Na investida mais forte já tomada pelos EUA para combater as mudanças climáticas, o presidente Barack Obama apresentará hoje o Plano de Energia Limpa, uma série de medidas concebidas para reduzir drasticamente as emissões de usinas termelétricas, substituindo o uso de combustíveis fósseis por fontes renováveis, como a eólica e a solar.
O plano será uma visão final e mais ambiciosa dos regulamentos esboçados em 2012 e 2014 pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) do país. O novo regulamento pode culminar no fechamento de usinas de energia movidas a carvão, que ainda movimentam uma fatia significativa da economia americana.
Obama elegeu o combate às mudanças climáticas como uma prioridade em seu segundo mandato à frente da Casa Branca. Em um vídeo postado na madrugada de domingo na conta da Casa Branca no Facebook, ele avaliou que o clima afeta a “economia, a segurança e a saúde”.
“Todos os desastres estão se tornando mais frequentes, caros e perigosos. As mudanças climáticas não são um problema para outra geração. Não mais”, ressaltou, enquanto o vídeo exibia uma foto de sua família.
O presidente destacou que, até agora, o governo americano nunca impôs limites para a quantidade de carbono emitida pelas usinas termelétricas.
O plano exige que as usinas termelétricas reduzam em 32% suas emissões até 2030, em relação aos níveis medidos em 2005. No rascunho do plano, este índice era de 30%.
Outra novidade é a imposição de que as usinas acelerem a transição para energias renováveis, aumentando de 22% para 28% o uso das fontes que não emitem carbono na atmosfera.
Os climatologistas alertam que a atual emissão de gases-estufa está levando o planeta à escalada da temperatura média global para mais de 2 graus Celsius, deixando-o vulnerável à ocorrência de eventos extremos, como a elevação do nível do mar, tempestades devastadoras e estiagens.
FORÇA DIPLOMÁTICA
Os novos mandamentos de Obama não serão suficientes para tirar o planeta do caos climático. Os cientistas, no entanto, avaliam que é possível evitar uma catástrofe. Para isso, regras semelhantes às propostas pelo presidente americano devem ser adotadas por governantes de outros grandes países poluidores, como a Índia e a China. E o sucessor de Obama deve ser ainda mais intolerante com os gases-estufa, aprimorando o projeto divulgado hoje.
Obama pretende usar seu novo plano para pressionar outros países a assumirem metas ambiciosas para reduzir suas emissões de carbono. De acordo com o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, todas as nações devem apresentar compromissos voluntários sobre seus cortes de emissões nos próximos meses. Os documentos, então, serão discutidos em dezembro na Conferência do Clima de Paris, um encontro de chefes de Estado de todo o mundo que discutirão um acordo global contra as mudanças do clima.
Os primeiros passos do presidente americano foram traçados ainda no ano passado, em Pequim. Obama anunciou que os EUA cortariam a emissão de gases-estufa em 28% até 2025, em relação aos níveis de 2005. Já o mandatário chinês, Xi Jinping, afirmou que o país atingiria o pico da liberação de carbono até, no máximo, 2030. Somados, os países são responsáveis por 45% das emissões de poluentes no planeta.
— (O Plano de Energia Limpa) é um sinal do esforço interno do governo e de seu esforço internacional contra as mudanças climáticas — avaliou Durwood Zaelke, presidente do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável. — É um passo diplomático relevante dos EUA nos últimos meses antes da Conferência de Paris. Isso pode servir como alavanca para as outras grandes economias: China, Índia, Brasil, África do Sul, Indonésia.
Opositores do projeto o classificam como um instrumento que aumentará o desemprego, o preço do consumo de energia e a pressão sobre a credibilidade das usinas de energia. Governadores republicanos classificam o plano como uma intromissão do governo federal em assuntos econômicos que não estão em sua esfera.
A Casa Branca rebate as acusações. Segundo o governo, o novo plano levará a uma economia familiar anual de US$ 85 no consumo de energia e trará benefícios à saúde, como a redução dos poluentes que causam asma — cuja incidência mais do que duplicou nos últimos 30 anos — e doenças pulmonares. Obama assegura que considerou os argumentos de seus adversários políticos e, por isso, aumentou em dois anos, até 2022, o prazo para o corte almejado das emissões.
EMISSÕES ZERADAS ATÉ 2100
Em um encontro na Alemanha em junho, os líderes do G7 concordaram que as emissões de gases de efeito estufa devem ser zeradas até o fim do século. Para isso, a liberação de poluentes deveria ser reduzida de 40% a 70% até 2050, em relação aos níveis de 2010.
Os chefes de Estado das sete nações mais ricas do mundo também garantiram que doarão US$ 100 bilhões por ano, até 2020, para ajudar as nações mais pobres do planeta a desenvolver tecnologia para mitigação e adaptação contra as mudanças climáticas — a prioridade seria os países africanos e insulares, que receberiam US$ 400 milhões para criar sistemas de alerta precoce que prevenissem sua população de eventos extremos. A iniciativa, porém, não é nova. O Fundo Verde, como atende o programa, foi criado em 2009, mas jamais saiu do papel.
O Brasil também já anunciou sua primeira ação. Analisou a restauração de 12 milhões de hectares degradados até 2030.
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