A partir deste sábado (24), Washington integra à sua paisagem um testemunho concreto da contribuição negra para a história e a idiossincrasia dos Estados Unidos.
O Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana abre suas portas em meio a um festival de artes que dura todo o fim de semana, com a presença de artistas como Stevie Wonder, Robert De Niro, Public Enemy e Angélique Kidjo. Ontem, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama , celebrou a abertura do museu, destacando o contexto “oportuno” em que aparece o novo espaço, em meio a novos protestos por conta de novos assassinatos realizados por policiais a homens negros, dessa vez em Tulsa e Charlotte. “O museu dá a oportunidade de que nós, norte-americanos, vejamos nossas atuais circunstâncias em um contexto histórico”, afirmou, em uma recepção na Casa Branca.
Ao “New York Times”, o arquiteto responsável pela empreitada, o londrino nascido na Tanzânia David Adjaye, disse que queria contar as coisas por uma ótica diferente, usando “outra linguagem” e a partir da primeira experiência possível com o museu: sua fachada. Elementos comuns e grandiloquentes de espaços expositivos tradicionais, como mármore ou concreto, por exemplo, ficaram de fora.
Em vez disso, 3.600 placas de metal delicadamente trabalhadas e em tons de cobre –que fazem lembrar as moradias de muitos africanos escravizados no continente americano– evocam a figura de uma coroa iorubá ou de uma pirâmide invertida, todos símbolos apropriados pelo museu para dar conta do que à primeira vista poderia parecer um projeto inabarcável, o de contar a história da aventura negra nos Estados Unidos.
Em seus três andares, o museu reflete, em objetos e narrativas, da chegada dos negros africanos como escravos à segregação e à luta pelos direitos civis. Das lutas contemporâneas às contribuições dos afro-americanos em setores tão distintos como música, cinema ou Forças Armadas.
“A outra linguagem” almejada por Adjaye e seus companheiros se faz ouvir . Uma estátua em tamanho natural de Thomas Jefferson, por exemplo, um dos “pais fundadores” dos Estados Unidos, é acompanhada de uma pilha de nomes (marcados em blocos à semelhança de tijolos) dos escravos que possuiu, identificados em sua maioria apenas pelo primeiro nome.
Tudo foi pensado para que, mesmo nas alas mais “pops” –como as que refletem a efervescência do talento negro norte-americano em exemplares como estátuas das irmãs Serena e Venus Williams, ou o trompete de Louis Armstrong, ou quando o visitante se vê frente a frente com um dos característicos coletes de Jimi Hendrix –, a perspectiva sempre conduza ao evidenciamento das barreiras sociais que precisaram ser superadas por esses diversos protagonistas da história negra e, como enfatiza o museu a todo o momento, norte-americana.
O projeto, parte do Instituto Smithsonian e que levou 13 anos para ser concluído, custou 540 milhões de dólares, metade deles financiados pela iniciativa privada e a outra, por fundos federais.
Cerca de 40 mil objetos foram coletados entre particulares em 15 cidades do país. Nesse primeiro momento, 3.500 estarão em exibição.
Terra.com
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