No final deste mês, começam as Olimpíadas de Londres. A
organização do evento promete que estes serão os jogos mais “sustentáveis” da
história. Se, além de iniciativas válidas de reciclagem, transportes e projetos
sociais, o investimento for perpetuado em infraestrutura para a população, dá
pra dizer que o objetivo foi atingido.
A competição, o que não é novidade, deixa marcas em cada uma das cidades por
onde passa a cada quatro anos. A parte ruim é que muitas delas
não são boas: dívidas públicas, estádios sem uso, rede de transporte que não
serve de forma eficiente a população local, especulação imobiliária. E
muitos gastos.
O geógrafo norte-americano Christopher Gaffney fez importantes observações em
uma entrevista concedida à revista CartaCapital. O pesquisador
cita exemplos como a Copa do Mundo de 2002, no Japão e Coreia do Sul, para a
qual foram construídos 20 estádios, com utilidade quase zero nos dias de
hoje.
Barcelona, que foi sede dos Jogos Olímpicos de 1992, também sofreu
profundas transformações – que, segundo ele, podem ser
positivas ou negativas de acordo com os critérios de avaliação. O evento ajudou
a cidade a se projetar como centro turístico mundial, por ser parte de um
processo de transformação iniciado com o Plano Diretor da cidade. Com as
alterações na paisagem urbana e na economia local, porém, a cidade sofreu
mudanças irremediáveis. “Ela perdeu sua essência histórica.
Hoje é menos para ser vivida e mais para ser apreciada, fotografada”.
Para a África do Sul, a última anfitriã da Copa, a coisa não foi muito
diferente. Foi boa em termos culturais, por “quebrar um pouco barragens sociais
que ainda são muito fortes por lá”, explicou o geógrafo na entrevista. “Houve
melhorias de transporte em Joanesburgo, por exemplo. Mas a dívida sul-africana
com as obras do Mundial eram de 4 bilhões de dólares para sediar a Copa, a mesma
quantia que a Fifa anunciou como lucro. Foi uma transferência direta de dinheiro
público sul-africano para a Fifa. E nove dos dez estádios não estão
sendo utilizados”.O planejamento “verde” de LondresA anfitriã Londres diz que os jogos podem ser excelentes catalisadores para a mudança sustentável, com bilhões de pessoas assistindo e mais de 200 países envolvidos. “Vamos lutar para provar que existe um jeito diferente de anfitriar os jogos, um jeito que oferece a melhor experiência a atletas e espectadores e ao mesmo tempo provê o melhor para a comunidade local e o meio ambiente”.
As experiências sustentáveis começaram na construção do estádio olímpico,
dentro de padrões de mínimo impacto, e com o entorno revitalizado e transformado
em um dos parques mais extensos da Europa.
Transporte
No quesito mobilidade, a bandeira mais forte é
desestimular o carro. Foi criado o programa Active Travel, que
visa encorajar as pessoas a andarem mais de bicicleta e a pé – ou seja, fazerem
seus deslocamentos de forma mais ativa.
As melhorias promovidas nas rotas que podem ser feitas dessas duas formas
foram planejadas para complementarem outras modalidades de locomoção, em
especial transporte público. Como a cidade estará muito cheia na época, a ideia
é fazer com que essas opções sejam as mais atrativas possíveis.
AlimentaçãoA organização criou um manual chamado Food Vision (ou “visão da alimentação”), que tem guiado as
diretrizes de fornecimento de alimentos durante os jogos. A ideia é garantir que
o país ofereça comida acessível, diversa e saudável – e que
possa, ao mesmo tempo, atender a dietas especiais e especificidades culturais de
delegações e turistas.
Mudanças sociais
O programa Changing Places encoraja voluntários a ajudarem a transformar
comunidades locais, “melhorando o que é negativo e celebrando o que é positivo”.
As comunidades que vivem no leste de Londres, por exemplo, são “diversas e
dinâmicas”, mas sofrem com problemas sociais, econômicos e ambientais.
O programa também oferece suporte para que pessoas da comunidade se envolvam
nos jogos olímpicos e no combate a estes problemas, como forma de estender os
benefícios do evento para além das fronteiras do parque olímpico.
O Changing Places também tem como meta inspirar comunidades a melhorarem seus
espaços públicos, como parques, e criar mecanismos para que as pessoas aprendam
novas habilidades e desenvolvam novos interesses. Governo, parceiros comerciais
dos Jogos, organizações de caridade e ONGs são os parceiros do programa.
E quando for a vez do Brasil?
Gaffney critica fortemente a forma como está sendo conduzida a organização da
Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil. “O planejamento urbano
está sendo dirigido pelos grandes eventos e não usando os grandes eventos para
melhorar as cidades. É uma oportunidade única de usar um investimento federal
imenso mas que está sendo mal pensado e mal usado”.
Para ele, argumentos como o de que estádios como o Itaquerão (estádio que
está sendo construído na Zona Leste de São Paulo) trazem benefícios para a
cidade são falsos. “Não existem exemplos, muito menos no Brasil, de estádio que
traz benefícios para o entorno. A cultura de ir ao estádio, sobretudo a
brasileira, é o cara que quer ir de carro, pará-lo dentro do estádio e depois ir
embora após o jogo. Não existe essa coisa de o sujeito que passa o dia na região
fazendo compras pra só depois ver a partida”. Será que eles estão certos?
Superinteressante.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário