A KIC 8462852, localizada na
constelação de Cygnus, poderia ser apenas mais uma entre as centenas de
milhares de estrelas catalogadas pelo observatório espacial Kepler, mas uma
anomalia está intrigando cientistas. Normalmente, planetas e outros corpos
celestes que orbitam os astros provocam sombras regulares e de curta duração,
que são detectadas pelo telescópio. No caso da KIC 8462852, astrônomos
observaram “misteriosos eventos” que podem durar entre 5 e 80 dias. Ainda não
existe explicação para o fenômeno, e alguns levantam a hipótese de se tratar de
uma estrutura alienígena.
A descoberta foi feita por
astrônomos profissionais e amadores do programa “Planet Hunters”, e descrita em
artigo publicado recentemente na revista científica “Monthly Notices of the
Royal Astronomical Society”. O “Planet Hunters” consiste em uma rede de voluntários
que analisa visualmente toneladas de dados gerados pelo Kepler, em busca de
alterações na luminosidade de estrelas, que podem indicar a presença de
exoplanetas. No caso da KIC 8462852, a curva de luz foi classificada pelos
voluntários como “bizarra” e “interessante”.
Intrigados, os pesquisadores
foram em busca de fenômenos semelhantes. Com um algoritmo, analisaram dados
captados pelo Kepler de outras 150 mil estrelas em busca de correspondências.
Nada foi encontrado.
— Nós nunca vimos algo desse tipo
em outras estrelas — disse a líder da pesquisa Tabetha Boyajian, pesquisadora
da Universidade Yale e supervisora do programa “Planet Hunters”, em entrevista
à revista “The Atlantic”. — Foi muito estranho. Nós pensamos que pudesse se
tratar de dados corrompidos ou movimentos na espaçonave, mas tudo foi checado.
HIPÓTESES
DESCARTADAS
A estrela foi observada por
um período de quatro anos. As análises apontam que o fluxo de luminosidade da
KIC 8462852 é relativamente constante pela maior parte do tempo, mas dois
eventos chamaram a atenção dos cientistas. Um deles durou 80 dias e chegou a
cobrir 22% dos fótons captados pelo Kepler.
No artigo, os pesquisadores
sugerem explicações para o fenômeno. A primeira hipótese levantada foi se
tratar de uma estrela jovem, com nuvens de poeira que pudessem interferir o
trânsito da luz. Porém, todos os outros dados indicam se tratar de uma estrela
madura. Outra possível explicação seria a presença de detritos de uma grande
colisão planetária, como a que levou à formação da nossa Lua, mas a falta de
padrão no período orbital descarta essa possibilidade.
Hipóteses de colisões
catastróficas no cinturão de asteróides ou da acumulação de planetesimais
(corpos de gelo que medem entre 0,1 e 100 quilômetros) também foram levantadas,
mas a explicação considerada mais plausível cientificamente seria a passagem simultânea
de uma grande quantidade de exocometas. Tabetha explicou que o artigo revisou
apenas “cenários naturais”, mas “outros cenários” também estão sendo
considerados.
COLETOR
DE ENERGIA ALIENÍGENA
Jason Wright, astrônomo da
Penn State University, está trabalhando em uma interpretação alternativa do
padrão de luz da KIC 8462852. Segundo ele e seus colegas de pesquisa, o padrão
anômalo da estrela seria consistente com um “enxame de megastruturas”, talvez
coletores de luz estelar, tecnologia desenvolvida para extrair energia de
estrelas.
— Quando (Tabetha) me mostrou
os dados, eu fiquei fascinado por quão loucos eles eram — disse Wright. —
Aliens devem ser sempre a última hipótese considerada, mas isso seria algo que
você esperaria que uma civilização alienígena construísse.
No momento, Tabetha está
trabalhando com Wright e Andrew Siemion, diretor do Centro de Pesquisas SETI na
Universidade da Califórnia. O trio está trabalhando numa proposta de estudo, de
apontar imensas antenas de rádio diretamente para a KIC 8462852, para tentar
captar sinais de rádio associadas com atividades tecnológicas. Se tudo correr
como o planejado, as primeiras observações serão realizadas em janeiro próximo.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário