Em um mundo de faladores compulsivos como o nosso. Compulsivos e auto-referentes - pessoas que falam sobre si mesmas. Seu mundo torna-se, muito restrito. É muito chato. Por mais fascinantes que possamos ser, não é o suficiente para preencher o assunto por uma vida inteira.
Num ótimo artigo, intitulado Escutatória, o escritor Rubem Alves diz: "Sempre vejo anunciado cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir".
Quando não escutamos o mundo do outro não aprendemos nada. Acontece com o chefe que não consegue escutar de verdade o que seu subordinado tem a dizer. A priori ele já sabe - e já sabe mais. Assim como acontece com a mulher que não consegue escutar o companheiro. Ou o amigo que não consegue ouvir você. E vice-versa. Tornamo-nos muito sozinhos no gesto de não escutar. Ficamos surdos não pela surdez causada por deficiência auditiva, mas essa outra que é mais triste por ser escolha.
Por que as pessoas falam tanto? E por que têm dificuldades de escutar? Qual é a ameaça contida no silêncio? O que temem tanto ouvir se calarem a sua voz por um momento? Por que preencher nosso mundo - inclusive o interior, com tantos ruídos? Penso que cada um de nós poderia parar por alguns momentos e fazer a si mesmo estas perguntas.
Escutar é fazer a intersecção dos mundos. Conectar-se ao mundo do outro com toda a generosidade do mundo que é você, é um ato de amor!
Quem sabe a gente não experimenta?
(Trecho extraído do texto de Eliane Brum- Revista Época)
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