Em plena polêmica que levou o fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, ao Parlamento britânico nesta terça-feira (20), para explicar as acusações de apropriação indevida de dados pessoais de seus usuários, entenda como a rede social mais famosa do mundo transforma suas informações em “ouro”.
A coleta de dados executada pelo Facebook pode ser considerada legalmente aceitável, se levarmos em conta que a rede social não vende os dados em si, mas o acesso aos usuários que disponibilizam estes dados, na maioria das vezes sem ter lido detalhadamente as condições de utilização. No entanto, uma comissão parlamentar britânica quer saber exatamente como as empresas adquirem e armazenam dados dos usuários do Facebook e, especialmente, se os dados foram obtidos sem o seu consentimento.
A polêmica tomou hoje também as páginas do jornal The New York Times (NYT) nos Estados Unidos, onde um escândalo envolvendo a consultoria Cambridge Analytica - que trabalhou para a campanha eleitoral do presidente americano Donald Trump, se encontra no olho do furacão. Segundo investigações do NYT e do jornal britânico The Guardian, a Cambridge Analytica teria recuperado dados de milhões de usuários de Facebook, sem seu consentimento, com os quais teria criado um programa destinado a prever e influenciar o voto dos eleitores.
Mas qual a mecânica do processo de utilização dos dados de usuários pelo Facebook?
Quem se registra na rede social imaginada por Mark Zuckerberg é recebido com esta promessa: "O Facebook é gratuito, e isso permanecerá para sempre". Mas, se os usuários não pagam nada, como o Facebook gera seus enormes lucros - quase 16 bilhões de dólares no ano passado, um aumento de 56% em relação ao mesmo período do ano anterior? A resposta é muito simples: via publicidade.
Por exemplo, no quarto trimestre de 2017, a receita de publicidade representava 98,5% da receita total da empresa. O Facebook aplica literalmente um slogan bem conhecido de todos os especialistas em marketing: "Se é de graça, você é o produto". O "produto", neste caso, são os dados que cada usuário fornece à rede social sempre que reage a várias publicações - via "curtidas", ou emoticons - que ele mesmo disponibiliza, ou pesquisa.
Informações pessoais, o tesouro dos anunciantes
"Os dados pessoais são o petróleo de hoje. Têm muito valor, mas, se não forem refinados, não podem ser usados": esta citação atribuída ao matemático britânico Clive Humby, em 2006, explica perfeitamente o modelo econômico do Facebook. Ao "refinar" uma matéria-prima - bilhões de publicações, fotos, interações - o gigante da Califórnia permite que os anunciantes enviem promoções chamadas de "segmentados".
O grupo explica o procedimento em um site dedicado aos anunciantes. "Se você deseja anunciar para pessoas com base em idade, localização, hobby, ou outro, podemos ajudá-lo a entrar em contato com aqueles que provavelmente estão interessados em seus produtos, ou serviço", informa. "Se você tem uma loja de sapatos, você pode, por exemplo, segmentar as pessoas que compraram sapatos recentemente", diz o Facebook.
"Não temos consciência de compartilhar toda essa informação sobre nós e, na realidade, as redes sociais nos conhecem melhor do que os nossos próprios pais", diz Nathalie Devillier, pesquisadora especializada em proteção de dados,
É possível restringir o acesso dos anunciantes nas configurações de sua conta no Facebook. É possível, por exemplo, responder "não" à pergunta "Deseja ver anúncios on-line segmentados do Facebook?".
"O Facebook não vai procurar nada além do que você colocou na web. É o usuário que é responsável por isso", explica o presidente do think tank liberal GénérationLibre, Gaspard Koenig. Ele defende que a lógica do mercado seja ampliada, dando aos próprios usuários a oportunidade de venderem seus dados.
Já a União Europeia escolheu outro caminho: o de maior proteção das informações pessoais, com a entrada em vigor, no final de maio, de uma regulamentação sobre o assunto.
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