entre elas Bayer, Agfa, Basf e a Pelikan, a marca das canetas-tinteiros da Gunther Wagner, que fornecia tinta para tatuar prisioneiros. Ao chegar aos campos, os judeus eram marcados com números, e essas tatuagens permaneceram ao longo de toda a vida.
Demorou 70 anos para que os objetos alemães tivessem seu reencontro com Getulio Vargas — ou o que restou dele, no Museu da República. O acervo da família Lindinger foi distribuído em duas grandes gavetas, alocadas no mesmo corredor que a peça mais importante do museu, o pijama perfurado pelo projétil que matou o ditador em 1954. Quando foram desembalados da mala, viu-se que os objetos estavam todos cobertos por uma camada negra de corrosão. “Como estavam fechados numa mala, houve a oxidação normal da prataria. Mas não foi um processo violento, a ponto de destruir as peças. Não foi necessário fazer uma restauração, optamos por uma higienização mecânica, sem produtos químicos e com o auxílio da borracha”, explica Regina Capela, técnica responsável pela limpeza das peças.
A prataria limpa da família Lindinger foi levada para a reserva técnica, destino de 80% dos acervos dos museus de todo mundo. Ao longo dos anos, as instituições acumulam tantas peças que só uma pequena parte pode ficar exposta ao mesmo tempo. O revezamento também ajuda a manter os itens em constante observação, fazendo reparos logo que algum defeito aparece. “Aqui, no Palácio do Catete, essa proporção é ainda maior, só 9% fica exposto”, explicou o museólogo Andre Angulo.
A corrosão escondia detalhes como inscrições, iniciais de famílias, nomes completos e mensagens talhadas na prata alemã. Vinte e sete itens, a maioria talheres, revelaram inscrição de uma letra “B” maiúscula. No meio das peças estava, ainda, um conjunto de alianças com os nomes “José e Judith” gravados na face interna. Uma bandeja marcada com a letra “L” no fundo é o único objeto com gravação diretamente relacionável com o sobrenome Lindinger. Há também uma carteira de cigarros com uma mensagem escrita em alemão. “Para lembrar o trabalho bem-sucedido e as horas felizes.” Alfred recebeu dedicatória em dois troféus pela prova Dragões da Independência — regimento de cavalaria subordinado ao Exército Brasileiro —, um deles datado de 1933.
O diretor do museu, Mário Chagas, lamentou que os itens tenham ficado tanto tempo sem contribuir para a pesquisa da época, longe dos olhares do público. “Faz todo sentido que isso esteja no Museu da República. Ao todo, nós recebemos 214 peças, muita coisa em prata de excelente qualidade e com indicações históricas, marcas, monogramas. Nossa meta é expor esse acervo assim que conseguirmos conectá-lo com o restante da nossa coleção”, explicou.
Uma grande quantidade de alemães transitou pelo país entre os anos 30 e 50, deixando objetos de suas famílias, alguns deles já recolhidos pelo museu. Como parte desses imigrantes foi ligada ao partido criado por Hitler, o Brasil abrigou a maior célula nazista fora da Alemanha, chegando a 2.822 integrantes oficialmente registrados. Algumas influências dessa comunidade acabaram eternizadas, como os pedalinhos da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, implantados por um aviador letão de nome Herbert Cukurs. Pouco tempo depois de conquistar a simpatia dos cariocas com o projeto que chamava de “bicicletas aquáticas”, Cukurs foi acusado de cometer crimes de guerra durante a ocupação nazista da Letônia — que aconteceu entre 1941 e 1944. Acusado pela Federação das Sociedades Israelitas do Rio de Janeiro de ser membro ativo da SS, organização paramilitar ligada ao partido nazista, acabou assassinado em 1965, no Uruguai, pelo serviço secreto israelense. Sobre o corpo, baleado à queima-roupa e abandonado dentro de um baú, foi achado um bilhete assinado por “aqueles que jamais esquecerão”.
Conhecido por seu esforço de preservação da memória, o Estado alemão procura, até hoje, nazistas espalhados pelo mundo. Desde 2009, integrantes do Escritório Central de Administração Judiciária Nacional em Ludwigsburg fizeram várias visitas ao Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, à procura de alemães nascidos entre 1916 e 1931. Na última delas, em outubro deste ano, tentaram localizar funcionários de baixo escalão. Os que se encaixam no perfil tem seus dados enviados à sede, na Alemanha, que verifica se aquela pessoa esteve a serviço do Terceiro Reich. Além do Brasil, o procedimento também acontece na Argentina, Bolívia, Chile, Peru e Uruguai.
Entre todos os nazistas que fugiram para o Brasil, o caso mais conhecido é o de Josef Mengele, conhecido como Anjo da Morte. Ele foi médico em Auschwitz, encarregado da triagem dos prisioneiros que eram enviados ou para trabalho forçado ou para a morte nas câmaras de gás. Mengele morreu afogado em 1979, aos 67 anos, em Bertioga, no litoral paulista, sem nunca ter sido julgado.
Por outro lado, muitas famílias imigrantes também sofreram perseguição indiscriminada. Para ser alvo, bastava ser alemão, italiano ou japonês. No livro O retrato da repressão: as perseguições a alemães no oeste de Santa Catarina durante o Estado Novo (1937-1945), o historiador Leandro Mayer conta como Antônio Kliemann, filiado à Ação Integralista Brasileira, foi acusado de um crime que nunca cometeu. O comerciante foi preso e terminou com sequelas mentais por causa das torturas que sofreu na prisão. Acusado de trazer armas da Argentina para a região de Itapiranga, no extremo-oeste catarinense, Kliemann foi o único anistiado do Estado Novo reconhecido pelo Estado.
A população de renas selvagens e de caribus foi reduzida em mais da metade no Ártico.
Um novo relatório sobre o impacto das mudanças climáticas na região revelou que o número de animais passou de quase 5 milhões para cerca de 2,1 milhões nas últimas duas décadas. Em algumas manadas, porém, o recuo supera 90%.
O relatório foi divulgado durante reunião da American Geophysical Research Union, organização sem fins lucrativos, com sede em Washington, nos Estados Unidos, e com foco na organização e disseminação de informações científicas no campo da geofísica.
De acordo com o documento, padrões climáticos e mudanças na vegetação estão tornando a tundra do Ártico - o bioma mais frio da Terra - menos acolhedora para a espécie.
Os animais
As renas e os caribus pertencem à mesma espécie, mas são de subespécies diferentes. As renas são um pouco menores e, embora ainda existam algumas populações selvagens, já chegaram a ser domesticadas, ao contrário dos caribus.
De acordo com cientistas que monitoram os números, na porção canadense do Alasca o total de cabeças em algumas manadas recuou mais de 90% - "foram declínios tão drásticos que não há recuperação à vista", afirmou o relatório.
Por que eles são afetados pelo aquecimento do Ártico?
Há vários motivos.
Howard Epstein, cientista ambiental da Universidade da Virgínia e parte da equipe internacional de pesquisadores responsável pelo relatório, disse à BBC News que o aquecimento na região não tem mostrado sinais de arrefecimento.
"Nós vemos que a seca tem aumentado em algumas áreas, e o aquecimento em si leva a uma mudança de vegetação."
O líquen - ou fungos liquenizados - que o caribu come cresce no nível do solo.
"Com o clima mais quente, ele perde espaço para vegetações mais altas que estão crescendo e acabam eliminando os concorrentes", disse o pesquisador à BBC News.
Problemas relacionados à alimentação não são, entretanto, os únicos que os animais enfrentam.
Eles também são afetados, por exemplo, com o número de insetos que tem aumentado com o aquecimento da região.
"Se está quente e sem ventar muito, os insetos viram um tormento e os caribus acabam gastando muita energia seja tentando retirá-los do corpo seja buscando lugares onde possam se esconder deles".
A chuva também é um grande problema. O aumento das precipitações no Ártico, muitas vezes sobre o solo coberto de neve, leva à formação de duras camadas de gelo que acabam cobrindo a pastagem - e impedindo que os animais alcancem os alimentos naturais.
O que pode ser feito para resolver?
Em escala global, um dos caminhos seria reduzir a emissão de dióxido de carbono - gás que contribui para o aquecimento global - e limitar o aumento da temperatura.
Mas os cientistas dizem que foi aberta a porta do "congelador do mundo" e o calor pôde entrar; segndo eles, uma pilha crescente de evidências indica que o aquecimento no Ártico vai continuar.
O objetivo desta e de outras pesquisas na região é entender os impactos disso e como se adaptar às mudanças climáticas.
O relatório, aprovado pela US National Oceanographic and Atmospheric Administration (Noaa) - Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos - está agora em sua 13ª edição e a gerente do programa de pesquisa do Ártico, Emily Osborne, diz que a região está atualmente em "território desconhecido".
"Em todos os anos de publicação do boletim, vemos que o aquecimento persiste e continua a piorar", disse ela. "E isso está contribuindo para eventos climáticos extremos em outras partes do mundo".
OUTROS IMPACTOS
O relatório não focou apenas no impacto do aquecimento global sobre as renas e os caribus. Veja outros alertas que faz:
• Poluição por plásticos: a pequena contaminação por microplásticos identificada no Ártico está em crescimento, representando uma ameaça às aves marinhas e à vida marinha, que podem ingerir esse tipo de resíduos.
• Temperatura do ar: Nos últimos cinco anos (2014-2018), as temperaturas ultrapassaram todos os recordes batidos desde 1900.
• Impacto no gelo : em 2018, o gelo do mar Ártico se manteve mais novo, mais fino e cobrindo menos área do que no passado.
• Algas daninhas: As condições de aquecimento do Oceano Ártico estão coincidindo com uma expansão da proliferação de algas daninhas no oceano, uma ameaça às fontes de alimentação.
Os cientistas também revelaram que as geleiras da Antártida Oriental começaram a "acordar" e mostrar reação ao aquecimento. É uma prova de mudanças sem precedentes impulsionadas por fatores climáticos no topo e na base do planeta.
Missão Juno ao gigante Júpiter chegou à metade e revelou novas imagens de ciclones nos polos do planeta.
Ao orbitar o planeta a cada 53 dias, a sonda Juno faz um levantamento científico de polo a polo.
Seus sensores estão medindo a composição do planeta para decifrar como o maior mundo do nosso sistema solar se formou.
Mapear os campos magnéticos e gravitacionais também deve expor a estrutura de Júpiter.
Mas imagens da JunoCam, uma câmera que foi instalada para registrar imagens que possam ser compartilhadas com o público - já nos trazem algumas revelações surpreendentes.
Candice Hansen, do Instituto de Ciência Planetária do Arizona, que está chefiando o projeto, apresentou algumas delas na reunião da União Geofísica Americana, em Washington DC.
"Quando fizemos os primeiros registros dos polos, tivemos certeza de que estávamos vendo um território de Júpiter que nunca tínhamos visto", disse a professora Hansen.
"O que a gente não esperava era que veríamos esses polígonos de ciclones organizadinhos, tempestades com o dobro do tamanho do Estado do Texas. Pensamos 'uau, espetacular'."
E depois de 16 sobrevoadas, essas formações ainda estão lá.
Essas "belas fotos" estão começando a dar informações aos cientistas sobre como o maior planeta do sistema solar se formou e evoluiu.
"O objetivo da Juno é estudar o interior da estrutura de Júpiter e entender como ela se expressa no topo das nuvens. É esse o tipo de ligação que estamos tentando fazer, mas ainda não chegamos lá."
Jack Connerney, pesquisador do projeto, diz que a segunda parte da missão daria ainda mais detalhes sobre "o que faz Juno funcionar".
Uma cerveja fria em um dia de calor ou um copo de whisky junto ao fogo. Um merecido drinque pode liberar a mente até fazer com que alguém se sinta capaz de penetrar os mistérios da vida, da morte, do amor e da identidade. Em momentos assim, pode parecer que o álcool e os cosmos estão intimamente ligados.
Por isso, talvez não devemos ficar surpresos que o universo nade em álcool. No gás que ocupa o espaço entre as estrelas, ele é quase onipresente. O que faz ali? Chegou a hora de enviar foguetes para começar a recolhê-lo?
Os elementos químicos que nos rodeiam refletem a história do universo e das estrelas que existem nele. Pouco depois do Big Bang, em todo o cosmo em processo de expansão e resfriamento, formam-se os prótons. Estas partículas são o núcleo dos átomos de hidrogênio e são peças fundamentais dos núcleos de todos os outros elementos.
Eles foram formados, em sua maioria, a partir do Big Bang, pelas reações nucleares no denso e quente interior das estrelas. Os elementos mais pesados, como o chumbo e o ouro, são formados apenas em estrelas maciças pouco frequentes ou em episódios incrivelmente explosivos.
Outros mais leves, como o carbono e o oxigênio, sintetizam-se no ciclo vital de muitas estrelas correntes e, com o tempo, também no próprio sol. Como o hidrogênio, são alguns dos mais comuns no universo. Nos vastos espaços interestelares, o normal é que 88% dos átomos sejam de hidrogênio, 10% de hélio e os outros 2% principalmente de carbono e oxigênio.
O que é uma notícia incrível para os que gostam de dar um trago. Cada molécula de etanol, o álcool que tanto prazer nos proporciona, contém nove átomos: dois de carbono, um de oxigênio e seis de hidrogênio. Por isso, a fórmula química C₂H₆O. É como se o universo tivesse se convertido deliberadamente em uma monumental destilaria.
Ressaca interestelar
Os espaços entre as estrelas são chamados de meio interestelar. A famosa nebulosa de Órion talvez seja o exemplo mais conhecido. É a região da formação É a região da formação das estrelas mais próximas da Terra, visível ao olho nu, embora esteja a mais de 1.300 anos-luz.
Se nos fixamos normalmente nas zonas de calor das nebulosas como Órion, de onde se originam as estrelas, não é delas a procedência do álcool. As estrelas nascentes produzem uma intensa radiação ultravioleta que destrói suas moléculas próximas e dificulta a formação de novas substâncias.
Ao contrário, devemos prestar atenção às zonas do meio interestelar, que aos olhos dos astrônomos aparecem turvas e obscuras, apenas levemente iluminadas pelas longínquas estrelas. O gás que há nesses espaços está extremamente frio, pouco abaixo dos 260º C negativos, 10º C acima do zero absoluto. Isso faz com que seja muito pouco ativo.
Também está extraordinariamente disperso. Segundo meus cálculos, na Terra e ao nível do mar, há mais ou menos 3x1025 moléculas por metro cúbico de ar; ou seja, um três seguido de 25 zeros, o que é uma cifra muito elevada. A 10.000 metros, ou seja, na altura de um avião com passageiros, a densidade de moléculas é aproximadamente um terço desse valor, digamos 1x1025. No lado de fora do avião, seria difícil respirar, mas, ainda assim, continua sendo uma boa quantidade de gás em termos absolutos.
Agora, vamos compará-los com as zonas obscuras do meio interestelar, onde o normal é que haja 100.000.000.000 partículas por metro cúbico, ou, o que dá no mesmo, 1x1011. E, muitas vezes, até mesmo menos do que isso. Esses átomos raramente se aproximam o suficiente um dos outros para interagir. Mas, quando o fazem, podem formar moléculas menos propensas a se despedaçar, devido a futuras colisões em alta velocidade, do que quando o mesmo acontece na Terra.
Se, por exemplo, um átomo de carbono encontra-se com um átomo de hidrogênio, eles podem se unir e formar uma molécula chamada metilidina (sua fórmula química é CH). A metilidina é altamente reativa. Por isso, na Terra, é destruída rapidamente. Mas é frequente no meio interestelar.
As moléculas simples como esta têm mais liberdade para se encontrar com outros átomos e moléculas e formar, pouco a pouco, substâncias mais complexas. Às vezes, as moléculas serão destruídas pela radiação ultravioleta das estrelas longínquas, mas esta radiação também pode transformar as partículas em versões ligeiramente diferentes de si mesma, chamadas íons, ampliando paulatinamente a gama de moléculas que podem ser formadas.
Fuligem e aguardente
Nestas condições tênues e frias, uma molécula de nove átomos, como o etanol, pode demorar um tempo extremamente longo para se formar. Muito maior do que os sete dias em que se deve fermentar a cerveja caseira no sótão, para não falar do tempo que demora para chegar à adega.
Mas contamos com a ajuda de outras moléculas orgânicas simples, que começam a se aglomerar para formar grãos de pó parecidos com a fuligem. Nas superfícies destes grãos, as reações químicas acontecem mais rapidamente porque, perto deles, as moléculas conservam sua coesão.
Por isso, as regiões frias e cheias de fuligem, possíveis futuros berços de estrelas, facilitam a aparição mais rápida das moléculas complexas. A partir das linhas espectrais diferentes das diversas partículas presentes nessas regiões, podemos dizer que nelas há água, dióxido de carbono, metano, amoníaco e também muito etanol.
Nesse caso, quando digo muito, temos que levar em consideração a enormidade do universo. E, mesmo assim, estamos falando apenas de aproximadamente um em cada 10 milhões de átomos e moléculas. Suponhamos que fosse possível viajar pelo espaço interestelar com um copo de cerveja, recolhendo apenas álcool durante o deslocamento. Para reunir a quantidade suficiente para um copo de cerveja, teríamos que viajar mais ou menos meio milhão de anos-luz, muito mais longe do que a extensão da nossa Via Láctea.
Resumindo, no espaço exterior há uma quantidade alucinante de álcool, mas, como está disperso por distâncias verdadeiramente imensas, as lojas de bebidas podem ficar tranquilas. Sinto dizer que as rãs criarão pelos antes de descobrirmos como recolhê-lo.
El País
O ano sequer chegou ao fim e já é possível prever uma nova quebra de recorde preocupante: a pegada de carbono que a humanidade deixou na atmosfera em 2018 é novamente a maior da história.
A afirmação, feita por um levantamento do Global Carbon Project, que monitora emissões por todo mundo, enterrou a esperança de que os países conseguissem manter os avanços na emissão de gases de efeito estufa dos últimos anos.
Entre o período que se estendeu de 2014 a 2016, não houve variação significativa na quantidade produzida de um ano para o outro. Em 2017, no entanto, o incremento foi de 1.7% em relação a 2016.
Neste ano, atingimos preocupantes 2.7% de aumento – totalizando o montante histórico de 37.1 bilhões de toneladas.
O relatório “Orçamento de carbono” 2018 foi produzido por 76 cientistas, de 15 países, e aponta o pico de CO2 em 2018 em duas frentes principais. Primeiro, o aumento do consumo de carvão mineral, fonte de energia altamente poluente por economias em ascensão como Índia e China. Depois, a ampliação do uso de combustíveis fósseis em setores estratégicos como o transporte e a indústria.
O documento foi apresentado em uma conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas) que aconteceu em Katowice, na Polônia, e reuniu mais de 200 países signatários de Acordo de Paris.
Principal documento internacional que regula a emissão de gases de efeito estufa, o Acordo de Paris propõe que países se esforcem para que a temperatura do planeta não ultrapasse os 2ºC até 2020 – ficando, idealmente, abaixo dos 1,5º C. Para a tarefa, cortar o total de gases nocivos ao ambiente é nada menos que fundamental. Eles não são chamados “gases de efeito estufa” à toa: devido a suas características químicas, ficam represados na atmosfera, aumentando a temperatura do planeta.
suas metas de emissão para 2020, esse empenho ainda não é acompanhado por algumas das principais economias do mundo – e, por tabela, poluidores de peso. Nos Estados Unidos, o aumento ficou na casa dos 2.5%. China, principal poluidor do mundo, e Índia (quarto maior) registraram alta de 4.7% e 6.3%, respectivamente, em comparação ao ano anterior.
Completam o top 10 de emissores os países da União Europeia (que, juntos, ocupam a terceira colocação), Rússia, Japão, Alemanha, Irã, Arábia Saudita, Coreia do Sul e Canadá.
O aumento repentino indica que nações não tem cumprido o tratado ambiental assinado há três anos. A tendência era que, para chegar a 2020 aptos a adotar médias do Acordo de Paris, a redução observada nos países fosse mais gradual – e o corte, assim menos drástico. E as previsões para o ano que vem também não são animadoras. Pesquisadores acreditam que esse aumento repentino de emissões a partir de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) observado pode fazer com que 2019 repita um patamar de crescimento elevado.
Engordar entre o Natal e o Ano Novo não é inevitável - embora exija algum esforço.
Um estudo feito pela Universidade de Birmingham em parceria com a Universidade de Loughborough, ambas no Reino Unido, indicou que prestar atenção a algumas dicas simples para não exagerar ao beber e comer pode evitar que as pessoas ganhem peso no fim do ano - mesmo frequentando dezenas de eventos com comida em abundância.
Os voluntários do estudo que conseguiram escapar do ganho de peso receberam uma lista de dez dicas para controle de peso e outra com quanta atividade física é necessária para queimar certos pratos e bebidas muito populares no Natal.
Por exemplo, seria preciso cerca de 25 minutos andando de bicicleta para queimar as calorias de uma fatia de 100g de tender (132 kcal).
As regras
As dicas passadas para os voluntários do estudo são medidas simples, nada parecidas com as dietas mirabolantes que costumam circular por aí nessa época do ano:
1. Tente manter sua rotina alimentar → Mantenha os mesmos horários de alimentação que tem em sua rotina normal, ou ao menos tente manter os horários o mais próximo possível disso.
2. Evite alimentos gordurosos → Prefira as carnes magras (como o peru), fuja dos molhos de saladas mais gordurosos, evite os patês prontos
3. Caminhe → Você pode usar um aplicativo no celular que conte os seus passos ao longo do dia, e vá aumentando o número de passos progressivamente. Pequenas mudanças na rotina, pelo menos durante o período de festas, podem ajudar: subir a escada em vez de pegar o elevador, fazer a pé pequenos percursos, etc.
4. Escolha petiscos saudáveis → Se você gosta de petiscar, compre ou prepare opções saudáveis, como frutas, iogurtes de baixas calorias etc.
5. Leia o rótulo → Cuidado com a propaganda, principalmente em produtos light e diet (nem sempre eles têm menos calorias). Estar ciente de quanto açúcar, sódio e gordura vai nos alimentos industrializados ajuda a tornar a alimentação mais saudável.
6. Cuidado com as porções → Não encha o prato de comida (a não ser que a comida seja legumes e verduras). E pense duas vezes antes de repetir, principalmente se você costuma comer rápido: dê um tempo para seu cérebro perceber que você está saciado.
7. Fique de pé → Evite ficar muito tempo sem se levantar. Para cada hora sentado, levante por dez minutos. Essa é uma dica útil de ter na cabeça durante viagens, que são muito comuns no fim do ano. Em voos, ande no corredor. Se estiver viajando de carro, faça paradas em estabelecimentos ao longo da estrada para esticar as pernas.
8. Pense no que vai beber → Prefira água ou refrescos sem açúcar. Até mesmo suco de fruta tem o açúcar natural da planta, então limite a quantidade a um copo de suco por dia. O álcool também é bem calórico, então tente compensar evitando repetir a refeição nos dias em que for beber mais. 9. Foque na comida → Aproveite o feriado para diminuir o ritmo. Não coma na frente da TV ou fazendo outras atividades; coma na mesa se possível. Curta sua refeição. 10. Não esqueça a regra dos 5 → Coma ao menos cinco porções de fruta, legumes ou verduras por dia (400g no total).
Como foi feito o estudo
O estudo, chamado "Winter Weight Watch Study" (Estudo de Observação de Peso no Inverno, em inglês) envolveu 272 voluntários, que foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo de controle e um grupo de intervenção.
Os voluntários no grupo de intervenção foram orientados a se pesar todo dia, ou, no mínimo duas vezes por semana.
Eles receberam dez dicas (acima) sobre como evitar ganho de peso, uma lista de atividades físicas com quantas calorias elas queimam, e o que essas calorias correspondem em alimentos comuns no fim do ano.
O grupo de controle recebeu apenas um panfleto com informações breves sobre ter um estilo de vida saudável, sem nenhuma dica alimentar.
O resultados mostraram que, na média, os participantes do grupo de controle ganharam peso durante a época do Natal, mas os do grupo de intervenção mantiveram o peso.
O estudo, publicado nesta segunda (10), no periódico científico britânico The BMJ (antigo British Medical Journal). A pesquisa foi conduzida entre 2016 e 2018, com os pacientes sendo medidos e pesados em novembro e dezembro de 2016 e 2017, e novamente em janeiro e fevereiro dos anos seguintes.
"Os feriados de fim de ano coincidem com folgas coletivas em muitos países, oferecendo oportunidade para consumo excessivo de comida e comportamento sedentário por um tempo prolongado", afirma a nutricionista Frances Mason, pesquisadora da Universidade de Birmingham e uma das autoras do estudo.
"Só no dia de Natal as pessoas chegam a consumir 6 mil calorias - três vezes o recomendado", diz ela, em um comunicado da universidade sobre a pesquisa.
"Intervenções leves como as feitas no estudo Winter Weight Watch poderiam ser levadas em consideração por quem faz políticas públicas para evitar ganho de peso da população em épocas mais sensíveis, como as férias", afirma Mason.
A professora Amanda Daley, co-autora do estudo, afirma que o peso adquirido durante as festas não costuma ser acompanhado por perda de peso no início do ano.
"Embora sejam ganhos pequenos, ao longo de dez anos podem significar um aumento considerável no peso", explica.
O grupo extremista autodenominado Estado Islâmico explodiu, em julho de 2014, um santuário no Iraque. O templo de Nabi Yunus estava localizado em uma colina na cidade de Mossul, que foi por séculos um local de devoção.
Durante o período cristão, foi construído um mosteiro no monte que, há mais de 600 anos, se tornou um santuário muçulmano dedicado ao profeta Jonas.
Ao destruí-lo, os militantes do Estado Islâmico alegaram que Nabi Yunus não era mais um lugar de oração, mas de heresia.
As imagens da explosão rodaram o mundo. A mensagem era clara: nenhum local sagrado, mesmo venerado, estava a salvo da interpretação radical do Corão do grupo extremista.
Mas a destruição de Nabi Yunus não terminou, nem de longe, com a história do monte. Muito pelo contrário: surgiram questões fascinantes sobre o que havia sob as ruínas da mesquita.
Mistérios não resolvidos
Na primavera de 2018, o serviço árabe da BBC enviou uma equipe para explorar a rede de túneis frios e empoeirados encontrados no interior da colina.
Eles tiraram fotos em alta resolução das descobertas usando uma técnica chamada fotogrametria e tentaram desvendar alguns mistérios que ficaram sem resposta após a destruição do santuário.
Em árabe, Nabi Yunus se refere ao profeta Jonas. Muitos muçulmanos acreditam que seus restos mortais estejam sepultados ali.
"Nabi Yunus sempre foi um dos nossos locais religiosos e culturais mais importantes", explica Ali Y Al-Juboori, diretor de Estudos Assírios da Universidade de Mossul.
Destruição
Em 24 de julho de 2014, militantes do Estado Islâmico ordenaram que os fiéis se retirassem do local e colocaram explosivos nas paredes internas e externas da mesquita. Os moradores da região foram instruídos a se afastar e a ficar a pelo menos 500 metros do templo.
A explosão reduziu a mesquita a escombros, e o Estado Islâmico expulsou os cristãos da cidade. Pela primeira vez na história, houve uma tentativa de transformar Mossul em uma cidade de religião única.
A ação foi parte de uma onda de destruição de lugares sagrados promovida pelo grupo extremista.
No Portal de Nergal, localizado na antiga cidade de Nínive (dentro da atual Mossul), os combatentes desfiguraram uma estátua de lamassu, criatura mítica que guardava a entrada de palácios assírios. E explodiram a porta.
O Estado Islâmico justificou a destruição de Nabi Yunus atacando a legitimidade do santuário.
"Era um túmulo para os papas cristãos", disse um extremista à BBC. "É proibido construir uma mesquita em um falso santuário."
Na verdade, pesquisas acadêmicas apontam que Jonas não foi enterrado lá. Acredita-se que a ossada atribuída a ele pertencia provavelmente a um patriarca cristão chamado Henanisho I.
Palácio soterrado
Sob as ruínas de Nabi Yunus há um palácio que foi usado tanto como residência para os reis assírios, quanto como base para seu exército. A estrutura, que remonta pelo menos ao século 7 a.C., tem mais de 2,7 mil anos.
Quando o leste de Mossul se libertou do domínio do Estado Islâmico em janeiro de 2017, os arqueólogos encontraram algo peculiar sob os escombros da mesquita: tinha muito mais túneis do que havia sido documentado antes.
De fato, foram descobertos mais de 50 túneis novos, alguns curtos e outros mais de 20 metros de extensão.
Peter A. Miglus, professor da Universidade de Heidelberg, na Alemanha, que conduziu um estudo preliminar sobre os túneis, explicou que o terreno sob a mesquita era tão cheio de buracos que parecia um queijo suíço.
A maioria dos túneis parece ter sido escavada com picaretas, mas também há vestígios que sugerem o uso de uma pequena escavadeira. O túnel maior tem cerca de 3,5 metros de altura, e o menor não chega a mais de um metro.
Os relatórios iniciais sugeriam que eram os militantes do Estado Islâmico que tinham cavado os túneis novos.
Mas os habitantes do leste de Mossul disseram à BBC que eles contrataram moradores locais para fazer as escavações.
Eles queriam saquear os artefatos assírios que se encontravam no interior do templo. Acredita-se que a venda de antiguidades era a segunda fonte de renda do grupo extremista depois do petróleo.
A colina foi saqueada com cuidado, provavelmente para manter as descobertas intactas. No entanto, parece que alguns achados eram grandes demais para os militantes do Estado Islâmico levarem.
Possivelmente, os objetos maiores, alguns deles cravados nas paredes, não podiam ser removidos sem ameaçar a integridade da estrutura dos túneis.
Três mulheres
Quando os jornalistas da BBC entraram nos túneis escuros do monte Nabi Yunus, em março de 2018, muitas das descobertas dos arqueólogos ainda estavam lá.
O achado mais surpreendente foi de baixos-relevos esculpidos nas paredes que ilustravam uma fileira de mulheres - uma descoberta que levanta mais perguntas do que respostas.
Paul Collins, do Museu Ashmolean de arte e arqueologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido, acredita que essas imagens não têm precedentes.
É muito raro encontrar figuras femininas nesta escala. As mulheres, nas raras ocasiões em que foram imortalizadas, costumavam ser retratadas como prisioneiras de guerra ou em uma escala muito menor do que nos relevos, que batem na altura da cintura.
O que intriga os especialistas em arte assíria é que essas mulheres, em vez de serem representadas de perfil, como era costume na escultura assíria, estão de frente.
Embora alguns estudiosos acreditem que os desenhos repetidos e idênticos indiquem que as figuras femininas são deusas, Gansell tem outra opinião.
Segundo ele, a ausência de chifres ou de uma coroa especial, símbolos que costumavam ser usados para identificar divindades na arte assíria, sugere que poderiam ser representações de meras mortais.
Gansell acredita que as mulheres podem simbolizar membros da realeza ou da alta sociedade que levavam oferendas a um deus, possivelmente durante um ritual.
"A representação indica que Nabi Yunus poderia ter tido um espaço de culto para as mulheres. Oferece novas pistas sobre o papel das mulheres na sociedade e religião assíria. É algo absolutamente único", disse o especialista à BBC.
Lamassu
Junto aos baixos-relevos das mulheres, também foram encontradas gravuras de lamassus (touros alados) nos túneis.
Estátuas da criatura mítica eram construídas na entrada dos palácios assírios para intimidar os inimigos e afastar os espíritos demoníacos.
No idioma acádio, lamassu significa "espírito protetor". Eles têm o corpo de um touro, as asas de uma águia e a cabeça de um homem.
Os lamassus encontrados nos túneis são mais uma prova de que as ruínas já foram em algum momento um lugar sagrado.
E uma evidência de como a história de Nabi Yunus se mantém viva, apesar da tentativa de destruí-la.
Nosso veículo seguia cada vez mais alto pela estrada de terra que corta as montanhas do Alto Atlas, no Marrocos. Abaixo de mim, o solo vermelho se espalhava entre o verde da floresta e a cobertura de neve branca. Eu me perdi na beleza vertiginosa dos picos mais altos do norte da África, e quando nervosamente espiei pela janela, vi que não havia proteção na estrada para o profundo e distante vale.
Nossa jornada começara uma hora antes, na base da montanha, por uma antiga trilha que era usada por caravanas ligando Marrakesh ao deserto do Saara. Séculos atrás, essa rota comercial transaariana havia trazido ouro, marfim e tecidos de lugares como Timbuktu, Sudão e Gana para a costa norte-africana. Hoje, as outroras orgulhosas aldeias salpicadas ao longo desta estrada sinuosa são pouco desenvolvidas e servem de pouso para viajantes cansados, que podem comprar carne grelhada em cabanas e cafés.
Parei em uma dessas aldeias, Taddert, naquela manhã, segurando uma cópia desbotada de Berber Village: The Story of the Oxford University Expedition to the High Atlas Mountains of Morocco (O Vilarejo Berber: A História da Expedição da Universidade de Oxford às Montanhas do Alto Atlas do Marrocos, em tradução livre).
Publicado em 1959 e escrito por Bryan Clarke, o livro é um relato de uma notável expedição de 17 dias desde Oxford, no Reino Unido, a uma remota aldeia chamada Idihr, realizada por cinco estudantes em 1955.
Os jovens - entre eles, o próprio Clarke - viajaram em um caminhão que fora usado pelo Exército. Eles foram imbuídos da esperança de estudar a geografia, a vida selvagem e os costumes deste canto longínquo da cadeia montanhosa mais alta do mundo árabe.
Viagem em território hostil
A jornada ocorreu durante um período de agitação civil. O Marrocos era um protetorado francês desde 1912, mas após o exílio do sultão Mohammed V em 1953, a violência explodiu e as autoridades coloniais reprimiram implacavelmente os nacionalistas marroquinos.
Quando os estudantes atravessaram da Inglaterra para San Sebastián, na Espanha, e se prepararam para se aventurar de Gibraltar ao Marrocos no verão de 1955, a ocupação francesa estava em seus últimos momentos, e o futuro do país era incerto.
Quando os estudantes chegaram ao norte da África, eles buscaram ajuda do líder Thamis el-Glaoui para encontrar uma aldeia remota ideal para a pesquisa e ter proteção durante a viagem. Antes de se tornar o Paxá (governador da província) de Marrakech, em 1912, el-Glaoui foi apelidado de "O Senhor do Atlas" e governou a rota das caravanas que cortava as montanhas do sul de Marrocos.
Seu palácio era o lendário Kasbah Telouet, no centro do Marrocos, e na época de sua morte, em 1956, ele era um dos homens mais ricos do mundo.
Após atravessar de Oxford ao Alto Atlas, os estudantes passaram a noite no palácio. Era o fim da estrada, então, um xeque local providenciou uma caravana de mulas para levar a bagagem enquanto os estudantes percorriam cerca de 35 quilômetros de Telouet a Idihr.
Assim como os estudantes, eu tinha vindo ao Marrocos para uma aventura pessoal. Depois de viver nos EUA por uma década, viajei rumo ao país na esperança de escrever um romance.
Um dia, enquanto vasculhava uma biblioteca em Casablanca, descobri uma cópia do Berber Village. Ao lê-lo, fiquei fascinada pelas provações e tribulações que esses cinco jovens aventureiros enfrentaram - entre eles, estavam um intérprete marroquino, além de aspirantes a zoólogo, etnólogo, geógrafo e botânico.
Chegada ao 'vilarejo perdido'
Durante a jornada de 17 dias, de acordo com o livro, os estudantes dormiram na varanda de um oficial britânico, conheceram o lendário explorador Wilfred Thesiger e quase foram mantidos em cativeiro por bandidos em Marrakech.
Depois de chegar a Idihr, eles acamparam por sete semanas durante suas pesquisas. Seu principal financiamento veio do Clube de Exploração da Universidade de Oxford, que lhes permitiu comprar o veículo, e um adiantamento de £100 da National Geographic para um artigo futuro.
Nas semanas anteriores à partida, os estudantes estocaram uma pilha de refeições prontas, penicilina e papel higiênico. Clarke despediu-se da proprietária idosa do local onde estava, que lhe deu uma sacola com sanduíches caseiros para a viagem.
Os alunos escolheram Idihr por sua localização remota no alto da cordilheira do Atlas. Eles queriam encontrar algum lugar intocado pela modernidade para estudar as crenças e práticas agrícolas de uma sociedade remota do Magreb. Os alunos armaram suas tendas sob uma grande nogueira na beira do riacho que corria próximo à aldeia.
Com o passar das semanas, escreve Clarke, uma amizade foi se formando entre os dois grupos. Os estudantes convidaram aldeões para tomar chá em suas barracas, e os aldeões os receberam em suas simples casas de alvenaria. Os aldeões logo revelaram uma crença em animismo e gênios, e começaram a ver os estudantes, que compartilhavam sua penicilina, como curandeiros mágicos.
Quanto mais eu lia o relato de Clarke, mais curiosa ficava para descobrir o que havia acontecido com Idihr. Ainda existia? Eu a busquei no Google Maps e perguntei a habitantes de Marrakech em árabe, mas ninguém conseguiu encontrar nenhum traço da vila. Eu contatei até a viúva de Clarke e perguntei se alguém do grupo voltara depois ao lugar. Clarke não tinha e ela não tinha certeza sobre os outros, se eles ainda estavam vivos.
O pequeno ponto de uma aldeia parecia ter desaparecido dos mapas modernos, e a única evidência de sua localização era um esboço desenhado a mão no livro de Clarke, que ficava a 16 quilômetros da cidade de Zerkten e entre as aldeias de Taddert e Telouet, na província de Al Haouz. Eu não tinha certeza se ela havia mudado de nome ou desaparecido por completo, mas estava determinada a descobrir se ainda existia.
Taddert parecia ser a aldeia mais próxima nos mapas modernos, então, eu dirigi três horas ao vilarejo de Marrakech com um motorista que serviu como intérprete.
Um grupo de homens se reuniu em torno de nós e olhou para o livro de Clarke, enquanto meu motorista e eu repetíamos o nome da aldeia. Eles analisaram o mapa desenhado à mão e, finalmente, alguém apontou para as montanhas ao longe. Então, um mecânico de bom coração, Karim, que estava por perto, veio me socorrer. Idihr existia e ele me levaria lá.
A nova expedição
Esperei em um café à beira da estrada em Taddert com o livro de Clarke aberto na mesa, enquanto Karim ligava para um amigo. Nossa expedição improvisada consistia de mim, meu motorista, Karim e seu amigo, que tinham o maior carro das redondezas: um 4x4 capaz de subir as montanhas.
Mas após uma hora subindo cada vez mais alto e as rodas do carro cada vez mais próximas do penhasco, eu não aguentei mais. Com muito medo para continuar, implorei ao motorista que parasse, fechei a porta e comecei a caminhar de volta pela montanha em uma trilha empoeirada antes que o carro se virasse para me pegar.
Fiquei decepcionada comigo mesma, mas descobri que Idihr existia. Agora, eu só precisava encontrar uma maneira diferente de chegar lá. Karim, meu motorista e eu voltamos de Taddert para Marrakech naquela noite. Karim me garantiu que tentaria encontrar uma rota menos perigosa para a aldeia e insistiu que eu não lhe devia nada em troca.
Alguns dias depois, recebi uma ligação dele. Ele tinha decidido que iríamos no 4x4 por uma estrada diferente. Por mais que eu tivesse gostado de refazer a rota de 35 quilômetros dos alunos de Telouet, ela era muito perigosa. Fiquei nas mãos de Karim para encontrar outro caminho até lá.
Nós partimos sete dias depois. Enquanto Karim, eu e nosso motorista deixávamos Marrakech para trás e viajávamos por estradas montanhosas, a velha rota de caravanas abria caminho até as montanhas cobertas de neve. As mulheres lavavam as roupas em valas, os tapetes sopravam ao vento nas barracas da beira da estrada e burros trotavam livremente por casas pela metade.
Depois de três horas, nós saímos da rota da caravana e nos aproximamos Taddert, do lado oposto das montanhas por onde fizemos nossa primeira tentativa. Embora Idihr estivesse a menos de 20 quilômetros de distância, o trajeto levou várias horas, já que subimos em curvas e atravessamos rios a passo de caracol.
Nós estávamos sozinhos em uma estrada de terra enquanto os picos do Alto Atlas subiam e desciam ao nosso redor. Finalmente, a pequena aldeia apareceu: um aglomerado de casas simples de tijolos amontoadas na margem de um rio alimentado pela montanha.
Karim cumprimentou os locais em árabe e no dialeto de Amazigh (também conhecido como Berber). Homens saíam de suas casas, e mulheres de saias brilhantes e lenços na cabeça se escondiam de mim. Parecia que eles não estavam acostumados com visitantes estrangeiros.
Eu passei por jardins e cabras. Um grupo de crianças me seguiu até o riacho abaixo da aldeia onde encontrei a nogueira descrita por Clarke. A aldeia era composta de casas baixas, cor de areia, dispostas em torno de uma praça. Outra fileira de casas percorria a beira de cima do córrego e era idêntica às imagens dos alunos do livro.
Os aldeões tiraram fotografias em preto e branco de um estrangeiro que havia parado aqui anos antes. Eu pedi para fotografar as mulheres, e elas ficaram admiradas com as imagens na tela do meu iPad; não havia telefones celulares ou câmeras. Mostrei-lhes uma cópia de Berber Village e perguntei se alguém se lembrava dos alunos, mas ninguém jamais havia visto o livro. Alguns moradores reconheceram fotos de aldeões falecidos.
Retrato do passado
Nada parecia ter mudado em Idihr desde o relato do livro, exceto que agora uma van esporadicamente levava os moradores para Taddert. As pessoas trabalhavam na terra, assim como sempre fizeram. Eles ainda se deliciam com carne cozida lentamente e pratos de legumes em potes de tagine. Um deles foi oferecido a mim naquela tarde.
Havia uma TV antiga desligada em um espaço comunitário. Além de um teto sobre suas cabeças e roupas em seus corpos, os aldeões não pareciam ter muito. E, de acordo com Karim e o motorista, eles ainda compravam mercadorias de "homens mágicos" ambulantes na esperança de que lhes trariam boa sorte.
Passei a tarde na aldeia e parti antes de a noite cair. Idihr não estava a caminho de lugar algum - era tão difícil de chegar até ela e tão pequena que, a menos que você se perdesse procurando por Kasbah Telouet, agora em ruínas, você nunca a encontraria. Mas agora que eu conseguira, sonhava em um dia voltar para acampar na aldeia, assim como os alunos fizeram.
Eu não tinha o financiamento de uma universidade ou publicação, mas provei que um viajante com uma boa dose de determinação ainda pode ser um explorador no mundo de hoje. Eu posso não ter sido a primeira a descobrir Idihr, mas graças à bondade de estranhos, senti como se tivesse redescoberto um pequeno segredo escondido da vista e congelado pela lenta marcha do tempo nas montanhas.