terça-feira, 4 de agosto de 2015

Geleiras derretem em velocidade recorde no século XXI


Imagem da borda Leste da grande geleira de Quelccaya, nos Andes peruanos, a maior formação do tipo em uma região tropical do planeta: derretimento continuará
Foto: Universidade de Ohio/Henry Brecher

As majestosas geleiras que cobrem cadeias de montanhas como os Alpes e os Andes ou se projetam como “línguas de gelo” em áreas litorâneas de regiões como o Alasca, a Escandinávia ou a Patagônia perderam massa a um ritmo nunca antes registrado neste início de século XXI e correm o risco de praticamente desaparecerem nas próximas décadas caso nada seja feito para conter o aquecimento global. O alerta é de um estudo publicado ontem no periódico científico “Journal of Glaciology”, que compilou mais de 40 mil dados, observações e imagens sobre centenas dessas formações ao redor do mundo, algumas datando dos anos 1500, para reconstruir seu histórico de variação a longo prazo e o quanto se retraíram desde a extensão máxima vista durante a chamada “Pequena Idade do Gelo”, período em que a Terra experimentou temperaturas abaixo da média entre o fim do século XVII e início do século XVIII.
Segundo o levantamento, as geleiras espalhadas pelo planeta ficaram em média 0,7 metro mais finas anualmente entre 2001 e 2010, o pior resultado para uma década dentro do período que os dados disponíveis permitiram este tipo de cálculo, a partir de meados do século XIX. É um ritmo ainda mais forte que o observado nos anos 1990, de 0,5 metro anual e, respectivamente, quatro, três e duas vezes maior do que as médias estimadas da perda de massa para os períodos 1851-1900, 1901-50 e 1951-2000.
— As geleiras observadas estão perdendo atualmente entre meio metro e um metro de espessura a cada ano, e isto é duas a três vezes mais que a média correspondente para o século XX — diz Michael Zemp, diretor do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras (WGMS, na sigla em inglês) e líder do estudo. — Medições exatas desta perda de massa de gelo são relatadas de apenas algumas poucas centenas de geleiras, mas estes resultados são confirmados qualitativamente por observações em campo e por satélites de dezenas de milhares de geleiras ao redor do mundo.
500 bilhões de toneladas de água ao ano
Além da perda de massa recorde das geleiras neste início do século XXI — cujo derretimento teria despejado quase 500 bilhões de toneladas de água nos oceanos anualmente, contribuindo com uma elevação de 1,37 milímetro, também anual, no nível médio do mar (aqui, vale ressaltar que o levantamento não abrangeu as plataformas e calotas de gelo que cobrem a Antártica, o Ártico e a Groenlândia, cujo derretimento é apontado como o principal fator para o aumento global no nível médio dos oceanos) —, o estudo identificou ainda que a retração de longo prazo das chamadas “línguas de gelo” é um fenômeno global.
Assim, embora tenham sido registrados avanços em algumas regiões em escalas de décadas, eles ficaram restritos a uma pequena subamostra das geleiras e estas “línguas de gelo” não chegaram nem perto das extensões máximas que atingiram durante a “Pequena Idade do Gelo”.
 
Um exemplo disso são umas poucas geleiras na costa da Noruega, que, apesar de terem avançado algumas centenas de metros durante os anos 1990, ainda estão quilômetros mais curtas do que eram nas suas máximas durante o século XIX.
Por fim, o estudo também indica que a intensa perda de gelo nas últimas duas décadas resultou num desequilíbrio tal em geleiras espalhadas ao redor do mundo que elas dificilmente vão se recuperar mesmo que a tendência de aquecimento global seja interrompida.
— Estas geleiras vão continuar a perder gelo ainda que o clima fique estável — conclui Michael Zemp.
O Globo.com
 
 
 

 

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