Marcel Jaspar estava no mar em pleno verão norueguês. A época do ano, no mês de julho, fora escolhida por causa das temperaturas mais amenas – nesse período, quando o Sol brilha 24 horas por dia, os termômetros marcam algo acima do 0ºC. Jaspar é um biólogo irlandês calvo, que usa óculos de lentes grossas e dá aulas na Universidade de Aberdeen. É o tipo que, seguindo o estereótipo, se adequa melhor ao interior de um laboratório do que a um navio de pesquisas, enfrentando o frio na fronteira entre a Noruega e a Rússia. “Quando saio em expedições assim, me sinto em uma grande aventura”, diz ele. O barco que levava os pesquisadores, ele garante, era grande e estável. Equipado com maquinário moderno e com uma espécie de escavadeira. Jaspar levara sua equipe até o norte da Europa para coletar lama do leito submarino. Com ela, espera criar remédios que, num futuro próximo, poderão evitar que você morra vítima de um corte no dedo.
Jaspar é o pesquisador líder do Pharmasea, um projeto financiado por instituições de 13 países da União Europeia e que visita pontos remotos da Terra em busca de bactérias desconhecidas. Esses seres-vivos, acostumados a temperaturas muito baixas – como a dos fiordes noruegueses – ou adaptados a pressões muito elevadas -– como as profundezas da Fossa das Marianas, no Oceano Atlântico – tiveram de evoluir para resistir às condições extremas em que vivem. Os pesquisadores esperam que, por causa disso, tenham também desenvolvido compostos que os ajudem a sobreviver. E que, com sorte, nos ajudem a criar novos antibióticos. A busca tem um componente de urgência: cresce, a cada ano, o número de bactérias resistentes aos antibióticos disponíveis. Por causa disso, cientistas como Jaspar saem à procura de micróbios desconhecidos e de novas maneiras de cultivá-los para usá-los em nosso benefício.
A maioria dos antibióticos nas farmácias é feita a partir de duas fontes – substâncias liberadas por bactérias ou produzidas por fungos. Na natureza, esses seres-vivos fazem uso desses compostos para ganhar vantagens competitivas. Uma bactéria libera substâncias mortíferas para suas rivais, de modo a não ter de competir por alimento ou espaço. Por anos, os humanos se beneficiaram dessa competição natural. Isolamos esses venenos para fazer remédios que nos protegeram de infecções hoje consideradas triviais mas que, no passado, levavam a morte. Até que a penicilina começasse a ser usada, em 1941, havia pouca coisa que os médicos pudessem fazer por pacientes com pneumonia, gonorreia ou que tivessem contraído uma infecção através de um corte ou arranhão. Só lhes restava esperar e torcer para que o sistema imunológico do doente reagisse sozinho. O temor dos especialistas é de que voltemos a enfrentar tempos como esses.
Época.com
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