quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Germes terrestres ameaçam Marte

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Na Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço, na sigla em inglês), Catharine A. Conley tem um cargo portentoso: diretora de proteção planetária.
O nome da função faz lembrar Will Smith e Tommy Lee Jones nos filmes “Homens de Preto”. De fato, em seu primeiro dia no emprego, nove anos atrás, Conley ganhou de presente um par de óculos de sol.
O trabalho dela, porém, não é proteger a Terra de alienígenas, e sim proteger os outros planetas da Terra. Especialmente Marte.
“Se vamos procurar vida em Marte, seria realmente uma pena levar vida da Terra e encontrá-la por lá”, disse Conley.
Com a notícia de que cientistas identificaram água fluida na superfície marciana, “em uma parte possivelmente alcançável pela sonda Curiosity da Nasa”, essa preocupação ganhou nova urgência.
Um sem número de bactérias viaja pelo Sistema Solar por meio das espaçonaves. A Terra tem invadido Marte desde novembro de 1971, quando a nave soviética Marte 2 caiu no planeta. Certamente existe vida em Marte hoje —mas micróbios que foram de carona da Terra. Mesmo no ambiente inóspito do planeta vermelho —frio, seco, bombardeado por luz ultravioleta—, leva anos para que todos sejam mortos.
A preocupação é que alguns deles possam não apenas sobreviver, mas prosperar.
As sondas Opportunity e Curiosity da Nasa estão proibidas de visitar o que é chamado de “regiões especiais” —lugares que as bactérias da Terra ficariam felizes em chamar de “lar”.
“Até agora Marte está bastante limpo”, disse Conley.
As áreas tratadas como regiões especiais incluem as manchas escuras periódicas conhecidas como “recurrent slope lineae” (RSLs, ou linhas inclinadas recorrentes), avistadas nas laterais das crateras, cânions e montanhas.
Os cientistas disseram que elas foram geradas pelo escorrimento de água líquida.
Existe até um acordo internacional sobre essa questão.
O Tratado do Espaço Exterior, de 1967, ordena que as nações tenham cuidado ao explorar outros planetas, “para evitar sua contaminação nociva”.
Com os dois veículos de pouso Viking em 1976 —as primeiras e até agora únicas tentativas da Nasa de detectar vida em outro planeta—, a agência tomou precauções para esterilizar a espaçonave, primeiro limpando-a a menos de 300 esporos de bactérias resistentes ao calor por metro quadrado. Depois, ela foi assada durante vários dias, reduzindo o número de esporos por um fator de 10 mil.
Como a maior parte dos dados indicava Marte como um lugar sem vida, a Nasa ainda limpou sua espaçonave Mars nos mesmos padrões, mas pulou a parte do forno. A esterilização aumentaria em cerca de US$ 100 milhões o preço da missão.
Por isso, a Nasa evita agora as regiões especiais, que incluem os lugares com água congelada a um metro da superfície.
Os sais conhecidos como percloratos, que reduzem a temperatura de congelamento da água nos RSLs, mantendo-a líquida, podem ser ingeridos por alguns micróbios terrestres.
“O ambiente em Marte é potencialmente um prato de jantar gigante para organismos da Terra”, disse Conley.
Os primeiros colonos terrestres poderiam ser plantas ínfimas.
“Preocupo-me com os liquens”, disse. “Eles basicamente comem rocha e respiram luz solar. E há rochas e sol em Marte.”
Agora, com a imagem de Marte não tão desolada quanto se pensava antes, disse John M. Grunsfeld, da Nasa, “precisamos cuidar muito do que fazemos, porque pode haver vida em Marte”.
New York Times

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