terça-feira, 18 de novembro de 2014

Sonda Philae detecta matéria prima da vida na poeira fina do cometa

Concepção artística do Philae descendo no terreno acidentado do cometa Churyumov-Gerasimenko. Notícias do cometa, boa e má. A má é que aparentemente a perfuratriz do módulo de pouso Philae não conseguiu colher uma amostra do cometa Churyumov-Gerasimento para ser analisada por seu laboratório interno. A boa é que, mesmo assim, a sonda aparentemente encontrou a matéria-prima da vida — moléculas orgânicas — na poeira fina do objeto. Elas foram detectadas por um dos instrumentos da sonda, mas os cientistas ainda precisam analisar os resultados para saber quais são elas.
Por enquanto, o achado não é tratado como evidência concreta de que os cometas ajudaram a semear os compostos essenciais à vida em planetas como a Terra. É apenas uma confirmação de que há compostos orgânicos em cometas, algo que já havia sido observado por outras sondas e por análises telescópicas.
O melhor ainda está por vir, quando esses dados forem analisados e indicarem especificamente que substâncias provavelmente existem em maior quantidade no cometa. Um dos instrumentos responsáveis por isso é o COSAC, instalado no interior do Philae.
Ele tinha dois modos de operação. Num, que os cientistas chamam de “modo farejador” (“sniff mode”), ele apenas analisa os compostos que porventura tenham chegado a ele durante a descida. Noutro, ele deveria analisar uma amostra colhida pela perfuratriz da sonda, a SD2.
A detecção de moléculas orgânicas se deu pelo método passivo. E ele terá de servir. Embora tanto a perfuratriz como o instrumento tenham operado com sucesso, de acordo com a telemetria, o experimento não produziu resultados.
Segundo Fred Gösmann, do Instituto Max Planck, cientista-chefe do COSAC, os dados mostram que a amostra não chegou ao instrumento. “Não há nada lá”, disse ele, segundo o repórter Eric Hand, da revista “Science”.
Os dados do instrumento recebem especial atenção, pois ele não só é capaz de detectar compostos orgânicos como aminoácidos (os tijolos de que são feitas as proteínas), como também pode diferenciar entre versões “canhotas” e “destras” dessas moléculas. Curiosamente, embora elas apareçam nos dois tipos na natureza, a vida (ao menos na Terra) só faz uso das versões canhotas.
Uma detecção desbalanceada das duas versões poderia ser um indicativo indireto de atividade biológica no cometa. Mas, sem a amostra de solo, isso ficou mais difícil.
CHÃO DURO
Enquanto isso, saíram também dados preliminares do instrumento MUPUS — basicamente uma agulha que penetrava no solo para medir sua temperatura e outras propriedades. Ele não conseguiu avançar muito e empacou perto da superfície. Nem mesmo com a máxima potência aplicada, houve perfuração.
Isso leva os cientistas a pensar que, sob uma camada de 10 a 20 cm de poeira, exista gelo muito duro. Curiosamente, dados obtidos da órbita sugerem que o interior profundo do cometa é bem poroso e de baixa densidade. Ao que parece, o cometa tem uma camada de poeira recobrindo uma casca dura.
Os cientistas trabalharão duro analisando todos os dados, enquanto torcem pelo retorno do Philae. Ele entrou no modo de hibernação e recebe muito pouca energia em seus painéis solares. Mas há a esperança de que, com o tempo, suas baterias possam se recarregar e ele volte ao trabalho. Mas isso só em 2015, quando o cometa se aproximar mais do Sol.
FolhaSP.com

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