terça-feira, 17 de março de 2015

Lembrar-se de um episódio leva ao esquecimento de outro, diz estudo

Memória: a ação constante e adequada dos neurônios no cérebro é fundamental para que o funcionamento da memória seja preservado

A recordação intencional e frequente de um episódio faz mais do que simplesmente despertar nossa memória. Na verdade, isso nos leva a apagar outras lembranças concomitantes às que insistimos em lembrar. A revelação é de um estudo publicado na segunda-feira no periódico Nature Neuroscience.
Cientistas das universidades de Birmingham e de Cambridge, na Inglaterra, chegaram a esta conclusão depois de fazer uma série de testes de memória com 24 voluntários. Em todas as etapas, o cérebro dos participantes foi monitorado por ressonância magnética.
No início da pesquisa, os cientistas mostraram aos voluntários imagens de pessoas famosas, objetos comuns e cenas variadas. Em seguida, os participantes foram treinados a associar a palavra "areia" a duas fotografias mostradas anteriormente: uma de Marylin Monroe e outra de um chapéu.
Os cientistas pediram que os voluntários se recordassem, particularmente, da primeira fotografia exibida em associação à palavra "areia" - a de Marylin. Em um experimento realizado quatro vezes, os participantes tinham de apertar um botão quando estivessem se lembrando da imagem da atriz ao olhar para a palavra "areia". Isso se confirmou na maioria das vezes, e os pesquisadores concluíram que essa imagem se tornou a dominante do experimento.
Esquecimento - Os cientistas quiseram, então, entender o que havia acontecido com a memória da imagem do chapéu. Será que ela permaneceu intacta como a de Marylin? Em um novo teste, mostraram aos participantes duas fotos diferentes de Marylin e duas de chapéus e perguntaram qual delas eles haviam sido treinados para reconhecer. Se a memoria do chapéu não tivesse se degradado, as pessoas apontariam o objeto e a Marylin certos na mesma frequência.
Como padrão de comparação, os voluntários também tinham de identificar outras duas exibidas no começo do experimento, mas que não haviam sido treinados para se lembrar: uma de Albert Einstein e outra de um par de óculos. Nos casos de Marylin e de Einstein, os participantes apontaram as imagens corretas. No entanto, eles tiveram mais dificuldade para identificar o chapéu do que os óculos certos. Os resultados mostraram que a memória do chapéu havia de fato enfraquecido.
Cérebro - A análise das imagens obtidas por ressonância magnética confirmou que, ao longo do experimento, a parte do cérebro responsável pela memória da imagem do chapéu foi cada vez menos ativada pela associação com a palavra "areia", até que, na última vez em que eles viram a palavra, somente a memória da foto da Marylin foi ativada. Ou seja, à medida que a memória de Marylin se tornava mais viva e predominante, a do chapéu - concorrente a ela - foi sendo suprimida, até cair no esquecimento.
"As pessoas estão acostumadas a pensar que o esquecimento é algo passivo. Nossa pesquisa revela que as pessoas estão mais engajadas em moldar suas memórias do que pensam", afirma Michael Anderson, da Universidade de Cambridge e coautor do estudo. "Essa descoberta pode nos dizer muito sobre memória seletiva e autoengano."
Veja.com

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