Por ordem dos acontecimentos.
No começo de agosto, a sonda Rosetta deve, finalmente, se encontrar com o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko após dez anos de manobras e espera em hibernação. Eu já escrevi outras vezes sobre a missão, mas só para relembrar rapidamente, a sonda ficou 10 anos no espaço, executando manobras orbitais para se aproximar do cometa 67/P. Ela passou a maior parte desse tempo em hibernação, mas no início desse ano foi acordada, pois já estava chegando a hora de trabalhar.
No começo deste mês, seus instrumentos já estavam todos operacionais e testados, registrando o aumento da atividade do núcleo, já que ele está se aproximando do Sol. Nos últimos dias, começaram os estudos científicos, propriamente ditos. Entre os meses de junho e agosto, a Rosetta fará as manobras de inserção em uma órbita em torno do núcleo. No dia 6 de agosto, a distância chegará a 100 km e, a partir daí, o mapeamento do cometa é que vai decidir a melhor estratégia para uma última aproximação.
Chegando mais próximo, a Rosetta deve disparar a sonda Filas, que vai pousar suavemente no núcleo. Sua missão deve durar pelo menos uma semana, podendo chegar a 6. Esse é o feito mais aguardado desde que o projeto todo foi concebido há mais de duas décadas. Ancorada por dois arpões, a sonda deve executar medidas diretas do material do núcleo, bem como registrar como ele reage ao aumento da temperatura, conforme a cometa se aproxima do Sol.
Só que vai chegando o momento do pouso e o 67/P começa a mostrar surpresas à la ISON. O aumento da atividade nuclear observada nas últimas semanas parece ter parado. Na verdade, o núcleo do cometa perdeu a coma, o envoltório de gases produzido pela evaporação dos gelos cometários. Não que isso seja surpreendente, mas o mais comum é o contrário.
Por um lado, isso pode ser bom. Se o núcleo estiver muito ativo no momento da aproximação final, a quantidade de pedaços de rocha e gelo ejetados no espaço vai pôr a missão em perigo. Enquanto isso não acontece, vamos aguardar as imagens em alta resolução do núcleo que, sem a coma, devem ser fantásticas em detalhes.
Já mais para o final do ano, teremos outro cometa no noticiário. Trata-se do Siding Spring.
Esse cometa, o primeiro a ser descoberto em 2013, vai dar um “rasante” em Marte. Ele vai passar tão perto de Marte que os engenheiros da NASA tiveram que fazer cálculos e simulações para saber como as sondas em órbita seriam afetadas. Os resultados, anunciados essas semana, mostram que elas devem sobreviver sem maiores danos.
Além desse interesse técnico, o Siding Spring chama a atenção pelo lado científico. É a primeira vez que esse cometa passa pelo Sistema Solar. Além de estar cheio de gelos, ele traz material ainda “intocado” do Sistema Solar exterior. Ou seja, material que ainda não foi exposto à radiação solar. Este é, literalmente, uma amostra intocada do material que formou o Sistema Solar.
A rede de satélites em órbita de Marte está sendo reprogramada para observar o Siding Spring de um ponto de vista privilegiado. As câmeras de alta resolução, projetadas para observar a superfície marciana em detalhes, devem dar show com o cometa, já que ele deve passar a meros 123 mil km no dia 19 de outubro. Isso é quase um terço da distância entre a Terra e a Lua.
As pesquisas já até começaram. Esta semana, imagens obtidas pelo satélite Swift da NASA, que além de observar as explosões de raios gama, tem um telescópio para observar no ultravioleta e no óptico, mostraram como está seu núcleo. Apesar de não poder detectar as moléculas de água diretamente, o Swift pode observar os subprodutos da sua destruição pela radiação solar.
Os resultados apontam que o núcleo do cometa tem 700 metros de tamanho, o que o coloca na parte de baixo da categoria média para cometas. Mais ainda, de acordo com a taxa de produção dos subprodutos da destruição das moléculas de água, o Siding Spring deve estar produzindo algo como 49 litros de água por segundo. Isso não é lá grande coisa, mas daria para encher uma piscina olímpica em 14 horas.
No dia da máxima aproximação, quatro satélites estarão operacionais em Marte e todos eles devem não só estudar o cometa, mas também a interação dos gases dele com a atmosfera do planeta.
G1
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