Ao encontrar as “coisas maravilhosas” que eram o formidável enxoval do jovem faraó e que deslumbraram o mundo, Carter e seu mecenas Lord Carnarvon teriam na verdade visto apenas parte da riqueza. Um dos maiores tesouros do Egito não estaria em um lugar ignoto sob as areias do deserto, e sim ao alcance das mãos: literalmente, a centímetros de um dos lugares mais visitados do país do Nilo.
São afirmações que parecem pura loucura, mas que na boca de Reeves, que as justifica num artigo imperdível e fartamente documentado, convidam a sonhar com a que seria uma das maiores descobertas arqueológicas de todos os tempos.
A argumentação especialista –contida num longo artigo publicado em 23 de julho com o título The burial of Nefertiti?– está cheia de afirmações arriscadas e que às vezes parecem desconectadas da realidade, mas é brilhante e erudita. Sua audácia é estimulante, um esplêndido revulsivo num campo que costuma avançar na ponta dos pés. E é impossível não desejar que tenha razão.
Kent Weeks, outra das grandes referências no estudo do Vale dos Reis, responsável pela nova cartografia das necrópoles tebanas e famoso escavador da tumba coletiva dos filhos de Ramsés II (KV5), mostrou-se interessadíssimo na teoria de Reeves. Disse que seus argumentos são “fascinantes”. Reeves é um notório especialista na época de Amarna, autor de uma sensacional biografia de Akhenaton e de um esplêndido e imprescindível livro de divulgação sobre Tutancâmon (The Complete Tutankhamun, publicado em espanhol como Todo Tutankamón). Escavou durante um tempo o Vale dos Reis até se desentender com o então todo-poderoso Zahi Hawass, responsável pelas antiguidades, que o expulsou acusando-o de irregularidades.
A base de toda sua surpreendente releitura da tumba de Tutancâmon está no trabalho realizado pela Factum Arte para criar uma réplica do sepulcro, uma cópia impressionante que pode ser visitada na entrada do Vale dos Reis ao lado da velha casa de Carter. Para construir a réplica, a empresa, que tem sede em Madri, escaneou e fotografou a câmara sepulcral da tumba com uma alta resolução digital e uma precisão impressionante. Ao ver essa nova documentação, disponível online, Reeves descobriu fissuras e gretas artificiais nos muros, que segundo ele sugerem a existência de duas portas dissimuladas que até agora tinham passado despercebidas.
Uma, a oeste da câmara funerária, levaria a um pequeno armazém inexplorado similar ao conhecido Anexo e contemporâneo do enterro de Tutancâmon. Já a outra, ao norte, de maneira muito mais excitante, conduziria a uma continuação pré-Tutancâmon da tumba até outro sepultamento inviolado, o do proprietário original do sepulcro que logo foi readaptado para o jovem faraó: a rainha Nefertirti.
Reeves acredita que a KV 62 foi construída para uma rainha –o que justifica mencionando sua estrutura em L, que leva para a direita–, e não para um enterramento privado relativamente modesto, que foi reaproveitado às pressas para Tutancâmon quando este morreu inesperadamente. Além do muro norte, que fecha a câmara sepulcral e que criou uma separação artificial naquele que era considerado o único corredor com a antecâmara, haveria uma tumba real. Esta teria sido disposta para Nefertiti, cujo paradeiro é desconhecido, ressalta Reeves, e cujo enxoval funerário foi utilizado, em parte, para seu enteado Tutancâmon –que ocupou a parte exterior do sepulcro.
Como provas de sua teoria, o egiptólogo fornece eruditas comparações arquitetônicas com outras tumbas da 18a dinastia.
A porta que dá para o setor oculto da KV 62 e que leva aos restos mortais da bela Nefertiti estaria na parede do outro lado de onde se encontra o sarcófago de Tutancâmon, atrás das pinturas que representam a cerimônia funerária do faraó. A nova análise iconográfica dessas pinturas é um dos elementos fundamentais (e não menos discutíveis) da hipótese de Reeves: em sua releitura, o faraó morto representado não seria Tutancâmon –motivo de consenso até agora– e sim de Nefertiti em sua função régia; e o oficiante na tradicional cerimônia de Abertura da boca não seria o sucessor de Tutancâmon, mas o próprio Tutancâmon, que teria sucedido Nefertiti. De alguma maneira, a pintura estaria dando a chave do segredo da tumba desde que esta foi descoberta.
Mas como é que um experiente arqueólogo como Carter não reparou na suposta verdadeira estrutura da tumba, que ele descobriu e estudou durante dez anos? Reeves responde a essa questão óbvia dizendo que o arqueólogo carecia dos recursos tecnológicos para ver além das pinturas e descobrir as portas secretas. Mas é estranho que uma velha raposa como Carter pudesse deixar escapar algo assim. “Pensou que os muros da câmara funerária eram sólidos e terminou sua investigação sem saber que uma descoberta mais significativa podia estar a polegadas de seu alcance”, conclui Reeves.
Como se vê, até agora nada é conclusivo. O egiptólogo britânico não descarta que também possa haver na tumba várias princesas e outros membros da família real. Está disposto a pesquisar o mais breve possível e afirma que, diferentemente do que fez Howard Carter, os estudos hoje podem ser realizados com técnicas não invasivas. “Uma investigação geofísica da tumba é atualmente a maior prioridade da egiptologia”, diz Reeves. Quem sabe, talvez Carter e Carnarvon deixaram também lá dentro a maior parte da maldição.
Mas como é que um experiente arqueólogo como Carter não reparou na suposta verdadeira estrutura da tumba, que ele descobriu e estudou durante dez anos? Reeves responde a essa questão óbvia dizendo que o arqueólogo carecia dos recursos tecnológicos para ver além das pinturas e descobrir as portas secretas. Mas é estranho que uma velha raposa como Carter pudesse deixar escapar algo assim. “Pensou que os muros da câmara funerária eram sólidos e terminou sua investigação sem saber que uma descoberta mais significativa podia estar a polegadas de seu alcance”, conclui Reeves.
Como se vê, até agora nada é conclusivo. O egiptólogo britânico não descarta que também possa haver na tumba várias princesas e outros membros da família real. Está disposto a pesquisar o mais breve possível e afirma que, diferentemente do que fez Howard Carter, os estudos hoje podem ser realizados com técnicas não invasivas. “Uma investigação geofísica da tumba é atualmente a maior prioridade da egiptologia”, diz Reeves. Quem sabe, talvez Carter e Carnarvon deixaram também lá dentro a maior parte da maldição.
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