quarta-feira, 20 de maio de 2015

Rios da Amazônia merecem tanta atenção quanto as florestas

A proteção dos rios recebe menos atenção do que as florestas, diz pesquisador (Foto: Bruno Abreu/ Flickr)
 
Quando se fala na proteção da Amazônia, é comum que logo se caia na discussão sobre o desmatamento e a necessidade de manter árvores de pé. Há, no entanto, outro ponto tão importante quanto esses, mas que hoje recebe menos atenção: a proteção dos rios amazônicos.

Foi por isso que, entre os dias 19 e 20 de maio, especialistas se reuniram na Conferência Internacional Águas Amazônicas: Escalas, Conexões e Desafios. O evento, organizado pela Wildlife Conservation Society (WCS Brasil), apresentou resultados de análises científicas feitas pelo Grupo de Trabalho Amazônia Ocidental do SNAP (Science for Nature and People). O foco da equipe é estudar como os rios serão impactados pelo crescimento urbano, pela pesca sem manejo e pelo avanço da agricultura nas áreas de várzea. O principal ponto, no entanto, é avaliar as consequências da chegada de hidrelétricas nos rios do bioma.

“Os grandes projetos de infraestrutura previstos na Amazônia nacional e internacional precisam ser estudados profundamente para sabermos como diminuir seus impactos”, diz Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil. O grupo do SNAP fez um estudo considerando apenas seis barragens em pontos chave dos rios amazônicos. Se forem construídas, podem segurar 70% do sedimento que hoje chega no Rio Amazonas. E somados os projetos de todos os países que contém floresta amazônica, esses rios terão centenas delas nos próximos séculos.

 Esses sedimentos são importantes para a qualidade da terra nas regiões da várzea do rio (que são alagadas boa parte do ano) e, logo, para a economia dos ribeirinhos. Com a força que têm, as águas carregam folhas, areia, argilas e minerais ricos em nutrientes. Tudo isso chega à floresta de várzea do Rio Amazonas e seus afluentes, deixando a terra muito fértil. Os ribeirinhos aproveitam o período em que o rio não toma as matas para plantar alguns alimentos e produtos florestais. Quando o rio sobe, suspendem a plantação e vivem da renda juntada – ou de outras atividades. "Sem terra fértil, a economia dos ribeirinhos está em risco", diz Durigan.

“Os cursos d´água são cruciais para as populações da Amazônia, visto que as grandes cidades se desenvolveram em margens de rios, como Manaus (AM), Belém (PA) e Quito, no Equador”, afirma Durigan. Um reflexo disso é o comércio de peixes, que também poderá ser impactado pelas barragens de hidrelétricas. “Quase 90% dos peixes amazônicos que chegam aos supermercados – ou seja, que têm valor comercial – são espécies migratórias que talvez não consigam mais nadar pelo curso dos rios”, afirma.

Uma das ações do SNAP será o lançamento em até junho de um site que reunirá artigos e informações sobre a importância das bacias hidrográficas. Durigan afirma que hoje, apesar de 50% do território da Amazônia ter algum status de proteção (como unidades de conservação, parques ou reservas indígenas), falta uma discussão sobre a necessidade de manter a integridade da bacia e protege-la com o mesmo vigor que se quer cuidar das florestas. “Não adianta ter territórios preservados e reprimir desmatamentos se você não impede o envio de esgoto e lixos para os rios. Ou então, o envio de poluentes nocivos, como o mercúrio ainda usado no garimpo do ouro. Isso está prejudicando toda a água amazônica”, diz.
Época.com

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