Quando sua semente germinou no solo de onde hoje fica a cidade de Santa Rita do Passa Quatro, interior de São Paulo, o mundo estava a um milênio do início da era cristã; as civilizações grega e romana, pilares da cultura ocidental, ainda não haviam se consolidado, e levaria 2500 anos até que as naus portuguesas aportassem no Brasil. Da tal semente brotou por volta do ano 1000 antes de Cristo o jequitibá-rosa que hoje é carinhosamente chamado de Patriarca, devido à sua imponência e por ser a árvore brasileira mais antiga de que se tem registro.
As proporções do vegetal ancião impressionam: depois de três mil anos de vida, ele atingiu uma altura de 40 metros, o equivalente a um prédio de 13 andares. Com um diâmetro de 3,6 metros e circunferência medindo 11,3 metros, são necessários cerca de dez homens para conseguir abraçar o tronco inteiro. De acordo com um site de turismo do município paulista, as raízes da árvore chegam a uma profundidade de 18 metros e seu peso bruto foi calculado em 264 toneladas, o equivalente a 53 elefantes com peso médio de cinco toneladas. Especialistas estimaram que, sozinho, o Patriarca tenha sequestrado mais de 132 toneladas de CO2 ao longo de sua existência. Segundo a prefeitura local, o jequitibá-rosa reúne aproximadamente 190 metros cúbicos de madeira, montante que possibilitaria construir em torno de 15000 cadeiras.
Para assegurar que este último dado permaneça sendo apenas uma curiosidade e que ninguém danifique este valioso patrimônio natural brasileiro, o governo de São Paulo mantém no local uma reserva chamada Parque Estadual de Vassununga, que abriga uma das maiores quantidades de jequitibás-rosa do mundo. A área protegida foi criada em 1970 e atualmente é gerida pela Fundação Florestal, vinculada à secretaria estadual do meio ambiente.
A majestosa árvore só está de pé até hoje graças à consciência dos antigos donos do terreno, relata o órgão. “A presença dos jequitibás no parque deve-se às ações de preservação ambiental que ocorreram no passado, decorrentes da postura conservacionista dos proprietários particulares”, informou a instituição. Mas será que depois de viver por tanto tempo, o Patriarca pode ser considerado um vegetal “velho” biologicamente falando? Ele apresenta diferenças metabólicas se comparado com um espécime mais jovem de jequitibá-rosa?
De acordo com os especialistas da Fundação Florestal, sim. Parece que nossa árvore anciã, assim como outros ents da vida real, adquirem uma existência mais pacata conforme envelhecem. “As diferenças entre uma planta jovem e outros adultos mais velhos estão ligadas às fases de crescimento, produção de flores e frutos”, explicam os especialistas do órgão. “Um indivíduo jovem normalmente apresenta um crescimento mais rápido que indivíduos adultos mais velhos”, afirmam.
Para conseguir chegar à impressionante idade de três milênios, o Patriarca teve de resistir à implacável e sempre presente ameaça humana, seja com os antigos machados ou com as atuais motosserras. Mas também precisou superar alguns fatores biológicos: a ação de pragas como insetos ou outros agentes como vírus e bactérias podem decretar a morte de uma planta por causas naturais, sem contar o risco de possíveis raios ou incêndios.
A seleção natural, porém, influencia de forma decisiva no período de vida de uma árvore – e é por isso que não vemos tantos “ents” espalhados por aí. “Algumas espécies têm um período de vida curto, no entanto estabelecem como estratégia produzir muitos descendentes; já outras demoram vários anos até chegar à fase reprodutiva, e normalmente produzem apenas um filhote, no entanto dedicam a este descendente um esforço de cuidado maternal que pode durar por vários anos”, explicam os biólogos da fundação.
Galileu.com
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