domingo, 29 de maio de 2016

A última era do gelo de Marte acabou há 370 mil anos

Marte - ele estará mais próximo da Terra no dia 14 de abril (Foto: Getty Images)
 
Quem olhar para o céu até o próximo dia 30 de maio vai, caso as nuvens colaborem, ver uma estrela maior e mais brilhante surgindo no leste logo após o sol se pôr. Nessa data, as órbitas de Marte e Terra vão alcançar o ponto em que os dois planetas ficam mais próximos. Por causa disso, Marte vai parecer maior no céu – nessas condições, mesmo um telescópio doméstico comum vai permitir a um astrônomo amador observar detalhes da superfície do planeta. Quem olhar com atenção vai conseguir ver as calotas de gelo nos polos de Marte – um ponto brilhante no Polo Sul, outro ponto maior no Polo Norte.
O astrônomo Isaac Smith passou os últimos meses observando esses corpos de gelo. Em lugar de um telescópio de jardim, Smith – que trabalhava como pesquisador no Instituto de Astronomia Southwest, no Texas, enquanto fazia essas pesquisas – usou os dados da Mars Reconassaince Orbiter, uma sonda enviada pela Nasa em 2005 para verificar sinais de água em Marte.
As calotas polares marcianas são formadas por água congelada e por dióxido de carbono em estado sólido. A quantidade de gelo nessas regiões do planeta varia conforme a época do ano – durante o verão, há apenas água congelada na calota do norte, enquanto que a do sul continua coberta por uma fina camada de dióxido de carbono congelado. Smith queria examinar a movimentação de gelo nesses corpos para tentar entender melhor o passado climático do planeta. E para descobrir onde procurar por água – mesmo que congelada – no caso de uma possível viagem ao planeta: “Estudar gelo em Marte é importante para explorações futuras”, diz Smith, hoje um cientista no Instituto Planetário de Tucson. “Água vai ser um recurso crítico para a criação de um posto avançado marciano.
Tal qual a Terra, Marte sofre variações na sua órbita e na inclinação do eixo planetário a cada centena de milhares de anos. Na Terra, essas variações foram as responsáveis pelas grandes glaciações pelas quais o planeta passou. A teoria indicava que algo semelhante tinha acontecido com Marte. Mas faltavam provas dessas glaciações marcianas. Nos polos do planeta, Smith encontrou sinais claros de que, há 370 mil anos, Marte vivia sua própria era do gelo. Os resultados dessas observações foram plubicados na revista Science desta sexta-feira (27).

As glaciações na Terra acontecem quando a inclinação do planeta muda, reduzindo a quantidade de radiação solar recebida pelo Polo Norte por milhares de ano. Com isso, o gelo nessa região se expande e se espraia em direção ao equador, fazendo as temperaturas globais cair. Em Marte, o processo é ligeiramente diferente. A começar pela inclinação do planeta – enquanto a inclinação do eixo da Terra varia em torno de 2°, a inclinação do eixo marciano pode variar em até 60°. É mais drástico. Além disso, uma era do gelo marciana começa quando os polos se aquecem. Com isso, as temperaturas caem nas latitudes mais baixas, próximas ao equador do planeta, formando grandes geleiras nessas regiões. Quando a inclinação do planeta torna a mudar, e os polos se resfriam, o gelo volta a se acumular nessas áreas extremas. As observações de Smith mostraram que, há 370 mil anos, as calotas polares de Marte começaram a receber grandes quantidades de gelo que se acumulou rapidamente – indicando que as temperaturas haviam mudado e que a glaciação chegara ao fim. “Isso indica que nós identificamos o registro da última era glacial marciana”, diz Smith. “Com essas informações, podemos entender melhor como a água se movimenta entre os polos e as outras regiões do planeta. E compreender melhor o clima marciano atual.”
Esse tipo de descoberta é especialmente interessante porque Marte e Terra são planetas aparentados. Hoje um planeta gelado, nosso vizinho já foi quente e – acreditam os cientistas – adequado ao surgimento de vida. Marte e Terra estão localizados dentro da zona habitável do Sistema Solar, o que significa que ambos recebem radiação solar suficiente para sustentar formas de vida. Mas algo no passado remoto de Marte fez dele um deserto frio. Há algumas hipóteses – a mais bem-aceita diz que a radiação solar, aos poucos, extirpou a atmosfera marciana. O planeta não contava com um campo magnético que o protegesse e ficou vulnerável aos ataques do sol. 
Época.com

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