O que a crise hídrica em São Paulo e a seca na Califórnia, que enfrenta a pior estiagem em 1,2 mil anos, têm em comum? O resfriamento da porção norte do Oceano Pacífico. A cada 50 ou 60 anos, a queda da temperatura do Pacífico - que afeta o padrão climático em praticamente todo o mundo, com consequências diferentes em cada região, - tem tornado a distribuição de chuva no Brasil irregular.
Chamado de Oscilação Decadal do Pacífico (PDO, na sigla em inglês), o fenômeno caracteriza-se pela alternância entre fases quentes e frias na área tropical e subtropical do Oceano Pacífico, principalmente no hemisfério norte. Cada ciclo dura de 25 a 30 anos e afeta cada parte do planeta de forma distinta.
Atualmente, o oceano está no auge da fase fria. Na última fase fria, entre o fim dos anos 50 e início dos anos 60, o Brasil enfrentou quatro anos seguidos de verões secos. Caso o padrão se repita, as chuvas só voltarão ao normal em 2016.
“No ano passado, a PDO originou um bloqueio no Oceano Pacífico que reforçou a Alta Subtropical do Atlântico Sul, tornando o verão seco. Neste ano, as condições no Pacífico estão neutras, mas ainda com um pouco de resfriamento. Ainda são necessários estudos, mas é bem provável que o Oceano Pacífico esteja mais uma vez influenciando o verão brasileiro em 2015”, diz a meteorologista da Climatempo Bianca Lobo.
Desde 2012, quando começou o auge da fase fria do Pacífico, o Brasil enfrenta verões com chuvas abaixo da média. No Centro-Oeste, a PDO leva a verões com chuvas mal distribuídas. No entanto, o que deixa de chover em um mês é compensado nos meses seguintes. No Sudeste, principalmente em Minas Gerais, o fenômeno origina verões secos. Atualmente, Tocantins, Piauí e Maranhão também atravessam um período de seca, mas a estiagem deve-se ao resfriamento do Oceano Atlântico na costa do Nordeste, sem relação direta com a PDO.
As fases frias da Oscilação Decadal do Pacífico estão associadas a manifestações fracas do El Niño, aquecimento do Oceano Pacífico na porção equatorial (próxima à linha do Equador). Para este ano, estava previsto um El Niño que levaria a chuvas um pouco acima do normal nas Regiões Sul e Sudeste no início de 2015. No entanto, a temperatura do oceano na região equatorial ainda está em condições neutras. Até agora, o El Niño não se formou.
“O aquecimento provocado pelo El Niño, que começaria em julho do ano passado, só ocorreu na primavera. Mesmo assim em intensidade baixa demais para que seja decretado o El Niño. Por enquanto, o Pacífico está em condições de neutralidade”, explica o diretor-geral da Metsul Meteorologia Eugenio Hackbart.
Jornal do Brasil
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