De buracos negros à mudança de época da Terra, 2016 promete ser um ano intenso para a Humanidade.
2016 promete ser intenso para a Humanidade. O Carnaval nem bem acabara no Brasil e a ciência mundial já anunciava sinais do mais remoto passado do Universo. Ainda este ano, a comunidade promete mais emoções, desta vez sobre o nosso presente e para onde ele está nos levando. Do buraco negro ao Antropoceno, nada será como antes.
Ambos os temas geram zum-zum-zum na ciência. Para astrofísicos, fãs de Einstein e curiosos em geral, a confirmação da existência das ondas gravitacionais, detectadas 100 anos após o físico mais pop das galáxias as ter detalhado em sua Teoria Geral da Relatividade, já é a notícia do ano. Graças ao esforço do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferometria Laser, vulgo LIGO, que desde 2002 reúne pesquisadores, entre eles, brasileiros, em busca desta confirmação, desde o dia 11 de Janeiro sabemos que ondas gravitacionais são reais e que, com elas, podemos “escutar” o universo em seus primeiros instantes de existência. Nenhuma onda, salvo esta, seria capaz de prover tais evidências.
O anúncio da detecção das ondas confirma também outras apostas, algumas alvo de controvérsias: a de que buracos negros existem – foi graças a eles que as ondas foram detectadas, a de que dominamos hoje tecnologia capaz de nos aproximar cada vez mais da origem de tudo. E, claro, de que Einstein é, sem dúvida nenhuma, o cara.
Ainda este ano está prometida outra confirmação científica digna dos anais. A data é agosto, quando estarão reunidos em Cape Town, na África do Sul, geólogos de todo o mundo no 35o Congresso Internacional de Geologia, principal evento da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS, da sigla em inglês). Deste encontro pode sair uma definição oficial que irá alterar para sempre os livros escolares e, quem sabe, a forma como entendemos o mundo em que vivemos hoje.
Ainda este ano está prometida outra confirmação científica digna dos anais. A data é agosto, quando estarão reunidos em Cape Town, na África do Sul, geólogos de todo o mundo no 35o Congresso Internacional de Geologia, principal evento da União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS, da sigla em inglês). Deste encontro pode sair uma definição oficial que irá alterar para sempre os livros escolares e, quem sabe, a forma como entendemos o mundo em que vivemos hoje.
Ano novo, era nova
Há cerca de 12 mil anos estamos no Holoceno, período geológico que dá sequência à última Era do Gelo. O nome desta era reflete uma padronização, acordada em escala mundial, pesquisada pela estratigrafia (ciência que estuda as camadas das rochas) e abençoadas pela IUGS. Porém, na paralela, uma nova definição de era vem ganhando adeptos desde que foi cunhada pelo biólogo e ecologista Eugene Stoermer em 1980 e popularizada pelo Prêmio Nobel e químico atmosférico Paul Crutzen: o Antropoceno, ou a “Era do Homem”. Este ano, promete a alta cúpula da estratigrafia, o Antropoceno pode oficialmente substituir o Holoceno como era geológica. Se isto acontecer, anthropos, do grego, “homem”, ficará marcado no rol das grandes forças identificadas pela ciência como modificadoras do planeta.
“Afirmações extraordinárias exigem evidências extraordinárias”, diria outro muso da astrofísica, Carl Sagan. A definição do Antropoceno, defendem alguns, carece de evidência. E evidências são disputadas a tapas na ciência. Do buraco negro à mudança climática, sempre foi assim. Para outros, não faltam provas. Os vestígios da ação humana na Terra, dizem, poderão ser identificados nas camadas mais profundas do solo daqui a milhões de anos, critério essencial para que a estratigrafia mundial reconheça a nova era. Recente estudo publicado na revista Science corrobora a tese ao comprovar a assinatura humana na Terra do ponto de vista climático, biológico e geoquímico. Segundo os pesquisadores que assinam o estudo, em algum momento da metade do século XX o homem já havia deixado marcas profundas no ambiente terrestre apenas comparadas com a influência de asteroides e glaciações.
Entre as provas estão novos tipos de minérios e rochas, marcados pela presença de alumínio, concreto e plástico – inequivocamente humanos. A queima de combustíveis fósseis e sua fuligem, poluição e emissão de carbono também contam como prova, assim como as consequências da erosão do solo, causadas por desmatamento e construção de estradas. Está difícil de esconder até mesmo daqueles que só acreditam no que as camadas mais profundas da terra revelam.
O debate está em sua fase de minúcias. Teria o Antropoceno tido início já na fase em que o Homo Sapiens desenvolve a agricultura e, com ela, inicia o desmatamento, a alteração da biodiversidade? A culpa é de Colombo, que misturou as espécies quando chegou ao Novo Mundo? Ou vamos considerar a Revolução Industrial como a grande vilã e não se fala mais nisso? Detalhes. Quando e onde começou, a História é quem dirá. Muito além desta discussão, o que está prometido para este ano é um passo importante no processo de cura do paciente-homem: A aceitação. Com ela podemos, quem sabe, rever antigos conceitos, repensar práticas. Caminhar para uma nova era.
Ondas gravitacionais e o Antropoceno guardam em comum certa dimensão filosófica do alcance do homem em seu espaço e tempo. A mais longínqua, demorou 100 anos para ser comprovada e aceita. A outra, tão próxima, já passa da hora de entrar para os livros. 2016 é o ano.
Época.com
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