quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Próxima parada no espaço: Júpiter


Ilustração mostra Juno na órbita de Júpiter, um dos destaques do ano
Foto: Nasa/ JPL

Maior planeta do Sistema Solar, Júpiter deverá ter alguns de seus segredos revelados a partir de julho, com a entrada da sonda Juno em uma órbita polar em torno dele. Lançada em 2011, a missão da Nasa é um dos grandes destaques da exploração espacial em 2016, que também verá as partidas em março da primeira nave do programa ExoMars, da Agência Espacial Europeia (ESA), para estudos da atmosfera e do solo de Marte, e da sonda Osiris-Rex, também da Nasa, em setembro, com encontro marcado com o asteroide Bennu em 2018 — e volta à Terra com uma amostra inédita desta rocha espacial, verdadeiro “fóssil” da formação do Sistema Solar, em 2023. Já na astronomia, este ano trará sua cota usual de chuvas de meteoros e eclipses lunares e solares — infelizmente nenhum deles visível do Brasil — e um raro trânsito de Mercúrio pelo Sol, em maio, que poderá ser observado em nosso país.
— Com a Juno, este realmente deverá ser o ano de Júpiter — considera Alexandre Cherman, astrônomo da Fundação Planetário do Rio. — Por mais que tenhamos apego à Terra, Júpiter é o primogênito e principal planeta do Sistema Solar, com uma massa maior que a soma de todos os outros planetas juntos. Tudo que aconteceu na formação do Sistema Solar, há cerca de 4,6 bilhões de anos, aconteceu primeiro lá e, assim, todas informações que conseguirmos sobre ele e sua evolução nos darão uma ideia mais precisa sobre a formação dos demais planetas e sua influência neste processo.
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INSTRUMENTOS SENSÍVEIS E INÉDITOS

Para conseguir estas informações, a Juno conta com um conjunto de sensíveis e inéditos instrumentos para investigação das características de Júpiter, já observado de perto por várias outras missões da Nasa, das sondas Voyager 1 e 2, de passagem, no fim dos anos 1970, à mais recente Galileo, primeira e até agora única a entrar em sua órbita, em meados da década de 1990. Girando continuamente cerca de três vezes por minuto para maior estabilidade e melhor controle, a Juno carrega um magnetômetro que, ao longo dos aproximadamente 20 meses e 37 órbitas da missão, permitirá mapear pela primeira vez seu poderoso campo magnético com alta precisão em três dimensões, fornecendo detalhes sem precedentes sobre o dínamo interno do planeta que o alimenta.
Outro equipamento da Juno cujos dados são aguardados com ansiedade pelos cientistas é a sua câmera-espectrômetro infravermelha. Com ela, os pesquisadores poderão pela primeira vez “penetrar” a grossa camada de nuvens que recobre o gigante gasoso, fazer imagens de suas auroras polares e estudar a composição exata de sua atmosfera, também uma verdadeira “relíquia” da formação do Sistema Solar, além de identificar a possível existência de um núcleo sólido de hidrogênio metálico no planeta e, talvez, resolver o mistério do porquê de Júpiter emitir por volta de duas vezes mais radiação nesta faixa do espectro, na forma de calor, do que recebe do Sol.
— Uma das características mais enigmáticas de Júpiter é essa emissão térmica peculiar, e queremos entender de onde vem esta energia — conta a astrônoma brasileira Duilia de Mello, professora da Universidade Católica da América, nos EUA, e pesquisadora do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa. — Planetas só refletem a radiação que recebem de sua estrela e os outros gigantes gasosos do Sistema Solar, Saturno, Urano e Netuno, não apresentam este tipo de emissão. Assim, alguma coisa tem que estar acontecendo dentro de Júpiter para produzir esta radiação.
Segundo Duilia, são várias as hipóteses atuais sobre o que pode estar por trás deste fenômeno. Muitas vezes descrito como uma estrela “frustrada”, que não atingiu massa suficiente para dar início às reações de fusão nuclear que alimentam astros como nosso Sol, talvez ainda assim Júpiter seja grande o bastante para que algum processo físico diferente em seu interior responda por esta energia “a mais”. Outra opção é que seu eventual núcleo esteja girando tão rápidamente e/ou sua atmosfera seja tão turbulenta que só o atrito responda por este calor excessivo.
— Mas o fenômeno provavelmente tem alguma coisa a ver com algo que aconteceu ainda no processo de formação do Sistema Solar que dura até hoje — aposta a astrônoma. — Além disso, como Júpiter é muito grande, talvez ele ainda não tenha esfriado o suficiente desde que foi formado. O certo é que algo está acontecendo lá dentro do planeta que a gente não consegue ver e que a missão da Juno vai ajudar a revelar.
Cherman, por sua vez, acredita que a melhor compreensão sobre os processos de formação e evolução de Júpiter terá muito a dizer sobre como os outros planetas se formaram e o porquê de o Sistema Solar ter a configuração que tem, com os pequenos planetas rochosos — Mercúrio, Vênus, Terra e Marte — mais próximos do Sol enquanto os gigantes gasosos ficam bem mais afastados, diferente de muitos dos sistemas planetários extrassolares descobertos até agora, em que gigantes gasosos foram identificados bem perto de suas estrelas e, por isso, acabaram apelidados de “jupiteres quentes”.
— Claro que podemos ter aí um vício de origem, já que como os jupiteres quentes são planetas gigantes, talvez os maiores em seus sistemas, e estão bem próximos de suas estrelas, essa configuração faz com que naturalmente eles sejam os primeiros a serem encontrados — ressalva Cherman. — Mas Júpiter certamente teve uma forte influência na formação dos demais planetas do Sistema Solar. De início, ele “maltratou” seus irmãos mais novos, inclusive impedindo a formação de um deles, o que resultou no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter. Mas, depois, Júpiter se tornou seu guardião, atraindo para si os fragmentos e sobras da formação do Sistema Solar que poderiam, por exemplo, ter exterminado a vida na Terra e nos ameaçar até hoje. Além disso, como o Sol é uma estrela anã, talvez ele não tenha tido gravidade suficiente para “puxar” Júpiter mais para perto como vemos em outros sistemas extrassolares, o que, se tivesse acontecido aqui, iria bagunçar bastante a nossa vida.
 
EVENTOS ASTRONÔMICOS
 
Chuvas de meteoros: Este ano, duas das principais chuvas de meteoros com boa visibilidade no Hemisfério Sul, os Lirídeos, em abril, e os Geminídeos, em dezembro, serão prejudicadas pela proximidade da Lua cheia, que obscurece a visão das populares “estrelas cadentes”. Assim, no Brasil, as melhores oportunidades para ver estrelas cadentes serão as chuvas dos Quadrantídeos, com pico previsto já para a noite de hoje e Lua em quarto minguante, e a dos Eta-Aquarídeos, com seu auge estimado para a noite de 6 para 7 de maio, época de Lua nova.

Eclipses do Sol e da Lua: Depois de poderem ver uma série de eclipses lunares em 2015, os brasileiros estarão fora da área de visibilidade dos fenômenos previstos para este ano, do tipo penumbral, que acontecerão no fim de março e em meados de setembro. O país também está fora da região de visibilidade dos dois eclipses solares de 2016. O primeiro, total, acontecerá em 9 de março e poderá ser visto da área central da Indonésia ao Oceano Pacífico, enquanto o segundo, anular, ocorrerá em 1º de setembro, visível da costa Leste da África ao Oceano Índico.

Trânsito de Mercúrio: Planeta mais próximo do Sol, Mercúrio vai cruzar a superfície da estrela do ponto de vista da Terra em 9 de maio. Este tipo de fenômeno, conhecido como “trânsito”, é mais raro que os eclipses, e no caso de Mercúrio ocorre cerca de 13 vezes a cada século. No Rio, como no resto do país, o trânsito de Mercúrio de 2016 poderá ser visto na íntegra, com o planeta descrevendo uma curva pelo Sol ao longo de cerca de sete horas e meia a partir das 8h13. A observação do fenômeno requer uso de equipamentos com filtros especiais, sob risco de cegueira.
O Globo.com

 

 
 




 





 




 

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