Oito anos depois de ser destronado da condição de planeta, Plutão, o mundo mais distante do Sol ˗˗ ainda que sua órbita acentuadamente elíptica faça com que periodicamente ele invada o interior da órbita de Netuno ˗˗ pode retomar seu antigo status.
Ao menos é o que pretende o Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (CfA), entidade que nasceu em 1973 de uma parceria entre a Smithsonian Institution e a Harvard University com sede em Cambridge, no estado de Massachusetts, no nordeste dos Estados Unidos.
Quem anunciou a disposição de trazer Plutão de volta ao colar planetário, em lugar de relegá-lo à condição de planeta-anão, o que significa colocá-lo no grupo de objetos transnetunianos, foi a responsável pelas relações públicas do CfA, Christine Pulliam.
Desde a mudança, ocorrida em 2006, durante uma reunião da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês) em Praga, na Eslováquia, essa iniciativa não foi completamente digerida pela comunidade astronômica. Em especial pela comunidade astronômica americana.
As razões por trás dessa resistência são basicamente duas, ainda que não se restrinjam a esse número.
Uma delas está relacionada a certo prestígio nacional. Foi um astrônomo amador americano, Clyde Tombaugh (1906-1997), quem identificou num processo manual, a posição de Plutão, em 1930, ao final de uma longa peregrinação pelo céu.
A segunda resistência vem da equipe americana ligada à missão New Horizons que chega a Plutão em 2015 e é a primeira a visitar esse mundo gelado e distante, até agora apenas investigado com a ajuda de telescópios de superfície ou orbitais.
Mas há outros argumentos, entre eles o apresentado pelo astrônomo planetário e historiador da ciência, Owen Gingerich, que presidiu o comitê de definições de planetas da IAU.
Conceito cultural
Gingerich argumenta que “planeta é uma palavra culturalmente definida que muda com o tempo”, para defender a condição planetária de Plutão que precisa de 248 anos para completar uma volta em torno do Sol.
Isso significa que um ano de Plutão equivale a 248 anos terrestres.
Com Caronte, sua lua principal e pelo menos mais quatro satélites naturais descobertos mais recentemente ˗˗ Nix e Hidra, identificadas pelo Telescópio Espacial Hubble, em maio de 2005 e Cérbero e Estige, identificados em 2011 e 2012 ˗˗ gira em torno de seu eixo com inclinação de 120 graus, contra os aproximadamente 23,5 graus da Terra.
“Como a IAU considerou Plutão na condição de planeta durante tanto tempo e então decidiu rebaixá-lo à categoria de planeta-anão em 2006?” questiona Gingerich, para quem o que ocorreu foi uma manobra caracterizada por “abuso de linguagem” na tentativa de definir o que é um planeta.
Gareth Williams, diretor associado do Minor Planet Center, discorda de Gingerich e apóia o destronamento de Plutão com base em argumentos de que planetas são “corpos esféricos que orbitam o Sol e limparam seu caminho”.
Já Dimitar Sasselov, astrônomo de origem búlgara e diretor da Harvard Origins of Life Initiative, argumenta que “um planeta é a menor massa de matéria esférica que se forma ao redor de estrelas ou restos estelares” definição que, no entender dele, devolve o status retirado há oito anos de Plutão.
A forma esférica de corpos celestes resulta de sua massa, que produz um campo gravitacional capaz de fazer com que cada ponto em sua superfície esteja à mesma distância do centro.
Ainda que a rotação desses corpos deforme ligeiramente essa esfera e possa fazer dela um oblóide, como ocorre com a Terra, ou seja, uma esfera ligeiramente achatada no equador, devido às forças centrífugas de um corpo em rotação.
A história do Lowell Observatory
Devolver a Plutão sua condição de planeta talvez conforte os mais saudosistas sem, com isso, comprometer a terminologia científica. Até porque a limpeza orbital a que muitos deles se referem não ocorreu de forma completa em relação à Terra, por exemplo.
Além disso, Plutão foi identificado a partir do Lowell Observatory, em Flagstaff, no Arizona, criado por Percival Lowell (1855-1916), um dos entusiastas da vida inteligente em Marte.
Lowell foi um determinado defensor da ideia deturpada de uma consideração feita originalmente pelo astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli (1835-1910) sobre canais artificiais na superfície marciana.
No Lowell Observatory esteve, na condição de diretor, outro astrônomo injustiçado pela história da ciência: Vesto Merlin Slipher (1875-1969) o verdadeiro autor da ideia da expansão do Universo, comumente atribuída a Edwin Powell Hubble (1989-1953).
Na verdade, Hubble se deu conta dessa possibilidade numa palestra feita por Slipher em que esteve presente e, em fins dos anos 20, fotografou o que foi chamado de “fuga das galáxias”, na companhia de Milton Humason (1891-1972).
Humason foi um antigo tropeiro que transportou cargas para a construção do Observatório de Mount Palomar, convertido por talento e prática em um “fotógrafo das estrelas”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário