Qual é o tamanho da “pegada” da humanidade no planeta? Depende da medida.
Desde meados dos anos 90, ambientalistas, políticos, pesquisadores e outras pessoas usam um conceito chamado de “pegada ecológica” para quantificar a saúde relativa do planeta sob a influência da atividade humana. De acordo com essa medida, nossa pegada superou o planeta em que caminhamos: atualmente, seres humanos usam 1,5 Terra para sustentar seu bem-estar.
O conceito deu origem a um falso feriado, chamado de “dia do exagero”, que marca o ponto em que humanos gastam os recursos naturais que deveriam durar o ano todo. Neste ano, o feriado foi em 20 de agosto.
Uma nova análise, porém, sugere que o tamanho da pegada de nossas sete bilhões de pessoas foi medida de maneira errada. “A pegada ecológica original é uma boa metáfora e uma boa maneira de nos fazer pensar a respeito do sobreuso do planeta, mas o que nós realmente queremos de uma pegada é que ela seja uma ferramenta de administração”, observa Peter Kareiva, coautor do estudo, publicado em 5 de novembro na PloS Biology.
Kareiva é cientista-chefe do The Nature Conservacy, um grupo ambiental que usa o conceito de pegada ecológica de vez em quando. Mas agora ele está pedindo uma medida melhor. “Eu gostaria que as pessoas não ficassem satisfeitas com a pegada ecológica atual, e que tentassem encontrar técnicas que realmente medissem a água, o solo, e todas as maneiras que usamos para degradar nossos ecossistemas para que essas técnicas se tornassem medidas que podem ser usadas administrativamente”, declara Kareiva.
Em seu nível mais fundamental, a pegada ecológica incorpora seis medidas – cobertura urbana, dióxido de carbono, poluição, campos agrícolas, pescarias, florestas e pastagens – para revelar “a área agregada de ecossistemas de terra e água exigidos por populações específicas de seres humanos para produzir os bens e serviços de ecossistemas que eles consumem e para assimilar seus resíduos de carbono”. Ou pelo menos essa é a definição de William Rees, pesquisador de planejamento urbano da University of British Columbia, e Mathis Wackernagel, diretor da Global Footprint Network, que se uniram para desenvolver a medida.
A essência do caso contra a pegada é que, pelo menos em nível global, toda a medida se resume à assimilação de CO2. Isso acontece porque, por definição, terras cultiváveis, pastagens e outras métricas de terras e oceanos que usamos não podem exceder o tamanho do planeta, como até Rees e Wackernagel reconhecem. “Ao contrário de nações e regiões, a Terra não pode ‘importar’ a biocapacidade de terras cultiváveis e, portanto, não pode apresentar um déficit”, escreveram Rees e Wackernagel em resposta à crítica.
Assim, do ponto de vista global, a acumulação de CO2 na atmosfera é a única razão de a pegada ecológica da humanidade ser maior que a própria Terra. O que o tamanho da pegada significa em termos físicos é que o mundo não tem florestas suficientes para absorver todo o excesso de CO2 da queima que a humanidade faz de combustíveis fósseis, além de outras atividades. “Isso nos diz que florestas não estão absorvendo todas as emissões industriais, mas todo mundo já sabia disso antes”, aponta Linus Blomqvist, diretor do Programa de Conservação e Desenvolvimento do Instituto Breakthrough, um think-tank neo-ambiental. A pegada ecológica, de acordo com ele, é uma “tentativa fracassada de medir a capacidade de suporte”.
A humanidade poderia reduzir o tamanho de sua pegada ao aumentar dramaticamente a absorção de carbono das árvores do mundo – substituindo, por exemplo, florestas por plantações de árvores que crescem rápido, como eucaliptos. Mas isso dificilmente seria bom para o planeta, aponta Kareiva, porque florestas naturais trazem outros benefícios, como abrigar uma diversidade de animais, fungos, insetos, micróbios e plantas. E a pegada também não revela nada específico a respeito do possível sobreuso de terras cultiváveis ou pastagens, desmatamento global ou mesmo o impacto da expansão urbana.
A alternativa preferida de Kareiva é o que ele chama de “Projeto Genoma Terrestre” – uma compilação de dados que se resume ao nível local de uso de água, degradação do solo e, sim, gases estufa e outras formas de poluição do ar.
Um sistema assim revelaria se o lençol freático local estaria diminuindo ou se a pastagem estaria intensa demais em uma região específica – exatamente o tipo de julgamentos que a pegada global não serve para fazer. “Você poderia usar uma terra árida em excesso e convertê-la permanentemente em deserto – esse é um limite local”, explica Kareiva. “Precisamos procurar limites porque eles nos dizem o risco do próximo nível de degradação”.
A pegada ecológica, porém, pode revelar conexões importantes em níveis nacionais e internacionais, apontam Rees e Wackernagel. Então, por exemplo, mesmo que canadenses tenham uma pegada pequena, o excedente das terras cultiváveis, florestas e pescarias do Canadá é essencialmente exportado para países como os Estados Unidos e a China, que têm pegadas muito grandes. “A maioria dos países está em déficit ecológico, cada vez mais dependentes de trocas potencialmente incertas de biocapacidade”, escreveram Rees e Wackernagel. “O que poderia ser ganho ao se ignorar a avaliação das pegadas?”
Desde meados dos anos 90, ambientalistas, políticos, pesquisadores e outras pessoas usam um conceito chamado de “pegada ecológica” para quantificar a saúde relativa do planeta sob a influência da atividade humana. De acordo com essa medida, nossa pegada superou o planeta em que caminhamos: atualmente, seres humanos usam 1,5 Terra para sustentar seu bem-estar.
O conceito deu origem a um falso feriado, chamado de “dia do exagero”, que marca o ponto em que humanos gastam os recursos naturais que deveriam durar o ano todo. Neste ano, o feriado foi em 20 de agosto.
Uma nova análise, porém, sugere que o tamanho da pegada de nossas sete bilhões de pessoas foi medida de maneira errada. “A pegada ecológica original é uma boa metáfora e uma boa maneira de nos fazer pensar a respeito do sobreuso do planeta, mas o que nós realmente queremos de uma pegada é que ela seja uma ferramenta de administração”, observa Peter Kareiva, coautor do estudo, publicado em 5 de novembro na PloS Biology.
Kareiva é cientista-chefe do The Nature Conservacy, um grupo ambiental que usa o conceito de pegada ecológica de vez em quando. Mas agora ele está pedindo uma medida melhor. “Eu gostaria que as pessoas não ficassem satisfeitas com a pegada ecológica atual, e que tentassem encontrar técnicas que realmente medissem a água, o solo, e todas as maneiras que usamos para degradar nossos ecossistemas para que essas técnicas se tornassem medidas que podem ser usadas administrativamente”, declara Kareiva.
Em seu nível mais fundamental, a pegada ecológica incorpora seis medidas – cobertura urbana, dióxido de carbono, poluição, campos agrícolas, pescarias, florestas e pastagens – para revelar “a área agregada de ecossistemas de terra e água exigidos por populações específicas de seres humanos para produzir os bens e serviços de ecossistemas que eles consumem e para assimilar seus resíduos de carbono”. Ou pelo menos essa é a definição de William Rees, pesquisador de planejamento urbano da University of British Columbia, e Mathis Wackernagel, diretor da Global Footprint Network, que se uniram para desenvolver a medida.
A essência do caso contra a pegada é que, pelo menos em nível global, toda a medida se resume à assimilação de CO2. Isso acontece porque, por definição, terras cultiváveis, pastagens e outras métricas de terras e oceanos que usamos não podem exceder o tamanho do planeta, como até Rees e Wackernagel reconhecem. “Ao contrário de nações e regiões, a Terra não pode ‘importar’ a biocapacidade de terras cultiváveis e, portanto, não pode apresentar um déficit”, escreveram Rees e Wackernagel em resposta à crítica.
Assim, do ponto de vista global, a acumulação de CO2 na atmosfera é a única razão de a pegada ecológica da humanidade ser maior que a própria Terra. O que o tamanho da pegada significa em termos físicos é que o mundo não tem florestas suficientes para absorver todo o excesso de CO2 da queima que a humanidade faz de combustíveis fósseis, além de outras atividades. “Isso nos diz que florestas não estão absorvendo todas as emissões industriais, mas todo mundo já sabia disso antes”, aponta Linus Blomqvist, diretor do Programa de Conservação e Desenvolvimento do Instituto Breakthrough, um think-tank neo-ambiental. A pegada ecológica, de acordo com ele, é uma “tentativa fracassada de medir a capacidade de suporte”.
A humanidade poderia reduzir o tamanho de sua pegada ao aumentar dramaticamente a absorção de carbono das árvores do mundo – substituindo, por exemplo, florestas por plantações de árvores que crescem rápido, como eucaliptos. Mas isso dificilmente seria bom para o planeta, aponta Kareiva, porque florestas naturais trazem outros benefícios, como abrigar uma diversidade de animais, fungos, insetos, micróbios e plantas. E a pegada também não revela nada específico a respeito do possível sobreuso de terras cultiváveis ou pastagens, desmatamento global ou mesmo o impacto da expansão urbana.
A alternativa preferida de Kareiva é o que ele chama de “Projeto Genoma Terrestre” – uma compilação de dados que se resume ao nível local de uso de água, degradação do solo e, sim, gases estufa e outras formas de poluição do ar.
Um sistema assim revelaria se o lençol freático local estaria diminuindo ou se a pastagem estaria intensa demais em uma região específica – exatamente o tipo de julgamentos que a pegada global não serve para fazer. “Você poderia usar uma terra árida em excesso e convertê-la permanentemente em deserto – esse é um limite local”, explica Kareiva. “Precisamos procurar limites porque eles nos dizem o risco do próximo nível de degradação”.
A pegada ecológica, porém, pode revelar conexões importantes em níveis nacionais e internacionais, apontam Rees e Wackernagel. Então, por exemplo, mesmo que canadenses tenham uma pegada pequena, o excedente das terras cultiváveis, florestas e pescarias do Canadá é essencialmente exportado para países como os Estados Unidos e a China, que têm pegadas muito grandes. “A maioria dos países está em déficit ecológico, cada vez mais dependentes de trocas potencialmente incertas de biocapacidade”, escreveram Rees e Wackernagel. “O que poderia ser ganho ao se ignorar a avaliação das pegadas?”
Scientific American
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