segunda-feira, 26 de março de 2018

Degradação dos solos afeta quase metade da população

Resultado de imagem para fotos de degradação do solo
 
A degradação da terra irá desencadear uma migração em massa de pelo menos 50 milhões de pessoas e até 700 milhões até 2050, a menos que os humanos parem de esgotar os recursos essenciais à vida, alertaram mais de 100 cientistas nesta segunda-feira (26). 
A degradação da terra causada pela agricultura não sustentável, mineração, poluição e expansão das cidades já está minando o bem-estar de cerca de 3,2 bilhões de pessoas - 40% da população global, disseram na primeira avaliação abrangente da saúde da terra. 
O esgotamento da terra ameaça a segurança alimentar de todos os cidadãos da Terra, e o acesso à água limpa e ao ar respirável, regulados pelo solo e pelas plantas que crescem nele. 
A condição da terra é "crítica", alertou a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES). 
"Nós convertemos grandes quantidades de nossas florestas, convertemos grandes quantidades de nossas pastagens, perdemos 87% dos nossos pântanos (...), nós realmente mudamos nossa superfície terrestre nas últimas centenas de anos", disse o presidente do IPBES, Robert Watson.  
"A degradação da terra, a perda de produtividade desses solos e daquelas vegetações forçarão as pessoas a se moverem. Não será mais viável viver nessas terras", disse à AFP. 
O melhor cenário possível, que prevê 50 milhões de migrantes, pressupõe que "realmente nos esforçamos para ter práticas agrícolas sustentáveis, silvicultura sustentável, tentamos minimizar as mudanças climáticas", explicou Watson. 
A projeção se baseia em uma abordagem "business as usual" (sem alterações), na qual o aquecimento global desenfreado torna a terra caótica, alimentando a desertificação e a seca.
Última fronteira -
Até 2050, disse a análise, a degradação da terra e as mudanças climáticas reduzirão o rendimento das colheitas em 10% globalmente, e em até a metade em algumas regiões. 
O relatório, que abrange a totalidade das terras do planeta, bem como seus lagos e rios, estima que a degradação da terra custa o equivalente a 10% da produção econômica global de 2010. 
"Cada perda de 5% do produto interno bruto (...) está associada a um aumento de 12% na probabilidade de conflitos violentos", alertou o relatório. 
Nas áreas de terras secas, os anos de chuvas extremamente baixas já registram um aumento estimado de 45% nos conflitos violentos. 
Os principais responsáveis ​​pela degradação da terra, segundo a avaliação, foram os "estilos de vida de alto consumo" nos países ricos, e a demanda crescente por produtos nos países em desenvolvimento, alimentada pela renda e pelo crescimento populacional. 
Menos de um quarto da terra conseguiu escapar de "impactos substanciais" da atividade humana - principalmente porque se encontram em partes inóspitas do mundo - muito fria, muito alta, muito seca ou muito úmida para os humanos viverem. 
Até mesmo esta pequena parcela deverá encolher para menos de 10% em apenas 30 anos. 
"As pessoas estão forçando a entrada nessas fronteiras", disse à AFP o coautor do artigo Bob Scholes, da Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. 
O aquecimento global permite que as pessoas se movam para a região boreal, subártica e gelada, por exemplo, enquanto a tecnologia agora nos permite bombear água de aquíferos profundos no deserto extremo. 
As terras de cultivo e pastagem cobrem agora mais de um terço da superfície terrestre da Terra. 
Isso significa não apenas uma perda de solo, mas também de populações de plantas e animais silvestres e de florestas que sugam dióxido de carbono e produzem oxigênio. 
"A perda de biodiversidade deverá atingir 38-46% até 2050", disse o relatório, alertando que a Terra está no início de uma sexta extinção em massa - a primeira desde o desaparecimento dos dinossauros, há 65 milhões de anos. 
A avaliação da IPBES é o resultado de um trabalho de três anos de especialistas mundiais, que analisaram todos os dados científicos disponíveis.
- Mudanças climáticas -
O relatório identificou a degradação do solo como um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas e vice-versa.  
O desmatamento sozinho contribui com cerca de 10% das emissões de gases de efeito estufa induzidas pelo homem. 
E ao liberar o carbono que estava preso no solo, a degradação da terra foi responsável pelas emissões globais de até 4,4 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano entre 2000 e 2009. 
"Sem uma ação urgente, mais perdas de 36 gigatoneladas de carbono dos solos - especialmente da África Subsaariana - são projetadas para 2050", alertaram os cientistas. 
Isso equivale a cerca de 20 anos de emissões globais de transporte. 
Daqui a 30 anos, estima-se que quatro bilhões de pessoas - cerca de 40% da população projetada - viverão em áreas áridas e semi-áridas com baixa produtividade agrícola, disse o relatório. Hoje, esse número é de pouco mais de três bilhões.  
A avaliação "é um alerta para todos nós", disse Monique Barbut, secretária executiva da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, que solicitou o relatório. 
"Ela mostra a alarmante escala de transformação que a humanidade impôs à terra." 
O relatório, que custa cerca de US$ 1 milhão para ser preparado, busca fornecer informações para a formulação de políticas do governo, e foi aprovado por representantes de governos em uma reunião de uma semana dos 129 membros da IPBES em Medellín.
Jornal do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário