segunda-feira, 16 de março de 2015

Documento-base para negociações sobre o clima é adotado em Genebra

 Uma foto sem data definida, divulgada em janeiro de 2015 mostra a maior geleira da Antártida Oriental, que pela primeira vez se encontrou com águas quentes e começou a se derreter
 
Os países-membros das Nações Unidas sobre o clima adotaram na sexta-feira (13), em Genebra, um documento-base de negociação visando a um acordo multilateral contra o aquecimento global, que será discutido em dezembro na conferência de Paris.

"Podemos considerar que o texto de negociação apresentado hoje em Genebra é o texto sobre o qual iniciaremos as negociações fundamentais?", indagou em sessão plenária o copresidente dos debates, Daniel Reifsnyder.

"Como não houve objeções, assim fica decidido", declarou por fim.

"O texto de negociação (...) reflete as propostas realizadas por todas as partes", explicou Reifsnyder.

"A tarefa desta sessão foi cumprida", disse à imprensa a responsável pelo clima da ONU, Cristiana Figueres.

"Temos hoje um texto (...) que será a base das negociações dos próximos meses até que cheguemos a Paris", onde os 195 países membros da convenção devem adotar o acordo final sobre o clima.
Este documento será transmitido aos Estados, e não poderá ser modificado até antes da próxima sessão de negociação, fixada para junho, em Bonn, seis meses antes da conferência de Paris.

De agora até junho, as negociações informais para tentar conciliar posições muitas vezes distantes ou contrárias vão ser difíceis.

O objetivo é conhecido e foi fixado em 2009: é necessário limitar o aumento da temperatura mundial a +2º C com base na era pré-industrial.

Caso contrário, se prevê um desequilíbrio climático que terá graves consequências para os ecossistemas, as sociedade e as economias, particularmente nas regiões mais pobres.

No ritmo atual, o mundo se aproxima de uma elevação de 4 a 5 graus Celsius no final do século, se não forem tomadas medidas drásticas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, provocadas em grande parte pelo uso maciço de energias fósseis.
'Espírito de Genebra'
A menos de 300 dias da conferência de Paris, o caminho até um acordo parece longo, a julgar pelo conteúdo do texto da negociação: o documento passou de 37 para 86 páginas, divididas em capítulos cheios de longas listas de opções.

"Nós fizemos um acordo sobre um texto de negociação, é positivo porque é uma base para avançar", disse à AFP Elina Bardram, representante da UE. Mas "as negociações difíceis são as que estão por vir, e nos falta tempo", completou.

É "uma base de trabalho, reconhecida pelo mundo todo", avaliou Laurence Tubiana, enviada do governo francês. "Mas não devemos ser inocentes. Ainda não entramos nas negociações mais difíceis", completou.

De fato, os Estados estão divididos sobre os meios que devem utilizar.

Como dividir a carga das reduções das emissões entre os países do Norte e os do Sul, mais vulneráveis, menos preparados e muito necessitados de energia? Que papel desempenham os grandes países emergentes, como China, Brasil ou Índia?
Paris vai assumir o Protocolo de Kyoto, pedindo pela primeira vez ao conjunto dos países para reduzir os gases de efeito estufa.

Mas os países em desenvolvimento acreditam que não devem ser tratados como os países industrializados. Assim, invocam seu direito ao desenvolvimento e à "responsabilidade histórica" dos países ricos no aquecimento.

Os países ricos alegam, por sua vez, que os grandes países emergentes como China ou Índia são cada vez mais responsáveis das emissões mundiais.

O resultado é que no capítulo "Finanças" do projeto de texto, as opções vão desde os compromissos concretos dos países desenvolvidos a um acordo "sem compromissos individuais e quantificados".

"Todos os desafios seguem sobre a mesa", constata Alix Mazounie, da ONG Réseau Action Climat.
Contudo, Genebra permitirá restabelecer a confiança entre as partes. "É importante que o espírito de Genebra se mantenha até Bonn", completa Mazounie.

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