De um lado, um povo que sofreu anos de perseguições e conseguiu formar um Estado com poderio militar gigantesco. Do outro, um povo que teve domínio da região por séculos, mas se viu expulso de casa e abandonado por seus vizinhos. O conflito entre israelenses e palestinos é centenário e de difícil resolução. Os palestinos (mais especificamente o grupo Hamas) são acusados de praticar atos terroristas contra Israel. Ao mesmo tempo, os ataques militares dos judeus atingem civis palestinos, causando mortes de crianças e idosos. Os conflitos de 2014 começaram com mortes de jovens dos dois lados: um novo estopim para uma guerra que parece não ter fim. Conheça 10 marcos históricos do conflito entre palestinos e israelenses.
1.Terra Santa
Antes de tudo, é preciso relembrar a aula de geografia. A Palestina é uma região localizada no cruzamento de três continentes, considerada sagrada por cristãos, judeus e muçulmanos. Jerusalém fica nessa região e tem grande importância espiritual: no Monte Sião está a igreja onde acredita-se que Maria, a mãe de Jesus, morreu. Também é lá que fica o edifício onde pode ter ocorrido a última ceia e onde está a tumba do Rei Davi. Dentro da Mesquita de Omar fica o Domo da Rocha, local onde Maomé ascendeu aos céus. Ainda, o Muro das Lamentações é parte do antigo Templo de Salomão.
Com tantos marcos sagrados, a região da Palestina foi habitada por diversos povos ao longo da história: nos tempos bíblicos, eram os judeus quem viviam ali, mas acabaram sendo expulsos com as ocupações dos impérios Árabe e Romano. Durante a Idade Média, a maioria da população era árabe – os europeus cristãos tentaram mudar isso com as Cruzadas, mas os anos de conflito não tiveram muito resultado. Por fim, a partir do século XV, o domínio passou a ser do Império Otomano.
2. Movimento Sionista
No final do século XIX surgiu um movimento que tinha como proposta a criação de um Estado para o povo judeu, que sofreu muitas perseguições e estava espalhado mundo afora. O nome desse projeto foi Movimento Sionista.
Os sionistas começaram a incentivar a migração dos judeus de volta para a Terra Santa, de onde eles foram expulsos pelos Romanos no século III. Em 1903, 25 mil imigrantes judeus migraram para a área, que na época ainda pertencia ao Império Otomano. Com as guerras mundiais, o movimento sionista cresceu. Em 1948, antes da criação do Estado de Israel, a quantidade de judeus imigrantes chegava a 600 mil pessoas.
3. As Guerra Mundiais
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano se desfez e a Inglaterra assumiu o controle da região da Palestina. A relação entre os ingleses e os povos árabes que habitavam a região não era das mais pacíficas e, enquanto isso, os judeus continuavam sua migração. Com a perseguição dos nazistas e a Segunda Guerra Mundial, o fluxo de judeus para a região aumentou drasticamente.
Após a Segunda Guerra, as notícias sobre os horrores do Holocausto acabaram fazendo com que a opinião pública pressionasse a Inglaterra para abrir mão da colonização da área. Para tentar resolver o impasse entre árabes e judeus, a ONU propôs, em 1947, a divisão do território palestino, criando dois estados e deixando Jerusalém como um “enclave internacional”. Os árabes das nações ao redor não concordaram com a proposta – eles desejavam criar o “Estado Unido da Palestina” em todo o território – dessa forma, os judeus seriam minoria.
4. O Estado de Israel
Em 14 de maio de 1948, os judeus declararam independência e conseguiram criar o Estado de Israel, nas áreas que haviam sido sugeridas pela ONU, que correspondiam a 60% da Palestina. Em seguida, Egito, Síria, Líbano, Jordânia e Iraque atacaram Israel, mas acabaram sendo derrotados, o que formalizou o controle israelita não só sobre as áreas originais, mas também sobre mais da metade da área que pertencia ao estado árabe.
Cerca de dois terços dos árabes que moravam na região fugiram ou foram expulsos do território sob controle judaico. O problema é que essas pessoas não foram admitidas nos países árabes vizinhos, criando um grupo enorme de refugiados: os árabes palestinos, que reivindicam o retorno às suas antigas casas.
Em 1967, as tensões na região escalonaram para um conflito armado de Israel contra Egito, Jordânia e Síria. Israel conseguiu se adiantar ao conflito e neutralizou as forças armadas dos outros países. Como o nome diz, a guerra durou exatos seis dias. Mas as consequências duram até hoje.
Além de os Estados Árabes perderem boa parte do seu poderio militar, as fronteiras de Israel expandiram e passaram a incluir as Colinas de Golã, a Cisjordânia (Margem Ocidental) e a Península de Sinai. Além disso, Jerusalém, a cidade sagrada, passou ao controle do Estado Judeu. Ao mesmo tempo, o número de refugiados palestinos aumentou ainda mais.
A ONU aprovou, em 1967, a Resolução 424, determinando a retirada de Israel dos territórios ocupados e exigindo uma solução para o problema dos refugiados. Porém, Israel se recusou a cumprir, exigindo que primeiro os Estados Árabes deveriam reconhecer o Estado de Israel.
O conflito de 1967 só acirrou os ânimos. No final da década de 60, foi criada a Organização de Libertação da Palestina (OLP), uma luta armada terrorista, que passou a fazer uma série de ataques contra israelenses ao redor do mundo. Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, 11 atletas israelitas foram sequestrados e assassinados. Uma operação chamada Cólera de Deus foi criada para encontrar e executar os responsáveis pelos assassinatos.
Em 1973 ocorreu a Guerra do Yom Kippur, o Dia do Perdão, com Egito e Síria se lançando de surpresa contra Israel. Mesmo enfrentando mais dificuldades, Israel saiu vencedor do conflito novamente. Em 1978, Israel e Egito assinaram um acordo de paz, com o primeiro se retirando da Península de Sinai e o segundo reconhecendo oficialmente o estado israelense.
No mesmo ano, Israel invadiu o Líbano a fim de acabar com as bases da OLP. Após o sucesso militar, acabaram recuando. Em 1982, eles invadiram o país novamente, contra o líder do Fatah, Yasser Arafat. Somente em 1985 eles se retiraram do território libanês, exceto por uma faixa de terra, designada Zona de Segurança Israelense. A retirada completa só ocorreu nos anos 2000.
As Intifadas foram revoltas populares dos palestinos contra o domínio israelense, que eles consideram abusivo. Em 1987, ocorreu a Primeira Intifada, um levante de civis palestinos, que atacaram soldados israelenses com paus e pedras. A resposta desproporcionalmente violenta dos militares israelenses chocou a opinião pública internacional. A revolta civil só terminou em 1993, com a assinatura dos Acordos de Oslo, que definiram, entre outras coisas, a retirada das forças armadas israelenses da faixa de Gaza e da Cisjordânia. Essas regiões passariam a ser governadas pela Autoridade Palestina. Em contrapartida, a Palestina pararia com os ataques terroristas. Nenhuma das duas partes cumpriu o acordo.
A Segunda Intifada foi no ano 2000. Essa revolta popular só terminou em 2005, com milhares de mortos, a maioria civis palestinos, além de destruição de casas e prisões de centenas de pessoas, inclusive crianças.
8. Hamas x Fatah
Em 2005, Israel retirou suas tropas e os assentamentos judeus da Faixa de Gaza e do norte da Cisjordânia. Mas os judeus continuaram controlando fronteiras e recursos naturais da região. Em 2007, ocorreram eleições parlamentares da Autoridade Palestina e o grupo Hamas saiu vitorioso, o que não foi reconhecido pelo grupo opositor Fatah, e nem por Israel, que os considera terroristas. Com isso, ocorreu uma racha na administração: o Hamas passou a controlar a Faixa de Gaza e o Fatah é responsável pela Cisjordânia.
Praticamente não existe diálogo entre Hamas e Israel. O governo israelense impôs um bloqueio a Gaza, restringindo a circulação de pessoas e mercadorias, e estabeleceu um racionamento de recursos naturais. Com isso, a situação se tornou insustentável para a população palestina civil que vive por lá. Além de enfrentarem uma séria escassez de recursos, os palestinos passaram a viver numa espécie de prisão a céu aberto. Eles também estão sujeitos aos tribunais militares israelenses, que prendem cerca de 2 crianças palestinas por dia.
9. O Estado Palestino
Em 2012, a Assembleia Geral das Nações Unidas reconheceu a Palestina, ou seja, os territórios ocupados por esse povo, como um Estado não-membro da ONU, um status político semelhante ao Vaticano. Assim, o Estado Palestino pode participar das reuniões da ONU, mas sem direito a voto. A decisão teve apoio de 139 países. Foram apenas nove votos contrários, entre eles, de Israel e Estados Unidos.
Com o reconhecimento internacional do Estado Palestino, Israel anunciou retaliações, iniciando a construção de residências para colonos israelenses em áreas da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental. A política de colonizações de Israel é considerada um dos grandes entraves para a conquista da paz na região.
10. A Paz distante
Em 2010, 2012 e 2014, mais conflitos sérios aconteceram entre os dois lados, causando mortes de civis e dificultando cada vez mais as negociações de paz. O principal ponto de tensão continua sendo Gaza, onde ocorrem os conflitos entre Hamas e Israel. Além disso, algumas questões sempre geram impasse e adiam uma possibilidade de cessar-fogo na região.
A questão de Jerusalém: A cidade é sagrada para os dois lados. Israel reivindica o controle de toda área para si, o que não é reconhecido pela comunidade internacional. Já os palestinos clamam pela parte Oriental de Jerusalém, território ocupado em 1967, onde eles gostariam de estabelecer sua capital. Para complicar mais a questão, Israel ainda estimula o assentamento de comunidades judias na área (e também na Cisjordânia, o que só piora a situação).
Os refugiados palestinos: Nos conflitos do século XX, cerca de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas. Esses refugiados e seus descendentes hoje chegam a cerca de 7 milhões de pessoas. Os refugiados reivindicam o direito de voltar para casa. Do outro lado, Israel pontua que não tem como abrigar 7 milhões de palestinos. Até porque isso tornaria os judeus minoria dentro de seu próprio estado.
A segurança nacional: Israel teme que a criação de um estado independente palestino possa iniciar uma nova série de guerras na região, parecida com a que aconteceu nos anos 1970. Além disso, eles temem que o Hamas ganhe poder sobre a Cisjordânia e passe a atacar Israel, assim como eles fizeram em Gaza. Depois de tantos anos de conflitos, os palestinos dificilmente concordariam em prometer uma desmilitarização permanente.
Por: Luíza Antunes
Superinteressante.com
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