segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O arquipélago escocês que reescreve a história da Idade da Pedra

Amanda Ruggeri
 
Quando os donos da fazenda Brodgar quiseram retirar de seu terreno uma imensa pedra entalhada e que atrapalhava os planos de semear um campo, em 2003, eles já sabiam de que não se tratava de algo ordinário. Dada a localização das terras, não surpreendeu o fato de o objeto ser muito, muito antigo.
Ainda assim, nem os proprietários da fazenda nem os cientistas estavam preparados para a magnitude da descoberta. Com a palavra, o arqueólogo Nick Card: “Não acredito que alguém pudesse esperar o que encontraríamos. Estamos basicamente reescrevendo a pré-história” .
A fazenda Brogdar, agora mais conhecida pelo nome de Ness of Brodgar, fica no arquipélago de Orkney, a cerca de 50km da Costa Norte da Escócia.
Em uma colina a menos de 2km de distância fica o Círculo de Brodgar, composto por pedras erguidas há cerca de 4500 anos, na mesma época em que o conhecidíssimo Stonehenge, no Sul da Inglaterra. Praticamente na mesma distância, em outra direção de Brodgar Farm, ficam as Pedras de Stenness, erguidas dois séculos antes disso.

Roda

E não para por aí. A região conta ainda com o Assentamento de Barnhouse, os vestígios de uma aldeia fundada há mais de 5 mil anos; Maeshowe é um dos mais espetaculares mausoléus pré-históricos da Europa, e que ficou esquecido entre 3 mil antes de Cristo e o anos de 1153 d.C., quando foi redescoberto pelos vikings. Há ainda pelo menos uma dúzia de outros cemitérios pré-históricos, sem falar em Skara Brae, uma das mais bem preservadas aldeias pré-históricas do continente.
Mas é o Ness of Brodgar que anda atraindo as atenções dos estudiosos: debaixo de seu quintal, os donos da fazenda encontraram um imenso complexo cerimonial do tamanho de quatro campos de futebol, que está mudando nosso conhecimento sobre os povos que caminharam sobre a Terra há mais 5 mil anos.
Para apreciar o Ness, porém, é fundamental visitar o Círculo de Brodgar: as 26 pedras ainda eretas (eram 60 originalmente) podem explicar a razão de o complexo cerimonial ter existido.
 
Alamy
 
O círculo tem 104 metros de largura, ocupando o topo de uma colina, cercado de hortênsias roxas. É fácil esquecer que essa visão serena é o resultado de trabalhos hercúleos e que exigiram muita cooperação e genialidade. Cada uma das pedras, que medem até 4,5m de altura, foi trazida de pedreiras distantes até 15 km do local.
Para se ter uma ideia do tamanho da empreitada, a mais antiga roda já encontrada em solo britânico data de 1100 a.C., pelo menos 600 anos depois da época da criação do Ness. As pedras demarcam uma espécie de fosso que mede 9 metros de largura e foi escavado em 3m de rocha. Tudo isso sem o uso de metal.
Trata-se da terceira maior estrutura do período neolítico existente no Reino Unido. Especialistas calculam que o Círculo de Brodgar tenha exigido 80 mil horas de trabalho para ficar pronto.
Ninguém sabe ao certo porque o círculo foi construído, mas um dos segredos pode estar no caminho que percorre o fosso, como uma espécie de acesso. Por anos a fio ninguém conseguiu entender razão da existência deste caminho. Até que os fazendeiros de Brodgar retiraram do lugar a pedra entalhada. O Ness já teria sido usado por pelo menos mil anos antes da construção do círculo, mas os dois sítios estão relacionados tanto pela geografia quanto o propósito.
Arqueólogos passam dois meses por ano em escavações do Ness. Para visitantes, parece uma imensa obra em construção, como se diversos edifícios estivessem sido construídos com pedras. E com jeito: as paredes de uma das estruturas tinham espessura de 4 metros e os cantos tinham sido erguidos em ângulos retos. Cada pedra parecia interagir perfeitamente com a outra.
A diferença é que o sítio, em vez de construção, passava por um processo de escavação. E a obra sendo revelada ao mundo tinha ocorrido há pelo menos 5,5 mil anos, antes da invenção de argamassa, gesso, machados, metal ou mesmo capacetes de segurança.
Arqueólogos sabem há bastante tempo que os povos neolíticos não viviam em uma espécie de versão da vida real do mundo dos Flintstones. Skara Brae é um exemplo: o vilarejo de 5 mil anos tinha casas com isolamento térmico e móveis embutidos de pedra, além de camas que seriam forradas com peles de animais e plantas. Havia até versões mais rudimentares de banheiros.

Banquete

“Eles não eram tão diferentes de nós assim. Eram às vezes até mais inventivos”, diz Nick Card. “Quando muitas pessoas pensam na Idade da Pedra, elas imaginam um estilo de vida bem simplório. Mas a sociedade neolítica pode ter sido relativamente semelhante à nossa em termos de dinamismo e complexidade”.
O Ness parece aprofundar essa noção. O tamanho e a complexidade da construção são diferentes de tudo o que já foi encontrado na Europa até agora. O edifício principal, apelidado de “Catedral”, tinha uma área de 465 metros quadrados e o Ness estava cercado por um muralha de mais de 360 metros de comprimento. E os edifícios estão distribuídos de forma cuidadosamente metódica.
 
Amanda Ruggeri
 
O tamanho e a complexidade do Ness não são as únicas razões por que estão forçando uma mudança nos conceitos sobre a pré-história. Anteriormente, o primeiro telhado de ardósia encontrado datava do século 13, no País de Gales. O problema é que este tipo de cobertura existia também em Orkney na Idade da Pedra. O Ness também contava com algumas das mais velhas paredes pintadas da Europa, sem falar nas primeiras evidências de cerâmica colorida.
Por sinal, mais de 700 exemplos da arte neolítica, mais do que o que há foi encontrado em todo o Reino Unido, surgiram nas escavações do Ness. E pensar que o Ness sequer era um assentamento permanente: por mais de 1300 anos ele foi usado apenas periodicamente, não raramente para festas: arqueólogos encontraram ossos de pelo menos cabeças de gado, datados de 2300 a.C., o que sugere um senhor banquete quando se pode considerar que uma vaca alimenta 200 pessoas.
 
Amanda Ruggeri
 
Por que as pessoas saiam do Ness é um mistério. Mas o que parece ser a cerimônia final – o tal banquete – sugere que o local tinha uma função ritual, com fiéis vindo de várias partes distantes.
Mas os níveis de organização e cooperação exigidos eram enormes. Imaginem só organizar uma festa para 80 mil pessoas em uma época em que não havia sequer escrita, o que dirá telefone ou internet. Por isso é que o Ness não apenas desafia noções sobre como os povos neolíticos construíam, mas também sua própria dinâmica social. Para alguns especialistas, isso pode ser um sinal de que Orkney não foi apenas um centro da civilização neolítica no Reino Unido, mas sim o grande centro dela.
As 70 ilhas que formam o arquipélago estão distantes o suficiente para ficarem longe das atenções do grande público. Mas, no passado, elas ditaram o ritmo da civilização neolítica no Reino Unido, inclusive com inovações tecnológicas e culturais.
 

Esse dia extra mantém o nosso calendário em funcionamento

Esse dia extra mantém o nosso calendário em funcionamento. Se mantivéssemos todos os anos com 365 dias, os meses iriam gradualmente variar com o sol até que o verão se transformaria em inverno, por exemplo.
Desse modo, planejar o futuro seria extremamente complicado, principalmente, quando o assunto é a manutenção de tradições religiosas – como a Páscoa e o Natal – e as temporadas agrícolas. Por isso, várias culturas estabeleceram um sistema preciso e previsível.
 
29 de fevereiro: o dia é adicionado de acordo com algumas regras matemáticas
 
O resultado disso foi o calendário como conhecemos. Entretanto, para ajustar essa fração desigual, essa regra é ignorada a cada 100 anos e o dia não é adicionado. Mas essa regra dos 100 anos é desconsiderada a cada 400 anos e, com isso, o ano recebe um dia extra.
Um ano que explica muito bem essa confusão de regras é o 2000. Ele não deveria ter sido considerado um ano bissexto, pois caiu na norma dos 100 anos. No entanto, como ele é divisível por quatro e por 400 anos, a regra dos 100 anos foi ignorada e o dia 29 de fevereiro foi incluído.

Problemas na regra

Devido a essa solução de longo prazo em 2000, o comprimento do ano ficou com 365,2425 dias – ainda um pouco distante dos usuais 365,24219 dias. Esse erro deixou uma diferença de quase um dia em um período de um pouco menos de quatro mil anos.
Por isso, há a inclusão de um segundo no final de junho ou dezembro. Esse ajuste é determinado pelo Serviço Internacional de Sistemas de Referência e Rotação da Terra, de acordo com os movimentos do planeta e do Sol. 
 
 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Grafeno, um material milagroso, acelera corrida para eletrônica do futuro

Braços abertos: O argentino Guille Freire, fundador da Trocafone, estima que as vendas de aparelhos usados alcancem 10 milhões  em 2016
Telefones dobráveis, baterias que são carregadas em cinco minutos ou telas sensíveis ao toque inquebráveis : empresas de tecnologia estão correndo para explorar o potencial do grafeno, um material milagroso que os cientistas dizem que vai transformar a eletrônica.
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O grafeno é uma lâmina de carbono, da grossura de um átomo, sendo o menor material conhecido. Mas é cem vezes mais forte que o aço, altamente flexível e melhor condutor de eletricidade e calor do que qualquer outro material.
 
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"Há outros materiais que têm uma destas propriedades. Mas o incrível aqui é que todas estas qualidades estão reunidas num único cristal", explicou no Congresso Mundial de Tecnologia Móvel de Barcelona o físico Kostya Novoselov, primeiro cientista a isolar o grafeno em 2004.
"Com certeza, isso nos deixa com um grande número de possíveis aplicações", diz.

As conclusões sobre o grafeno deste cientista russo-britânico e seu colega Andre Geim na Universidade de Manchester foram agraciadas com o Prêmio Nobel de Física de 2010, que inflamou o interesse neste material.
O número de patentes relacionadas ao grafeno subiu de menos de 50 em 2004 para 9.000 em 2014, de acordo com Andrew Garland, analista da empresa Future Markets, que duas vezes por ano publica um relatório sobre este material.
"A maioria são de eletrônica", afirma.
O grupo sul-coreano Samsung, um dos principais fabricantes de smartphones no mundo, tem a maioria destas patentes, cerca de 490, seguido pelo grupo chinês Ocean's King Lighting e da americana IBM.
Embora seus usos atuais permaneçam modestos, a investigação sobre futuras aplicações aumentou na Europa quando em 2013 a União Europeia concedeu 1 bilhão de euros para investir nesta área ao longo dos próximos dez anos.
"Nós acreditamos que precisamos de mais dez anos para muitos destes dispositivos começarem a estar no mercado", disse Andrea Ferrari, diretora do Centro de Grafeno Universidade britânica de Cambridge.
No congresso realizado em Barcelona, de segunda a quinta-feira desta semana, houve pela primeira vez um pavilhão dedicado exclusivamente a centros de pesquisa de grafeno e empresas emergentes que trabalham com o material.
O grafeno é tão flexível que os cientistas acham que no futuro será possível fazer telefones dobráveis.
A empresa britânica FlexEnable mostriu um protótipo de telefone inteligente elaborado com este material que se envolve na mão do usuário e dispõe de uma tela LCD com todas as cores que permite a emissão de vídeos.
"Este tipo de tecnologia de telas nos leva para uma geração totalmente nova de dispositivos móveis porque poderemos começar a dobrar a eletrônica", disse o diretor técnico da empresa, Mike Banach.
Enquanto isso, a também britânica Zap&Go introduziu o carregador de grafeno para celulares e tablets que recarrega as baterias em apenas cinco minutos.
A marca está elaborando 2.000 unidades para entregar para jornalistas e usuários que fizerem uma compra antecipada, explicou o diretor de marketing, Simon Harris.
"O que temos aqui, em última análise, poderia substituir as baterias de íons de lítio em milhões de dispositivos. Nós apenas precisamos de reduzir o peso e aumentar a potência", acrescenta.
Sua força e finura também fazem os investigadores acreditarem que o grafeno permitirá que algum dia telas inquebráveis para dispositivos móveis poderão ser fabricadas.
"Com apenas uns quilos é possível substituir todas as telas touchscreen do mundo. E com poucas lâminas colocadas sobre a outra será possível suportar um elefante", garante Vittorio Pellegrini, diretor do Instituto de Laboratórios de Tecnologias do Grafeno, na Itália.
"O grafeno é um material que permite que a imaginação voe. Não há limites para o que se pode fazer", garante.
IstoÉ.com

Viajar para Marte pode levar 30 minutos, diz Nasa

A Nasa, agência espacial americana, estuda uma técnica de lançamento de espaçonaves que pode reduzir o tempo de viagem para Marte, que atualmente é de seis a oito meses, para apenas 30 minutos.
Chamada de propulsão de energia direcionada, essa técnica consiste em disparar um laser de alta potência – entre 50 e 100 gigawatts – em uma espaçonave e, com isso, acelerá-la a uma fração significativa da velocidade da luz, cerca de 30%. 
O plano da Nasa é usar essa técnica para explorar exoplanetas que podem abrigar vida e que estejam em um raio de 25 anos-luz. 
 
Marte: pesquisador da Nasa acredita em técnica que permite viagens de 30 minutos ao planeta vermelho
 
Também seria possível visitar a Alpha Centauri, que é a terceira estrela mais brilhante no céu vista a olho nu e está a pouco mais de quatro anos-luz de distância do Sol. Nesse caso, a viagem levaria 15 anos.
Esse tipo de lançamento é estudado por um pesquisador da Nasa, que trabalha na divisão de Conceitos Inovadores Avançados. Philip Lubin, do Grupo de Cosmologia Experimental da Universidade de Santa Bárbara explicou a ideia no ano passado. O assunto foi abordado recentemente no canal da Nasa no YouTube, que poderá ser visto ao final da reportagem.
O pesquisador garante que a tecnologia para fazer isso já existe e não é coisa de ficção científica.
"Poderíamos impulsionar um veículo robótico de 100 kg [com 1 m de altura] para Marte em poucos dias", afirma Lubin, no vídeo.
No entanto, a Nasa ainda não tem projetos em andamento para utilizar esse tipo de propulsão na exploração espacial – apesar de existirem algumas propostas.
 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Astrônomos apresentam 'mais completo mapa' da Via Láctea

Uma equipe internacional de astrônomos apresentaram o mais completo mapa já feito da Via Láctea, a galáxia a que pertencemos. O mapeamento inclui as imensas nuvens de gases densos e frios responsáveis pela formação de estrelas.
 
Na imagem, os dados obtidos pelo Atlasgal estão em vermelho mais escuro, os do Planck em vermelho mais claro e os do Spitzer em azul.
 
Para isso, os cientistas usaram o telescópio Apex, que fica no Chile, a uma altitude de 5.100 m, que conseguiu ampliar em quase quatro vezes os "retratos" existentes da Via Láctea.
O telescópio vasculhou o céu do Hemisfério Sul usando radiação com frequência intermediária entre ondas de rádio e infravermelhas. Acoplado ao instrumento estava um termômetro ligado a quase 300 sensores, mantidos a uma temperatura próxima ao zero absoluto (-273 graus Celsius), que ajuda a detectar variações de temperatura no céu.

O Apex tem 12 metros de comprimento e opera no Planalto de Chajnantor há 10 anos.
O novo mapa foi batizado de Atlasgal e já deu origem a mais de 70 trabalhos científicos. Dados sobre as observações começaram a ser divulgados em 2009, e o novo mapa, além de maior que os anteriores, também é mais preciso.
"O Atlasgal oferece pistas de onde a nova geração de estrelas e aglomerados de gases vão se formar", disse Timea Csengeri, do Instituto Max Planck para Radioastronomia, na Alemanha.
O mapeamento complementa dados da Via Láctea vista do Hemisfério Norte. Mas a vista do sul é de interesse particular para os astrônomos porque inclui o centro da galáxia.
 
Para captar as imagens os cientistas usaram o telescópio Apex, que fica no Chile, a uma altitude de 5.100 m, que conseguiu ampliar em quase quatro vezes os "retratos" existentes da Via Láctea.
 
Para captar as imagens os cientistas usaram o telescópio Apex, que fica no Chile, a uma altitude de 5.100 m, que conseguiu ampliar em quase quatro vezes os "retratos" existentes da Via Láctea.

Cientistas identificam origem de explosão misteriosa de ondas de rádio

A galáxia de origem está no centro desta imagem em negativo e colorida artificialmente, registrada pelo telescópio Subaru.
 
  A galáxia de origem está no centro desta imagem em negativo e colorida artificialmente, registrada pelo telescópio Subaru.   
Foto: BBC Brasil/reprodução

A causa desse grande flash, apenas o 17º detectado na história, ainda é um mistério, mas descobrir a galáxia de origem é um momento-chave no estudo desses fenômenos.

A equipe também conseguiu medir a quantidade de matéria que entrou no caminho dessas ondas - fazendo, desta maneira, uma espécie de "pesagem do Universo".
Os resultados do trabalho foram publicados na revista especializada Nature.
Despertar
Explosões rápidas de rádio (FRBs, na sigla em inglês) duram apenas milissegundos, mas lançam tanta energia no espaço - na forma de ondas de rádio - quanto o nosso Sol emite em dias ou até semanas.
Para rastrear a origem desse sinal específico, uma equipe internacional fez um trabalho ágil de detetive, com múltiplos telescópios que acabaram conseguindo uma imagem da galáxia em luz visível.
O coordenador do estudo, Evan Keane, programou um sistema de alarme para detectar essa enxurrada de atividade espacial, transmitindo dados em tempo real do radiotelescópio de Parkes, na Austrália, a um supercomputador.
"O objetivo era reduzir o intervalo, de meses para nada, entre as ondas atingindo o disco (do telescópio) e até sabermos desse impacto", afirmou.
Deste modo, quando uma dessas explosões misteriosas atingiu o famoso disco de 64 metros do radiotelescópio de Parkes, os alarmes soaram e e-mails rapidamente circularam pelo planeta.
A título de comparação, a primeira explosão rápida de rádio atingiu o mesmo equipamento em 2001, mas só foi reportada em 2007.

O sinal de rádio (no destaque em preto e branco) chega em diferentes momentos e em diferentes comprimentos de onda.
O sinal de rádio (no destaque em preto e branco) chega em diferentes momentos e em diferentes comprimentos de onda.

"Há uma década, não estávamos de fato procurando essas ondas - e a nossa capacidade de manusear esses dados e buscá-los em tempo hábil era muito mais restrita", afirma Keane.
"Já nessa última vez eu fui acordado por vários telefonemas segundos depois de o fato ter ocorrido, com pessoas gritando: 'acorde, houve uma FRB!"
Duas horas depois, os seis discos de 22 metros de outro telescópio da Austrália, o Compact Array, a cerca de 400 km de Parkes, já estavam em busca do pedaço do céu responsável pela explosão.
 Eles identificaram um resquício da explosão, que demorou seis dias para desaparecer. Era muito mais fraca do que a explosão em si, mas permitiu à equipe ampliar a fonte da explosão com precisão mil vezes maior do que antes.
Sabendo exatamente para onde olhar, a equipe passou a fazer buscas em luz ótica, usando o telescópio Subaru no Havaí, gerenciado pelo Observatório Astronômico do Japão.
"Bem no ponto onde o Compact Array disse que poderia haver algo, havia uma galáxia", disse Keane.
Uma análise detalhada dos dados do Subari revelou que a galáxia era elíptica - um agrupamento não-esférico de estrelas longe de seu auge, em termos galácticos.
Peso cósmico
"Isso não é o que esperávamos", afirmou o coautor do estudo Simon Johnston, chefe de astrofísica do órgão que opera os telescópios na Austrália.
Se a galáxia de origem é velha, então é mais provável que a explosão tenha sido causada por uma fusão de estrelas mortas do que, por exemplo, pelo brilho de uma supernova, corpo celeste normalmente originado da explosão de uma estrela de alta massa.
"Pode significar que a FRB pode resultar da colisão de duas estrelas de nêutrons, mais do que algo que tenha a ver com o nascimento de estrelas", disse Johnston, para quem a descoberta apenas "abre o caminho" da pesquisa sobre a causa dessas explosões.
Eventos estelares 
 Apesar de especulações ocasionais, astrônomos são confiantes ao afirmar que as explosões rápidas de rádio têm origem em eventos estelares extremos, e não em civilizações alienígenas.
Mas radiotelescópios vasculham os céus há décadas e alguns de seus achados são difíceis de explicar.
Ter uma imagem ótica de uma galáxia permite a astrônomos calcular sua distância da Terra, a partir da alteração da frequência da luz (redshift, na expressão em inglês) quando observada em função da velocidade relativa entre a origem e o observador.
Com essa distância estimada, a equipe pôde fazer exercícios em cosmologia.
Em uma explosão rápida de rádio, explica Keane, os comprimentos de onda curtos chegam primeiro do que os longos.
"Isso se dá porque o sinal colide com partículas e poeira cósmica no caminho, o que causa um ligeiro atraso. Mas se você viaja 6 bilhões de anos-luz, o atraso se acumula. Se temos um segundo de atraso na jornada, significa que o sinal passou por muitas partículas."
Então os pesquisadores usaram, pela primeira vez, um sinal remoto de rádio para calcular a densidade da porção do cosmos no caminho. "É basicamente como pesar o Universo."
 
As primeiras explosões rápidas de rádio foram detectadas há dez anos pelo telescópio Parkes.
As primeiras explosões rápidas de rádio foram detectadas há dez anos pelo telescópio Parkes.
Fonte: BBC Brasil 
 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Grande barreira de Corais está mais ameaçada do que se pensava

A Grande Barreira de Corais australiana, o maior arrecife formado por seres vivos no mundo, é mais ameaçada do que se pensava, devido à acidificação dos oceanos causada pelo aquecimento global - disseram pesquisadores nesta terça-feira (24).
 
A Grande Barreira de Corais vista de cima (Foto: Flávia Mantovani/G1)
 
A diminuição da quantidade de aragonite - um mineral necessário para os corais na formação do seu esqueleto - tende a acelerar com o aumento da absorção pelos oceanos de dióxido de carbono (CO2), resultante da combustão de combustíveis fósseis em seres humanos, de acordo com um estudo publicado na revista Nature Communications.
O equilíbrio químico dos oceanos está perturbado, com um declínio do pH (parâmetro que define se um meio é ácido ou básico) e a concentração de aragonite, uma forma cristalina do carbonato de cálcio.
Sem aragonita, os corais não conseguem reconstruir seus esqueletos e se desintegram ao longo do tempo.
Uma equipe de cientistas da Austrália e Arábia Saudita estabeleceu um novo modelo para medir a taxa de aragonita em mais de 3.000 recifes da Grande Barreira.
Medir no local a taxa de aragonita em cada um dos recifes de 2.300 quilômetros da Grande Barreira é uma tarefa impossível na prática.
De acordo com estes cientistas, a diminuição de aragonita "deve ser provavelmente mais importante na Grande Barreira do que o previsto anteriormente" pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre a Evolução do Clima.
A acidez dos oceanos aumentou 26% com relação à era pré-industrial e os recifes de corais talvez estejam condenados a acabar, segundo o IPCC.
A ONG ambientalista WWF afirma que quase um terço dos recifes coralinos do mundo já se perderam, e que os que restam poderiam desaparecer antes da metade do século atual.
Estes ecossistemas únicos representam menos de 0,1% da superfície dos oceanos, e abrigam cerca de um quarto das espécies marinhas, inclusive peixes essenciais para o ser humano.

Civilização maia pode ser 'inventora' das histórias em quadrinhos, dizem estudos

Maias já mostravam personagens malandros e usavam balões para diálogos
 
Se um dia você tiver a sorte de manusear um autêntico vaso da civilização maia, vai reparar em algo intrigante: o objeto é normalmente decorado com desenhos e textos que contam uma história conforme ele é girado.
E mais: as cenas recriam situações cômicas ou surreais, com o uso de recursos gráficos para dar movimento e ação aos personagens.
Nada muito diferente das histórias em quadrinhos de hoje em dia.
 

Nova técnica extrai ouro e cobre de lixo eletrônico

lixo eletrônico (Foto: Thinkstock)
 
Pense bem antes de se desfazer daquele seu computador ou celular velho. Dois estudantes de engenharia química de uma faculdade mineira desenvolveram uma nova forma de recuperar ouro e cobre presentes no lixo eletrônico. A proposta, recentemente premiada, se destaca por ser mais rápida e segura que as opções tradicionais. Filipe de Almeida, 25, conta que a ideia surgiu após ver, em um programa de televisão, que o lixo eletrônico produzido no Brasil não costuma ser reaproveitado – ou é descartado na natureza, o que traz riscos ambientais, ou é vendido por preços baixos para países como a Alemanha, onde já existe uma indústria preparada para esse trabalho.
Segundo a ONU, o mundo produziu 42 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2014 – e pode chegar a 50 milhões de toneladas em 2018. Segundo relatório produzido pela organização, de 60% a 90% desses resíduos são descartados ou comercializados ilegalmente – o preço da tonelada gira em torno de US$ 500, segundo a Interpol. A notícia trouxe um insight para ele e Lúrima Uane Soares Faria, 20, sua colega na Unileste (Centro Universitário do Leste de Minas Gerais). “Pensamos: ‘Se não existem empresas devidamente capacitadas para isso no nosso país, podemos tentar desenvolver um processo industrial para esse tratamento!’”, lembra o estudante.
Ouro, cobre, prata, zinco, estanho e platina são alguns dos metais presentes em grande parte dos equipamentos eletrônicos. Tome-se como exemplo uma placa de circuito impresso (componente de computadores, controles remotos, smartphones etc.). Estima-se que quase um terço de sua composição seja de metais. Destes, o mais comum é o cobre (14%), seguido por ferro (6%), níquel (2%), zinco (2%), estanho (2%), prata (0,3%), ouro (0,04%) e platina (0,02%). O problema é que eles nem sempre aparecem em sua forma pura, mas sim formando uma liga, o que dificulta a extração direta.
Para recuperar esses metais, há, basicamente, dois caminhos. Um é a pirometalurgia, que consiste em incinerar o lixo eletrônico (incluindo peças de plástico etc.) e, depois, separar os metais por ponto de fusão (o zinco, por exemplo, derrete a 419,5ºC, enquanto a prata, a 961,8ºC). Trata-se do método mais barato, porém, o processo de incineração gera muitos gases tóxicos e os metais recuperados dessa forma têm baixo teor de pureza. O segundo caminho é o da hidrometalurgia – termo adotado para designar processos diferentes que têm, em comum, a meta de dissolver o metal por meio de reações químicas, separando-o de outras substâncias. Uma vantagem é o alto teor de pureza obtido. No caso do ouro, porém, o procedimento costuma incluir cianeto de potássio – substância altamente tóxica, que pode levar à morte mesmo em baixas quantidades. “Trabalhamos com ouro sem utilizar cianeto. Com isso, reduzimos a toxicidade em cerca de 90%”, afirma Almeida. A abordagem também é mais rápida, reduzindo o tempo de lixiviação do metal de uma semana para duas horas.
A meta dos estudantes, agora, é descobrir novas formas de extrair do lixo eletrônico metais como prata, chumbo, estanho, platina e níquel. Além disso, querem levar o procedimento do ambiente laboratorial para uma escala maior e, assim, avaliar se o método seria economicamente viável. Para seguir com os planos, contam com bolsas da Fapemig (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) e uma verba de R$ 10 mil, proveniente do prêmio Sustentabilidade Radix, que contemplou cinco projetos de centros de ensino e/ou pesquisa no fim do ano passado.
Em relação ao potencial econômico, pode soar restrito quando lembramos que na placa de circuito impresso, citada acima, o ouro corresponde a apenas 0,04% dos metais utilizados. Mas Almeida compara esse tipo de processo ao que é feito normalmente pelas mineradoras, ao extrair metais de rochas. “Se você comparar uma tonelada de lixo eletrônico com uma tonelada de terra, vai encontrar muito mais ouro e minério de cobre no lixo do que na terra”, afirma o estudante. Segundo ele, uma tonelada de lixo eletrônico pode conter, em média, cerca de 700g de ouro e 35kg de cobre.
Além disso, está em jogo a preocupação com o meio ambiente. Quando equipamentos eletrônicos são descartados de maneira inadequada, substâncias perigosas, como metais pesados, podem contaminar o entorno. Tome-se como exemplo o mercúrio, também presente no e-lixo: se ele chegar às águas de um rio, passará para os peixes e, depois, para quem consumir esses peixes. A substância pode gerar problemas neurológicos em humanos e afetar o desenvolvimento cerebral de fetos. Algumas cidades contam com serviços específicos de coleta de lixo eletrônico.
Galileu.com

Vida sedentária a partir dos 40 "reduz tamanho do cérebro", diz estudo

Thinkstock
 
Um estudo americano sugere que o sedentarismo a partir dos 40 anos tem correlação com o envelhecimento do cérebro e mesmo sua redução de tamanho na casa dos 60 anos.
Pesquisadores da Universidade de Boston acompanharam 1.583 pessoas, com média de idade de 40 anos, todas elas sem demência ou doenças cardíacas. Elas fizeram testes de esforço em uma esteira e também se submeteram a tomografias do cérebro. Vinte anos depois, repetiram os procedimentos.


As pessoas que tinham registrado resultados ruins no primeiro exame tinham cérebros menores na medição de duas décadas depois.
As pessoas que não desenvolveram problemas cardíacos e não estavam usando medicamentos para pressão alta apresentaram o equivalente a um ano de envelhecimento acelerado do cérebro.
Aqueles que tiveram problemas ou usaram medicação - na primeira medição - apresentaram o equivalente a dois anos de envelhecimento acelerado do cérebro.
Os resultados foram publicados na revista da Sociedade Americana de Neurologia.
"Encontramos uma correlação direta entre má forma física e o volume do cérebro nas décadas seguintes, o que indica envelhecimento acelerado", disse Nicole Spartano, da Escola de Medicina da Universidade de Boston, pesquisadora-chefe do estudo.
"Esses resultados, ainda que não analisados em larga escala, sugerem que a condição física na meia-idade pode ser particularmente importante para milhões de pessoas ao redor do mundo que já têm alguma evidência de doenças cardíacas".
O encolhimento do cérebro é um processo natural do envelhecimento humano e a atrofia do órgão está ligada ao declínio cognitivo e ao aumento do risco de demência. Cientistas argumentam que o exercício reverte essa deterioração.
"A mensagem é que escolhas de saúde estilo de vida que você faz ao longo da vida poderão ter consequências muitos anos depois", completa Spartano.