A Coreia do Norte declarou que testou com sucesso um novo tipo de míssil balístico capaz de atingir todo o território continental dos Estados Unidos.
A TV estatal sustentou que, com isso, Pyongyang concretizou sua missão de se tornar um Estado nuclear - afirmação da qual especialistas discordam.
O míssil Hwasong-15, apontado como o mais poderoso do país, foi lançado secretamente em um teste na madrugada desta quarta-feira, no horário local.
Ele caiu em águas japonesas, mas voou mais alto do que qualquer outro míssil já testado pelo regime.
As informações foram apresentadas na TV estatal em uma transmissão especial ao realizada ao meio-dia, assim como em um relatório divulgado pela agência de notícias do país, a KCNA.
O que exatamente a Coreia do Norte está dizendo?
Pyongyang afirma que o míssil alcançou 4.475 quilômetros de altitude e voou 950 quilômetros em 53 minutos - números próximos das estimativas independentes feitas pelo Exército da Coreia do Sul.
O projétil, disparado a partir de uma área com declive, não sobrevoou o Japão, como ocorreu com outros testes realizados no últimos meses, e caiu a cerca de 250 quilômetros da costa norte, de acordo com autoridades japonesas.
A Coreia do Norte já havia afirmado que seus projéteis poderiam atingir os Estados Unidos, mas essa é a primeira vez que o país diz poder fazer isso com esse novo tipo de míssil, que parece uma versão melhorada dos anteriores.
A KCNA acrescentou que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, que aprovou pessoalmente o lançamento, declarou com orgulho que a Coreia do Norte finalmente alcançou seu grande objetivo histórico de concluir a força nuclear estatal, o objetivo de contruir mísseis potentes."
O relatório disse que "enquanto uma força nuclear responsável e um Estado pacífico, a Coreia do Norte faria todos os esforços possíveis para servir ao nobre propósito de defender a paz e a estabilidade do mundo".
O documento apontou que as armas do país, descritas como uma defesa contra "a política de chantagem nuclear dos imperialistas dos EUA", "não representariam ameaça para nenhum país" enquanto os interesses norte-coreanos não fossem violados,
O míssil poderia realmente atingir os Estados Unidos?
Uma análise feita pela Union of Concerned Scientist, ONG sediada nos EUA, considera que o míssil poderia ter viajado mais de 13 mil quilômetros se seguisse uma trajetória normal, chegando assim a "qualquer parte dos EUA continentais".
Mas acrescentou ser provável que tenha carregado uma imitação de ogiva muito leve - o que significa que poderia não ter força o suficiente para transportar uma carga nuclear, muito mais pesada, a essa mesma distância.
A Coreia do Norte, por sua vez, sustenta que o Hwasong-15 poderia chegar ao continente dos EUA carregando uma "ogiva muito grande e pesada".
Especialistas acreditam que o país ainda esteja de dois a três anos distante de seu objetivo de ser capaz de transportar uma ogiva nuclear com sucesso usando um míssil balístico intercontinental.
Isso envolve algumas das mais delicadas e desafiadoras tecnologias - um do riscos ao introduzir uma arma nuclear em um míssil balístico intercontinental é o de a ogiva se desintegrar em sua reentrada na atmosfera.
Ninguém acredita realmente que a Coreia do Norte já superou esse desafio, afirma Paul Adams, correspondente da BBC em Seul.
Qual é a reação no mundo?
E quanto à declaração de Pyongyang de que os mísseis não representariam ameaça para nenhum país enquanto os interesses norte-coreanos não fossem violados?
Ela pode até soar como uma espécie de "sinal de paz", mas é provável que seja recebida com ceticismo pela comunidade internacional, avalia o repórter da BBC. Esses "interesses", afinal, incluem o desenvolvimento das armas mais destrutivas conhecidas pela humanidade.
A maioria dos especialistas não espera ver esmorecer a busca de Kim Jong-un por uma capacidade nuclear completa.
E isso quase certamente significa mais sanções e pressão por parte de outros países, liderados pelos Estados Unidos, que estão determinados a detê-lo.
O teste desta quarta provocou uma rápida condenação internacional. O Conselho de Segurança da ONU deve convocar uma sessão de emergência para discutir o assunto.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que o lançamento violou sanções e mostrou "desprezo total pela visão de uma comunidade internacional unida".
Antes da declaração da Coreia do Norte ser divulgada, o secretário de Defesa dos EUA, James Mattis, disse que esse míssil "foi mais alto do que os anteriores" e ressaltou que a Coreia do Norte representa uma ameaça mundial.
O presidente Donald Trump foi informado enquanto o míssil ainda estava no ar, segundo a Casa Branca. Depois, ele disse: "Vamos cuidar disso".
Japão e Coreia do Sul condenaram o teste - esta deu início a um teste de mísseis em resposta.
O lançamento norte-coreano é apenas o último de uma série de testes que aumentaram as tensões para níveis sem precedentes, já que o país ignora as críticas e continua a desenvolver seus programas nucleares e de mísseis.
O último lançamento de míssil balístico de Pyongyang havia ocorrido em setembro, no mesmo mês em que realizou seu sexto teste nuclear.
No Museu Nacional da Escócia, localizado no centro de Edimburgo, um item resume o relacionamento do país com o tartã, o padrão quadriculado há séculos associado com o país. Um casaco com punhos e colarinhos feitos de veludo vermelho não apenas tem estilo como parece confortável para ser usado nos dias de hoje.
Mas trata-se de uma peça com 272 anos de idade.
É o casaco usado por Carlos Eduardo Stuart durante sua tentativa frustrada de reconquistar a coroa britânica para os Stuart, a família real católica britânica destronada no século 17. Os Stuart eram escoceses e - assim como inúmeros escoceses de ontem e hoje, Carlos Eduardo usava o padrão como forma de afirmar sua identidade nacional.
O casaco é apenas um de muitos tesouros que fazem parte de uma exposição sobre o Levante Jacobita, liderado por Carlos em 1745. A exibição lança nova luz sobre a política do conflito, mas não deixa de lado a interessante estética da revolta - em especial a transição do tartã como costume regional para "marca" internacional.
Carlos Eduardo Stuart era neto de James II, o último rei católico da Inglaterra, derrubado em 1688 pelo nobre protestante William III. James fugiu para a França, mas até morrer nunca abriu mão de seu direito ao trono. E, em 1745, Carlos, então o "herdeiro" após a morte do pai (também chamado James) foi para a Escócia tentar formar um exército para lutar com os ingleses e remover do trono George II, o que restauraria a dinastia Stuart.
Apesar de ser descendente de escoceses, Carlos nasceu e cresceu em Roma - e jamais tinha visitado a terra dos antepassados. Mas o casaco com o padrão tartã era um sinal de simpatia perante os "compatriotas". Esse lance de relações-públicas funcionou e retratos do príncipe rebelde foram reproduzidos em toda sorte de objetos, de talheres a caixinhas de rapé - ganhou ainda o apelido de Bonnie Prince Charlie, algo como Carlos, o Bonitão.
De quebra, o garoto-propaganda do movimento Jacobita, como ficou conhecida a campanha pró-Stuart, arrebanhou adeptos suficientes para obter interessantes vitórias militares e marchar de forma triunfal até a cidade de Derby, percorrendo quase metade do território do Reino Unido antes de ser derrotado na Batalha de Culloden.
O príncipe fugiu da Escócia em 1746 e o Reino Unido ainda tem no trono a dinastia protestante que ele falhou em derrubar. Mas, apesar de derrotado nos campos de batalha, o tartã resistiu não apenas na Escócia e ganhou o mundo.
Mas como esse padrão virou uma marca global?
"Estamos falando de um tecido que sempre foi uma marca de distinção", diz Viccy Coltman, professora de História da Arte da Universidade de Edimburgo. "Isso faz parte de sua história".
Depois da Batalha de Culloden, o tecido foi banido da Escócia por ordem real. Mas isso deu ao tartã um certo status cult e, quando a proibição foi suspensa, em 1782, o padrão virou moda. Não era um sinal de apoio ao movimento jacobita, mas sim uma forma de ostentação da aristocracia e de uma emergente classe média.
"O movimento criou uma indústria de vestimentas consideradas relíquias", explica Coltman.
E os maiores compradores eram justamente os escoceses que ajudaram a derrotar Carlos Stuart. Essa apropriação teve seu auge em 1822, quando o rei George 4 visitou Edimburgo e Walter Scott, escritor de romances históricos sobre uma Escócia idealizada e um dos organizadores da visita real, arranjou um comitê de recepção nas ruas da cidade em que o traje era o tartã. Há até um retrato do soberano usando um kilt.
O padrão não era mais ameaçador - e sua suposta reabilitação estava completa.
A rainha Vitória continuou essa apropriação, usando xadrez em fotos oficiais em suas visitas a Balmoral, a residência de verão da família real na Escócia. Antes inimiga, a Escócia, virara destino de férias. O país se tornara uma marca e o tartã era parte integral de sua identidade - o padrão passou a fazer parte de todos os produtos para turistas.
Até o final do século 19 havia apenas algumas variedades do xadrez. Mas a mecanização da produção têxtil possibilitou a produção de imensas variações. Um consumidor com um sobrenome escocês podia escolher um tartã particular, quiçá associado a uma região específica, que depois era vendido para alguém com o mesmo sobrenome.
"Era tudo uma questão de tino comercial", explica David Forsyth, curador da exposição no Museu Nacional da Escócia.
E esse marketing misturado à mitologia criou uma vestimenta nacional.
No final do século, o tartã era muito diferente da vestimenta original do século 18. Feito à máquina em vez de à mão, o material moderno era mais barato e adaptado para todo tipo de usos. Acima de tudo, transformou-se em símbolo de lealdade à supremacia protestante, em vez de um tecido associado à causa católica.
O Império Britânico fez do xadrez um símbolo internacional. Regimentos militares escoceses vestiam o padrão e mercadores britânicos exportaram produtos com a estampa ao redor do mundo. O tartã era exótico, mas ao mesmo tempo familiar. Perigoso, mas respeitável. Você poderia vesti-lo como um outsider, ou um membro do status quo.
Findo o império, o tartã continua em voga. Designers de moda britânicos seguiram usando o padrão como inspiração, que também chegou à moda francesa. No mundo da música, tanto punks como novos românticos usaram tartã. O padrão se tornou tanto uma marca de rebeldia quanto de sofisticação.
"A história é escrita pelos vencedores", diz Forsyth. Mas embora tenha perdido a Batalha de Culloden, Carlos Eduardo Stuart ganhou a guerra da moda.
Escritora e designer industrial holandesa levantou dados surpreendentes sobre o rastro deixado por produtos consumidos no dia a dia.
Com que frequência você lava suas calças jeans? Quando viaja de avião, são viagens longas? Prefere comprar tomates embalados, avulsos ou em conserva? Quantas vezes por semana você come carne?
As perguntas soam, a princípio, muito específicas. Mas são essenciais para entender o rastro que seus hábitos de consumo e escolhas individuais deixam no planeta.
Foi em uma conversa com o marido, no sofá de casa, que a designer industrial e escritora holandesa Babette Porcelijn percebeu que, apesar de ser especialista na cadeia produtiva de produtos industrializados, não entendia exatamente qual era o impacto do seu estilo de vida no planeta.
"Ele me contou que os 16 maiores navios porta-contêineres do mundo juntos emitem a mesma quantidade de enxofre que todos os carros que circulam no mundo! E que perdemos cerca de 27 milhões de árvores por dia por causa do desmatamento", disse à BBC Brasil.
"Isso mudou minha maneira de ver nosso impacto ambiental, porque eu achava que estávamos fazendo um ótimo trabalho, pelo menos aqui na Holanda".
Ao pesquisar sobre o tema, Porcelijn percebeu que pelo menos em países ricos como Holanda e Estados Unidos mais de um quarto da "pegada ecológica" de cada ser humano é perceptível no dia a dia. O resto está embutido no ciclo de vida de produtos e serviços - da extração de matérias-primas, passando pelo transporte, até o descarte.
Conseguimos refletir, por exemplo, sobre a energia elétrica gasta para carregar nossos celulares, laptops e outros aparelhos eletrônicos. Mas falamos pouco sobre as consequências da mineração dos metais necessários para produzi-los ou a quantidade de água utilizada nesse processo.
O resultado do estudo foi compilado no livro Hidden Impact ("Impacto oculto", em tradução livre), no qual a autora também dá dicas de como reduzir, de forma prática, o impacto provocado pelas escolhas cotidianas. E sem que seja preciso, necessariamente, mudar radicalmente de hábitos da noite para o dia.
Desde então, a holandesa se dedica em tempo integral a projetos de consultoria e análises de impacto ambiental. Ela esteve em São Paulo para participar do evento What Design Can Do ("O que o design pode fazer", em tradução livre).
Como calcular?
O que Porcelijn considera como impacto é composto de elementos como uso da água e da terra, desmatamento, mineração e processamento de matérias-primas, esgotamento de recursos naturais, perda de biodiversidade, emissões de gases de efeito estufa, lixo e uso de combustíveis fósseis.
"O que eu quero fazer é monitorar todo o sistema e incluir todo tipo de impacto. Não só no clima, mas também na natureza, na biodiversidade, todo tipo de poluição", explica.
"Eu não conseguia encontrar esses dados em lugar nenhum, o que achei muito esquisito. É esse o tipo de coisa que queremos e precisamos saber. Eu tive que ir muito fundo na pesquisa e contratei empresas especializadas para me ajudar."
Para calcular o impacto da carne, por exemplo, é preciso levar em conta a produção de alimento para o gado e o desmatamento causado para criar o pasto.
Para saber o real impacto de um carro, é necessário incluir a poluição causada pela mineração dos metais utilizados.
Com que frequência você lava suas calças jeans? Quando viaja de avião, são viagens longas? Prefere comprar tomates embalados, avulsos ou em conserva? Quantas vezes por semana você come carne?
Foi em uma conversa com o marido, no sofá de casa, que a designer industrial e escritora holandesa Babette Porcelijn percebeu que, apesar de ser especialista na cadeia produtiva de produtos industrializados, não entendia exatamente qual era o impacto do seu estilo de vida no planeta.
"Ele me contou que os 16 maiores navios porta-contêineres do mundo juntos emitem a mesma quantidade de enxofre que todos os carros que circulam no mundo! E que perdemos cerca de 27 milhões de árvores por dia por causa do desmatamento", disse à BBC Brasil.
"Isso mudou minha maneira de ver nosso impacto ambiental, porque eu achava que estávamos fazendo um ótimo trabalho, pelo menos aqui na Holanda".
Ao pesquisar sobre o tema, Porcelijn percebeu que pelo menos em países ricos como Holanda e Estados Unidos mais de um quarto da "pegada ecológica" de cada ser humano é perceptível no dia a dia. O resto está embutido no ciclo de vida de produtos e serviços - da extração de matérias-primas, passando pelo transporte, até o descarte.
Conseguimos refletir, por exemplo, sobre a energia elétrica gasta para carregar nossos celulares, laptops e outros aparelhos eletrônicos. Mas falamos pouco sobre as consequências da mineração dos metais necessários para produzi-los ou a quantidade de água utilizada nesse processo.
Mas a principal revelação da pesquisa, conta Porcelijn, é que "o maior impacto ambiental não é causado exatamente pelos carros que dirigimos ou pelo ar-condicionado das casas e, sim, por produtos que consumimos - livros, eletrônicos, roupas, alimentos". Pelo menos na Holanda e nos Estados Unidos.
O resultado do estudo foi compilado no livro Hidden Impact ("Impacto oculto", em tradução livre), no qual a autora também dá dicas de como reduzir, de forma prática, o impacto provocado pelas escolhas cotidianas. E sem que seja preciso, necessariamente, mudar radicalmente de hábitos da noite para o dia.
Desde então, a holandesa se dedica em tempo integral a projetos de consultoria e análises de impacto ambiental. Ela esteve em São Paulo para participar do evento What Design Can Do ("O que o design pode fazer", em tradução livre).
Como calcular?
O que Porcelijn considera como impacto é composto de elementos como uso da água e da terra, desmatamento, mineração e processamento de matérias-primas, esgotamento de recursos naturais, perda de biodiversidade, emissões de gases de efeito estufa, lixo e uso de combustíveis fósseis.
"O que eu quero fazer é monitorar todo o sistema e incluir todo tipo de impacto. Não só no clima, mas também na natureza, na biodiversidade, todo tipo de poluição", explica.
"Eu não conseguia encontrar esses dados em lugar nenhum, o que achei muito esquisito. É esse o tipo de coisa que queremos e precisamos saber. Eu tive que ir muito fundo na pesquisa e contratei empresas especializadas para me ajudar."
Para calcular o impacto da carne, por exemplo, é preciso levar em conta a produção de alimento para o gado e o desmatamento causado para criar o pasto.
Para saber o real impacto de um carro, é necessário incluir a poluição causada pela mineração dos
metais utilizados.
No caso de uma calça jeans, deve-se considerar a água utilizada na produção de algodão e também na lavagem do tecido.
A tarefa parece impossível e, de fato, a escritora holandesa reconhece que ainda há muito a ser calculado.
"Quando eu procurei especialistas, eles me disseram que nenhum método científico atual inclui todos os tipos de impacto. Mas como podemos superar o maior desafio dos nossos tempos se não conseguimos investigá-lo de verdade?", questiona.
"Resolvi seguir em frente assim mesmo."
Por isso, ela explica, os cálculos utilizados em seu método são aproximados.
Para efeito de comparação, a designer fez os mesmos cálculos para a Holanda e para os Estados Unidos, quando conseguiu obter as informações.
"É meio chocante, porque lá tudo é o dobro", diz.
Ela conta que está, no momento, procurando empresas que a ajudem a fazer as mesmas estimativas para o Brasil.
A pedido da BBC Brasil, ela adaptou alguns gráficos produzidos durante a sua pesquisa e converteu os dados para as unidades de medida brasileiras.
Consequências 'surpresa'
Ao escolher estudos de caso para exemplificar o impacto oculto do nosso consumo, Porcelijn diz ter se surpreendido com dados que desafiavam o senso comum a respeito do tema.
No exemplo da calça jeans, ela descobriu que o maior prejuízo ao meio ambiente está escondido no cultivo de algodão. Mas o uso de máquinas de lavar e de secar, que costuma não ser considerado, emite cerca de 12,5 kg de CO2 por lavagem, além do gasto de ao menos 50 litros de água.
No caso dos alimentos, a pesquisa revelou que frutas e legumes em conserva ou transformados em molhos, como o tomate, podem ter menos impacto ambiental do que os frescos.
A autora explica: normalmente, o impacto da produção de vegetais no ecossistema é pequeno, incluindo eventuais embalagens plásticas. O problema se encontra, no entanto, no desperdício que acontece do momento da colheita até a chegada ao prato do consumidor.
"Perder um tomate tem um impacto muito mais negativo do que comprar tomates embalados. A embalagem na verdade, se não for excessiva, pode ser boa, se considerarmos que ela impede a perda", diz.
Mais de um terço da comida produzida nunca chega ao seu prato. No caso das frutas, legumes e verduras, a perda chega a 50% das colheitas. Por isso, as conservas - que são feitas com vegetais frescos logo após serem colhidos e têm perda menor - acabam sendo mais vantajosas para o meio ambiente.
Parte desse não aproveitamento acontece em casa, com a comida que estraga na geladeira ou é deixada no prato. Porcelijn calculou também esse impacto: se não desperdiçássemos nenhum alimento, nossa pegada ecológica diminuiria cerca de 15% para comida em geral e até 17% considerando só os vegetais.
Uma das dicas da designer industrial é fazer um calendário .
com as frutas, legumes e verduras de cada estação e procurar comprá-los de produtores locais -
localizados a até 2 mil quilômetros de distância, para diminuir o impacto do transporte. Se quiser algum que esteja fora de época, cujo impacto para produzir é maior, prefira a conserva.
Outra boa ideia, segundo Porcelijn, é comprar produtos que estejam perto do vencimento e consumi-los rapidamente, para evitar que o supermercado jogue no lixo. E vale a pena ficar de olho em embalagens excessivas.
Os meios de transporte também foram computados no cálculo de Porcelijn, com mais uma revelação surpreendente: caso a intenção seja diminuir realmente o seu impacto negativo no mundo, vale reduzir as viagens longas de avião.
Apesar de, no total, carros poluírem mais por quilômetro rodado que aviões, os especialistas consultados pela designer ressaltam que a possibilidade de viajar de avião aumentou as distâncias que percorremos.
Por isso, eles fizeram uma comparação entre diferentes meios de transporte para uma viagem de 6,5 horas. O resultado: aviões poluem mais, pelo menos em viagens mais longas. Para outro estado pode valer a pena. Mas férias em Dubai? Pense no impacto, sugere Babette Porcelijn.
Caso você realmente não queira abrir mão das férias em outro continente, vale calcular o plantio de árvores necessário para compensar as emissões pela duração do voo, ou apoiar alguma organização que faça esse trabalho.
Por onde começar?
A designer holandesa também se especializou em dar dicas para tentar mitigar a pegada ecológica de cada um, sem que isso tenha que significar adotar uma vida "ecoréxica", segundo ela.
"Para mim, é importante começar pelas coisas grandes, que causam mais impacto. Mudá-las é mais eficiente", afirma.
Desde que se debruçou sobre o tema, Porcelijn inseriu algumas dessas mudanças na rotina de sua família.
"Só compro o que realmente preciso e, se eu puder, de segunda mão, especialmente roupas; parei de comer carne e também não tenho mais carro e não pego aviões, a não ser que isso seja para fazer mais bem do que mal. Estou indo de avião para São Paulo porque acho que alcançar pessoas aí e eventualmente ajudá-las a mudar suas vidas faz mais bem do que mal", afirma.
"Nas férias, viajamos muito de bicicleta. É uma aventura incrível e nossos filhos também adoram. A família ficou mais próxima."
A designer acredita que deixar de comer carne - o alimento mais poluente - pode ser mais prioritário para o meio ambiente do que deixar de ter um carro.
"Na Holanda certamente esse é o caso, e pelo que ouço do Brasil, também", diz.
O primeiro passo, segundo ela, é tornar-se sustentável e reduzir o impacto relativo aos seus hábitos pessoais.
De acordo a ONU, a população da Terra será de cerca de 10 bilhões de pessoas em 2050, caso o ritmo de crescimento se mantenha.
Já a economia global em 2050 será 2,7 vezes maior do que hoje, segundo a consultoria PricewaterhouseCoopers. E, de acordo com a ONG Global Footprint Network, a população atual vive como se tivesse os recursos de 1,6 planeta Terra.
De acordo com o cálculo de Porcelijn, usando as duas estatísticas, chegaríamos a 2050 precisando de 4,3 Terras para sustentar nosso estilo de vida.
"Se vivermos de acordo com os limites do nosso planeta, já seremos sustentáveis", afirma.
No caso do Brasil, cuja população vive como se tivesse 1,8 planeta Terra, viver no limite seria reduzir o impacto médio total para cerca de metade do que ele é atualmente.
Para quem pretende ir mais além, ser "econeutro" envolve fazer compostagem, plantar árvores, investir em energia renovável e apoiar financeiramente organizações ambientais, por exemplo.
O nível três, "ecopositivo", significa trabalhar para que sua influência na mudança de hábitos das pessoas ao seu redor - em casa, no trabalho e em outros grupos - seja maior do que seu impacto no mundo como consumidor.
O impacto negativo está, inevitavelmente, em todos os produtos que consumimos e atividades que praticamos. A holandesa ressalta, no entanto, que a mudança não deve assustar.
"O truque é: mesmo que você ainda faça tudo o que normalmente faz, faça menos. Por exemplo, pode comer a metade de uma porção de carne, e não essas enormes. Ou não comer todo dia, mas só uma vez por semana", diz.
"Depois de começar a adotar essas reduções, pode escolher opções que tenham menos impacto. No caso da carne, por exemplo, a bovina tem o maior impacto. Frango já seria melhor."
Para Porcelijn, também é preciso combater o mito de que "tudo o que é orgânico é melhor" na hora de mudar o estilo de vida.
"A carne orgânica, por exemplo, nem sempre é a melhor escolha. Os dados que recolhi mostram que os animais vivem mais, mas geralmente têm um rendimento menor e necessitam de mais espaço e mais alimento, que é o fator mais poluente", explica.
"Ainda precisamos fazer com que a produção de orgânicos seja algo muito mais eficiente do que é. E também melhorar a agricultura e pecuária intensivas. Acho que os dois processos deveriam ser combinados e teríamos um bom resultado. Até lá, tenha cuidado."
A escolha do material das roupas também é importante.
"Eu achava que roupas sintéticas seriam melhores, porque a produção delas é menos poluente do que as de algodão, lã ou seda. Mas o problema é que, quando você lava, os tecidos sintéticos liberam microplásticos na água", explica.
"Se você sabe que determinado tecido é produzido de maneira menos poluente, ótimo. Mas é melhor comprar menos roupas, do que simplesmente mudar para roupas orgânicas."
Críticos afirmam que a ideia de abrir mão de tantos produtos e atividades ainda é elitista - já que, em sua maioria, produtos orgânicos ou sustentáveis costumam ser mais caros.
A autora diz, no entanto, que são as pessoas com maior renda que devem, de fato, se preocupar mais com seus hábitos.
"Quanto mais dinheiro você tem, mais impacto pode comprar. Então os ricos devem estar mais atentos a isso do que os pobres. E, de modo geral, percebo que minha vida é bem mais barata com o novo estilo que adotei."
"Tento dizer quais mudanças seriam as mais eficientes. Mas não julgo o comportamento das pessoas. Só acho que não temos tempo a perder."
Uma rocha espacial de cerca de 5km de extensão passará "de raspão" na Terra, de acordo com as proporções espaciais.
O asteroide 3200 Phaeton deve ficar a cerca de 10 milhões de quilômetros do nosso planeta em 16 de dezembro. Pode parecer grande, mas é apenas 26 vezes a distância do nosso planeta para a Lua.
A extensão do objeto é o equivalente a quase duas vezes o tamanho da avenida Paulista, no centro de São Paulo. Equivale também à distância do estádio Mané Garrincha ao Congresso Nacional, em Brasília (DF).
Segundo a Nasa (agência espacial dos EUA), não há motivo para pânico, porém: é extremamente improvável que haja qualquer dano ao nosso planeta com a passagem do Phaeton.
Ainda segundo a Nasa, a passagem do Phaeton permitirá observações bastante precisas a partir dos observatórios de Arecibo (em Porto Rico) e Goldstone (na Califórnia). "As imagens serão excelentes para obter um modelo 3D detalhado" do objeto espacial, disse a agência espacial em comunicado.
A inspiração do nome Phaeton vem da mitologia grega. Para os gregos antigos, o deus Hélio (que representava o Sol) não andava a pé: a divindade atravessava o céu do nascente ao poente em uma carruagem, puxada por quatro cavalos. Até que um filho de Hélio, Faeton, pegou o veículo emprestado para "dar um rolê". Ele acaba perdendo o controle dos animais e quase põe fogo na Terra. Para evitar o desastre, Zeus precisa destruir a carruagem com um raio, e acaba matando Fáeton no caminho.
Asteroide ou cometa?
Os cientistas acreditam que o Phaeton seja o responsável pelas chuvas de meteoros das Geminíadas, observadas todos os anos nos dias 13 e 14 de dezembro. É que a órbita do Phaeton é muito similar às dos meteoros das Geminíadas.
Só que chuvas de meteoros geralmente são causadas por cometas - que têm uma "cauda" ou "rabo" formado por estilhaços e gelo, o que não é o caso do Phaeton. A hipótese é de que Phaeton esteja literalmente "quebrando" aos poucos, o que faz com que ele apresente atividade típica dos cometas em algumas ocasiões. Esta é mais uma questão a ser estudada agora em dezembro.
Próxima aproximação: 2050
A aparição de 2017 será a mais próxima da Terra desde a descoberta do asteroide, em 1983, diz a Nasa. É possível, assim, que o objeto fique visível até mesmo para observadores armados apenas de telescópios pequenos. Para isso, porém, é preciso que a pessoa tenha experiência nesse tipo de observação e esteja em um local escuro o suficiente (como na zona rural).
A última passagem próxima do asteroide ocorreu em 2007.
De acordo com os cálculos da Nasa, o Phaeton só voltará a se aproximar tanto da Terra em 2050. E, em 14 de dezembro de 2093, ele passará a apenas 1,9 milhão de quilômetros do nosso planeta (o que não significa que seremos atingidos, segundo a Nasa).
Por causa da sua trajetória, o asteroide é classificado como o terceiro maior Asteroide Possivelmente Danoso (PHA, na sigla em inglês) identificado. Os outros dois são o 53319 1999 JM8 (cerca de 7 km de extensão) e o 4183 Cuno (cerca de 5,6 km).
Cenas extraordinárias em um vídeo mostram um soldado desertor norte-coreano atravessando a fronteira, em fuga para a Coreia do Sul. Em 13 de novembro, ele dirigiu um jipe até a divisa entre os dois países, dentro da área de segurança conjunta - na sigla em inglês JSA, de Joint Security Area. Em seguida, correu para o lado do sul, sob intenso tiroteio.
A JSA é uma área armada entre as duas Coreias. É o único lugar ao longo de 250 quilômetros na zona desmilitarizada onde soldados dos dois lados estão cara a cara.
No armistício de 1953, que deu fim à guerra entre os dois países, ambos os lados concordaram em não executar qualquer ato hostil dentro, a partir de, ou contra essa área.
Esse acordo, no entanto, teria sido quebrado no dia 13, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A instituição, que supervisiona as forças militares de apoio à Coreia do Sul, afirma que as imagens recém-divulgadas de perseguição ao soldado mostraram violações claras do armistício, com soldados da Coreia do Norte disparando através da fronteira e cruzando a linha de demarcação estabelecida na região.
Área segura, mas sem "barreiras"
As imagens em vídeo mostram o soldado passando em alta velocidade pelo que parece um ponto de controle da Coreia do Norte. Ele dirige em direção à fronteira.
A zona desmilitarizada é fortemente protegida, mas na JSA não há muros ou outros obstáculos que poderiam ser esperados na divisa de dois países que tecnicamente ainda estão em guerra.
Mesmo o ponto de controle da Coreia do Norte não parecia ter barreiras. A ausência delas deve ser proposital, conforme determinação do armistício, disse à BBC coreana o pesquisador Yang Uk, do Korea Defense & Security Forum.
"A área foi instalada como terreno neutro para conversas do comitê de armistício", o que, segundo ele, costumava ocorrer frequentemente.
"As forças armadas do Norte e do Sul trabalhavam juntas na JSA, o que é óbvio considerando o que ela significa - área de segurança conjunta".
Essa área foi originalmente estabelecida como um ambiente no qual os Exércitos trabalhassem conjuntamente, mas um incidente em 1976 conhecido como "caso do assassinato do machado" - quando soldados norte-coreanos mataram soldados dos EUA enquanto derrubavam uma árvore - resultou em novas regras em que militares dos dois países tiveram que se manter em seus devidos lados.
Na área, acrescenta ele, existem poucos lugares para se esconder. A "Freedom House", no lado sul da fronteira, tem apenas um ponto de entrada no centro do seu lado sul - então seria difícil para um desertor do norte se esconder no prédio.
Comando da ONU aponta violação de regras durante perseguição
Pelas imagens do circuito de câmeras que captaram os momentos da fuga, parece surpreendente que o soldado tenha sobrevivido. Guardas norte-coreanos o alcançam e seguem atirando a curta distância apenas alguns segundos após ele abandonar o veículo que dirigia e correr para cruzar a fronteira. Ele não para. Atravessa uma estrada e só desmaia alguns metros depois - o suficiente para ficar fora de alcance e protegido no perímetro de um prédio chamado "Freedom House" da Coreia do Sul.
Um guarda de fronteira participava da perseguição, antes de parar abruptamente ao perceber que havia invadido o território do sul. Ele dá a volta e retorna ao ponto onde estão seus companheiros, escondidos atrás de um posto de vigilância.
Para o Comando das Nações Unidas, esse foi outro exemplo de violação do armistício.
Contudo, a Linha de Demarcação Militar, uma linha de administração temporária que divide as duas coreias, parece não estar visivelmente demarcada em toda a extensão da JSA.
Nas imagens divulgadas pelo Comando das Nações Unidas, o desertor atravessa um campo gramado perto de um dos prédios. O guarda-fronteira não parece estar ciente de que invadiu o território vizinho, até estar de fato do lado do sul.
O Comando das Nações Unidas disse quarta-feira que os guardas norte-coreanos também violaram regras ao atirar no desertor em direção à Coreia do Sul, dentro da JSA.
O porta-voz das forças dos EUA trabalhando sob o comando da ONU disse que o sul mostrou uma "ponderação admirável" ao não revidar.
Agora espera apenas ouvir se o norte está disposto a conhecer e discutir o incidente, além de maneiras de evitar que se repita.
Soldados norte-coreanos pareciam bem armados, mas "confusos"
As forças de segurança do Norte estão visivelmente bem armadas, no decorrer do incidente, mas suas reações parecem confusas.
No início da fuga, elas tiveram a chance de parar o soldado no posto de controle, mas ele acelerou enquanto, aparentemente, um guarda entrava em pânico.
Depois disso, houve ainda a invasão de outro guarda ao território do sul, e disparos dos soldados contra o desertor fugitivo - fatos que sugerem que eles esqueceram protocolos no meio da confusão ou que teriam decidido quebrar regras.
As imagens também mostram, na sequência, um grupo de soldados norte-coreanos movendo-se em círculos no seu lado da JSA e parecendo reticentes, antes de irem embora. Um deles é visto abaixando o rifle para ajustar o sapato ou a perna da calça.
A questão do armamento foi levantada por alguns analistas.
"Na teoria, apenas as pistolas são permitidas na JSA, para a autodefesa. Na prática, no entanto, soldados da Coreia do Norte foram vistos portando armas de fogo de mais grosso calibre. Os militares sul-coreanos também se prepararam com armas pesadas no caso de agressão ", disse Yang Uk à BBC.
Resgate
De acordo com o Comando da ONU, os sul-coreanos tinham um plano e trabalharam rapidamente para resgatar o desertor sem saber se ele havia sido capturado.
Depois de esperar cerca de 40 minutos, dois soldados sul-coreanos rastejam em direção ao desertor e arrastam-no para longe.
Deserções são raras na área desmilitarizada e mais ainda na JSA.
Nenhuma das registradas até agora havia sido tão dramática.
Mal estar, vertigem, enjoo, espasmos musculares; vômitos calafrios e cólicas; distenção abdominal e gases intestinais; dores de cabeça e alterações na visão; bolhas por todo o couro cabeludo e dermatite; sensação de morte iminente e perda de consciência, desmaios, taquicardias, insônia e zumbido no ouvido.
Estes são alguns dos sintomas que o biólogo inglês Charles Darwin registrou nas mais de 400 cartas em que fala de sua saúde, além de seus escritos autobiográficos. Ele tinha inclusive um diário no qual registrava minuciosamente como se sentia. Sua saúde foi não apenas um assunto que dominou sua vida, como também tema de vários estudos contemporâneos.
Diagnosticar uma pessoa morta não é uma ciência exata, mas Darwin deixou tantas informações sobre como se percebia fisicamente que vários especialistas se aventuraram em fazer isso, chegando a conclusões que vão desde a intolerância a lactose até problemas no funcionamento do sistema nervoso autônomo.
Porém, não é revelador o simples fato de que Darwin tinha tanta preocupação com sua saúde?
"Ele era um cientista muito meticuloso, por isso era normal para ele documentar sua saúde da mesma forma que documentava suas observações científicas", diz Claudia Kalb, autora de "Andy Warhol was a hoarder" (Andy Warhol era um acumulador, em inglês).
Kalb vasculhou biografias, autobiografias, cartas, diários e relatórios médicos em busca de informações sobre 12 indivíduos extraordinários no mundo da política, dos negócios, da ciência e da arte e descobriu que todos tinham comportamentos associados com doenças mentais diagnosticadas na atualidade.
"Além dos sintomas físicos experimentados por Darwin, ele ficou muito estressado com o trabalho que fez para "A Origem das Espécies", obra na qual propôs uma teoria de grande impacto. Em certos momentos, isso teve um peso e, de fato, ele começou a se sentir melhor depois de publicá-la."
Se o biólogo estivesse vivo hoje, ele seria provavelmente diagnosticado com um transtorno de ansiedade. Mas é correto julgar personalidades históricas de antigamente pelas normas psiquiátricas de hoje em dia?
"Uma regra entre psiquiatras é não diagnosticar ou discutir pacientes que não tenham estado em seu consultório", disse Kalb em uma entrevista para o site da National Geographic, que publicou seu livro.
"Mas, em alguns casos, especialmente de figuras muito conhecidas cujas condições tenham sido debatidas por elas mesmas ou por outros, isso nos ajuda a entender seu comportamento."
Além do mais, este esforço tem um objetivo: "Conscientizar sobre essas enfermidas e acabar com o estigma apresentando informação por meio de uma pessoa famosa em vez de por um árido estudo científico".
"Há pessoas que leram o livro e me disseram que aprenderam e, inclusive, puderam entender seu próprio comportamento. As doenças mentais não devem ser vistas como um problema dos outros, mas de todos nós", comenta Kalb.
O que teria sido da música?
As palavras de Richard Kogan, psiquiatra da faculdade Weill Cornell Medical College, nos Estados Unidos, e pianista formado pelo renomado conservatório Juilliard, direcionaram Kalb para outro grande nome: o compositor americano George Gershwin.
Quando era criança, ele brigava, roubava comida, matava aula... era tão inquieto que Kogan pensa que, se tivesse nascido agora, seria diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
"Tinha uma energia impossível de conter, por isso é fácil imaginar que, atualmente, receitariam para ele tratamentos com ritalina. Daí surge a pergunta: oque teria acontecido com sua música?", quesitona Kalb.
O próprio Gershwin vinculou sua loucura com sua arte ao dizer:
"Em alguns casos, se tivessem sido diagnosticados, esses personagens teriam tido uma vida muito diferente", destaca Kalb. Ela lembra que o cientista Albert Einstein demorou para falar, se isolava socialmente, concentrava sua atenção em uma única coisa e pensava visualmente.
"Se fosse criança hoje, provalemente seria examinado para ver se era autista. Ele precisava de ajuda para coisas cotidianas - sua esposa se assegurava que ele conseguiria chegar bem em casa, por exemplo -, mas, como ele podia mergulhar profudamente em seus próprios pensamentos, pôde nos presentear com suas bilhantes teorias."
O presidente triste
O 16º presidente dos Estados Unidos, que governou durante a Guerra Civil e preservou a União, tomou medidas para abolir a escravidão, fez o conhecido Discurso de Gettysburg e morreu assassinado em um teatro, foi também o centro de longos debates sobre o mal que lhe afligia.
"A discussão gira em torno da depressão. Teve episódios quando era jovem, tão graves que as pessoas próximas temiam que fosse se suicidar", afirma Kalb. "Quem o conhecia na época fala de sua profunda tristeza e, no entanto, de alguma forma, foi capaz de liderar, suportar a morte dos filhos... Ele dizia que o trabalho o mantinha ocupado e que o humor era sua vávula de escape."
Lincoln realizou tantas coisas, explica Kalb, que tornou-se um exemplo de que a depressão não define uma pessoa por completo: é possível alcançar muitas coisas maravilhosas de encontra uma forma de lidar com ela e de distrair da escuridão.
E isso, segundo a escritora, foi uma das sensações que ficaram com ela após terminar seu livro: uma grande admiração pelos personagens que investigou, pelo fato de terem chegado tão longe apesar da carga emocional que levavam em seus ombros.
O derretimento acelerado de algumas das maiores geleiras do planeta - do Ártico à Antártida - aflige cientistas em todo o mundo há alguns anos. Afinal, a previsão é que o aquecimento global continue desintegrando as grandes massas de gelo do mundo, o que deve elevar o nível dos oceanos e transformar a Terra.
Mas antes que as consequências disso sejam sentidas globalmente, algumas cidades estarão na linha de frente das mudanças. Será que a sua precisa se preocupar?
Uma nova ferramenta desenvolvida por engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa tenta prever como 293 cidades portuárias do mundo - entre elas Rio de Janeiro, Recife e Belém - serão afetadas pelo derretimento de porções diferentes de todas as massas de gelo no mundo.
"A maioria dos modelos existentes é feita de um ponto de vista de alguém que está em cima do gelo, tentando entender como seu derretimento vai impactar o nível do mar em outro lugar do mundo", explicou à BBC Brasil o físico e engenheiro mecânico Eric Larour, líder do projeto.
"Mas resolvemos pensar do ponto de vista de alguém que está numa cidade costeira, tentando entender como as áreas geladas ao redor do mundo podem mudar o aumento do nível do mar ali. Por isso tivemos que usar computação reversa."
O estudo reafirmou o que os cientistas vêm dizendo há algum tempo - que o aumento do nível dos oceanos não será exatamente igual em todo o mundo.
Mas trouxe também uma informação surpreendente: não é o derretimento da geleira mais próxima de uma cidade que pode oferecer problemas - é justamente a mais distante.
"Quanto mais longe você está de uma massa de gelo, mais tem que se preocupar com ela. Mas as pessoas acham que é o contrário disso", diz Larour.
"Isso tem consequências muito grandes para o planejamento das estratégias das cidades."
Como o Brasil seria afetado?
As imagens geradas pelo novo modelo, que se chama mapeamento de impressões digitais em gradiente, mostram o nível sensibilidade das cidades brasileiras ao derretimento que ocorre na Antártida, na Groenlândia e em outras 13 massas de gelo - a maiores do mundo, que incluem o Estado americano do Alaska e a cordilheira dos Andes.
Quanto mais vermelha a área do mapa, mais sensível é a cidade ao derretimento naquela parte da massa de gelo. Quanto mais azul, menos impactada ela será.
No caso da Groenlândia, por exemplo, as três cidades brasileiras serão afetadas pela desintegração de qualquer parte do gelo - principalmente Rio e Recife (veja as imagens abaixo).
Já no caso da Antártida, o Rio, mesmo estando no Sudeste, é pouco afetado pelo derretimento na parte do continente que fica mais próxima da América do Sul - justamente o local que os cientistas dizem estar entrando em colapso mais rapidamente.
A maior preocupação para as cidades brasileiras deve ser justamente a parte da Antártida que fica mais próxima da Austrália e da Nova Zelândia. Essa sim pode causar um aumento no nível do mar nelas.
Larour diz, no entanto, que essa região não parece estar sob risco de derretimento no momento.
"A mensagem é que todos devemos nos importar com as massas de gelo, mesmo as que estão mais distante de nós. Aliás, especialmente as que estão mais distantes", afirma.
Usando imagens do satélite Grace, da Nasa, os engenheiros conseguiram mostrar também quanto as massas de gelo no mundo contribuem para cada milímetro de aumento no nível do mar nas cidades.
Segundo os dados do Grace, o mar do Rio de Janeiro aumentou aproximadamente 3,03 mm por ano até 2015, por exemplo. O novo modelo consegue mostrar que 30% desse aumento vem do derretimento da neve da Groenlândia.
Em Recife, por sua vez, esse percentual é um pouco menor, e em Belém, menor ainda - mesmo que a capital do Pará esteja, a rigor, mais perto da Groenlândia.
Por que isso acontece?
O derretimento da cobertura de gelo da Groenlândia, por exemplo, poderia aumentar os níveis do mar em 6,09 metros, de maneira geral, caso se liquefizesse por completo e de uma só vez. Mas as regiões da ilha estão derretendo em ritmos diferentes.
Eric Larour explicou à BBC Brasil que há três processos-chave que influem no padrão de mudanças do nível do mar no mundo. O primeiro deles é a gravidade. "Do mesmo jeito que corpos celestes como a Lua e o Sol se atraem, o oceano e o gelo se atraem, porque são massas enormes de água", explica.
"As massas de gelo são tão pesadas que, quando derretem, a gravidade em torno delas se modifica. Por isso, o oceano se afasta, seu nível decresce. O derretimento cria uma espécie de declive no oceano por muitos quilômetros."
Nessa perspectiva, é mais seguro, por exemplo, viver perto de uma grande geleira que esteja derretendo do que mais longe.
O modelo dos cientistas mostra, por exemplo, que cidades como Oslo, na Noruega, e Reykjavík, na Islândia, que estão mais próximas da Groenlândia, terão uma diminuição no nível do mar com o derretimento do gelo, não um aumento.
Além disso, o solo por baixo de uma geleira se comporta, segundo Larour, como um colchão, que se expande depois que seu dono se levanta dele pela manhã.
"O leito de rocha é comprimido pelo gelo, que é bastante pesado. Quando o gelo derrete, ele volta a se expandir verticalmente, ou seja, cresce lentamente. Se você está diante de uma praia, por exemplo, o solo 'sobe' e o mar recua", diz.
O último fator de mudança é a rotação do planeta. O engenheiro compara o planeta Terra a um pião girando em torno de seu eixo. "Assim como a Terra, o pião não só gira, mas ele também bamboleia, não faz uma rotação perfeita", diz.
"Com o gelo de uma parte da Terra está derretendo, a oscilação do planeta também muda (porque a massa em sua superfície fica distribuída de forma diferente). Isso também redistribui a água dos oceanos."
A novidade do modelo criado pela equipe de Larour é incorporar todos esses elementos no modelo de previsão, para ter mais detalhes sobre como essa redistribuição acontece.
"Outros estudos já haviam mostrado a atuação desses três fatores, mas agora podemos calcular a sensibilidade exata - numa cidade específica - do nível do mar em relação a cada massa de gelo do mundo."
O objetivo principal, diz ele, é ajudar no planejamento das principais cidades do mundo para os próximos cem anos - sabendo quais geleiras apresentam mais risco e em que velocidade elas estão derretendo, governos podem pensar em como diminuir efeitos do aumento do nível do mar.
Larour ressalta que quase todo o gelo da Terra está em algum estado de derretimento. "Algumas áreas específicas estão aumentando, mas são poucas, e também há poucas que estão no meio do caminho. A maioria está derretendo ou quebrando, liberando mais icebergs no oceano."
BBC Brasil
Nas próximas décadas, China promete pôr em prática "transformações revolucionárias" na área espacial graças à "coordenação entre humanos e máquinas".
Segundo informa a Corporação de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da China (CASC, sigla em inglês), seu programa espacial para 2040 incluirá o desenvolvimento de transportadores espaciais de propulsão nuclear.
Espera-se que este "grande avanço" vá possibilitar o uso de recursos espaciais para a exploração mineira de asteroides e o desenvolvimento de usinas de energia solar, escreve a agência Xinhua.
O país trabalha na construção de foguetes transportadores de classe Long March, que devem ficar prontos até 2020, e de veículos de lançamento "superpesados" — até 2030, para apoio de missões tripuladas à Lua e a Marte.
De acordo com o jornal Global Times, a corporação tenta construir foguetes portadores completamente reutilizáveis [similares ao Falcon 9 da SpaceX] e "foguetes portadores inteligentes de geração futura" até 2035.
Entretanto, a CASC indica que para 2045, o transporte espacial será sujeito a "transformações revolucionárias" e a exploração do sistema solar em grande escala será possível graças à "coordenação entre humanos e máquinas".
O governo da Itália enviou nesta segunda-feira (20) seu primeiro ímã supercondutor para o International Thermonuclear Experimental Reactor (ITER), reator experimental criado por meio de uma ampla colaboração internacional para demonstrar a viabilidade tecnológica e científica da fusão nuclear.
Com a chegada do primeiro dos 18 ímãs supercondutores destinados ao reator, será possível reproduzir energia imitando os processos que ocorrem no "coração" das estrelas.
O experimento é realizado por meio de uma colaboração entre a Enea, a F4E (Fusion for Energy) e a Agência da União Europeia, que gerencia a contribuição Europeia para o ITER definindo estratégias e colaborando com a indústria.
Até o momento, apenas a empresa ASG Superconductors na cidade de La Spezia, noroeste da Itália, havia conseguido construir o primeiro equipamento magnético.
O ímã tem fabricação italiana e é o mais sofisticado do mundo, medindo 14 metros de altura e nove de largura. Com 300 toneladas, a peça possui o mesmo peso de um Boeing 747 e o formato de uma letra G gigante.
O ITER contará com mais 17 equipamentos magnéticos semelhantes, sendo que outros oito serão produzidos em La Spezia - os nove restantes serão fabricados no Japão.
Nesta segunda-feira (20), por volta das 10h locais, o imã atingiu 200 toneladas, mais do que um Boeing 787. Ele foi carregado em um caminhão robótico. Às 16h, as portas do veículo se abriram. O momento simbólico marcou o início da jornada. A bordo do caminhão robótico, a bobina gigantesca começou a sua viagem.
A expectativa é que a rota seja completada em quase 12 horas. A primeira etapa é chegar até as instalações da empresa italiana Simic, em Porto Marghera, onde o ímã supercondutor será colocado em uma estrutura de contenção de aço fabricada no Japão.
Depois, a carga atingirá o peso de 320 toneladas e seguirá para Marselha, onde realizará sua última viagem até o reator do ITER, localizado no centro de pesquisas de Cadarache, em Saint-Paul-lès-Durance, no Sul da França.
A fusão nuclear é considerada uma espécie de "Santo Graal" da energia limpa e imita o processo que acontece no coração das estrelas, onde átomos de hidrogênio se comprimem e produzem hélio, gerando imensas quantidades de energia.
O projeto ITER nasceu em 1985, por iniciativa dos Estados Unidos e da União Soviética, e mais tarde recebeu a adesão da União Europeia e de países como Índia, China, Japão e Coreia do Sul, totalizando 3,5 mil pesquisadores.
Estima-se que a construção do reator custará cerca de US$ 14 bilhões.
Imagine que todas as suas atividades e comportamentos são monitorados e pontuados em uma grande base de dados nacional: desde sua informação fiscal, até o tempo que você passa jogando videogame.
O cenário acima poderia ter saído do romance clássico de George Orwell, 1984, em que os cidadãos estão sempre sob vigilância de uma entidade chamada de "o grande irmão". Lembra também um episódio da série de TV Black Mirror, no qual cada atividade dos personagens rende "pontos" em um futuro distópico.
Mas não é ficção. Esta é uma política de Estado em planejamento na China.
O governo chinês está construindo um onipresente "sistema de crédito social", através do qual o comportamento de cada um dos seus 1,3 bilhão de cidadãos será pontuado em uma espécie de ranking de confiança.
Por enquanto, trata-se de um projeto piloto do qual participam oito companhias chinesas. Com a autorização do estado, elas emitem suas próprias pontuações de "crédito social".
Mas até o ano de 2020, todos os chineses estarão obrigatoriamente inclusos nesta enorme base de dados, e receberão pontuação de acordo com sua conduta.
Controle ou confiança?
Em um longo documento de 2014, o Conselho de Estado chinês explica que o plano do crédito social visa "forjar um ambiente na opinião pública em que a confiança será valorizada", acrescentando que "o sistema recompensará aqueles que reportarem atos de abuso de confiança".
A base de dados nacional concentrará uma ampla variedade de informações sobre cada cidadão. Será possível saber se uma pessoa paga seus impostos e multas em dia, se seus títulos acadêmicos são legítimos, etc.
Haverá também um grande grupo de pessoas que passará por um escrutínio ainda mais pesado, dependendo da profissão que exercem. A lista inclui professores, contadores, jornalistas, médicos e guias turísticos.
Críticos do projeto classificam o sistema de crédito social como "um pesadelo" e "orwelliano".
Mas há quem acredite que um sistema como este é necessário na China.
Os sistemas de crédito constroem confiança entre os cidadãos, defende Wen Quan, uma blogueira que escreve sobre temas de tecnologia e finanças.
"Sem um sistema, um estelionatário pode cometer um crime em um lugar e logo depois fazer o mesmo em outra região do país. Os sistemas de crédito tornam público o histórico de uma pessoa. (O sistema) construirá uma sociedade melhor e mais justa", diz ela.
Notas dadas a partir dos produtos comprados online
Uma das empresas que participa do projeto piloto é a Sesame Credit, a ala financeira do site de vendas online Alibaba, o maior do mundo hoje.
A empresa usa sua gigantesca base de dados de consumidores para criar rankings de "crédito social". A escala é alimentada pelas transações financeiras feitas com o sistema de pagamentos do Alibaba.
A companhia não divulga exatamente como calcula a pontuação de cada cliente, dizendo que se trata de um "algoritmo complexo".
De toda forma, a Sesame deixa claro que leva em conta que tipo de produtos seus consumidores compram online.
"Alguém que joga videogame durante dez horas por dia, por exemplo, seria considerado uma pessoa ociosa. Alguém que compra fraldas com frequência, por outro lado, deve ser pai (ou mãe) e seria considerado uma pessoa com um sentido de responsabilidade", disse Li Yingyun, diretor de Tecnologia da Sesame à revista chinesa Caixin, em 2015.
As autoridades chinesas monitoram o andamento do projeto piloto de forma muito cuidadosa. O sistema do governo não funcionará exatamente como o das empresas privadas, mas adotará características dos algoritmos desenvolvidos pelas empresas privadas.
Por enquanto, a participação no projeto é voluntária, mas a Sesame divulga o cadastro enfatizando os benefícios de obter um bom "crédito social". A empresa incentiva seus clientes a compartilhar a boa pontuação com os amigos e inclusive com potenciais pares românticos.
Para que serve a pontuação?
Pontuar bem no programa dá acesso a uma série de benefícios, desde descontos em hotéis ou aluguel de carros até acesso a apólices de seguro mais célere de vistos.
Mas o que acontece quando a pontuação é ruim?
Esta é a parte "preocupante", segundo Rachel Botsman, autora do livro "Who Can You Trust" (algo como "Em quem você pode confiar", em uma tradução livre). A obra trata do sistema de crédito social da China.
"Se a sua pontuação de confiança cai abaixo de certo nível, toda a sua vida pode ser impactada. Desde a escola que seus filhos poderão frequentar até os empregos que você poderá escolher e o tipo de empréstimo bancário que você poderá obter", disse Botsman em um programa televisivo co-produzido pela BBC.
"As transgressões podem ter ocorrido na sua vida, mas o seu comportamento poderia ter impacto em seus filhos ou netos durante décadas", diz Botsman.
Uma enorme suástica de concreto, provavelmente construída durante a era nazista, foi encontrada nesta terça-feira sob o gramado de um campo de futebol na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Segundo a agência de notícias alemã DPA, o símbolo tem quatro metros de largura por quatro metros de comprimento e estava enterrado a 40 centímetros do solo.
Joachim Schirmer, chefe do clube de Billstedt-Horn, no norte de Hamburgo, disse que o modesto estádio foi construído sobre um monumento nazista destruído na década de 1970. A suástica é tão grande e pesada que será preciso usar uma britadeira para removê-la, afirmou Schirmer.
Segundo uma autoridade local ouvida pela DPA, a secretaria de preservação de monumentos já foi avisada e solicitou a retirada da suástica. A exibição de símbolos nazistas é proibida na Alemanha.
As autoridades argentinas continuam com as buscas para tentar localizar o submarino ARA San Juan, que estava em uma missão de treinamento e desapareceu na última quarta com 44 tripulantes a bordo.
A Marinha argentina revelou que, no último contato, o subcomandante afirmou que a embarcação apresentava um curto-circuito no sistema de baterias.
O submarino fazia o trajeto entre o Ushuaia, no sul do país, e a base naval de Mar del Plata, mais ao norte, quando deixou de se comunicar e sumiu dos radares. Segundo a Marinha, a tripulação teria comida e oxigênio para mais dois dias.
O governo argentino conta com a ajuda de vários países para realizar as buscas, incluindo Brasil e Estados Unidos.
Mas quais são principais dificuldades em uma operação para localizar um submarino? A BBC tenta responder a esta e a outras perguntas sobre o tema.
Por que submarinos não podem ser detectados?
Os submarinos são construídos para serem difíceis de se encontrar. O papel deles é participar, com frequência, em operações secretas de vigilância.
Segundo o professor Robert Farley, da Universidade do Kentucky (EUA), é muito difícil rastrear um submarino se ele estiver parado no leito marinho, uma vez que nessas circunstâncias ele não fará nenhum barulho.
"O ruído que seria captado pelo que conhecemos como um sonar passivo é distorcido, e se parece como do fundo do mar", conta ele, que é especialista em questões de segurança e assuntos marítimos.
Como os submarinos podem ser achados?
Existem algumas formas de o capitão ou a tripulação tornarem sua localização conhecida em caso de dificuldades.
Esses métodos incluem enviar chamadas com sinalização para bases navais ou navios aliados ou soltar um dispositivo que flutua até a superfície, mas continua ligado ao submarino.
Quanto tempo sobrevive uma tripulação?
O número de dias que uma tripulação pode sobreviver depende de quanto tempo eles têm desempenhado funções debaixo d'água e quão bem preparados estão para ficar sem energia.
"Se as baterias estiverem carregadas e o ar renovado", diz Farley, "então o cenário é esperançoso".
No caso do ARA San Juan, ele explica: "O alcance externo parece ser de dez dias, se eles estiverem bem preparados".
Como a tripulação é treinada para isso?
Um dos treinos mais importantes para tripulantes presos debaixo d'água é diminuir a respiração para conservar o oxigênio.
Farley diz, porém, que isso é algo muito difícil de treinar as pessoas a fazerem.
"Eu imagino que eles seriam aconselhados a reduzir as atividades e a falarem menos para poupar oxigênio."
As condições, provavelmente de frio e umidade, podem ter um impacto ruim no ânimo da tripulação, mas o pessoal a bordo costuma ser bem treinado e disciplinado.
Eles provavelmente estabelecerão uma rotina para ficarem o mais confortável possível enquanto diminuem seus movimentos e dão suporte uns aos outros, aguardando o resgate.
O que pode ter dado errado?
Isso permanece pouco claro no caso do submarino desaparecido ARA San Juan. Mas, diz Farley, é possível que uma falha elétrica possa ter ocorrido, diante dos relatos de curto-circuito no sistema de baterias.
Essa avaria mecânica pode desligar tanto os motores quanto o sistema de comunicação, explica.
Existe um plano para esses incidentes?
No caso de uma embarcação submergir por falhas mecânicas, alguns procedimentos podem ser implementados para ajudá-la a emergir.
Para controlar a flutuação, o combustível ou os tanques de lastro - que podem adicionar peso - podem ser esvaziados e usados para levantar o submarino.
Nesses casos, o diesel ou o lastro são liberados, esvaziando os tanques e os compartimentos, que então são preenchidos com ar.
Submarinos também têm pequenos hidroplanos, asas que são ajustadas para permitir que a água viaje em diferentes direções enquanto a embarcação move sua popa para cima ou para baixo, para facilitar seu movimento.
Quais são os maiores riscos?
Com a possível escassez de oxigênio e o aumento de gás carbônico, a asfixia é o risco número um.
O oxigênio pode ser fornecido por cilindros ou por geradores, que promovem um processo chamado eletrólise, que separa da água as moléculas de oxigênio e hidrogênio. No entanto, a falta de energia impediria esse processo.
Existem outros perigos que também podem surgir. O professor Farley aponta que, se um compartimento dentro de um submarino parado debaixo d'água é inundado, isso pode levar a incêndios, por exemplo, já que o ar vai ficando comprimido.