quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Nova técnica extrai ouro e cobre de lixo eletrônico

lixo eletrônico (Foto: Thinkstock)
 
Pense bem antes de se desfazer daquele seu computador ou celular velho. Dois estudantes de engenharia química de uma faculdade mineira desenvolveram uma nova forma de recuperar ouro e cobre presentes no lixo eletrônico. A proposta, recentemente premiada, se destaca por ser mais rápida e segura que as opções tradicionais. Filipe de Almeida, 25, conta que a ideia surgiu após ver, em um programa de televisão, que o lixo eletrônico produzido no Brasil não costuma ser reaproveitado – ou é descartado na natureza, o que traz riscos ambientais, ou é vendido por preços baixos para países como a Alemanha, onde já existe uma indústria preparada para esse trabalho.
Segundo a ONU, o mundo produziu 42 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2014 – e pode chegar a 50 milhões de toneladas em 2018. Segundo relatório produzido pela organização, de 60% a 90% desses resíduos são descartados ou comercializados ilegalmente – o preço da tonelada gira em torno de US$ 500, segundo a Interpol. A notícia trouxe um insight para ele e Lúrima Uane Soares Faria, 20, sua colega na Unileste (Centro Universitário do Leste de Minas Gerais). “Pensamos: ‘Se não existem empresas devidamente capacitadas para isso no nosso país, podemos tentar desenvolver um processo industrial para esse tratamento!’”, lembra o estudante.
Ouro, cobre, prata, zinco, estanho e platina são alguns dos metais presentes em grande parte dos equipamentos eletrônicos. Tome-se como exemplo uma placa de circuito impresso (componente de computadores, controles remotos, smartphones etc.). Estima-se que quase um terço de sua composição seja de metais. Destes, o mais comum é o cobre (14%), seguido por ferro (6%), níquel (2%), zinco (2%), estanho (2%), prata (0,3%), ouro (0,04%) e platina (0,02%). O problema é que eles nem sempre aparecem em sua forma pura, mas sim formando uma liga, o que dificulta a extração direta.
Para recuperar esses metais, há, basicamente, dois caminhos. Um é a pirometalurgia, que consiste em incinerar o lixo eletrônico (incluindo peças de plástico etc.) e, depois, separar os metais por ponto de fusão (o zinco, por exemplo, derrete a 419,5ºC, enquanto a prata, a 961,8ºC). Trata-se do método mais barato, porém, o processo de incineração gera muitos gases tóxicos e os metais recuperados dessa forma têm baixo teor de pureza. O segundo caminho é o da hidrometalurgia – termo adotado para designar processos diferentes que têm, em comum, a meta de dissolver o metal por meio de reações químicas, separando-o de outras substâncias. Uma vantagem é o alto teor de pureza obtido. No caso do ouro, porém, o procedimento costuma incluir cianeto de potássio – substância altamente tóxica, que pode levar à morte mesmo em baixas quantidades. “Trabalhamos com ouro sem utilizar cianeto. Com isso, reduzimos a toxicidade em cerca de 90%”, afirma Almeida. A abordagem também é mais rápida, reduzindo o tempo de lixiviação do metal de uma semana para duas horas.
A meta dos estudantes, agora, é descobrir novas formas de extrair do lixo eletrônico metais como prata, chumbo, estanho, platina e níquel. Além disso, querem levar o procedimento do ambiente laboratorial para uma escala maior e, assim, avaliar se o método seria economicamente viável. Para seguir com os planos, contam com bolsas da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e uma verba de R$ 10 mil, proveniente do prêmio Sustentabilidade Radix, que contemplou cinco projetos de centros de ensino e/ou pesquisa no fim do ano passado.
Em relação ao potencial econômico, pode soar restrito quando lembramos que na placa de circuito impresso, citada acima, o ouro corresponde a apenas 0,04% dos metais utilizados. Mas Almeida compara esse tipo de processo ao que é feito normalmente pelas mineradoras, ao extrair metais de rochas. “Se você comparar uma tonelada de lixo eletrônico com uma tonelada de terra, vai encontrar muito mais ouro e minério de cobre no lixo do que na terra”, afirma o estudante. Segundo ele, uma tonelada de lixo eletrônico pode conter, em média, cerca de 700g de ouro e 35kg de cobre.
Além disso, está em jogo a preocupação com o meio ambiente. Quando equipamentos eletrônicos são descartados de maneira inadequada, substâncias perigosas, como metais pesados, podem contaminar o entorno. Tome-se como exemplo o mercúrio, também presente no e-lixo: se ele chegar às águas de um rio, passará para os peixes e, depois, para quem consumir esses peixes. A substância pode gerar problemas neurológicos em humanos e afetar o desenvolvimento cerebral de fetos. Algumas cidades contam com serviços específicos de coleta de lixo eletrônico.
Galileu.com

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