quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Para limitar o aquecimento global, será preciso fazer "mágica"

A península itálica durante a noite vista pela Estação Espacial Internacional (Foto: Nasa)
 
O Acordo de Paris, documento ratificado por mais de 100 países que determina a redução de emissões de gases de efeito estufa, define que a comunidade internacional precisa limitar o aquecimento global a “bem abaixo” de 2 graus célsius. Segundo estudos divulgados na Conferência do Clima em Marrakesh, no Marrocos, só contando com uma tecnologia que ainda não existe conseguiremos atingir essa meta. Ou, como um dos cientistas disse, só contando com uma “mágica”.
O Acordo de Paris foi assinado considerando os cenários traçados pelo IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Esses cenários calculam a possibilidade de manter o aquecimento médio do planeta em 2 graus ou, como um grupo de países defende, em até 1,5 grau célsius. Eles mostram trajetórias em que as emissões mundiais podem aumentar nos próximos anos e começar a cair a partir do meio do século. Só há um problema. A maioria dos cenários positivos – aqueles em que o mundo consegue com sucesso evitar mudanças climáticas extremas – só podem ser atingidos quando consideramos que um número grande de países terá emissões negativas. Não basta parar de emitir, temos de tirar carbono da atmosfera.
Segundo o professor Asher Minns, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, contar com as emissões negativas é a única forma de fazer o Acordo de Paris funcionar sem ter de desligar infraestrutura. O Acordo de Paris prevê o seguinte caminho para o mundo evitar as mudanças climáticas extremas. Primeiro, é preciso impedir que mais CO2 vá para a atmosfera. Isso deve ser feito substituindo os combustíveis fósseis por biomassa e energia fóssil por renováveis. Depois, é preciso capturar o carbono acumulado na atmosfera. Mas como? “Essa tecnologia não existe. Qualquer um que falar que as metas do Acordo de Paris podem ser cumpridas está, na verdade, falando em fazer mágica.”
O complicado dessa mágica é que o CO2, como qualquer gás, está disperso no ar. Até hoje não foi desenvolvida uma técnica para sugar apenas o carbono, separando parte dele e armazenando-o em algum lugar. Mas há algumas tentativas de capturar o CO2 de produção industrial antes de ele sair das chaminés, torná-lo líquido e injetá-lo no solo. Por enquanto, só existe um projeto desse em escala comercial, operando no Canadá.
Fazer engenharia no clima
Um assunto que os cientistas já discutiam nos últimos anos, mas que começa a ganhar relevância devido à dificuldade da tarefa de limitar o aquecimento global, é dar um passo além de capturar carbono em chaminés e fazer uma reengenharia do clima do planeta em escala global – o que ficou conhecido pelo termo geoengenharia. A ideia é controversa. Para muitos, há o temor de que uma tentativa intencional em mudar o clima do planeta possa trazer resultados adversos. Mas projetos de geoengenharia estão, aos poucos, recebendo maior aceitação, já que as metas para limitar o
aquecimento global ainda se mostram distantes.
Na tarde de terça-feira (15), pesquisadores falaram sobre projetos para corrigir as concentrações de gases de efeito estufa no planeta em eventos paralelos à Conferência do Clima de Marrakesh. O professor Hugh Hunt, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, defendeu a necessidade de se estudar intervenções agressivas no planeta para reduzir a concentração de gases de efeito estufa. “Teremos que capturar 10 bilhões de toneladas de CO2 por ano”, diz Hunt. “Não conseguimos lidar com nada no mundo que tenha essa escala. Por isso, precisamos contar com todas as ideias possíveis.”
O projeto de Hunt, batizado de Spice, sigla para Injetor de Partículas na Estratosfera para a Engenharia do Clima, quer simular vulcões. Nós sabemos que, sempre que um grande vulcão entra em erupção, o clima da Terra esfria momentaneamente. Isso acontece porque as emissões vulcânicas, em vez de absorver o calor como o CO2, emitem novamente a radiação do Sol para o espaço. Hunt estuda a possibilidade de lançarmos, artificialmente, na atmosfera, gases que refletem a radiação, diminuindo a quantidade de calor que o planeta absorve e minimizando o aquecimento global.
Fazer isso é possível? É difícil dizer. Mas se queremos ter alguma chance de tirar carbono da atmosfera no meio do século, é preciso começar a pensar nessa possibilidade agora, para ser possível
desenvolver a tecnologia a tempo. Hunt lembra que a humanidade já está fazendo uma espécie de geoengenharia no clima, ao lançar enormes quantidades de CO2 na atmosfera desde o início da era industrial. Talvez apostar na tecnologia contrária seja uma forma de resolver o problema.
Época.com

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