Vladimir Putin está visitando o Monte Athos, na Grécia, para comemorar o milésimo aniversário da presença da Igreja Ortodoxa Russa na península de 335 quilômetros quadrados.
Trata-se de um lugar bastante incomum: é possivelmente a maior área no mundo onde mulheres - e até mesmo animais do sexo feminino - estão proibidas de entrar.
Para tentar visitar o local, é preciso ser homem e entregar uma cópia do passaporte ao Bureau de Peregrinos do Monte Athos. Todos os dias, apenas 100 fiéis ortodoxos e 10 não ortodoxos são admitidos para uma estadia de três noites em um dos 20 mosteiros da península.
O veto é levado bem a sério. Mulheres têm de ficar para trás enquanto seus companheiros de viagem embarcam nas balsas disponíveis em um dos dois portos próximos - elas precisam manter uma distância mínima de 500 metros da costa, banhada pelo mar Egeu.
Graham Speake, autor do livro Mount Athos: Renewal in Paradise (Monte Athos: Renovação no Paraíso, em tradução literal), explica que a regra estabelecida no século 10 determina que animais fêmeas estão proibidas, mas nada diz sobre mulheres.
"Isso porque todos sabiam que elas não podem entrar em mosteiros masculinos."
O motivo é simples, conta ele: assegurar o celibato. O que torna Athos diferente dos outros lares de monges, acrescenta, é o tamanho: toda a península funciona como se fosse "um grande mosteiro".
Mas há uma outra razão, desta vez ligada às crenças ortodoxas, para manter as mulheres distantes.
"Uma das tradições é que a Virgem Maria desembarcou em Monte Athos após sair da rota rumo ao Chipre. E gostou tanto do lugar que suplicou a seu filho que o desse a ela, e ele concordou", afirma Speake.
"A área ainda é chamada de 'o jardim da mãe de Deus', dedicada à sua glória. E ela sozinha representa seu sexo em Monte Athos."
Isso vale para humanos e animais domésticos - exceto gatos.
"Há muitos gatos, o que é provavelmente uma coisa muito boa, já que são bons caçadores de ratos. Os monges fecham os olhos, por assim dizer, para o fato de que há gatas também."
A regra traz complicações. Uma delas é que produtos derivados de leite e ovos precisam ser trazidos de fora.
"Eles comem muitos laticínios. Há um pouco de queijo... eles gostam bastante de queijo em saladas", diz Speake. "Os monges têm ovos na Páscoa - ovos de galinha que pintam de vermelho. Precisam importá-los, já que não há galinhas."
Como são quase impossíveis de controlar, os animais selvagens ficaram de fora do veto.
Mais flexíveis - mas só com os homens
Por outro lado, as normas para o time masculino foram ficando mais flexíveis no decorrer dos anos.
"A regra de hoje e sempre é que os homens precisam ser capazes de deixar crescer uma barba se estão indo a Athos. E havia uma proibição de eunucos e garotos durante o período Bizantino", conta Speake.
O temor era de que uma mulher pudesse fingir ser um menino ou um eunuco e, assim, entrar clandestinamente.
"Hoje os meninos podem, mas só se acompanhados por um adulto - em geral o pai. Eu já vi uns de até 10 anos de idade. E os monges são muito simpáticos com eles. Gostam da presença de crianças."
Regra burlada
A despeito da proibição, algumas (poucas) mulheres já visitaram a península.
Durante a Guerra Civil Grega (1946-1949), Monte Athos garantiu refúgio a rebanhos de camponeses, e mulheres e garotas fizeram parte de um grupo que invadiu o local em busca desses animais.
Anos depois, em 1953, a visita de três dias da grega Maria Poimenidou - que se vestiu como um homem - levou o país a aprovar uma lei que proíbe a entrada de mulheres em Athos, sob uma pena de até um ano de prisão para quem desrespeitá-la.
Mais recentemente, em maio de 2008, quatro mulheres moldávias foram deixadas ali por traficantes ucranianos de pessoas. Elas rapidamente foram detidas - um policial disse que os monges as perdoaram.
Esta é a segunda visita de Putin ao Mosteiro de São Pantaleão. Na primeira, em 2005, a maioria dos peregrinos era grega. Mas agora, conta Speake, pelo menos metade dos 40 mil visitantes são russos.
Segundo ele, o megamosteiro tem espaço para 500 hóspedes.
BBC Brasil
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