quarta-feira, 20 de maio de 2015

'Zona do Silêncio': A vida sem celulares nos EUA

As pessoas que dirigem para a região a oeste da capital americana, Washington, para as montanhas Allegheny, chegam a uma grande área sem sinal de telefonia celular.
Esta é a Zona Nacional de Rádio Silencioso, com 34 mil quilômetros quadrados sem sinal de rádio. A reportagem da BBC foi descobrir o que é este lugar e quanto tempo ainda poderá resistir.
Quando o carro chega às montanhas Allegheny, o rádio para de tocar e tudo que se ouve é estática. Nos celulares a situação é parecida, não há sinal.
Logo à frente está o maior objeto móvel de todo o planeta baseado no chão, o telescópio Robert C Byrd Green Bank (ou GBT): mais alto que a Estátua da Liberdade, de Nova York, e com uma superfície de mais de 9 mil metros.
O telescópio gigantesco precisa de silêncio de rádio e paz nas ondas elétricas para operar.
A Zona do Silêncio, estabelecida em 1958, protege o telescópio de interferências e também protege o maior posto de escuta da Agência Nacional de Segurança, que fica nas proximidades.
 
Foto: Emile Holba
 
O GBT é muito sensível e pode detectar ondas de rádio emitidas milisegundos depois do nascimento do universo. Mas, quando um sinal viajou tanto, vindo de um passado tão distante, pode facilmente encobrir o sinal.
"O telescópio tem a sensibilidade equivalente a um bilionésimo de bilionésimo de milionésimo de um watt... a energia liberada quando um único floco de neve cai no chão. Qualquer coisa feita pelo homem iria encobrir o sinal", disse Mike Holstine, gerente do local onde fica o telescópio.
E por isso a Zona do Silêncio é necessária e seus moradores levam uma vida muito diferente de outros americanos.
Eles não têm telefones celuares, não há monitores de bebês via rádio, fornos de microondas ou campainhas sem fio.
"Qualquer tipo de dispositivo elétrico pode causar interferência", afirmou Chuck Niday, que patrulha o Condado Pocahontas, onde moram 8 mil pessoas, no centro da Zona de Silêncio. Ele procura constantemente interferências de rádio-frequência.
 
Foto: Emile Holba
 
"Uma coisa que lembro, que pode causar muitos problemas, é um aspirador de pó - o tipo do motor que eles usam gera muitas faíscas", disse.
Quem for flagrado usando um aspirador com defeito receberá um pedido educado para interromper a limpeza.
"Não temos poder de polícia, isto é feito pela agência federal conhecida como Comissão Federal de Comunicações. Tudo o que podemos fazer é pedir para desligarem o dispositivo e 99% das vezes, eles o fazem", afirmou.
 Em uma ocasião, os funcionários do observatório compraram um novo aquecedor para um fazendeiro local quando ficaram sabendo que o antigo vazava ondas de rádio.

Direção do vento

Em uma área de cerca de 1,6 quilômetro em volta do telescópio GBT os motores movidos a gasolina não são permitidos por causa das faíscas que podem resultar. E em uma pista de pouso próxima, não se pode usar nenhum tipo de aparelho eletrônico.
"Temos uma biruta e um tetraedro para que eles saibam a direção do vento", disse Holstine.
Existem algumas exceções a estas regras: serviços de emergência podem usar uma frequência específica. E os funcionários do GBT têm um forno de microondas onde podem aquecer o almoço, mas o aparelho é mantido em um compartimento especial para evitar vazamentos de ondas de rádio.
 
E, quando não está fazendo a patrulha, Niday e a esposa apresentam um programa de jazz na Rádio das Montanhas Allegheny. Ele conseguiu bloquear a antena para não afetar o telescópio, uma operação complexa que não seria possível para telefones celulares.
Enquanto o resto do país está constantemente plugado - checando e-mails e postando atualizações em redes sociais - a ausência de tecnologia móvel na Zona do Silêncio leva a uma mentalidade diferente.
"Temos banda larga em casa. Podemos acessar a internet do mesmo jeito que todo mundo, a diferença é que, quando saio de minha mesa, a internet não me segue", disse a diretora local do GBT Karen O'Neill.
"Quando assisto a um jogo de futebol, cada pai no campo está assistindo às crianças jogando futebol, ninguém está olhando o telefone celular, ninguém está se preocupando com isso."
E, enquanto estou em algum lugar, não sinto mais a compulsão constante de olhar para o meu celular, não é como estar em um lugar remoto com uma conexão lenta ou cara, é uma forma de vida completamente diferente.
Nesta área tranquila dos Estados Unidos há um espírito de comunidade intenso, as conversas não são interrompidas por ligações de telefone celular, nem por notificações ou atualizações de status.
 
"Você não vê aquela briga dos pais com os filhos, na qual eles falam 'você precisa largar este telefone', e os filhos respondem 'tenho mesmo?' e eles estão olhando para o telefone discretamente embaixo da mesa e fazendo de tudo para mandar mensagens para os amigos", disse O'Neill.

Foto: Emile Holba

Futuro

O futuro da Zona do Silêncio no século 21 depende, até certo ponto, do futuro do GBT. Para mantê-lo, o gasto anual é de US$ 14,5 milhões (cerca de R$ 43 milhões) e a Fundação Nacional de Ciência, que financia o telescópio, avisou que poderá diminuir sua contribuição em 2017.
Ao mesmo tempo em que os funcionários do telescópio buscam sinais do nascimento do universo, eles também buscam mais verbas.
"Eles querem usar o dinheiro para construir novos telescópios no Chile. Estamos tentando encontrar projetos alternativos que vão trazer dinheiro e, neste momento, o mais promissor é o rastreamento de satélites", disse Holstine.
E não são apenas os 200 funcionários que mantêm e operam o GBT, empregados em outros setores como limpeza, alimentação, infraestrutura e hospedagem para cientistas visitantes, também podem estar com o futuro ameaçado.

Refugiados

Existem problemas na região: é difícil encontrar um telefone público funcionando e os mais jovens estão ansiosos para usar um smartphone com internet rápida.
A internet fixa existente é muito lenta, uma velocidade semelhante à usada 15 anos atrás. E as companhias telefônicas não querem investir em cabos melhores para uma comunidade tão pequena.
No entanto, tem quem goste: há um grupo de "refugiados eletro-sensíveis" que se mudou para o lugar.
Foto: Emile Holba
 
"Não podemos ficar onde estão as multidões, temos que ficar longe das pessoas pois a maioria delas carrega celulares e isto nos faz mal", disse Diane Schou, que afirma ser uma "leprosa tecnológica".
Ela morava em uma fazenda em Iowa mas, depois da instalação de uma antena de celular nas proximidades, ela ficou doente.
"Comecei a perder cabelo - pensei que estava ficando velha. Tive irritação na pele, pensei que era algo que tinha comido. Minha visão mudou, pensei que fosse velhice... Minha pele ficou enrugada (...). Tive uma dor de cabeça e então fui ao médico, pois quase nunca tinha dores de cabeça."
Diane notava que as dores voltavam cada vez que ela chegava em casa. "Era como se alguém acertasse minha cabeça com uma marreta."
Mas, desde que se mudou para Green Bank, a saúde melhorou e ela conhece outras 57 pessoas que encontraram alívio para estes sintomas no lugar.
Rachel Taylor, assistente do médico local, confirma que observou um aumento no número de pessoas com problemas parecidos nos últimos anos. Ela disse que ainda não viu nenhum estudo provando o problema, mas está convencida de que "algo está acontecendo".
O que quer que aconteça com o telescópio, ainda há Sugar Grove, o posto de vigilância da Agência Nacional de Segurança, no norte.
Informações sugerem que parte das instalações pode fechar ainda em 2015,mas Holstine espera que a maior parte da base continue funcionando.
Se o telescópio for desativado, Sugar Grove assumirá o patrulhamento da área, mas não será tão severo quanto à presença de ondas de rádio na região de Green Bank.
Alguns acreditam que isso possa abrir o caminho para que dispositivos sem fio não oficiais se infiltrem na região e mudem a "Zona do Silêncio".
BBC Brasil

 

 

Rios da Amazônia merecem tanta atenção quanto as florestas

A proteção dos rios recebe menos atenção do que as florestas, diz pesquisador (Foto: Bruno Abreu/ Flickr)
 
Quando se fala na proteção da Amazônia, é comum que logo se caia na discussão sobre o desmatamento e a necessidade de manter árvores de pé. Há, no entanto, outro ponto tão importante quanto esses, mas que hoje recebe menos atenção: a proteção dos rios amazônicos.

Foi por isso que, entre os dias 19 e 20 de maio, especialistas se reuniram na Conferência Internacional Águas Amazônicas: Escalas, Conexões e Desafios. O evento, organizado pela Wildlife Conservation Society (WCS Brasil), apresentou resultados de análises científicas feitas pelo Grupo de Trabalho Amazônia Ocidental do SNAP (Science for Nature and People). O foco da equipe é estudar como os rios serão impactados pelo crescimento urbano, pela pesca sem manejo e pelo avanço da agricultura nas áreas de várzea. O principal ponto, no entanto, é avaliar as consequências da chegada de hidrelétricas nos rios do bioma.

“Os grandes projetos de infraestrutura previstos na Amazônia nacional e internacional precisam ser estudados profundamente para sabermos como diminuir seus impactos”, diz Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil. O grupo do SNAP fez um estudo considerando apenas seis barragens em pontos chave dos rios amazônicos. Se forem construídas, podem segurar 70% do sedimento que hoje chega no Rio Amazonas. E somados os projetos de todos os países que contém floresta amazônica, esses rios terão centenas delas nos próximos séculos.

 Esses sedimentos são importantes para a qualidade da terra nas regiões da várzea do rio (que são alagadas boa parte do ano) e, logo, para a economia dos ribeirinhos. Com a força que têm, as águas carregam folhas, areia, argilas e minerais ricos em nutrientes. Tudo isso chega à floresta de várzea do Rio Amazonas e seus afluentes, deixando a terra muito fértil. Os ribeirinhos aproveitam o período em que o rio não toma as matas para plantar alguns alimentos e produtos florestais. Quando o rio sobe, suspendem a plantação e vivem da renda juntada – ou de outras atividades. "Sem terra fértil, a economia dos ribeirinhos está em risco", diz Durigan.

“Os cursos d´água são cruciais para as populações da Amazônia, visto que as grandes cidades se desenvolveram em margens de rios, como Manaus (AM), Belém (PA) e Quito, no Equador”, afirma Durigan. Um reflexo disso é o comércio de peixes, que também poderá ser impactado pelas barragens de hidrelétricas. “Quase 90% dos peixes amazônicos que chegam aos supermercados – ou seja, que têm valor comercial – são espécies migratórias que talvez não consigam mais nadar pelo curso dos rios”, afirma.

Uma das ações do SNAP será o lançamento em até junho de um site que reunirá artigos e informações sobre a importância das bacias hidrográficas. Durigan afirma que hoje, apesar de 50% do território da Amazônia ter algum status de proteção (como unidades de conservação, parques ou reservas indígenas), falta uma discussão sobre a necessidade de manter a integridade da bacia e protege-la com o mesmo vigor que se quer cuidar das florestas. “Não adianta ter territórios preservados e reprimir desmatamentos se você não impede o envio de esgoto e lixos para os rios. Ou então, o envio de poluentes nocivos, como o mercúrio ainda usado no garimpo do ouro. Isso está prejudicando toda a água amazônica”, diz.
Época.com

Sonda faz imagens de Plutão e revela possível capa de gelo na suprfície do planeta-anão


As imagens feitas pela New Horizons estão ajudando cientistas a descobrirem detalhes da superfície de Plutão. As primeiras fotografias a cores do planeta-anão e sua lua Caronte foram tiradas na metade do mês, a uma distância de aproximadamente 115 milhões de quilômetros, com auxílio do telescópio Long-Range Reconnaissance Imager (LORRI) a bordo da pequena espaçonave. Apesar da baixa resolução, já é possível distinguir algumas estruturas, como uma possível camada de gelo recobrindo um dos polos.
— A medida em que nos aproximamos do sistema de Plutão começamos a ver características intrigantes como uma região brilhante perto do polo visível, dando início a uma grande aventura científica para entender este objeto celeste enigmático — disse o pesquisador da Nasa John Grunsfeld. — Conforme nos aproximamos, a emoção é construir a nossa
busca para desvendar os mistérios de Plutão usando os dados da New Horizons.
As fotografias passaram pelo processo conhecido como deconvolução, que melhora a qualidade das imagens cruas que foram enviadas à Terra pela sonda. As análises ainda são preliminares, mas os cientistas já puderam visualizar áreas brilhantes e escuras na superfície do planeta-anão. A lua Caronte, a maior do sistema de Plutão, com órbita de 6,4 dias, também foi capturada nas imagens. Por causa do curto tempo de exposição, outros quatro satélites menores ficaram de fora.
Desde a sua descoberta em 1930, Plutão é considerado um enigma para a astronomia. Até 2006, o astro era reconhecido como o nono planeta do Sistema Solar, mas foi rebaixado por
causa de suas dimensões. Ele se encontra a uma distância de aproximadamente 5 bilhões de quilômetros da Terra, o que dificulta a visualização de detalhes de sua superfície por telescópios em solo.
— Após a viagem de mais de nove anos pelo espaço, é deslumbrante observar Plutão, literalmente um ponto de luz quando visto da Terra, se tornar um local real em frente aos nossos olhos — disse Alan Stern, pesquisador da Southwest Research Institute em Boulder, no Colorado. — Essas imagens incríveis são as primeiras a nos mostrar detalhes em Plutão, e elas já nos mostram que Plutão tem uma superfície complexa.
A New Horizons foi lançada em janeiro de 2006 e, em meados de julho deste ano, após percorrer mais de 4,5 bilhões de quilômetros, vai sobrevoar Plutão a um distância de apenas 12,5 mil quilômetros, coletando dados inéditos sobre o planeta-anão e suas luas.
— Nós podemos apenas imaginas as surpresas que serão reveladas — afirmou Hal Weaver, pesquisador da Universidade Johns Hopkins.



 




terça-feira, 19 de maio de 2015

Plataforma de gelo da Antártica irá se desintegrar completamente até 2020


 
Um estudo divulgado pela NASA na quinta-feira revelou que a última parte intacta de uma das enormes plataformas de gelo da Antártica irá derreter completamente até 2020, aumentando o nível do mar. O pedaço remanescente da plataforma “Larsen B”, que ruiu parcialmente em 2002, de acordo com o órgão, está em processo rápido de desintegração.
A Nasa mediu a superfície de 10 mil anos e constatou que restam apenas 1600 quilômetros quadrados, o que corresponde à metade do estado de Rhode Island, nos Estados Unidos.
A Antártica tem dezenas de plataformas de gelo – placas maciças e flutuantes de gelo alimentadas por geleiras
pairando sobre o mar na borda da linha costeira do continente. A maior tem aproximadamente o tamanho da França. A Larsen B está localizada na Península Antártica, que se estende em direção ao extremo sul da América do Sul e é uma das duas principais áreas do continente onde os cientistas documentaram o encolhimento dessas formações de gelo.
"Esse estudo das geleiras da Península Antártica fornece indícios sobre a forma como as plataformas de gelo mais ao sul, que possuem muito mais terra gelada, vão reagir a um clima mais quente", disse Eric Rignot, coautor da pesquisa e glaciologista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa em Pasadena, Estado da Califórnia.
Quase 200 países concordaram em negociar um pacto da ONU no final de 2015 para combater as mudanças climáticas no mundo, que a maioria dos cientistas prevê que elevarão o nível dos mares e trarão mais enchentes, secas e ondas de calor. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climáticas, da ONU, citou uma probabilidade de pelo menos 95% de que a aceleração do aquecimento do planeta tenha sido desencadeada por atividades humanas.
O estudo sobre a plataforma de gelo, publicado online na revista Earth and Planetary Science Letters, se baseou em levantamentos aéreos e dados de radar.





Investigando a idade das trevas

Um acordo de cooperação entre a China e a União Européia, por meio da Agência Espacial Européia, pode oferecer a cientistas possibilidades promissoras de desvendar questões que estão na fronteira da ciência e assim ampliar o conhecimento sobre o Universo, o que significa remeter às nossas próprias origens, nas profundezas abissais do espaço-tempo.
O acordo, fechado na segunda-feira passada, segundo revela a revista científica Nature (Scientific American integra o grupo editorial da Nature) inclui um conjunto de 15 projetos discutidos entre a Agência Espacial Européia (ESA) e a Academia Chinesa de Ciências (CAS).
A primeira dessas iniciativas envolve o desenvolvimento de uma rede de satélite para orbitar a Lua e tirar partido do bloqueio das emissões de rádio emitidas pela Terra para investigar o espaço-tempo profundo e abordar a chamada Idade das Trevas, quando o Cosmos foi opaco à luz e a escuridão prevaleceu por um período estimado em 400 mil anos.
A estratégia da missão conjunta é aproveitar a passagem dos satélites pelo lado oculto da Lua (quase sempre confundido com o lado escuro da Lua, que não é real, como previne uma canção da banda inglesa Pink Floyd: “there is no dark side of the moon really”) para bloquear emissões de rádio da Terra.

Zona silenciosa em emissões provenientes da Terra, o lado oculto da Lua vai permitir que satélites captem emissões na frequência de micro-ondas e ondas longas de rádio provenientes de hidrogênio disponível numa época entre 370 mil e 550 milhões de anos após o Big Bang, a explosão que, segundo a teoria conhecida por este mesmo nome, deu origem ao Universo.
Talvez, aqui, valha a pena tecer pelo menos três considerações a este respeito.
Primeiro que Big Bang foi um termo pejorativo utilizado pelo cosmólogo inglês Fred Hoyle (1915-2001), em programas de rádio populares, para desacreditar uma origem para o Universo que na abordagem dele, conhecida como Estado Estacionário, seria eterno.
Mas o nome pegou e acabou batizando a teoria que inicialmente fora proposta pelo cosmólogo belga, o abade George Lemaître (1894-1966) e referida como “átomo primordial”. Vale a pena considerar ainda que a tradição, como na obra da escritora e mística soviética Helena Blavatsky (1831-1891), a origem do Universo está relacionada a um “ovo primordial”.
A segunda questão envolvendo o Big Bang é que pode não ter sido a explosão original, mas apenas a mais recente, de recriação do Universo que, neste caso, seria de fato eterno, ainda que diferente da maneira proposta por Hoyle.
O terceiro ponto é que “explosão”, apesar de muito difundido, não é um termo apropriado para se referir à origem do Universo. Neste caso, o mais conveniente é falar da manifestação de uma singularidade, um ponto com densidade e curvatura infinitos que deram origem ao espaço, tempo (agora unificados na estrutura espaço-tempo da relatividade geral) e à matéria, inicialmente sob a forma de energia.
A Idade das Trevas, que os cosmólogos querem investigar, e que essa associação entre a Agência Espacial Europeia e a Academia Chinesa de Ciências deve permitir, foi um período de 400 mil anos em que o Cosmos permaneceu opaco à luz devido às elevadas temperaturas que separaram átomos, especialmente de hidrogênio, em núcleos e suas partículas (um único elétron, no caso do hidrogênio). Isso criou uma cortina que não permitiu o fluxo da luz.
Apenas com a queda de temperatura, possibilitada pela expansão do Universo, que ocorre ainda hoje, permitiu o aparecimento de átomos e a transparência cósmica à luz.
Essa época remota antecede a formação das estrelas e das galáxias e define a infância remota do Universo.
Ao investigar a Idade das Trevas, cosmólogos e astrofísicos querem conhecer como a criação do Universo manifestou-se e entender, entre outras questões, como se deu a formação de gigantescos buracos negros que se escondem nos núcleos galácticos. E como a energia escura, que não interage com a luz, mas se manifesta gravitacionalmente, atuou para moldar o Cosmos que, um dia, teria (possivelmente entre outras) a inteligência humana em busca dessa ocorrência fascinante.

A rede de satélites investigando o espaço-tempo profundo em busca de informações sobre a Idade das Trevas, quando concretizada, o quque deve ocorrer até 2021, antecede uma fase que agora ainda pertence à ficção científica. A de colocar telescópios de superfície, no lado oculto, da Lua para investigações quase impossíveis de serem feitas da Terra, devido as interferências nas emissões de rádio de uma infinidade de fontes.
Na verdade, vista de longe, a Terra é muito brilhante na frequência de rádio, que começa com micro-ondas, em seguida ao infravermelho distante, na radiação eletromagnética, e se estende às longas ondas de rádio, que podem chegar a quilômetros.
Esse brilho intenso em rádio deve sugerir, a uma eventual civilização alienígena, que a Terra abriga uma raça inteligente (conceito algo controvertido, se levado em conta brutalidades como guerra e outras ocorrências) que atingiu certo estágio tecnológico.
Uma das áreas que pode beneficiar-se desse “silêncio em rádio” oferecido pela proteção do corpo da Lua deve ser a pesquisa sobre eventuais outras civilizações cósmicas, trabalho iniciado em radioastronomia nos anos 60 pelo radioastrônomo americano, Frank Drake, nascido em 1930 e agora com 84 anos.

O trabalho de Drake teve sequência com outros cientistas que incluem Philip Morrison (1915-2005), Carl Sagan (1934- 1996) e Giuseppe Cocconi (1914-2008) entre outros notáveis exploradores da perspectiva alienígena.
Frank Drake também foi criador da chamada Equação Drake, uma estimativa para se calcular a quantidade de civilizações no Universo, numa sequência em uma única passagem, a capacidade de autodestruição, reduz as possibilidades à metade.
 Scientific American Brasil


domingo, 17 de maio de 2015

Sem floresta não tem ÁGUA

Sem floresta não tem água

Estudo reforça a relação do desmatamento da Amazônia com os episódios de seca do país e aponta como solução zerar o desmatamento para ontem e replantar florestas.

 Sem floresta no tem gua

Nos últimos quatro meses o pesquisador Antônio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), analisou aproximadamente 200 artigos científicos lançados recentemente sobre a ligação da floresta amazônica e o serviço de regulação do clima do planeta. A conclusão da análise foi lançada na última quinta-feira e, segundo o especialista, do ponto que estamos, não adianta mais simplesmente parar de desmatar - tarefa em que já estamos atrasados. Se quisermos ter alguma chance de fugir da desertificação será preciso replantar florestas.
 
O relatório, "O Futuro Climático da Amazônia”, foi encomendado pela Articulación Regional Amazónica (ARA), grupo que reúne entidades da sociedade civil dos nove países que compartilham o bioma. De acordo com Nobre, ao longo dos anos o Brasil pareceu passar imune pela destruição da Mata Atlântica, que teve 90% de sua extensão dizimada, pois a Amazônia vinha compensando os serviços florestais perdidos. Mas nos últimos 40 anos, com a intensificação da degradação e do desmatamento na região, a floresta vem perdendo sua capacidade de captar e transportar umidade para o resto do País e as consequências disso já estão sendo sentidas.
“O desmatamento sem limite encontrou no clima um juiz que conta árvores, não esquece e não perdoa”, disse o pesquisador em entrevista ao jornal Valor Econômico. Em seu estudo o especialista, que também é pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), afirma que as árvores da Amazônia colocam aproximadamente 20 bilhões de toneladas de água por dia na atmosfera. E é esta água que é levada para o sul do continente, pelas correntes de ar, e se transforma em chuva.
Com o avanço do desmatamento esta capacidade fica seriamente comprometida e seus efeitos já podem ser sentidos como, por exemplo, na falta de chuva que atinge as regiões centro-oeste e sudeste do Brasil. Sem a floresta amazônica a região que vai de Cuiabá a Buenos Aires, ao Sul, e de São Paulo aos Andes, que produz 70% do PIB da América do Sul, seria igual aos seus equivalentes latitudinais. Se traçarmos uma linha no Mapa Mundi, a partir de Brasília, encontraremos quatro dos maiores desertos do mundo: o Atacama, o Kalahari, o deserto da Namíbia e o da Austrália. Isso acontece porque a floresta amazônica exporta “rios aéreos” de vapor que transportam água para as chuvas fartas que irrigam regiões distantes
"Estamos perdendo um serviço que era gratuito, que trazia conforto, que fornecia água doce e estabilidade climática”, diz o cientista. De acordo com Nobre, se a situação não mudar radicalmente e agora, ficaremos cada vez mais próximos de um ponto de não retorno, de onde se seguirá uma irrefreável reação em cadeia que irá afetar não apenas o Brasil, mas todo o planeta.
 
Sem floresta no tem gua

Barcos ficaram encalhados em praia de Tefé, no Amazonas, durante a seca recorde que atingiu a região em 2010. Este ano São Paulo vem sentindo os efeitos do desmatamento nas torneiras. Sem chuva diversas cidades ficaram sem água. (© Rodrigo Baléia/Greenpeace)
Desmatamento Zero e imediato
A floresta tropical amazônica tem um papel fundamental para a regulação do clima no Mundo. Mas mesmo com este conhecimento, ela continua a ser violentamente destruída.
Alguns dos principais fatores que promovem o desmatamento do bioma são a atividade madeireira ilegal, a pecuária e a cultura de soja. Temas que se tornaram centrais em campanhas do Greenpeace Brasil para salvar a floresta.
Nos últimos dez anos várias iniciativas ajudaram a manter em queda os níveis de desmatamento na Amazônia Legal. Conquista que, infelizmente, está em risco. Apenas um ano depois da assinatura do novo Código Florestal, que trouxe anistia àqueles que cortaram floresta ilegalmente, o desmatamento subiu 29%. Enquanto o Congresso se esforça para aprovar leis que comprometem a demarcação de novas  terras indígenas e unidades de conservação – instrumentos eficazes de conservação da floresta, o tema esteve simplesmente ausente nas eleições deste ano. Há alguns meses Dilma Rousseff negou-se a assinar a declaração de Nova York, que visa zerar o desmatamento até 2030.
Mas podemos e devemos virar este jogo. O projeto de Lei do Desmatamento Zero alinha-se às considerações de Nobre. Lançado em 2012, ele prevê o fim da emissão de licenças de desmatamento em florestas nativas, ou seja, mesmo a porcentagem permitida por lei não poderá mais ser desmatada A iniciativa já conta com o apoio de mais de 1 milhão de brasileiros. 

O maior telescópio já projetado - European Extremely Large Telescope

Ao apontar sua luneta para o céu, em 1609, Galileu Galilei descobriu as manchas solares, o relevo lunar, as fases de Vênus, as luas de Júpiter, e deu o start no entendimento da Via Láctea. Depois de mais de 400 anos, estamos perto de dar um salto da mesma importância. O motivo tem nome: European Extremely Large Telescope. Segundo os cientistas que o projetaram, o E-ELT terá o mesmo impacto no estudo do universo que teve o instrumento de Galileu.
Não é para menos, o telescópio óptico será, com folga, o maior do mundo.
As obras começaram em julho de 2014 e devem levar mais dez anos. A construção fica no cerro Armazones, a 3.060 metros de altitude, com área de 978 metros quadrados e espelho principal de 39 metros de diâmetro. O preço também chega às estrelas: US$ 1,2 bilhão. E, apesar de toda essa imponência, o E-ELT é uma espécie de prêmio de consolação, já que o projeto original previa um espelho de 100 metros – ideia tão ousada que não pôde sair do papel.
 
Vista de dentro, a estrutura do Very Large Telescope (VLT) parece complexa. E é mesmo. (Foto: ESO/ G. Lombardi, José Francisco Salgado, J.L. Dauvergne & G. Hüdepohl (atacamaphoto.com))
 
O gigante é obra do Observatório Europeu do Sul (ESO), uma organização que envolve 14 países europeus, além do Chile e do Brasil, que assinou sua entrada em 2010, mas, como não pagou o “título” de US$ 307 milhões para oficializar a associação, não vota nas decisões nem participa das licitações.
A escolha do Chile pelo ESO foi estratégica. O país é um oásis para esse tipo de estudo: baixo índice pluviométrico, altitude ideal, proximidade com a linha do equador e facilidades oferecidas pelo governo. É sobretudo no deserto do Atacama que as condições são ideais, quase marcianas. A ari­dez do solo, a coloração avermelhada da terra e o clima seco dão ao menos uma ligeira ideia de como é a superfície do planeta vermelho. Compõem a paisagem também as noites limpas e a baixíssima incidência de chuvas.
Não surpreende, assim, que o maior complexo de observação astronômica  feito pelo homem também esteja lá. A construção conta com três observatórios ao longo de 700 quilômetros: La Silla, Alma e Paranal, onde estará o E-ELT.
Mas o que se vê da superfície é só a ponta do iceberg deste telescópio, que possui uma série de túneis subterrâneos. (Foto: ESO/ G. Lombardi, José Francisco Salgado, J.L. Dauvergne & G. Hüdepohl (atacamaphoto.com))
 
O primeiro a ser inaugurado foi o La Silla, em 1969. Apesar dos seus 45 anos, engana-se quem pensa que ele deve alguma coisa aos seus vizinhos mais jovens. Nesse período, recebeu sete telescópios, como o Harps, o maior “caçador” de exoplanetas (planetas fora do sistema solar) em atividade na Terra.
Mas os últimos 15 anos foram os mais intensos no trabalho do ESO. Em 1998, o VLT (leia na p. 58) abriu seus olhos para captar luz espacial pela primeira vez (a 20 quilômetros de onde será construído o E-ELT). Deu-se então o nascimento do Observatório Paranal, o maior e mais importante centro de observação do universo.
Nem só de ondas visíveis, porém, vive a astronomia. Por isso, em 2011, o ESO, em parceria com o National Radio Astronomy Observatory e o National Astronomical Observatory of Japan, construiu o Alma, o complexo que custou cerca de US$ 1,4 bilhão e tem o objetivo de estudar o universo frio.
GELO CÓSMICO Não, Alma não é uma referência mística. É a abreviação de Atacama Large Millimeter/submillimeter Array. Trata-se de um conjunto de radiotelescópios com 66 “antenas parabólicas” que captam ondas de luz e calor impossíveis de serem lidas por telescópios ópticos. Ele observa o “universo gelado” e traduz as informações das ondas localizadas.
É uma ferramenta e tanto. As luzes captadas pelo Alma só poderiam ser observadas para lá da Terra, uma vez que a atmosfera terrestre as bloqueia e turva a qualidade dos sinais. São metade de toda a luz emitida no universo e são fundamentais para os cientistas. Nelas se encontram as pistas sobre o surgimento de planetas, estrelas, galáxias e até moléculas que eventualmente evoluiriam para elementos orgânicos e dariam indícios de pontos onde poderia haver vida no espaço. “O Alma permite captar todas as ondas de luz e calor, até o fim de suas vibrações, emitidas pela areia do universo. Esse brilho é diferente de outros elementos espaciais, e, ao analisá-lo, é possível estudar a gênese de estrelas, sua composição química e a força gravitacional ao redor delas”, explica o astrônomo Tommy Wiklind. Para captar os sinais (veja a sequência acima), os sensores gelados de cada antena absorvem as luzes que vêm do espaço. Esse volume absurdo de informações, 16 mil teras por segundo, é automaticamente digitalizado e transportado para o computador Alma Correlator Breaker Panel por 16 quilômetros de fibra óptica, onde os sinais são padronizados. Quando chegam ao supercomputador, que ocupa uma sala inteira e cuja capacidade é equivalente à de 3 milhões de notebooks domésticos, os sinais são decodificados e então convertidos em informações astronômicas. Contudo, os dados que chegam ao desktop de cientistas como Tommy são apenas o créme de la créme do Alma: a quantidade de ruído é tanta que menos de 1% de tudo o que é captado é útil; o supercomputador elimina as informações ruins e multiplica os sinais corretos.
 
 
A construção fica no topo do cerro Paranal, no deserto do Atacama, no Chile (Foto: ESO/ G. Lombardi, José Francisco Salgado, J.L. Dauvergne & G. Hüdepohl (atacamaphoto.com))
 
Essa técnica é chamada de interferometria. Ela não é nova, foi tentada pela primeira vez em 1948, mas o Alma a executa de forma inédita: os sinais são combinados automaticamente na captação. Por isso, é importante a maneira como as antenas estão dispostas no Chajnantor Plateau, a mais de 5 mil metros de altitude, que permite combinações nas quais a capacidade de absorção de luzes das antenas pode superar até dez vezes a do poderoso telescópio Hubble. São os olhos da ciência para o que o homem não vê.
A UNIÃO FAZ A FORÇA A uma altitude de 2.635 metros, o cerro Paranal é a única referência visual num raio de muitos quilômetros no deserto do Atacama. É naquele cenário de ficção científica que cerca de 250 profissionais passam meses enclausurados. Para fornecer condições de trabalho (e preservar a saúde mental dos cientistas), o ESO criou uma megaestrutura, com hotel de luxo, piscina, quadra poliesportiva e restaurante. Nada que os fãs de James Bond já não tenham visto no filme 007 – Quantum of Solace, que utilizou o complexo como cenário.
Esse pessoal está lá por um motivo: o Very Large Telescope (VLT), um conjunto de quatro telescópios ópticos cujo espelho tem 8,2 metros de diâmetro mais quatro telescópios auxiliares de 1,8 metro. Além dele, há outros dois importantes instrumentos de pesquisa: o Vista (4,1 metros), dedicado ao estudo de ondas infravermelhas; e o VLT Survey (2,6 metros), o mais novo “brinquedinho” dos cientistas desde 2011. Os quatro telescópios podem trabalhar de maneira independente (cada um com um foco de estudo diferente), mas se tornam especiais quando juntam forças: a capacidade de captação é 25 vezes maior que a dos telescópios individuais. Se, por exemplo, um carro acendesse os faróis na Lua, o VLT seria capaz de distinguir as luzes.
O VLT não é exatamente uma máquina fotográfica. Sua principal capacidade é criar padrões de luz e sombra, a partir das ondas de luz que entram pelo espelho, para compreender os detalhes de cada pedaço do objeto observado, mas, a priori, não se forma uma imagem disso. Como um iceberg, boa parte da fórmula da eficiência do VLT está abaixo da superfície. O cuidado com que as luzes captadas são transmitidas aos computadores é fundamental: elas são levadas por túneis ópticos subterrâneos em uma combinação de espelhos. As informações combinadas pelos supercomputadores do ESO são capazes de reconstruir imagens 16 vezes mais nítidas que as obtidas por cada telescópio individualmente.
É tecnologia de ponta, mas não o suficiente. “Ao aumentar o tamanho do telescópio, aumentam-se duas coisas basicamente. Uma é a superfície, que coleta luzes mais fracas, tendo um impacto enorme na análise dessas galáxias formadas nos primeiros 300 milhões de anos. Dá para começar a ver os corpos espaciais tão perto que é preciso qualidade extrema do sinal, que é muito pequeno. A segunda coisa aumentada é a precisão no sinal. Ambas serão possíveis apenas com o E-ELT”, diz Claudio Melo, cientista brasileiro que é chefe de departamento do ESO.
“Os instrumentos do VLT já permitiram estudar com grande detalhamento a forma e a dinâmica dos corpos mais antigos do universo”, afirma Fernando Comerón, astrônomo que comanda operações do ESO. “Mas o E-ELT é mais ambicioso: com ele buscamos detectar planetas como a Terra, o que inclui possivelmente encontrar indicações de atividade biológica e a observação detalhada das primeiras estruturas que formaram o espaço.”
Em 2013, um grupo de astrônomos brasileiros da USP fez uma das descobertas mais importantes dos últimos tempos ao localizar uma estrela gêmea do Sol. Como a estrela HIP 102152 é mais velha, será possível comparar seu ciclo de vida com o do nosso astro-rei. E há ainda a possibilidade de que ela seja orbitada por planetas iguais à Terra, mas isso só o E-ELT vai poder dizer. “Especificamente para a descoberta de outros planetas como o nosso, o E-ELT vai ser equipado com um espectrógrafo que permitirá medir o efeito causado por corpos relativamente pequenos, como a Terra”, afirma o astrônomo Jorge Meléndez, que coordenou a busca.
Logo o gigantesco instrumento irá ajudar a responder às questões mais importantes da astronomia e, quem sabe, da humanidade: se há vida fora da Terra e qual a origem do universo.

COMO FUNCIONA O ALMA
São 66 “antenas parabólicas” (12 com sete metros de diâmetro e 54 com 12 metros) cujos sensores gelados, que trabalham a até -269°C, captam as luzes e, consequentemente, as informações delas, que vêm do espaço em frequências de extrema precisão (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO)
São 66 “antenas parabólicas” (12 com sete metros de diâmetro e 54 com 12 metros) cujos sensores gelados, que trabalham a até -269°C, captam as luzes e, consequentemente, as informações delas, que vêm do espaço em frequências de extrema precisão (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO)

Esse volume de informações chega a 16 mil terabytes por segundo e é automaticamente digitalizado e transportado por 16 quilômetros de fibra óptica até o computador Alma Correlator Breaker Panel, onde os sinais são padronizados. Porém, por conta dos ruídos, menos de 1% de tudo que é captado tem utilidade — o supercomputador elimina as informações ruins e multiplica até milhões de vezes os sinais corretos (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO)
Esse volume de informações chega a 16 mil terabytes por segundo e é automaticamente digitalizado e transportado por 16 quilômetros de fibra óptica até o computador Alma Correlator Breaker Panel, onde os sinais são padronizados. Porém, por conta dos ruídos, menos de 1% de tudo que é captado tem utilidade — o supercomputador elimina as informações ruins e multiplica até milhões de vezes os sinais corretos (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO

O trabalho então é combinado entre computadores e cientistas para determinar quais recortes de informações devem ser replicados e introduzidos em um novo programa. Só aí, semanas depois da captação, as imagens do universo são reproduzidas (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO)
O trabalho então é combinado entre computadores e cientistas para determinar quais recortes de informações devem ser replicados e introduzidos em um novo programa. Só aí, semanas depois da captação, as imagens do universo são reproduzidas (Foto: B. Tafreshi (twanight.org), ESO)
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 (Foto: Revista Galileu)
 (Foto: ESO)

terça-feira, 12 de maio de 2015

CO2 na atmosfera bate recorde de concentração

Na imagem, poluição é nítida na cidade de São Paulo. Os termômetros chegam aos 31 graus nesta sexta-feira (12)
 
Membros da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), órgão dos Estados Unidos, divulgaram nesta semana que a concentração mundial de dióxido de carbono (CO2) atingiu uma média recorde de 400 partes por milhão no último mês de março. Trata-se de um recorde histórico.
Segundo o climatologista Pieter Tans, especialista em ciclo do carbono e líder da Global Greenhouse Gas Reference Network (Rede Global Sobre os Gases de Efeito Estufa, em inglês), esse índice é preocupante por mostrar que a quantidade de CO2 global só aumenta ano a ano, sem retrocesso. "Alcançar essa média crítica de 400 partes por milhão em todo o mundo era mesmo apenas uma questão de tempo", disse Tans.
Nesta semana, em um relatório divulgado em Paris, o Banco Mundial traçou três metas essenciais para que o mundo zere as emissões de CO2 até 2100 (e, assim, evite uma possível catástrofe mundial no fim deste século): medidas para facilitar a transição energética dos países mais pobres; políticas de longo prazo para balancear o clima; e a regulamentação dos preços do carbono.
O CO2 é um perigoso gás-estufa que hoje é majoritariamente resultado de atividades humanas, como desmatamento e queima de combustíveis fósseis (como petróleo e carvão). Quando produzido em grande quantidade contribui para o aumento das temperaturas globais e para um desarranjo climático.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Egito aprova planos para reerguer Farol de Alexandria


Autoridades egípcias aprovaram os planos para reconstruir uma das sete maravilhas do mundo antigo, o Farol de Alexandria.

A edificação foi concluída por volta de 280 a.C. e tinha entre 110 metros e 130 metros de altura.

O plano é reconstruí-la a poucos metros de onde ficava originalmente, na cidade litorânea de Alexandria. Atualmente, o local é ocupado pela Citadela de Quaitbay, informou o jornal egípcio 'The Cairo Post'.

O comitê permanente do Egito para antiguidades aprovou a proposta que, agora, depende apenas da aprovação do governo regional de Alexandria para sair do papel, afirmou Mostafa Amim, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades, ao site de notícias 'Youm7'.
O Farol de Alexandria era uma das mais famosas construções do mundo antigo.

"A construção original compreendia três andares: uma base quadrada com um núcleo central, uma seção mediana octogonal e um topo circular", afirmou o professor de arqueologia Fathy Khourshid ao Cairo Post.

O farol guiava navios usando um espelho durante o dia e uma chama durante a noite.

A construção sofreu graves danos durante uma série de terremotos e acredita-se que tenha sido destruída por um tremor no início do século 14.

Resquícios da estrutura foram usados para construir a Citadela de Qaitbay. Outros restos foram descobertos no porto de Alexandria, em 1990.

Himalaias 'encolhem' após terremoto no Nepal

 
O forte terremoto que atingiu o Nepal reduziu os Himalaias em cerca de 1 metro, disseram cientistas.
 Eles alertam, no entanto, que a mudança ainda tem que ser confirmada por pesquisas na área, dados aéreos ou dados de GPS.
 "O trecho principal que teve sua altura reduzida é um trecho de 80-100 km do Langtang Himal (a noroeste da capital, Katmandu)", disse Richard Briggs, geólogo do Serviço Geológico dos Estados Unidos.
 Langtang é uma região onde muitos moradores e montanhistas estão desaparecidos, possivelmente mortos, após as avalanches e deslizamentos de terra desencadeados pelo terremoto de magnitude 7,8 em 25 de abril, que deixou mais de 6 mil mortos.
Cientistas acreditam que a altura de outros picos no Himalaia também pode ter caído, incluindo o Ganesh Himal, a oeste de Langtang.

Eles ainda não analisaram imagens de satélite da região em que o mais famoso pico do Himalaia - o Everest - está localizado. A análise dos dados tem se centrado na região central do Nepal, mais atingida pelo terremoto. O Everest localiza-se a leste desta área.

No entanto, antes do terremoto, já havia discussões sobre a altura do Everest.

"Mas o que vemos nos dados que avaliamos... é uma região claramente identificável com um abaixamento de até 1,5 m", disse Christian Minet, geólogo do Centro Aeroespacial Alemão (DLR), que processou os dados do terremoto no Nepal enviados pelo satélite Sentinel-1a.

Sobe e desce

Cientistas do Centro de Observação da Terra do DLR compararam duas imagens separadas de uma mesma região enviada pelo satélite, antes e depois do terremoto.
Segundo Minet, as imagens de satélite mostram que a área da cordilheira caiu cerca de 0,7 m - 1,5 m mas que "não é possível dizer que uma montanha específica está menor".
O estudo também descobriu que algumas áreas, incluindo a capital, Katmandu, e o sul das montanhas do Himalaia, ficaram mais altas depois do terremoto.
 Cientistas dizem que movimentos de queda e elevação são um comportamento geológico normal após um terremoto dessa magnitude.
 Normalmente, os Himalaias estão em ascensão por causa da colisão entre as placas tectônicas Indiana e Eurasiática. Mas durante grandes terremotos, o processo fica invertido, dizem especialistas.
 Autoridades no Nepal dizem que ainda não avaliaram os impactos geológicos do terremoto no Himalaia, já que ainda estão empenhados nas operações de resgate após o terremoto.

No planeta vermelho, o pôr do Sol é azul

No planeta vermelho, o pôr do Sol é azul: é o que mostram as primeiras imagens do evento capturadas pelo robô da Nasa Curiosity. A agência publicou uma animação com uma sequência de fotos tiradas em pouco menos de seis minutos, na qual o Sol se abaixa até se esconder atrás de uma montanha.
  Foto: Space.com / Reprodução
Imagens mostram o pôr do Sol em Marte do mesmo modo como ele seria visto por uma pessoa
 
Diferentemente do pôr do Sol na Terra, quando o céu é tingido de vermelho, a atmosfera de Marte se colore de azul durante o desaparecimento do astro. O motivo, especulam os estudiosos, é a existência de minúsculas partículas de areia no ar marciano, que permitem que a luz azul penetre melhor na atmosfera em comparação às outras cores.
As imagens mostram o pôr do Sol em Marte do mesmo modo como ele seria visto por uma pessoa. Na verdade, a câmera fotográfica Mastcam, do robô Curiosity, enxerga de um jeito muito similar ao dos olhos humanos, sendo somente um pouco menos sensível à cor azul. Por esse motivo, as fotos foram editadas para remover a artificialidade e regular os tons de acordo como veem as pessoas.
A imagem foi fotografada a partir da cratera Gale quase mil dias depois da chegada do Curiosity a Marte (ele aterrissara em 6 de agosto de 2012).

sexta-feira, 8 de maio de 2015

1% das árvores da Amazônia 'captura metade do carbono da região'

Roel Brienen

Metade do carbono que árvores amazônicas capturam da atmosfera é aprisionada por apenas 1% das espécies da floresta, segundo um estudo científico internacional.
A Amazônia abriga cerca de 16 mil espécies de árvores, mas apenas 182 dominam o processo de captura de gases que causam o efeito estufa, de acordo com a pesquisa, publicada na revista Nature Communications.
Com 5,3 milhões de quilômetros quadrados, o ecossistema é a maior floresta tropical do mundo e essencial para o ciclo de sequestro de carbono do planeta: responde por cerca de 14% do carbono assimilado por fotossíntese e abriga 17% de todo o carbono estocado em vegetação em todo o planeta.
"Considerando que a Amazônia é tão importante para o ciclo de carbono e armazena tanto da biomassa do planeta, calcular exatamente quanto carbono é armazenado e produzido é importante para entender o que pode acontecer no futuro sob condições ambientais diferentes", disse a co-autora do estudo, Sophie Fauset, da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
O novo estudo toma como base as conclusões de uma outra pesquisa, de outubro de 2013, que encontrou 227 espécies "hiperdominantes" que respondem por metade dos 390 bilhões de árvores amazônicas.
 Dentro desse universo, árvores de grande porte, que contém mais biomassa e portanto mais carbono, são mais influentes no ciclo, diz a pesquisadora.
"E como as árvores são organismos que vivem por muito tempo, isto significa que o carbono é removido da atmosfera por décadas, se não séculos."
Roel Brienen

Mudanças

Apesar dessa dinâmica, a cientista alertou contra a tentação de estimular a multiplicação das 182 espécies identificadas de plantas, na tentativa de capturar mais carbono da atmosfera.
"Embora tenhamos um número pequeno de espécies exercendo uma influência desproporcional no ciclo de carbono, isto é apenas o que conseguimos medir hoje", disse Fauset.
"Dada a quantidade de mudanças que estão ocorrendo nas regiões tropicais, em termos de clima e uso do solo, no futuro espécies diferentes podem se tornar mais importantes."
Em um estudo anterior, Fauset e uma equipe de cientistas perceberam que a capacidade de armazenamento de carbono de florestas no Oeste da África aumentaram apesar de uma seca de 40 anos na região.
O estudo sugeriu que o incremento da biomassa capaz de armazenar carbono nessas florestas resultou de mudanças na composição das espécies: a seca prolongada havia beneficiado espécies que conseguiam viver nessas condições.
 
 Emissões ignoradas

Outro estudo, publicado na terça-feira, sugeriu que as emissões globais de carbono da floresta podem estar sendo subestimadas, pois os cálculos não levariam em conta árvores mortas logo após o desmatamento.
O dióxido de carbono é liberado por essa vegetação durante o processo de decomposição. O estudo foi feito em Bornéu e publicado na revista científica Environmental Research Letters.
A perda de floresta contribui por até 30% das emissões de gases que causam o efeito estufa causadas pela atividade humana, rivalizando com o setor de transporte.
No Brasil, 61% das emissões são resultantes de mudanças de uso do solo e desmatamento, segundo a ONG Institude de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
O país está entre os cinco maiores emissores mundiais de gases de efeito estufa, de acordo com a organização.
Aproximadamente 17% da floresta – uma área equivalente ao território da França ou quase duas vezes ao do Estado do Maranhão – já foram convertidos para outras atividades de uso do solo.
BBC Brasil

Exploradores afirmam ter encontrado tesouro pirata em naufrágio

Malagacy Presidency
Mergulhadores dizem ter encontrado nas águas de Madagascar, na África, o suposto tesouro de um famoso pirata escocês, William Kidd.    
A barra de 50kg de prata foi trazida para a superfície e recebida pelo presidente de Madagascar e diplomatas do Reino Unido e dos Estados Unidos.
Agora, ela está sob a custódia de soldados na ilha de Sainte Marie.
"A equipe do explorador Barry Clifford não tem dúvidas de que o tesouro é genuíno", diz Volgt, repórter da BBC
BBC
Clifford e seus mergulhadores acreditam que a barra de prata data do século 17 e foi forjada na Bolívia. Já o navio onde ela se encontrava teria sido fabricado na Inglaterra.
No entanto, afirma Volgt, ainda existe um ceticismo em torno da legitimidade do tesouro e provavelmente haverá pedidos para que isto seja provado.
Uma alternativa seria retirar amostras da madeira do navio para checar se de fato ele veio da Inglaterra.

Tecidos, ouro e prata

BBC
O escocês William Kidd foi condenado à morte por pirataria no século 18
                   
O Capitão Kidd foi executado em 1701 por pirataria depois de retornar de uma viagem pelo oceano Índico.
Ele havia sido designado pela Coroa britânica para combater a pirataria e capturar navios franceses inimigos.
Em 1698, Kidd saqueou um navio armênio, o Quedagh Merchante, que aparentemente navegava sob a proteção da França.
Mas o capitão da embarcação era um inglês, e Kidd foi executado em Londres em 1701.
O Quedagh Merchant carregava tecidos, ouro e prata quando foi atacado.
Acredita-se que grande parte de sua carga pertencia à Companhia Britânica das Índias Orientais.
 
BBC
Pirata só morreu por enforcamento depois de três tentativas
                    
Além da acusação de pirataria, o capitão Kidd foi sentenciado à morte por assassinar um dos seus tripulantes durante uma briga em 1697.
Durante sua execução, a primeira corda colocada em seu pescoço arrebentou. Houve ainda uma segunda tentativa, quando a corda arrebentou novamente.
Kidd só morreu na terceira tentativa. Seu corpo foi coberto por piche e pendurado por correntes sobre o rio Tâmisa para servir de alerta para os interessados em entrar na pirataria.
A lenda dá conta que Kidd escondeu boa parte de seus saques, o que levou a inúmeras caças ao tesouro e inspirou o autor Robert Louis Stevenson a escrever A Ilha do Tesouro (1883), um dos clássicos da literatura infanto-juvenil.
BBC

10 mitos e verdades sobre a crise da água

Desde o ano passado, a falta de chuvas afeta os hábitos de consumidores e empresas nas metrópoles brasileiras. Uma seca mais prolongada, no entanto, pode gerar consequências mais severas, capazes de impactar não só a economia, como também a saúde pública e o meio ambiente.

Dentre as crenças que rondam a crise hídrica, comenta-se que parte da população urbana pode migrar para áreas menos habitadas em um cenário mais extremo. Os mais radicais dão conta de que novas epidemias vão se espalhar rapidamente e provocar uma calamidade pública ocasionada pela falta de água.
Especialistas ouvidos  alertam que parte destas previsões não tem fundamento, enquanto outras são possíveis e até mesmo prováveis, caso os reservatórios de água não recuperem seus antigos níveis, especialmente na região Sudeste, a mais afetada. Eles também divergem em alguns pontos.

Veja a seguir o que pensam sobre o futuro da crise da água a especialista em gestão de recursos hídricos e coordenadora da Rede de Águas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro, e o professor de hidrologia e gestão de recursos ambientais da Unicamp, Antonio Carlos Zuffo:
 
Seca no rio Jacareí, em Piracaia (SP) (Foto: Nelson Almeida/AP)Seca no rio Jacareí, em Piracaia (SP)
(Foto: Nelson Almeida/AP)
1. A seca prolongada pode causar um êxodo urbano
Verdade
Malu Ribeiro: “Um êxodo ocasionado pela seca é factível. As Nações Unidas e entidades como a SOS Mata Atlântica vêm fazendo este alerta há bastante tempo. Várias crises de falta de água já obrigaram populações e atividades econômicas a migrar para outras áreas. Em alguns setores isso já é perceptível. Indústrias de bebidas, como cervejarias e fabricantes de refrigerantes, já abriram novas fabricas em regiões mais afastadas dos grandes centros. O governo de São Paulo encomendou um estudo prevendo que fábricas nas regiões de Campinas, Baixada Santista e Região Metropolitana de São Paulo passariam a migrar para outros estados por conta da falta de água. Na Grande São Paulo, isso é menos perceptível por ser um polo atrativo de pessoas”.

Mito
Antonio Carlos Zuffo: “Acho exagero dizer que a seca vai ocasionar um êxodo de pessoas. Pode haver a diminuição na média das chuvas pelas próximas duas ou três décadas, como ocorreu na seca prolongada entre 1936 e 1969, depois tende a normalizar. Na década de 1970, as chuvas se normalizaram e essa média subiu em torno de 30%. Ela tende a cair de novo, só não se sabe quanto, mas não a ponto de causar uma migração populacional”.

não se sabe quanto, mas não a ponto de causar uma migração populacional”.

CHuva na região da Saúde, na Zona Sul de São Paulo (Foto: Renata Neves/Arquivo Pessoal)CHuva na região da Saúde, na Zona Sul de São
Paulo (Foto: Renata Neves/Arquivo Pessoal)
2. Se voltar a chover como antes, a crise acaba

Mito
Malu Ribeiro: “Esse quadro só pode ser revertido com medidas primordiais, com o fim de todos os desmatamentos. Isso não é impossível, porque há uma sobra de terras já desmatadas e subaproveitadas. Também seria preciso usar o solo urbano de forma mais adequada. Não se pode mais achar que a água virá de áreas distantes. As cidades precisam ter mananciais urbanos utilizáveis. É preciso investir em saneamento. Isso vai criar condições para recuperar as reservas esgotadas e ter sustentabilidade. Precisaríamos no mínimo 5 anos de verões chuvosos pra que esses mananciais se reabasteçam na capacidade plena. Falta muito para recuperar”.
Antonio Carlos Zuffo – “Seria preciso chover entre 35% e 60% acima da média (entre 500 e 1000 milímetros cúbicos) durante todo o ano para recuperar os reservatórios e reverter a situação atual. No mês de abril, choveu 50% acima da média na região do sistema Cantareira e quase 20% acima da média no Alto Tietê, bem acima do início do ano. O problema é melhorar ou manter esse nível até o fim do ano”.
Moradores pegam água em bica de poço artesiano em Rio Preto (Foto: Reprodução/ TV TEM)Moradores pegam água em bica de poço artesiano
em Rio Preto (Foto: Reprodução/ TV TEM)
3. Os poços artesianos podem secar nas grandes cidades

Verdade
Malu Ribeiro: “As reservas subterrâneas não são inesgotáveis e dependem de áreas verdes. Os aquíferos não têm florestas para se reabastecer, o solo é contaminado e há risco de os poços não serem próprios para consumo. Cidades que só usam água subterrânea, como Recife (PE) e São José do Rio Preto (SP), têm problemas de rebaixamento do solo pela super exploração dos aquíferos. Em São Paulo, isso levaria a sérios problemas. Inclusive foram proibidas novas captações em algumas regiões. O ideal é que as pessoas façam poços com empresas autorizadas pra não captar água contaminada ou criar problemas mais sérios”.
Antonio Carlos Zuffo: “Os poços não têm recarga. A vazão pode ser mantida se eles vierem de vazamentos da rede da Sabesp, mas em um rodízio de cinco dias, por exemplo, eles podem diminuir drasticamente. Se houver uma recarga artificial constante, o fluxo é mantido, mas na falta de água isso cai rapidamente. A maior parte dos poços tem um volume pequeno de água porque corre entre as fraturas de rochas. Também é preciso fazer uma análise química e biológica para saber se a água é aproveitável e potável, e se serve para lavar louça, fazer a rega de jardim, descargas em banheiros ou lavar calçadas. Essa água em tese não é própria para cozinhar alimentos nem para a ingestão”.
para cozinhar alimentos nem para a ingestão”.

Carros circulavam pela cidade mesmo com o apagão. (Foto: Imagens / Tv Bahia)Apagão atinge a Bahia (Foto: Imagens / Tv Bahia)
4. A estiagem pode causar um apagão
Verdade
Malu Ribeiro: “Nossa principal matriz energética vem das hidrelétricas, então podemos dizer que o acionamento das usinas termelétricas já evitou um apagão e supriu o déficit de água no Sudeste. Mas isso tem um impacto financeiro e ambiental muito grande. A queda no consumo de energia, com a desaceleração da economia, também ajudou a evitar a falta de eletricidade”.

Antonio Carlos Zuffo: “Esse risco existe, mas como a atividade econômica diminuiu, o consumo ficou menor e favoreceu esse cenário. Também o aumento das chuvas no último mês ajudou a afastar o risco de um racionamento de energia. Mas essa possibilidade ainda é real porque os níveis dos reservatórios ainda estão muito baixos”.

Projeto de dessalinização transforma água salgada em doce na Paraíba (Foto: Reprodução/TV Globo)Projeto de dessalinização transforma água salgada
em doce na Paraíba (Foto: Reprodução/TV Globo)
5. Consumir água do mar é uma alternativa possível

Meia verdade
Malu Ribeiro: “O uso da água do mar (dessalinização) não é viável neste momento pelo alto custo e pela quantidade de rios de água doce inutilizável que temos. Fica mais barato despoluir os rios indisponíveis por baixa qualidade do que investir na captação da água do mar. No Sudeste, esta solução não é viável. Mas pra alguns polos industriais que não querem sair de São Paulo por questão de logística e de mercado, essa pode ser uma alternativa. Para o setor público, a dessalinização seria um atestado de falência pelo custo, mas o setor privado poderia investir nessa tecnologia para se beneficiar”.

Antonio Carlos Zuffo: “Depende da cidade. Em São Paulo, a tecnologia seria inviável pelo custo. Sairia muito caro bombear a água do mar para o alto da serra. Mas em cidades litorâneas como Rio de Janeiro e muitas outras da costa brasileira seria uma boa solução, como acontece em países como Espanha e Israel”.

Estação de tratamento de efluentes da BRF em Vitória de Santo Antão (PE) (Foto: BRF)Estação de tratamento de efluentes da BRF em
Vitória de Santo Antão (PE) (Foto: BRF)
6. A população pode ser obrigada a consumir água de esgoto
Verdade Malu Ribeiro: “Já existe tecnologia para isso. Mas o aproveitamento dessa água vai depender de um rigor de análise de laboratório e controle de saúde pública muito eficiente. Hoje, é um desperdício usar água de rios para diluir esgoto. O ideal seria usar tecnologias em tratamento e despoluição para tornar a água própria inclusive para beber, mas isso ainda é caro”.

Antonio Carlos Zuffo: “Primeiro é preciso fazer a lição de casa e recuperar a qualidade dos rios urbanos, que estão poluídos, e só depois captar essa água para abastecimento. Se investir em recuperação ambiental, tirar o esgoto dos rios e deixar limpo, isso melhora as condições de saúde da população. Mas o tratamento precisa ser muito rigoroso para ser adequado ao consumo humano”.
consumo humano”.

Agricultura Formiga Irrigação (Foto: Reprodução/TV Integração)Irrigação em Formiga, MG
(Foto: Reprodução/TV Integração)
7. Indústria e agricultura sempre consomem mais água que as residências

Mito
Malu Ribeiro: “Isso depende do perfil sócioeconômico da região. Na região metropolitana de São Paulo, o consumo doméstico é bem superior ao industrial, por exemplo. Já na região de Campinas, a agricultura e indústria consomem bem mais água. Mas na média do Brasil, a agricultura irrigada e as monoculturas sã0o as que mais desperdiçam água, seguidas do abastecimento público, que tem índices elevados de desperdício. A indústria desperdiça menos pporque ela paga por isso, então precisa ser eficiente. A agricultura não paga por isso, com exceção de alguns setores bem supridos de associações e entidades como o do etanol nos estados do Sudeste”.
Antonio Carlos Zuffo. “O consumo doméstico é maior em muitas regiões. Na região abastecida pelo Alto Tietê, por exemplo, ele ultrapassa 60%, enquanto o consumo industrial fica em torno de 25% e o agrícola é ínfimo. Só é verdade que a agricultura consome mais quando se tira a média nacional e mundial. Em muitas áreas do Brasil, como no Nordeste, o consumo agrícola representa mais de 95%. Mas na maioria das 21 bacias do Estado de São Paulo o consumo doméstico predomina."

Lavouras de soja são prejudicadas pela falta de chuva na Região Sul do RS (Foto: Reprodução/RBS TV)Lavouras de soja são prejudicadas pela falta de
chuva no RS (Foto: Reprodução/RBS TV)
8. A produção de alimentos pode ser comprometida

Verdade
Malu Ribeiro: “Já estamos sofrendo com a escassez de alguns alimentos na região Sudeste em nove meses de seca. Isso impactou bem a safra do milho, feijão, arroz e verduras. Produtos orgânicos ficaram mais caros e também a carne vermelha. O gado teve menos grama disponível e foi alimentado com mais suplementos. Os peixes de água doce também ficaram mais caros, como a tilápia do rio Tietê, que praticamente secou nos últimos meses. Essa escassez também impacta na inflação da cesta básica e reajustes nas contas de agua acima da inflação do período”.

Antonio Carlos Zuffo: “Algo semelhante aconteceu na seca entre as décadas de 1930 e 1960. Com menos chuvas, a produção agrícola foi afetada e houve um grande êxodo rural do campo para as cidadesem grande parte ocasionado pela falta de chuvas. Como a irrigação é a tecnologia que mais impacta na produção dos alimentos, uma estiagem pode afetar mais seriamente a oferta destes produtos”.
seriamente a oferta destes produtos”.

Multa será aplicada após laboratório comprovar que larva é do mosquito da dengue (Foto: Reprodução RPC  Noroeste)Água armazenada pode contribuir para proliferação
de mosquitos (Foto: Reprodução RPC Noroeste)
9. A estiagem piorou o surto de dengue
Meia verdade
Malu Ribeiro: “No estado de São Paulo São Paulo, o surto de dengue deste ano teve total relação com a estiagem, porque as pessoas passaram a armazenar grandes quantidades de água da chuva e de poços de forma inadequada, sem fazer a vedação adequada dos recipientes, estimulando a procriação do vírus causador da doença”.
Segundo o ministro da Saúde, Arthur Chioro, a crise hídrica pode ter influenciado no aumento dos casos da doença, já que, pela falta de água em algumas localidades, houve maior armazenamento de água sem as devidas proteções. Ele apontou, no entanto, que não há como explicar porque em alguns locais onde não faltou água o número de casos de dengue também aumentou.

Dados revelam que 135 municípios brasileiros estão em situação de risco para a ocorrência de epidemias de dengue (Foto: Reprodução/EPTV)135 municípios estão em situação de risco para a
ocorrência de epidemias de dengue
(Foto: Reprodução/EPTV)
10. Doenças e epidemias tendem a surgir com mais facilidade
Verdade
Malu Ribeiro: “O risco de contágio de doenças como hepatites e diarreias é bem maior quando há escassez de água. Há chances maiores de se contaminar de várias formas, até mesmo pelo consumo de caminhões-pipa, quando não se sabe qual a origem desta água. Vazamentos de canos também contaminam a água. Sempre que o fornecimento diminui, os casos de contaminação tendem a crescer."

Antonio Carlos Zuffo: “A cada R$ 1 investido em saneamento, economiza-se R$ 4 em saúde pública. Se você tratar a água dos rios, a saúde da população melhora por consequência. Quando chove menos, o esgoto fica mais concentrado e a qualidade da água piora, aumentando a ocorrência de doenças. A redução da pressão na rede faz a água vazar para o solo e ela tende a voltar para a rede com contaminação. A correlação entre doenças gastrointestinais e água contaminada é muito forte”.
tópicos:
G1

quarta-feira, 6 de maio de 2015

É preciso plantar florestas para colher água

A represa Jaguari-Jacareí em Piracaia, interior de São Paulo. A represa é a maior do sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo (Foto:  Luis Moura / Parceiro / Agência O Globo)
 
Estados Unidos, 1934. Em meio à maior crise econômica de sua história o país é desafiado a resolver um problema inesperado, o Dust Bowl. Uma seca prolongada, a rápida substituição da vegetação nativa por culturas agrícolas e más práticas de manejo do solo produzem gigantescas tempestades de areia que cobrem casas e arruínam a produção agrícola de uma das regiões agrícolas mais prósperas do país, as Grandes Planícies, forçando o deslocamento de cerca de 2 milhões de pessoas para outras regiões.
Brasil, 2015. Em meio à turbulência econômica, uma seca prolongada, o aumento no consumo de água e energia e a extensa substituição da cobertura florestal nativa por outros usos do solo faz com que os reservatórios que abastecem a região mais próspera do país estejam à beira do colapso. Indústrias começam a rever planos de expansão e reduzem suas atividades por escassez de água, aprofundando a crise econômica.
Sete mil quilômetros e oitenta anos de história separam as duas situações, mas há muito que se aprender com a crise norte-americana. Buscando entender a raiz do desequilíbrio, o Governo Federal consultou especialistas e descobriu que o desmatamento excessivo, associado a más práticas agrícolas, estavam degradando os solos e a água em todo o país. Criou um Serviço de Proteção ao Solo e contratou mais de 3 milhões de jovens para recuperar parte da vegetação nativa e reformar campos agrícolas. Em nove anos, plantaram 3 bilhões de árvores e recuperaram mais de 240 mil hectares de vegetação nativa em áreas agrícolas com alta sensibilidade ecológica, como beiras de rios.
Hoje o governo americano investe cerca de US$ 6 bilhões por ano em programas de restauração ecológica e melhoria de práticas agrícolas. Em 2014 havia 11,2 milhões de hectares em restauração – área maior do que Santa Catarina – e cerca de 8 mil técnicos em conservação de recursos naturais apoiando gratuitamente produtores rurais a implementá-las.
Bons exemplos são sempre inspiradores. A atual crise hídrica brasileira pode ser a oportunidade de resgatarmos a importância da conservação e restauração da vegetação nativa no país para o benefício dos brasileiros que vivem nas grandes cidades. É longa a lista de benefícios que os ecossistemas nativos prestam às sociedades humanas. Florestas, como a Mata Atlântica, contribuem para termos água mais limpa e constante ao longo do ano, com evidentes benefícios econômicos e sociais. Mesmo assim, o território do Sistema Cantareira, por exemplo, tem menos de 30% de suas matas ciliares conservadas. Em toda a bacia hidrográfica do Paraná, onde se concentra grande parte da produção econômica brasileira, são apenas 17% de florestas preservadas.
Para virarmos este jogo, é fundamental pensar grande. Embora traga diversos benefícios à sociedade, o custo da restauração florestal pode ser pesado para muitos produtores rurais. Mesmo que haja determinação legal para tanto, não é razoável imaginar que venhamos a reabilitar nossas regiões mais necessitadas sem que exista o reconhecimento econômico e social da importância desta recuperação traduzido em apoio concreto aos produtores que vivem nestas regiões. Precisamos de toda a sociedade neste esforço, passando pelo engajamento proativo do setor privado e das empresas de abastecimento de água. Precisamos de políticas de incentivos econômicos que criem uma situação ganha-ganha, na qual a sociedade receba os serviços ambientais dos quais necessita ao mesmo tempo em que, no campo, se aumenta a criação de empregos verdes e uma nova cadeia de produção rural associada à oferta de serviços ambientais é estruturada.
A boa notícia é que já existem experiências em curso, como a implementada pelo município de Extrema (MG), importante fonte de abastecimento do Sistema Cantareira, onde  produtores rurais vêm recebendo um pacote de incentivos econômicos desde 2007 para reflorestar suas áreas de nascentes e matas ciliares. Lá se criou uma dinâmica positiva onde todos saem ganhando, do produtor rural aos habitantes da cidade de São Paulo. Essa prática  pioneira vem sendo replicada com o apoio da Agência Nacional de Águas, - ANA em outras cidades, como Rio de Janeiro e Brasília, e mesmo em âmbito estadual, como no Espírito Santo. Em São Paulo, o Projeto Nascentes promete restaurar 20.000 hectares de matas ciliares nos principais mananciais da Grande São Paulo. Mas precisamos agora ampliar a escala dessas iniciativas, com investimentos públicos e privados.
Mesmo em tempos de crise econômica é possível encontrar recursos para a restauração ecológica e garantia da provisão de serviços ambientais. Utilizar recursos da compensação ambiental de empreendimentos de infraestrutura ou da exploração do petróleo, por exemplo, são alternativas que alguns estados já vem explorando e precisam ser ampliadas. Aplicar pequena parte do arrecadado com o consumo de água e energia em “infraestrutura verde” é algo que alguns países já vêm fazendo e que começamos a ter os primeiros exemplos no país. Projetos de lei sobre pagamentos por serviços ambientais vem sendo discutidos desde 2007 no Congresso Nacional e o tema já tem maturidade suficiente para ser transformado em política pública nacional. Utilizar as políticas agrícolas, como crédito rural e compras públicas, para premiar produtores que restauram seus passivos é uma possibilidade que deve ser explorada.
Restaurar os ecossistemas nacionais não é uma excentricidade. Nos últimos cinquenta anos, a Coréia do Sul reflorestou 30% de seu território e a Costa Rica aumentou sua cobertura florestal em 17%. Dinamarca, Suécia, China e muitos outros países reagiram a situações de crise e restauraram florestas em larga escala, gerando benefícios econômicos, sociais e ambientais. Em todos os casos houve investimentos públicos e mobilização da sociedade, aí incluído o setor privado. O Brasil se transformou num dos maiores produtores agrícolas do mundo justamente dessa forma. Agora é a vez de investir na produção de serviços ambientais.
Época.com

Astrônomos localizam galáxia mais distante já encontrada

Foto feita pelo telescópio Hubble em 2013 mostra a galáxia EGS-zs8-1, a mais distante da Terra, a 13,1 bilhões de anos-luz (Foto: Pascal Oesch e Ivelina Momcheva, NASA, European Space Agency via AP)

Astrônomos avistaram a galáxia mais distante já encontrada no universo e ela se parece com uma massa brilhante de estrelas azuis a cerca de 13,1 bilhões de anos-luz da Terra.
A galáxia, chamada EGS-zs8-1, "é um dos objetos mais brilhantes e de maior massa no universo primordial", de acordo com um comunicado da Universidade de Yale.
Os detalhes da descoberta foram publicados na terça-feira (5) pela revista Astrophysical Journal Letters.
Calcular sua distância exata da Terra foi possível graças a um instrumento chamado MOSFIRE no telescópio de 10 metros de diâmetro no Observatório WM Keck no Havaí, disseram os pesquisadores.
A galáxia já havia sido vislumbrada em imagens dos telescópios espaciais Hubble e Spitzer da Nasa, mas sua localização era desconhecida.
Astrônomos de Yale e da Universidade da Califórnia em Santa Cruz disseram que a EGS - zs8-1 ainda está formando estrelas rapidamente, a uma taxa 80 vezes maior que a da nossa galáxia, a Via Láctea.
G1