Em março de 2015, a Nasa mandou o astronauta Scott Kelly passar um ano na Estação Espacial Internacional (ISS), na órbita da Terra. Seu irmão gêmeo, Mike Kelly, ficou no chão. Por terem corpos idênticos, eles eram os voluntários ideais para uma experiência curiosa: ver como uma longa permanência no vácuo afeta o organismo de um ser humano — e compará-lo com um organismo igual e saudável que ficou por aqui.
Deu tão certo que agora a agência espacial fará isso de novo — mas, desta vez, com dois computadores. Na tarde do dia 14 de agosto, um foguete CRS-12 da SpaceX (de Elon Musk) levantou voo com 2,7 toneladas de suprimentos destinados à ISS. Entre eles, um computador com capacidade de processamento de 1 teraflop — o equivalente a 1 trilhão de operações matemáticas por segundo. Um clone dessa calculadora fora de série ficará em Wisconsin, aqui na Terra, e pesquisadores coletarão dados do funcionamento de ambos para ver como, na prática, uma viagem ao espaço afetaria uma máquina desse tipo.
O objetivo é ver se é viável colocar um desses na bagagem da primeira expedição a Marte. No espaço, os tripulantes dessa viagem precisarão fazer cálculos de trajetória o tempo todo — alguns emergenciais, afinal, pousar em outro planeta pela primeira vez é uma situação com muito potencial para imprevistos. Mandar esses cálculos para a Terra, resolvê-los aqui e devolvê-los para a nave demora mais de 40 minutos. É mais prático fazer as contas lá mesmo, no espaço, evitando o delay .
A HP, que construiu o computador, afirma que ele está preparado para resistir a radiação cósmica, erupções solares, micrometeoritos, fornecimento de energia elétrica instável e resfriamento irregular — nem uma passeio na Millenium Falcon tem tantas chances de dar errado.
“O Spaceborne Computer fica dentro de um armário projetado pela HP e aprovado pela Nasa, e fica preso no lugar por parafusos aprovados pela NASA”, explica o pesquisador responsável, Eng Lim Goh . “Nós usaremos o próprio frio do espaço para manter o computador refrigerado, e todo o sistema funcionará com placas de captação de energia solar.” O computador faz parte de uma experiência, e não irá substituir os sistemas de controle da ISS.
O maior asteroide a se aproximar da Terra em mais de um século passará a uma distância de sete milhões de quilômetros do nosso planeta nesta sexta-feira, afirma a Nasa. A distância é considerada próxima, em termos cósmicos, mas não o suficiente para ofereecer qualquersará risco. Este asteroide, que possui um diâmetro de 4,4 quilômetros e é conhecido pelo apelido Florence, foi descoberto em março de 1981.
“É o maior objeto celeste a passar tão perto do nosso planeta desde a descoberta do primeiro asteroide nas proximidades da Terra, há mais de um século”, afirmou a agência espacial americana, em comunicado. “Embora muitos asteroides conhecidos tenham cruzado a Terra a uma distância mais curta do que fará Florence na sexta-feira, todos eram menores”, disse Paul Chodas, responsável do Centro para o Estudo de Objetos Próximos à Terra, que pertence à Nasa.
Florence só voltará a se aproximar da Terra em outubro de 2024 e, mesmo assim, não passará tão perto de nosso planeta pelos próximos quinhentos anos, afirmou a agência espacial. Os cientistas aproveitarão esta passagem para estudar mais detalhes do corpo celeste, usando telescópios localizados na Califórnia e em Porto Rico.
“As imagens resultantes devem permitir determinar as dimensões exatas do asteroide e também revelar os detalhes de sua superfície com uma precisão de 10 metros”, estimou a Nasa.
Colisão
As colisões entre grandes asteroides e a Terra não são eventos comuns. “A cada 2.000 anos, aproximadamente, um meteorito do tamanho de um campo de futebol atinge o planeta, devastando a área de impacto e os arredores”, afirmou a agência espacial americana.
Objetos celestes capazes de aniquilar a civilização humana, como o que provocou o fim dos dinossauros há cerca de 66 milhões de anos, são ainda mais raros. Estes ameaçam a Terra uma vez a cada alguns milhões de anos, acrescentou a Nasa, que chegou a calcular em 0,01% a probabilidade de um asteroide grande e potencialmente perigoso nos atingir nos próximos cem anos. Mesmo a queda do meteoro que provocou importantes danos e deixou 1.000 feridos em Chelyabinsk, na Rússia, em fevereiro de 2013, foi um evento incomum. A rocha tinha um diâmetro de 15 a 17 metros e uma massa entre 7.000 e 10.000 toneladas. Ao atingir o solo, liberou uma energia que foi estimada em 30 vezes a potência da bomba de Hiroshima.
A Nasa afirma que ao menos um asteroide do tamanho de um carro atinge a atmosfera da Terra por ano, mas normalmente eles se desintegram antes de tocar o solo.
Acredita-se que o projétil fosse um míssil Hwasong-12, de capacidade nuclear e alcance intermediário, disparado das cercanias de Pyongyang às 5h57 (hora local). Depois de sobrevoar o Mar do Japão, passou pelo norte do país a uma altitude estimada de 550 quilômetros, antes de aparentemente se separar em três partes e cair no Oceano Pacífico, cerca de 1.180 quilômetros a leste de Hokkaido.
O míssil foi detectado segundos após o lançamento, quase certamente por um dos quatro satélites de alerta prévio por infravermelho, operados pelos EUA em órbita geossíncrona acima do Equador. Então o sistema automático J-Alert do Japão emitiu avisos à população em todo o norte japonês, através de telefones celulares, rádio e televisão. As forças de autodefesa monitoraram a trajetória do míssil, mas sem tentar interceptar o foguete.
Interceptação improvável
O ministro japonês da Defesa, Itsunori Onodera, explicou que a decisão foi não tentar derrubar o míssil por ele não visar um alvo no Japão e, portanto, não haver perigo de que entrasse em território japonês. Onodera acrescentou que o projétil esteve sobre o país por menos de dois minutos.
O projétil foi aparentemente rastreado pelos três contratorpedeiros do sistema de combate Aegis, todos munidos de mísseis de intercepção Standard Missile-3, e constantemente estacionados no Mar do Japão. Um segundo nível de defesa imediata é fornecido pelos mísseis terrestres Patriot Advanced Capability-3, da Força Aérea de Autodefesa do Japão, estacionada na base aérea de Chitose, em Hokkaido.
"Ao sobrevoar o Japão, ele ia muito alto e se movia com velocidade extrema", diz Lance Gatling, analista de defesa e presidente da empresa de consultoria especializada em defesa aeroespacial Nexial Research, sediada em Tóquio.
"Ele estava aparentemente a uma altitude de 550 quilômetros ao passar por Hokkaido, que fica no limite máximo da faixa de intercepção do SM-3, e qualquer contratorpedeiro Aegis precisaria estar na posição certa para interceptar", explica Gatling. "Em suma, seria um tiro difícil de acertar, caso se tivesse seguido em frente e ordenado o disparo."
Lixo espacial e vexame
Uma tentativa de interceptação também traria riscos significativos, lembra Gatling. "O que o Japão teria alcançado se tivesse interceptado o míssil? Haveria bem mais lixo espacial na atmosfera, potencialmente ameaçando nossos foguetes ou missões de reabastecimento para a Estação Espacial Internacional, por exemplo."
A Coreia do Norte inevitavelmente ficaria irritada por tal manobra, já que não está claro se o Japão tem o direito legal de interferir com veículos de outra nação que estejam acima de seu espaço aéreo. "É certamente descortês disparar um míssil sobre outro país, mas não chega a ser ilegal", diz o especialista.
Provavelmente, o maior problema de uma tentativa de interceptar o míssil seria se as defesas do Japão fracassassem. "Se eles tivessem tentado derrubá-lo e falhassem, as consequências seriam sérias", deduz Gatling. "Esse sistema defensivo, com que o Japão gastou muito dinheiro, teria falhado em seu primeiro teste. Isso não pegaria bem domesticamente, e ainda encorajaria os norte-coreanos a pensarem que seus mísseis são intocáveis."
Stephen Nagy, professor de relações internacionais na International Christian University de Tóquio, concorda que a velocidade e a altitude do míssil norte-coreano dificultariam extremamente qualquer tentativa de derrubá-lo. "Claramente, teria sido difícil por causa do tempo necessário para reunir a informação, determinar o curso e o objetivo do míssil, e depois ter uma decisão do Conselho de Segurança Nacional sobre uma reação. Até que isso acontecesse, o míssil já teria caído."
Respostas futuras
A questão agora pode ser como o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se prepara para lidar com o próximo míssil disparado pela Coreia do Norte. A probabilidade de que isso ocorra aumentou consideravelmente na quarta-feira, desde que a mídia estatal informou que Kim Jong-un desafiadoramente ordenou mais testes de mísseis no Oceano Pacífico.
"O governo japonês está considerando equipar as Forças Armadas para realizar ataques preventivos em território estrangeiro, caso seja identificada uma ameaça direta ao Japão. Embora seja necessário lembrar que qualquer ataque contra a Coreia do Norte provavelmente terá como resposta um ataque contra Seul", alerta Nagy. Segundo estimativas, um ataque de artilharia contra a capital sul-coreana poderia matar 1 milhão de pessoas em um minuto.
"Espero que o Japão colabore com os EUA, Coreia do Sul e, possivelmente, a China para aplicar mais pressão financeira sobre Pyongyang e cortar os suprimentos tecnológicos e de componentes de que eles precisam para fazer esses mísseis", torce o especialista em relações internacionais.
Um grupo de 1.069 robôs bateu um novo recorde mundial: o da maior reunião de androides dançarinos do mundo.
Eles se apresentaram na última semana na cidade de Cantão, na China.
Com 47 cm de altura, os robôs chamados Dobi fizeram uma performance com uma sincronia perfeita. Ou quase: alguns exemplares caíram durante o show e não fizeram parte da contagem final.
Representantes do Guinness World Records acompanharam a apresentação e, em seguida, concederam o título aos dançarinos e à empresa chinesa responsável pela façanha, a WL Intelligent Technology.
A companhia usou a demonstração para apresentar a capacidade tecnológica dos robôs, programados com um único sistema de controle.
Além de dançar, eles conversam, fazem Tai Chi e imitam outras ações humanas.
Os androides dançarinos superaram a performance de 1.007 robôs, da também chinesa Ever Win Company & Ltd, feita em julho de 2016.
Durante a Primeira Guerra Mundial, ao mesmo tempo em que calculava trajetórias de projéteis como soldado de artilharia na frente russa, o físico alemão Karl Schwarzschild estudava a recém-publicada Teoria Geral da Relatividade, de Albert Einstein. Além de comprovar que as equações de seu compatriota descreviam o universo com uma precisão inédita, Schwarzschild observou que elas também implicavam a existência de objetos cósmicos inesperados. As curvaturas provocadas pelos planetas e estrelas no tecido espaço-temporal geravam poços gravitacionais que mantêm os humanos presos à Terra e fazem com que a Lua gire ao nosso redor, enquanto nós viajamos ao redor do Sol. Em casos extremos, quando a concentração de massa fosse máxima, a atração gravitacional seria tão intensa que nem sequer a luz escaparia da sua influência.
Foi a primeira vez que a existência dos buracos negros foi cogitada, um conceito tão estranho que até mesmo Einstein duvidou da sua existência real. Pouco depois, enquanto continuava ruminando as consequências de sua ideia mais revolucionária, o pai da Relatividade escreveu a Schwarzschild sobre a possibilidade de que alguns objetos com massa gigantesca, como esses estranhos buracos negros, produzissem ondulações no tecido espaço-temporal semelhantes às que ocorrem quando se atira uma pedra em um lago.
Um século depois, essas loucas hipóteses foram confirmadas por experimentos empíricos. Em setembro de 2015, o Observatório da Interferometria Laser de Ondas Gravitacionais (LIGO), nos EUA, captou as primeiras ondas gravitacionais produzidas no exato instante em que dois buracos negros se chocavam, logo antes de se fundirem. Aqueles objetos tinham entre 10 e 30 vezes a massa do Sol, e sua união liberou numa fração de segundo mais energia que todas as estrelas conhecidas juntas. Colisões desse tipo tinham sido previstas, mas era a primeira vez que foram observadas.
Conforme se anunciou na época, a possibilidade de detectar ondas gravitacionais inaugurava uma nova etapa para a astronomia, que poderia estudar de forma direta fenômenos até então invisíveis. Nesta semana, uma equipe de pesquisadores das Universidades de Birmingham (Reino Unido), Maryland e Chicago (ambas nos EUA) publicou na Nature os resultados de um dos primeiros trabalhos desta nova astronomia. Sua intenção era explicar como se formavam as duplas de buracos negros como as que o LIGO detectou.
Ilya Mandel, cientista da Universidade de Birmingham e coautor do artigo, conta no site The Conversation que os astrônomos cogitam duas hipóteses para a formação dessas duplas. Numa delas, a dupla teria iniciado seu périplo unida desde o início, com o nascimento simultâneo de duas estrelas maciças. Depois de uma longa existência, quando seu combustível nuclear se esgotasse, ambas se paralisariam sob o peso da sua própria gravidade, concentrando-se até formarem dois buracos negros. Se estivessem à distância adequada, ambos os objetos começariam, na forma de ondas gravitacionais, a perder parte da energia que os mantinha em suas órbitas e cairiam em espiral na direção do outro buraco negro, até se fundirem. Na segunda opção proposta, os monstros cósmicos teriam se formado separadamente, numa parte do universo com superpopulação de estrelas. Os puxões gravitacionais desses astros teriam acabado por reunir os dois buracos negros.
A informação oferecida pelo LIGO permite saber se esses objetos rodam devagar ou rápido, e se estão alinhados entre si. Por enquanto, os dados indicam que os buracos negros giram sobre si mesmos a toda velocidade, sem estar alinhados. Isso colocaria os dados contra a teoria de que os dois corpos se formaram como uma estrela binária, indicando, ao menos neste caso, que os dois titãs gravitacionais surgiram separadamente, numa região com muitas estrelas, e acabaram se unindo depois.
Os autores observam que buracos negros desse tipo seriam similares aos observados em nossa galáxia. Calculam que seria necessário observar a fusão de 10 outras duplas para confirmar sua origem. Entretanto, também alertam que é possível que esses buracos longínquos sejam diferentes dos que vemos em nossa vizinhança, e que nesse caso seriam necessárias muito mais observações para dar sentido a tanta complexidade. Resolver o mistério todo exigirá tempo, mas pelo menos já se sabe que os protagonistas da história são reais. O que se conhece agora, apesar de tudo o que se ignora, já teria fascinado aquele soldado que aproveitava os descansos entre os disparos para refletir sobre os enigmas do universo.
Uma bebida amarga, a invasão de Hitler à Áustria, uma disputa familiar de meio século e um segredo guardado por monges beneditinos. A história do alemão Paul Underberg com o Brasil tem todos esses capítulos e começa de uma maneira não menos singular, em 26 de maio de 1932, quando ele embarcou em um dirigível rumo ao Rio de Janeiro.
A viagem no Graf Zeppelin desde Friedrichshafen, na borda sul da Alemanha, durou cinco dias.
Paul era neto de Hubert Underberg, que em 1846 criou um "bitter" digestivo batizado com seu sobrenome. O século 19 disseminou o hábito de se consumir após as refeições bebidas feitas à base de cascas de árvore, raízes, frutas e sementes, que facilitavam a digestão da comida pesada que, naquela época, era conservada em banha animal.
Depois de passar pelas mesas da família real da Itália, da Áustria, da Alemanha e do czar da Rússia, a marca desembarcou no Brasil em 1883, quando o país já acumulava algumas décadas de imigração alemã.
A chegada de Paul à América do Sul 85 anos atrás era a última etapa de um périplo que passou por quase 50 países, uma viagem sensorial para descobrir novos ingredientes - a essa altura a Underberg já usava ervas de mais de 40 países - e prospectar novos negócios.
Ele foi da Amazônia ao extremo sul do Brasil e chegou à Argentina, onde os descendentes de italianos mantinham o costume dos pais de tomar "amaro", nome que a Itália deu ao "bitter".
De volta à capital carioca, o alemão decidiu que não queria mais voltar para casa.
"Paul desembarcou no Rio de Janeiro e encontrou uma sociedade sofisticada, que em nada lembrava a tensão da Europa pré-guerra", diz André Wollny, atual presidente da empresa na América Latina.
Amor nos trópicos
Foi no Rio que ele conheceu Erna von Knapitsch, imigrante austríaca que fugira para o Brasil em meados dos anos 1930, depois que o exército de Hitler invadiu seu país.
Erna vinha tendo problemas com os soldados que monitoravam a fazenda da família em Kärnten, no sul da Áustria.
"Durante as refeições ela sentava à mesa com os prisioneiros que trabalhavam na fazenda e dava-lhes a mesma quantidade de comida que a família recebia. Isso deixava os soldados muito irritados", conta a atual presidente da empresa, Hubertine Underberg-Ruder, sobrinha-neta de Paul, com base nos escritos deixados pela tia-avó.
Discordante do regime, Erna migrou para a Hungria e depois veio para o Brasil.
Já casados, o alemão e a austríaca construíram uma chácara no Alto da Boa Vista, na zona norte do Rio, e importavam a Underberg concentrada da Alemanha para finalizá-la no Brasil.
Segunda Guerra
Quando a Segunda Guerra Mundial estourou, em 1939, as matérias-primas pararam de chegar à fábrica em Rheinberg, no extremo oeste do Alemanha, e o fornecimento do concentrado da bebida para o Rio foi interrompido.
Paul decidiu então tropicalizar a receita com o que descobriu no norte do Brasil. Naquela época, a Underberg já era um "clássico de botequim" no Rio de Janeiro, diz Wollny.
Quem fazia propaganda aqui era o "seu Tonico Underberg", personagem que repetia nas páginas das revistas o bordão "um cálice por dia dá saúde e alegria".
Com o fim do conflito, em 1945, a matriz na Alemanha retomou a produção e lançou a versão monodose da bebida. A garrafinha de 20 ml, que sobrevive até hoje, foi uma estratégia para retomar as vendas em um país destruído pela guerra, onde não havia praticamente emprego e as famílias viviam com muito pouco.
No Brasil, Paul e Erna ainda vendiam como Underberg uma receita diferente da que saía da fábrica alemã. Já comandada pela quarta geração da família, a sede passou a exigir que a empresa brasileira mudasse o nome da bebida - o que só aconteceria quase meio século depois, em 2005.
Paul morreu em 1959. Ele e Erna não tiveram filhos. Segundo Hubertine, o contrato assinado pelo tio-avô nos anos 30 que lhe dava direito de explorar a marca no Brasil também previa que ele a devolvesse à família caso não deixasse herdeiros.
Secretamente, contudo, ele passou a companhia para o nome de sua esposa, que continuou produzindo e vendendo a Underberg "tropicalizada" nas décadas seguintes.
Foram 50 anos de disputa até que, aos 90 anos, a viúva concordou que os Underberg assumissem o negócio.
A versão brasileira foi rebatizada de Brasilberg e a original voltou a ser importada da Alemanha.
Em expansão internacional, a Brasilberg hoje é vendida no Paraguai, Uruguai, no México e na Europa e vai ganhar uma nova fábrica no Rio de Janeiro, na cidade de Miguel Pereira, prevista para 2018.
O segredo
A receita da Underberg é mantida em segredo há 170 anos. Além da família, muito religiosa, a fórmula da bebida sempre foi confiada a pelo menos um padre católico. Não há registro escrito.
"Até pouco tempo eram dois padres na Alemanha, mas nós passamos para um terceiro, mais jovem, porque um deles já está velhinho", diz Underberg-Ruder, que se tornou "Geheimnisträger", algo como "guardiã do segredo", quando se preparava para assumir a empresa, no começo dos anos 2000. No total, seis pessoas dominam o método de produção, chamado de "semper idem".
Paul trouxe para o Brasil a tradição, que se mantém até hoje. Aqui, a receita da Brasilberg é guardada por um monge beneditino. Isso é tudo o que Underberg-Ruder fala sobre o assunto. O resto é segredo
Pessoas que bebem água com níveis mais elevados de lítio parecem ter um risco menor de desenvolver demência, sugere uma pesquisa dinamarquesa.
O lítio é comumente encontrado na água da torneira ou outras fontes de água corrente, ainda que em quantidades variadas.
A descoberta, baseada em um estudo com 800 mil pessoas, pode dar pistas de como avançar na busca pela prevenção da demência e do mal de Alzheimer.
O estudo da Universidade de Copenhague, publicado no periódico JAMA Psychiatry, analisou os registros médicos de 73.731 dinamarqueses com demência e 733.653 sem a doença.
Ao mesmo tempo, a água corrente foi testada em 151 áreas do país nórdico.
Os resultados mostram que, de um lado, níveis moderados de lítio (entre 5,1 e 10 microgramas por litro) aumentavam o risco de demência em 22%, em comparação com níveis baixos (menos de 5 microgramas por litro). De outro lado, porém, as pessoas que beberam água com níveis elevados de lítio (acima de 15 microgramas por litro) tinham risco 17% menor de desenvolver a doença.
A diferença de impacto das doses de lítio pode ser explicada pelo fato de apenas algumas dosagens específicas mudarem a atividade cerebral de modo benéfico.
"A exposição mais alta e de longo prazo ao lítio na água potável pode estar associada com uma incidência menor de demência", disseram os pesquisadores.
Mudanças no cérebro
O lítio já é conhecido por seus efeitos protetores em diversos processos biológicos cerebrais, tanto que é usado para tratamento da bipolaridade.
O tema já havia sido estudado por pesquisadores, inclusive com participação brasileira. Em 2007, artigo científico coassinado pelo médico Wagner Gattaz, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, concluiu que "o tratamento com lítio reduziu a prevalência de Alzheimer em pacientes com bipolaridade".
"O lítio inibe uma enzima crucial no (desenvolvimento) do Alzheimer", diz Gattaz à BBC Brasil.
O médico brasileiro também testou o lítio em pessoas com transtorno cognitivo leve (que são perdas moderadas de memória, casos que muitas vezes evoluem para um quadro de demência) e identificou novamente que a substância havia tido efeito benéfico.
Ainda assim, diz ele, é cedo para recomendar que o lítio seja acrescentado à água que todos bebemos.
"Antes de fazer qualquer recomendação desse tipo, ainda precisamos estudar os efeitos (no corpo) das microdoses de lítio ao longo do tempo", explica Gattaz, lembrando que a substância tem alguns efeitos colaterais, como tremores e comprometimento da tireoide e dos rins, dependendo da quantidade que se acumula no sangue.
Lítio pertence ao grupo dos metais alcalinos, com sódio e potássio. É usado em baterias, produtos farmacêuticos, cerâmicas e carros, e encontrado naturalmente em rochas, água, grãos, verduras e legumes.
Ausência de tratamentos
Conter o avanço do Alzheimer é uma das grandes buscas da medicina focada no envelhecimento da população.
Para o médico David Reynolds, da ONG Alzheimer's Research UK, "é potencialmente animador que baixas dosagens de uma droga já disponível ajudem a limitar o número de pessoas que desenvolvem demência".
Ao mesmo tempo, o problema com estudos como o dinamarquês - que buscam padrões em uma grande quantidade de dados - é que eles não conseguem provar em definitivo relações de causa e efeito.
"Essa associação (observada pelo estudo) não significa necessariamente que o lítio em si reduz os riscos de demência", aponta Tara Spires-Jones, professora do Centro de Descobertas de Ciências do Cérebro, da Universidade de Edimburgo. "Pode haver outros fatores ambientais na área (estudada) que influenciem os riscos de demência. De qualquer modo, o resultado é interessante e vai impulsionar mais pesquisas quanto a se os níveis de lítio na dieta ou na água potável podem modificar o risco de demência."
A Segunda Guerra Mundial foi a primeira experiência da humanidade com a “guerra total”. A guerra brutal de seis anos que enfrentaram a Grã-Bretanha, os Estados Unidos, a União Soviética (URSS) e seus aliados contra a Alemanha nazista, o Japão imperial e seus aliados transformou a Europa e o mundo.
Dezenas de milhões de pessoas morreram, não só em batalhas, mas também em genocídios. Seis milhões de judeus, juntamente com milhões de homossexuais, dissidentes e outras minorias étnicas, morreram em campos de concentração nazistas. Independentemente do lado em que você estivesse – ou se estivesse tentando se salvar – o segredo era essencial.
Historiadores estão apenas começando a decifrar alguns dos grandes mistérios da guerra. Leia mais para descobrir.
A bomba
O programa secreto com as consequências mais devastadoras foi o Projeto Manhattan, que levou à bomba atômica. Cientistas alemães já estavam trabalhando na teoria nuclear na década de 1930. Os Aliados desenvolveram sua própria bomba sob grande sigilo.
Os trabalhadores que falaram sobre o projeto enfrentaram sentenças de prisão de 10 anos. A primeira bomba foi jogada sobre Hiroshima em agosto de 1945, matando mais de 70 mil pessoas. Depois que uma segunda bomba foi lançada em Nagasaki, o Japão se rendeu. Antes de agosto de 1945, poucas pessoas conheciam o potencial catastrófico da bomba.
Katyn
A Alemanha nazista e a Rússia soviética encerraram a guerra como inimigos, mas começaram o conflito como aliados. Com o infame Pacto Molotov-Ribbentrop, Adolf Hitler e Josef Stalin concordaram em “dividir” a Polônia conquistada.
Depois que o país foi invadido no início de 1940, mais de 4.400 oficiais poloneses foram executados em Katyn, perto da fronteira da Polônia com a URSS.
Durante décadas, os soviéticos culparam os nazistas pelo massacre – afinal, armas alemãs foram encontradas no local. Um inquérito independente em 1944 culpou os soviéticos, mas os Aliados abafaram o relatório. Somente em 1990 as autoridades russas reconheceram que soldados soviéticos mataram os oficiais, com armas apreendidas dos alemães.
Guerra química japonesa
O uso de gás mostarda pelos alemães na Primeira Guerra Mundial mostrou a eficácia da guerra química. Uma unidade militar japonesa secreta fundada no final da década de 1930, a Unidade 731, tinha o objetivo de fazer armas químicas de alta qualidade.
Cerca de 250 mil pessoas, principalmente prisioneiros de guerra chineses, foram submetidas a experimentos médicos em instalações secretas. Aproximadamente 3.000 morreram. Após a rendição do Japão, os EUA concederam imunidade aos pesquisadores em troca dos dados dele, o que foi útil para o próprio programa de armas biológicas dos Estados Unidos.Wikimedia Commons.
As primeiras ambições de Hitler
Muito antes de Adolf Hitler se tornar Fuhrer, ele sonhava em ser pintor. Ele chegou a vender suas próprias aquarelas nas ruas de Viena.
Ele foi rejeitado duas vezes pela Academia de Belas Artes de Viena por “inaptidão para a pintura”. Por volta dessa época, ele virou sem-teto e começou a explorar as filosofias extremistas que formariam os fundamentos do nazismo.
Se Hitler tivesse sido autorizado a seguir suas ambições artísticas, a história poderia ter sido muito diferente.
O mistério da saúde de Hitler
Os historiadores especularam por anos que o comportamento errático de Hitler, especialmente no final da guerra, poderia ter origens médicas. Uma das teorias populares é que ele teve mal de Parkinson, o que poderia explicar suas más decisões tomadas no fim da guerra, bem como tremores e perda de coordenação. Sabia-se que Hitler tomava um coquetel de medicamentos para administrar seu transtorno bipolar, e que um médico injetou nele glândulas de touros jovens para aumentar sua libido.
Tentativas de assassinato sofridas por Hitler
Durante a guerra, Hitler sobreviveu a pelo menos quatro tentativas de assassinato, não dos Aliados, mas de dissidentes alemães. Um oficial militar desapontado, Henning von Tresckow, colocou uma bomba no avião de Hitler em uma caixa contendo duas garrafas de Cointreau.
A bomba tinha um fusível defeituoso e nunca explodiu. Tresckow e um grupo de outros oficiais tentaram matar o Fuhrer pelo menos mais duas vezes: uma com uma bomba suicida e outra com uma bomba em uma maleta. Nada funcionou – Hitler tirou sua própria vida em abril de 1945.
Os homens dos monumentos
Preocupados com saques nazistas da arte europeia, os Aliados criaram uma unidade especial de arquivistas e historiadores para ajudar os soldados a proteger museus e monumentos. Após a guerra, os “homens dos monumentos” viajaram pela Europa em busca de tesouros roubados.
Em 1945, eles encontraram mais de 6.000 pinturas escondidas em uma mina de sal austríaca. Apesar do trabalho árduo deles, milhares de pinturas roubadas pelos nazistas ainda estão desaparecidas. Separadamente, funcionários do Museu do Hermitage (na foto), no que era então Leningrado, trabalharam contra o tempo para evacuar obras de arte, apesar do brutal cerco nazista que causou fome generalizada.
Se você é um entusiasta da história militar, você já deve ter lido que as tropas de Napoleão foram bloqueadas em suas trilhas pelo inverno rigoroso da Rússia em 1812. Os nazistas sofreram um destino semelhante. Dezenas de milhares de soldados alemães ficaram presos perto de Moscou quando o inverno de 1941 chegou.
Eles vestiam ainda seus uniformes de verão e enchiam suas jaquetas finas com palha e jornal para aquecer. Mais de 15 mil soldados perderam membros do corpo que foram congelados. A tecnologia da época não ajudou – muitos tanques e jipes alemães não conseguiam dar partida por causa do frio. Os alemães chamaram seu inimigo intangível de “General Inverno”.
Fogo amigo
O líder soviético Josef Stalin ordenou que suas tropas lutassem contra “o último homem”. Os batalhões soviéticos especiais ficavam até mesmo posicionados atrás das tropas russas regulares para atirar em qualquer soldado russo que tentasse fugir. Até 150 mil desertores foram assassinados por seus próprios camaradas.
Os soldados soviéticos que se renderam ou foram capturados enfrentaram execução ou prisão ao retornar. Na famosa novela de Alexander Solzhenitsyn, Um Dia na Vida de Ivan Denisovich, o personagem principal foi enviado ao gulag depois de ser capturado pelos alemães.
Sem condições de liderar
Os historiadores há muito especulam que a paranoia de Stalin tinha raízes médicas. Um dos médicos do líder soviético parecia acreditar que sim. Em seu diário, pouco depois da morte de Stalin e divulgado em 2011, o Dr. Alexander Myasnikov escreveu: “o maior (endurecimento das artérias) no cérebro, que encontramos na autópsia, deve levantar a questão de quanto essa doença afetou a saúde de Stalin, seu caráter e suas ações ... sua habilidade de discernir o bem do mal e o amigo do inimigo ". Apesar da crueldade do regime de Stalin, muitos russos ainda o reverenciam como líder da guerra.
Falantes de código
Um código dos Aliados usado no Pacífico nunca foi quebrado pelo inimigo. Os soldados americanos nativos de Navajo usaram seu próprio idioma para transmitir informações confidenciais ao redor do Pacífico Sul, particularmente durante a Batalha de Iwo Jima. Os falantes de Comanche, Hopi, Seminole e Meskwaki também foram chamados a usar suas habilidades linguísticas. Ironicamente, de volta aos Estados Unidos, as crianças nativas americanas foram forçadas a frequentar escolas onde eram proibidas de falar suas línguas maternas.
Linhas de ratos
Milhares de nazistas e fascistas italianos, se apresentando como demandantes católicos de asilo, chegaram em Buenos Aires após a guerra, através de um acordo entre o Vaticano, a Argentina e a Espanha fascista, para onde muitos nazistas haviam fugido imediatamente após a guerra. As rotas de fuga eram conhecidas como ratlines (em português, linhas de ratos). Os pesquisadores acreditam que até 10 mil criminosos e colaboradores de guerra nazistas, incluindo líderes nazistas importantes como Adolf Eichmann e Josef Mengele, acabaram se instalando na América do Sul. Grandes esconderijos de ouro roubado e artefatos nazistas ainda estão sendo encontrados por lá.
Síria
Outras linhas de rato levavam para o leste da Síria. Acredita-se que Alois Brunner, comandante do campo de concentração de Drancy na França ocupada, viveu e morou em Damasco até 2007. O Centro Simon Wiesenthal, um instituto de pesquisa internacional conhecido por caçar nazistas, diz ter recebido um relatório “credível” afirmando que ele morreu em 2010 em Damasco. Ele teria 97 ou 98 anos de idade. Em parte devido ao caos causado pela guerra civil da Síria, a data e as circunstâncias de sua morte são desconhecidas, e seu corpo talvez nunca seja encontrado. Ele teria sido um conselheiro do regime ditatorial de Assad.
La Résistance
Quando Paris caiu em 1941, muitos franceses seguiram inicialmente o governo dos fantoches pró-alemães instalado em Vichy. O chamado às armas de Charles de Gaulle em 1942 foi ouvido por relativamente poucas pessoas. Em 1943, no entanto, mais e mais homens e mulheres franceses estavam envolvidos com a resistência subterrânea, incluindo guerrilha, sabotagem e espionagem. Espiões transmitiam informações de inteligência em redes de rádio para os britânicos. Essas instalações de rádio foram muitas vezes explodidas, e os operadores de rádio da Resistência tinham uma expectativa de vida de cerca de seis meses. Mais de 27 mil combatentes da Resistência foram mortos.
A traição de Jean Moulin
Jean Moulin foi o primeiro líder da Resistência a organizar as unidades de guerrilha dispersas em uma força coerente. Ele e outros líderes da Resistência foram traídos e capturados em 1943. Ele foi torturado por quase duas semanas e morreu sem revelar qualquer informação útil. Em 1988, Lydie Bastien, ex-amante de outro líder da Resistência, revelou que havia traído Moulin em troca de joias roubadas de deportados judeus. Ela usou as joias até sua morte em 1994, depois que seu segredo foi revelado, encerrando décadas de especulação.
A Resistência Cajun
Uma pequena mas resiliente comunidade de pessoas que falam francês como primeira língua (os Cajun) habita a parte sudoeste da Louisiana desde os anos 1700. Durante a Segunda Guerra Mundial, os soldados Cajun do exército dos Estados Unidos se passaram por civis em aldeias francesas, ajudando os simpatizantes da Resistência a coordenar e distribuir a assistência americana à Resistência.
O outro regimento alemão
Durante toda a guerra, unidades de soldados exilados de países ocupados por nazistas lutaram junto a unidades britânicas, francesas e soviéticas. Pelo menos uma dessas unidades era da própria Alemanha. O militante comunista alemão Otto Kühne liderou 2 mil soldados alemães em batalhas contra os nazistas, ao lado de combatentes franceses da Resistência em pelo menos duas ocasiões em 1944.
Purgas
No entanto, o legado dos lutadores heroicos da Resistência foi abalado após a guerra, quando muitos se envolveram em eliminações de suspeitos de colaboração. Após o colapso do governo de Vichy, as forças pró-Resistência executaram quase 11 mil colaboradores suspeitos sem julgamento. Mulheres solteiras que dormiram com soldados alemães, às vezes em troca de comida para suas famílias, foram humilhadas tendo a cabeça raspada na frente de suas comunidades inteiras.
Desaparecido e presumidamente morto
O diplomata Raoul Wallenberg era o enviado da Suécia na Hungria ocupada pelos nazistas durante os últimos estágios da guerra. Ele comprou imóveis em Budapeste em nome do governo sueco e usou o recém-adquirido “território sueco” para abrigar milhares de judeus húngaros até que ele pudesse emitir documentos para eles deixarem o país e se instalarem na Suécia. Em janeiro de 1945, quando os soviéticos ocuparam Budapeste, Wallenberg foi preso por suspeita de espionagem e desapareceu posteriormente. Acredita-se que ele tenha morrido sob custódia soviética em 1947, embora seu corpo nunca tenha sido encontrado. A Suécia o declarou legalmente morto em 2016.
As bruxas da noite
Embora a maioria dos países aliados tenham mantido membros do serviço feminino na retaguarda, as mulheres soviéticas foram encorajadas a lutar. Motivadas em parte por ideais marxistas de igualdade de gênero e, em parte, pela necessidade desesperada do Exército Vermelho por tropas, as mulheres regularmente se ofereceram para posições perigosas. Lydia Litvyak e Yekaterina Budanova estavam entre os pilotos de caça mais bem-sucedidos da guerra, com cerca de uma dúzia de mortes cada uma. A franco-atiradora Lyudmila Pavlichenko matou sozinha mais de 300 soldados inimigos. Os alemães se referiram às mulheres pilotos de caça como “as bruxas da noite” por causa da aproximação quase silenciosa de seus pequenos aviões.
Quase um século de estudos revelou que as inscrições em uma placa babilônica de argila de 3.700 anos constituem a mais antiga tábua trigonométrica já conhecida. Composta de avançadíssimos cálculos possivelmente usados na construção de templos, palácios e canais, a placa foi cunhada cerca de 1.000 anos antes que o matemático grego Pitágoras ficasse conhecido pelo teorema da trigonometria que afirma que o quadrado da hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos – a tábua traz não apenas a mesma conta, mas também uma série de outras fórmulas que os cientistas afirmam ser até mais precisas que as atuais.
Hiparco, um astrônomo grego que viveu no século II a.C., é considerado o pai da trigonometria (área da matemática que estuda relações entre os comprimentos dos lados e os ângulos dos triângulos), mas a placa de 13 centímetros de largura por 9 centímetros de altura, conhecida como Plimpton 322, revela que bem antes dele os babilônios haviam desenvolvido tabelas trigonométricas muito sofisticadas.
“A tábua abre novas possibilidades não apenas para a pesquisa da matemática moderna, mas também para a educação. Ela traz uma trigonometria mais simples e precisa que tem claras vantagens sobre a nossa. O mundo da matemática está começando a perceber o fato de que essa cultura antiga, mas muito sofisticada, tem muito a nos ensinar”, afirmou o matemático Norman Wildberger, professor da Universidade de New South Wales, na Austrália, e autor do estudo publicado nesta quinta-feira no periódico Historia Mathematica.
A mais antiga tábua trigonométrica
A placa foi descoberta no início do século XX em Senkereh, ao sul do Iraque atual, pelo arqueólogo americano e negociante de antiguidades Edgar Banks – figura que inspirou Indiana Jones, famoso personagem do cinema. Ela foi vendida por Banks ao editor americano George Arthur Plimpton que, em meados da década de 30, doou o objeto para a Universidade Columbia, nos Estados Unidos, e, desde então, ele tem intrigado os pesquisadores.
A tábua é composta de quatro colunas e quinze linhas de números gravados em escrita cuneiforme em que os babilônios, em vez de usar o sistema decimal, como o nosso (de base 10), usaram o sistema sexagesimal (de base 60). Os pesquisadores já haviam verificado que a tábua trazia o teorema de Pitágoras, mas ainda não sabiam qual havia sido seu uso. Alguns acreditavam que era um tipo de gabarito, empregado por professores para o ensino de matemática.
“O grande mistério, até hoje, era o propósito das inscrições – por que aqueles escribas executavam a complexa tarefa de gerar e classificar os números na tábua?”, afirmou Daniel Mansfield, também autor do estudo.
A análise de Wildberger e Mansfield mostrou que o padrão especial de números gravado na placa, chamado trios pitagóricos, podia ser usado para as construções urbanas da época. Os babilônios abordaram a aritmética e a geometria de maneira tão original que suas fórmulas poderiam até ser usadas, atualmente, na computação, segundo os pesquisadores.
“Nosso estudo mostra que a Plimpton 322 descreve os formatos de triângulos retângulos utilizando um novo tipo de trigonometria baseado em proporções, não em ângulos e círculos, como fazemos hoje. É um trabalho matemático fascinante, que demonstra uma inegável genialidade”, afirmou Mansfield.
Há 66 milhões de anos, quando os dinossauros ainda eram os reis da terra, um asteroide gigante mudou a vida do planeta para sempre. A hipótese, proposta pela primeira vez nos anos oitenta pelo cientista norte-americano Luis Álvarez e seu filho Walter, tentava explicar o desaparecimento de mais de 75% das espécies de seres vivos da época – incluindo os dinossauros –, definida pela divisão geológica entre o Cretáceo e o Paleogeno. Na união entre essas duas épocas, os Álvarez encontraram uma grande quantidade de irídio, um material que é muito raro no córtex terrestre, mas abundante em meteoritos e asteroides. A partir das medições do irídio depositado entre as duas épocas, eles calcularam que a rocha que extinguiu os dinossauros e trouxe esse elemento tinha 10 quilômetros de diâmetro.
Desde então, reuniram-se muitas informações sobre o que pôde ter acontecido após aquele impacto. Nesta semana, uma equipe do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR) e da Universidade do Colorado, Boulder (EUA), elaborou um modelo computacional que reconstrói os meses posteriores à colisão.
Além dos restos de irídio, na fronteira geológica que os dinossauros nunca cruzaram também há evidências do asteroide. As estimativas mais recentes são de que existam 15 bilhões de toneladas de cinza geradas por incêndios que arrasaram o globo após o impacto. Com dados como esse, os pesquisadores, liderados por Charles Bardeen, criaram uma simulação em que o Sol esquentou as cinzas, elevando-as na atmosfera até gerar uma cortina que envolveu o planeta na escuridão. Nesse novo mundo, iluminado como uma noite de lua cheia, a fotossíntese ficou inviável.
Assim, a interrupção do processo pelo qual as plantas e algas transformam a energia solar em alimento, que pode ser aproveitado por outros animais, detonou a hecatombe. Grande parte dos vegetais terrestres foi consumida nos incêndios, e o breu dizimou o fitoplâncton – organismo básico na cadeia alimentar dos seres marinhos.
Os dias escuros fizeram a temperatura baixar, chegando a cair até 28 graus nos continentes e 11 nos oceanos. E enquanto o frio se propagava pela superfície da Terra, o inferno reinava nas camadas mais altas da atmosfera. As cinzas volatilizadas absorveram a luz do Sol, e um aumento da temperatura provocou a destruição de parte da camada de ozônio. Além disso, o calor gerou o acúmulo de grande quantidade de vapor d’água. Esse vapor facilitou reações químicas, produzindo compostos que pioraram a situação da camada de ozônio. Depois de quase dois anos, quando a nuvem de cinzas depositou-se no solo e permitiu a passagem da luz solar, a Terra estava desprotegida contra a radiação ultravioleta – que atingiu os sobreviventes daquela longa noite.
Os autores do estudo reconhecem algumas limitações de seu modelo. Para criá-lo, utilizaram a Terra atual e não ao do Cretáceo, que tinha os continentes em posições distintas e uma atmosfera diferente. Tampouco levaram em conta as erupções vulcânicas e os gases liberados logo depois do acidente.
Ainda assim, a simulação é mais um passo na tentativa de reconstruir o que ocorreu há 66 milhões de anos, um período muito importante para os mamíferos que seriam os ancestrais dos humanos. Aqueles pequenos animais talvez tenham sobrevivido escondidos no subsolo, com maior flexibilidade que os grandes répteis para superar a crise. Alguns estudos, contudo, indicam que a mudança já havia começado antes do desastre e que os mamíferos se diversificavam havia tempo, preparando-se para ocupar o espaço de seus antecessores. Além disso, a situação dos dinossauros não tinha sido fácil ao longo de um milhão de anos prévios à sua extinção. Naquele período, houve fortes variações climáticas com longas ondas de frio, algo fatal para animais mais bem adaptados ao mundo mais quente do Cretáceo. Portanto, aquela noite que durou dois anos pôde ter sido só o último empurrão para uma mudança de época que se anunciava muito tempo antes.