sexta-feira, 31 de maio de 2013

Estudo na Mata Atlântica comprova que ação humana resulta em árvores menores

 
 
A análise de 22 áreas da Mata Atlântica no Sudeste do País mostrou pela primeira vez que a ação do homem está afetando a evolução de árvores. É o que aconteceu com a palmeira do palmito juçara, que tem tanto frutos com sementes grandes quanto pequenas, mas que futuramente deverá ter apenas as sementes pequenas.
De acordo com o estudo coordenado por Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (UNESP), em fragmentos de floresta onde espécies de tucano como o de bico preto ( Ramphastos vitelinus ), araçari-poca ( Selenidera maculirostris ) e também as arapongas foram extintos, as palmeiras juçaras (Euterpe edulis ) produziam frutos pequenos. Já em áreas com estes pássaros existiam palmeiras com frutos de diversos tamanhos. Com este cenário, a tendência é que futuramente existam apenas palmeiras menores com palmitos menores nestas áreas onde os tucanos foram extintos.
Galetti explica que as palmeiras produzem frutos com sementes grandes e pequenas, porém apenas os tucanos conseguem engolir os frutos maiores e regurgitar as sementes, disseminando novas palmeiras na Mata Atlântica. As sementes menores são disseminadas por outros pássaros, como os sabiás, por exemplo.
As principais causas da extinção dos tucanos e, consequentemente, a alteração da evolução da palmeira estão na fragmentação da Mata Atlântica e na caça aos pássaros. Apenas sete caçadores ouvidos pelos pesquisadores afirmaram ter abatido 500 tucanos em um ano. A ave é apreciada na culinária, e também por causa de suas penas, usadas em adornos como brincos.
Péssimas previsões
“Sem os tucanos, as sementes grandes cai no pé da fruta mãe, a polpa da fruta não é retirada e a semente não germina. Com o tempo só haverá sementes pequenas, que perdem água mais facilmente, pois a superfície de contato ser maior. Com as mudanças climáticas e a previsão de períodos mais secos e severos a tendência é que as sementes pequenas não terminem a germinação e as palmeiras menores desapareçam também”, disse ao iG Mauro Galetti autor principal do estudo publicado esta semana no periódico científico Science.
Atualmente restam apenas 12% da cobertura original da Mata Atlântica, e mais de 80% dos remanescentes florestais são pequenos demais para manterem grandes aves frugívoras. Estes fragmentos também são insuficientes para garantir a sobrevivência de grandes animais que se alimentam de frutas, como antas, macacos, tucanos, pavós e arapongas.
Por isto o avanço na perda das espécies de grandes vertebrados na Mata Atlântida está causando mudanças sem precedentes nas trajetórias evolutivas das árvores remanescentes e na composição de muitas áreas tropicais. “As pessoas acreditavam que a seleção natural demonstrada por Charles Darwin há mais de 100 anos levava muito tempo para ocorrer, mas nossos dados mostram que o impacto humano, causando a extinção de aves grandes, seja por caça ou desmatamento, seleciona rapidamente as plantas com sementes pequenas” disse Galetti.
Galetti acredita que o estudo pode ser replicado para outras florestas tropicais do mundo, onde 60% a 90% das espécies de árvores são disseminadas por animais frugívoros. Um exemplo seria as florestas do Congo, que são disseminadas pelos gorilas. “Pela primeira vez conseguimos dados empíricos de que a perda de animais dispersores afeta a evolução de plantas. Isto é um alerta de que o impacto humano sobre as florestas é ainda pior do que pensávamos”, disse.
Para o cientista além da necessidade do reflorestamento é necessário haver o também o refaunamento destas áreas. ”É preciso que se pare com a caça. Em áreas como a Cantareira (SP), Ilha do Cardoso (SP) e também em Ilhabela (SP), onde é realizada a Tucanada [festa onde é servido churrasco de tucano], está cheio de caçadores”, disse.

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