terça-feira, 22 de junho de 2010

Para entender (e não esquecer) o "apartheid" - Parte II

 A independência durou pouco. Com a descoberta de jazidas de ouro no Transvaal, os britânicos invadiram o país em 1899. As tropas de sua magestade contavam com 500 mil homens, sendo que 10 mil deles eram africanos. Do outro lado, os "africânderes" tinham apenas 87 mil combatentes. Além da inferioridade numérica, eles sofreram com o isolamento e a falta de reforços. Os britânicos confinaram os civis em campos de prisioneiros, impedindo que as milícias recebessem comida, provisões ou qualquer ajuda da população. A falta de condições de saúde, higiene e alimentos nesses campos matou cerca de 25 mil pessoas.
As forças "africânderes" jogaram a toalha em 1902. A derrota militar levou à anexação das antigas repúblicas às terras das colônias britânicas na região e à criação de um novo país, a União da África do Sul, em 1910. No entanto, os "africânderes" permaneceram donos de grande parte das reservas minerais e das terras cultivadas, mantendo intacta sua influência política. Interessados nesse apoio, os britânicos aceitaram incluir na Constituição do novo país vários dos itens racistas dos "africânderes", incluindo o que impunha a segregação territorial de negros, mestiços e indianos, colocados em "reservas" que totalizavam 8% do território.
Na década de 20, a política de opressão ganhou novas leis, que incluíam a proibição de relações sexuais entre indivíduos de raças distintas. O que era ruim piorou ainda mais na década seguinte. Nos anos 30 muitos dos futuros líderes "africânderes" estudavam na Alemanha governada por Adolf Hitler e seu Partido Nacional-Socialista. Foram eles que, em 1938, criaram o Partido Nacional Africânder, com o objetivo de proteger a integridade e a superioridade da raça e da cultura africânder.
Os nacionalistas chegaram ao poder em 1949. Com eles, surgiu uma nova palavra para designar o sistema de separação das raças: "apartheid", "segregação" em africâner. O arquiteto dessa nova política, Hendrik Verwoerd, desenvolveu a ideia de separar o uso de locais públicos, como cinemas, restaurantes, hotéis e ônibus, entre integrantes de raças diferentes. Onze milhões de negros e 2 milhões de mestiços e indianos tinham de transitar pelo país com passaportes. A população branca, por outro lado, desfrutava de trânsito livre, verbas 20 vezes superiores para a educação e salários 15 vezes mais altos que o restante da população. (Cont.)

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