Depois de uma viagem de mais de dez anos e 6 bilhões de quilômetros, a sonda Rosetta, da Agência Espacial Europeia (ESA), deve finalmente chegar ao seu destino, o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, no fim da madrugada desta quarta-feira no Brasil. Em uma manobra delicada, os cientistas da ESA acionarão os motores da sonda para diminuir a velocidade relativa entre os dois para cerca de 1 metro por segundo (3,6 km/h), o equivalente ao ritmo de uma caminhada, enquanto continuam a cruzar o espaço a aproximadamente 55 mil km/h.
A manobra desta quarta-feira marca o início da fase final de uma jornada iniciada em março de 2004, quando a Rosetta partiu de base de Kourou, na Guiana Francesa, a bordo de um foguete Ariane 5. No caminho para o encontro com o cometa, a sonda passou por três vezes pela
própria Terra e uma vez por Marte, usando a gravidade dos planetas para ganhar velocidade e ajustar sua trajetória com a do Churyumov-Gerasimenko, cuja órbita de 6,5 anos pelo Sistema Solar o leva de pouco além de Júpiter a entre Marte e a Terra.
Se tudo der certo na operação desta quarta, os cientistas da ESA continuarão com as manobras a sonda entre em uma órbita em torno do núcleo do Churyumov-Gerasimenko, a uma distância de cerca de 25 quilômetros. Nela, a sonda passará a estudar o cometa com uma série de 11 instrumentos, além de buscar locais de pouso para um segundo equipamento, batizado Philae, que deverá liberar em direção da superfície do cometa em novembro de 2014. Com outros dez instrumentos agrupados em um pequeno caixote com massa de cerca de 100 quilos, Philae
lançará uma espécie de arpão para se ancorar na superfície do cometa e assim evitar que escape de sua fraca gravidade.
Juntas, Rosetta e Philae fornecerão aos cientistas a chave para decifrar os mistérios da formação do Sistema Solar, há mais de 4,6 bilhões de anos, e talvez até da origem da vida na Terra. Isso porque cometas como o Churyumov-Gerasimenko são verdadeiros fósseis deste processo. Aglomerados de gelo, poeira, gases e rochas, eles preservam informações sobre a composição e características da imensa nuvem de material que deu origem ao Sol e aos planetas e também pode ter sido a fonte de boa parte de água e moléculas orgânicas que aqui se acumularam bilhões de anos atrás, criando as condições para o surgimento dos primeiros organismos vivos.
Prevista para durar até dezembro de 2015, a missão Rosetta-Philae tem um custo total estimado em 1 bilhão de euros (cerca de R$ 3 bilhões). Os nomes das duas sondas são referências diretas a como ficou conhecida a famosa pedra que permitiu aos historiadores decifrar os hieroglifos do Egito Antigo e à ilha do Rio Nilo onde ela foi encontrada, em 1799.
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